sexta-feira, fevereiro 18

Sondagens: O Inferno Para a Direita

Hoje é um dia infernal para a direita. Todas as sondagens apontam para a vitória do PS nas eleições de domingo.

A única dúvida que persiste é a de saber se o PS chega à maioria absoluta. Salvo a sondagem do Expresso todas dão a maioria absoluta como adquirida.

Acho difícil que todas se enganem ao mesmo tempo. Mas esta unanimidade pode gerar um efeito perverso e resultar numa desmobilização prejudicial ao PS.

Aqui fica a sondagem que faltava: a do Correio da Manhã.

quinta-feira, fevereiro 17

Últimas Sondagens

Nem sempre tem acontecido mas, desta vez, verifica-se uma curiosa coincidência nas previsões dos resultados eleitorais das últimas sondagens.

Hoje a sondagem publicada pelo Público dá a maioria absoluta ao PS e a publicada pela TVI segue a mesma tendência

A do Diário deNotícias/TSF confirma a maioria absoluta do PS e uma muito fraca votação no PSD

Por sua vez a da SIC/Expresso/RR não desmente aquela tendência moderando a sua evidência.

Sondagem da Universidade católica publicada pelo Público:

"Em que partido tenciona votar para as próximas eleições legislativas (para a Assembleia da República)?

Intenção directa de voto/resultados brutos:

PS: 34 %
PSD: 22%
BE: 5%
CDS-PP: 4%
CDU: 3%
Outros: 1%
Não vai votar: 12%
Ainda não sabe: 14%
Não responde/brancos/nulos: 5%

Estimativa de resultados eleitorais:

(Obtida calculando a percentagem das intenções directas de voto em cada partido em relação ao total de votos válidos [excluindo abstenção e indecisos]. Estas estimativas reflectem o peso relativo que cada círculo eleitoral tem para os resultados nacionais, e têm valor meramente indicativo, dado que diferentes métodos de estimação poderão gerar resultados diferentes)

PS: 46% (118-124 deputados)
PSD: 31% (80-84)
CDU: 7% (8-12)
BE: 7% (8-12)
CDS-PP: 6% (6-10)
Outros: 1% (0)
Brancos/nulos: 2%

A grande vitória política da direita está reduzida, a partir de agora, a perder sem que o PS consiga alcançar a maioria absoluta. Interessante!

Eu Voto PS

Eu voto PS. O meu voto, no próximo domingo, não vai falhar como nunca falhou. Não vai mudar como nunca mudou.

Até 1979 votei MES e, a partir desse ano, sempre votei no PS. Aliás em 1979 o MES, antes ainda da sua original imolação político/festiva, aconselhou, expressamente, o voto no PS ou na APU. O meu voto, desde esse apelo, nunca sofreu qualquer desvio em eleições legislativas e presidenciais.

Alguns dos meus amigos alinharam nas “aventuras” de Pintassilgo ou de Zenha, do PRD ou UEDS, mas eu sempre votei no PS. É um voto pela liberdade e pela justiça. Não somente pelas utopias que nos alimentam os sonhos por uma vida e um mundo melhores, mas também pela defesa da concretização possível desses sonhos.

É uma opção tomada em consciência, formada através de muitas experiências, que deram para compreender que os valores supremos a defender pelo voto são a justiça e a liberdade. E o partido que melhor assegura a defesa desses valores, no nosso tempo, é o PS.

"Pensar noutra mulher, noutro romance."



“Horas depois, continuo em frente da janela. Na rua há um pouco de vento e a lâmpada balança, desnivela os telhados, desequilibra as paredes. Não consigo saber se os prédios pombalinos na realidade oscilam ou se a impressão me vem da vidraça embaciada que fechei quando Luciana desapareceu. Deixou de chover (inexplicavelmente aliás) e o luar surgiu, as estrelas também. Para quê, tão tarde?

Apesar deste tom de elegia a vida continua, não é verdade? Tenho de esquecer Luciana e o romance. Pensar noutra mulher, noutro romance.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Chuva) – pág. 15, 16 e 17 (6 de 6)

Fotografia de Helder Gonçalves

As Últimas Revelações

Santana Lopes atribui aumento do desemprego à dissolução do Parlamento

quarta-feira, fevereiro 16

Serra da Estrela

O Nuno foi à neve na Serra da Estrela. E aconteceu o inevitável. Querer fazer da Serra da Estrela um destino turístico de neve, quase sem neve!...

"Desatou a Chover"



“ O tempo que demorou a descrição gastámo-lo nós a chegar. Exactamente o mesmo tempo. E então, as gotas esparsas engrossaram, precipitaram-se umas atrás das outras. Desatou a chover. Não confessei ainda que a chuva me fascina, mas é verdade. Desde a infância, quando dobrava as costas contra o peitoril da janela e deixava a água alagar-me a cara ou a bebia com todo o vagar, de olhos fechados. Foi essa mania inocente que perdeu Luciana. Abri a janela, estendi-me para fora e a chuva passou por mim à pressa escorregando-me no rosto, entrou no quarto, caiu como quis nas poucas folhas do rascunho poisadas sobre a mesa diante da vidraça aberta, dissolveu o perfil de Luciana ainda mal esboçado, apagou-lhe a voz rouca, desfez-lhe o cabelo azul, sumiu-a, sem eu dar por nada. Com que facilidade desaparecem as mulheres, as palavras, numa simples mancha de água e tinta. Frágeis, como a cor dos telhados ou a chama dum grão de areia que a chuva apaga.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Chuva) – pág. 15, 16 e 17 (5 de 6)

Fotografia de Helder Gonçalves

Debate 4/5

Digam as simpatias que quiserem Jerónimo de Sousa não podia falhar, e falhou. Tinha que falar, não falou. Logo tinha a seu lado um concorrente directo, Louçã, falante de primeira, que não falhou.

O seu silêncio forçado assume o simbolismo da morte do PCP. Ou, pelo menos, o seu apagamento e, de certeza, um forte sinal de fraqueza. Em televisão, naquelas circunstâncias, é uma fatalidade cruel um líder ter de abandonar o palco. Só com Santana não teria a mesma importância. Porque simbolicamente Santana já o abandonou.

O episódio, certamente, não representa a morte do PCP, mas a representação da autenticidade pessoal de um líder em política tem limites. O BE ficou a ocupar o espaço do PCP. Surgiu, naquele momento, em cena, o que é o desenho político que muitos adivinham para o futuro. O BE ocupando todo o espaço da esquerda além do PS. Este acontecimento vai ter consequências eleitorais e políticas para o futuro próximo.

O resto foi conforme as expectativas salvo a declaração final de Portas que esteve fora do seu registo habitual. Inseguro. Nervoso. Desarticulado. Algo inexplicável.

terça-feira, fevereiro 15

A Carta de Santana

Não acreditei no que estava a ler mas depois fui confirmar e era verdade. O País Relativo divulga a carta de Santana Lopes aos eleitores.

Ela aqui está, na íntegra, para vergonha de todos nós e, em particular, dos eleitores social-democratas.

"Caro(a) Amigo(a),

Não pare de ler esta carta. Se o fizer, fará o mesmo que o Presidente da República fez a Portugal, ao interromper um conjunto de medidas que beneficiavam os portugueses e as portuguesas.

Portugal precisa do seu voto para fazer justiça. Só com o seu voto será possível prosseguir as políticas que favorecem os que menos ganham e que exigem mais dos que mais têm e mais recebem. Você não costuma votar, e não é por acaso. Afastou-se pelas mesmas razões que eles nos querem afastar.

E quem são eles? Alguns poderosos a quem interessa que tudo fique na mesma. Incluindo a velha maneira de fazer política. Eles acham que eu sou de fora do sistema que eles querem manter. Já pensou bem nisso? Provavelmente nós temos algo em comum: não nos damos bem com este sistema.

Tenho defeitos como todos os seres humanos, mas conhece algum político em Portugal que eles Tratem tão mal como a mim? Também o tratam mal a si. Já somos vários. Ajude-me a fazer-lhes frente. Desta vez, venha votar.

É um favor que lhe peço! Por todos nós,

Pedro Santana Lopes"

"As Primeiras Gotas"



“Entretanto caem as primeiras gotas. Luciana obriga-me a regressar. Quando a chuva chega o costume é um mês inteiro de água.
O rio pouco denso ganha dia a dia corpo, galga bruscamente as margens, rolam na espuma a fruta podre, os bichos arrancados às tocas, a lenha dos madeireiros, as árvores mais fracas a que a torrente mina o chão (a estabilidade). Nos caminhos barrentos, lutando contra o enxurro, os pastores e o gado voltam à serra. A cidade baixa fica inundada, há canoas nas vielas do Terreiro da Erva, esta Veneza de prostitutas ordenadas numa hierarquia instável, onde se começa quase sempre pelo alto da tabela: casas de cem, cinquenta, vinte e dez mil reis. A cheia bate no portal de Santa Cruz, torna a bater, invade a igreja, submerge o túmulo de Afonso o Fundador. E por fim, em torno das colinas enregeladas, há só um lago enorme com choupos, cegonhas, o frémito do frio.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – (Chuva) pág. 15, 16 e 17 (4 de 6)

Fotografia de Helder Gonçalves

Votar: Um Bem Essencial

Gostei desta notícia do Compromisso Portugal. Muitos vacilam no momento da decisão. Estes doutos empresários não. Ao menos deram-se ao trabalho de cotejar programas. Dar-lhes crédito. Encontram neles confluência de propósitos.

Valorizam a maioria absoluta. Absoluta, ou seja, que suplanta o somatório de todas as minorias juntas. Mas que as não elimina nem apaga a luz da liberdade. Em democracia as eleições são a batalha rainha. Os seus resultados são sagrados. Votando escolhemos.

Devíamos sentir orgulho na democracia portuguesa. Que nos deu essa extraordinária oportunidade de escolher. Liberdade de escolher, quase limpa de atropelos e violências. E digo quase porque a pureza, em si mesma, não existe. Passaram mais de 30 anos e as escolhas, em democracia, sucedem-se. Ainda bem. Antes assim que a tentação da tirania.

Outra coisa são os detalhes.

De hoje até domingo decidem-se detalhes. Muitos reclinam-se no voto de protesto, seja branco ou colorido ou, em alternativa, ausentam-se justificando a abstenção pela descrença nas alternativas partidárias. É o juízo final dos que olham o poder à imagem da realidade ideal que não existe. Nem na sociedade nem na vida de cada um de nós.

Os que exigem ao sistema político democrático a perfeição são os mesmos que a não exigem a nenhum outro sistema, nem ao seu próprio sistema individual de comportamento. Todos sabemos que é assim. É um detalhe mas que não põe em causa o essencial: a participação cívica da maioria dos portugueses nas eleições.

Se para uma minoria de iluminados votar é um bem supérfluo para a maioria dos portugueses votar é um bem essencial.


segunda-feira, fevereiro 14

Sigamos o Cherne

No domingo passado comprei um livro. “Quinze Poetas Portugueses do Século XX”, com selecção e prefácio de Gastão Cruz. Não sei se ainda me falta publicar ao menos um poema de cada um deles no Absorto. Talvez um ou dois.

Mas achei curioso que a série de poemas de autoria de Alexandre O´Neill (1924-1986) abra com um de que falou muito nas eleições legislativas de 2002.

Leiam-no agora a esta distância respeitável e da leitura retirem as lições que vos apetecer.

SIGAMOS O CHERNE

(Depois de ver o filme “O Mundo do Silêncio” de Jacques-Yves Cousteau)

Sigamos o cherne, minha Amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria…

Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado…

Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa…

Nomeações Sempre...

Os Estados da Nação revelam mais algumas…

Retrato


Cezanne - Retratto di Donna con Conffettiera

Os abutres

Morte da irmã Lúcia: D. Manuel Martins critica cancelamento da campanha eleitoral

A Morte da Irmã Lúcia e a Campanha Eleitoral

A exploração da morte para fins eleitorais é o fim do caminho. A morte de alguém é um acontecimento que deve ser respeitado. Que não deve ser aproveitada para fins egoístas.

Santana Lopes logo no anúncio da suspensão da campanha eleitoral do PSD, em Cabeceiras de Basto, aproveitou para fazer campanha. Foi recebido com algazarra quando todos os presentes já sabiam ao que ía. Fez um discurso quando se devia ter recolhido.

Diz que se vai remeter, 2ª e 3ª feira, á função de primeiro-ministro mas admite “algumas acções (de campanha) que não impliquem festa”. O CDS/PP anuncia uma posição semelhante. Se o luto de Santana e Portas (e dos respectivos partidos) pela morte da Irmã Lúcia fosse autêntico o seu silêncio não se faria ouvir. Seria um silêncio absoluto.

Mas o próprio anúncio do seu luto foi um acto de campanha. Eles sabem que a morte da Irmã Lúcia não pode, na prática, interromper a campanha. Torná-la-á, porventura, ainda mais ignóbil. Esperemos para ver como vão decorrer as exéquias, quais as orientações da hierarquia da Igreja, quais as presenças oficiais e oficiosas nas cerimónias, qual a cobertura das televisões, quais as palavras proferidas e quem as profere.

Este é um assunto de Estado. Haja decência. O Senhor Presidente da República não pode ficar a assistir impávido e sereno a uma segunda edição do que se passou na 2ª e 3ª feira da semana passada. Também aí Santana Lopes anunciou que não fazia campanha e, envergando o fato de primeiro ministro, praticou o seu contrário. Mas, desta vez, o caso é muito mais sério.

Por maioria de razão todos devemos seguir com muita atenção os acontecimentos destes dias.

"PSD e CDS suspendem campanha
O PSD e o CDS suspenderam as acções de campanha para segunda e terça-feira devido à morte, este domingo, de Irmã Lúcia. O PSD admite, no entanto, cumprir algumas acções que não impliquem «festa».

domingo, fevereiro 13

Reflexão Política a Prazo


Após a dramatização dos apelos à maioria absoluta do PS,
que também desejo, eis a provável imagem de Sócrates
vencedor, sem maioria absoluta, após a noite de 20 de Fevereiro.

Finalmente...

"CDS sonha ser «a primeira força política em Portugal»
Telmo Correia fez uma afirmação que há muito esperava ouvir: o CDS/PP quer conquistar o poder. Legítimo em democracia, megalómano para o CDS/PP, perigoso para o país. Mas alguma vez tinha que ser dito!

Humberto Delgado

Humberto Delgado – Em Memória

Para alguns será estranho que haja quem tenha necessidade de participar, intervir, comunicar. Para muitos, entre nós, sempre existe a tentação de associar a ocupação de um pequeno ponto do “espaço público” com a ideia de querer obter vantagens ilegítimas.

Lembro-me, no tempo da ditadura, de um escaparate, embutido numa parede, em Faro, onde era afixado, todos os dias, o jornal República. Aqueles que o afixavam queriam o quê? Ocupar o poder? Dar nas vistas?

Lembro-me da epopeia do General Humberto Delgado que se ofereceu em sacrifício para resgatar Portugal da ditadura. Que quereria ele? Mostrar a sua vaidade? O poder pelo poder?

Contou-me uma amiga, que acerca dele fez uma pesquisa, que Delgado, na clandestinidade, esteve alojado num quarto no Porto, frente a uma esquadra de polícia. E que se barbeava com o olhar nela poisado podendo, com facilidade, ser visto. Sempre com a farda de general pronta a ser envergada em caso de necessidade.

Os seus detractores diziam (e dizem) que era doido! Mas nas eleições presidenciais de1958, desafiou de frente a ditadura, arrebatou multidões, perdeu (roubado) nas urnas, deu um exemplo de coragem.

Coragem, isso mesmo, sabem o que é? Em 1965, neste dia exacto, 13 de Fevereiro, foi assassinado pela PIDE.

O que leva os homens a rebelar-se contra a injustiça? Em dar a vida pela liberdade?

Ainda "Saraband"



“Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa."

A. Camus, in "Cadernos"

(Republicado com uma ilustração de meu filho, aos 12 anos, dedicada à mãe.)

sábado, fevereiro 12

"Diários de Motocicleta"


Ver este filme deu-me um enorme prazer.
Não se explicam certas coisas da alma, não é?
Já antes escrevi acerca dele.
Os grandes filmes só o são para quem os vê
e deles gosta. Mas este prémio é uma grande
notícia para o cinema brasileiro.

Melhor Filme Estrangeiro para «Diários de Motocicleta»
«Diários de motocicleta», do brasileiro Walter Salles,
recebeu hoje, em Londres, dois BAFTA, os prémios
do cinema britânico comparados aos Oscar de Hollywood.
A película conta a viagem que Che Guevera fez,
quando era jovem, pela América latina."

"O que será (À flor da pele)"



"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo"

Chico Buarque

(in Pentimento)

É o Vale Tudo Final

Até dia 20 vão suceder-se os ataques sujos ao PS e ao seu líder. Apetece-me sempre recordar o que aconteceu com a liderança de Ferro. Espero que a queda da direita do governo ajude a desvendar esse mistério.

Seja qual for o líder do PS, o seu perfil pessoal e méritos políticos, surgem sempre ataques cirúrgicos, através de notícias "encomendadas", em momentos certos, com objectivos determinados.

No caso de Sócrates surgiram os boatos acerca da sua vida privada (incluindo vandalização, em curso, de cartazes de rua), agora acusações de “envolvimento em negócios”, “favorecimentos”, “enriquecimento sem causa” e sabe-se lá mais o quê ...

Na última semana de campanha eleitoral tudo se pode esperar. É o vale tudo final.

"Chamo-lhe desespero"


“Caminhamos entre os plátanos do parque. Inesperadamente,
mas da maneira habitual, insidiosa, começo a sentir o desespero
que me provoca a presença das mulheres amadas.
(Emanação, respiração, neblina e aroma, filtro que eu respiro
boca a boca sem me saciar). Chamo-lhe desespero porque
não acho outra palavra mas escrevo-a como se desenhasse
nesta página um pequeno firmamento de estrelas caligráficas:
ternura, língua, fogo, dentes, brevidade. Morde-se a vida,
prova-se apenas um instante e, pior ainda, com a sensação
antecipada de que a morte, duas mortes, estão metidas no caso.
Não me expliquei muito bem. Nem admira. Fantasmas pessoais,
intransmissíveis. E agora reparo: onde eu já vou. Luciana
por enquanto não passa da imagem vaga disto nas três
ou quatro páginas do romance que iniciei anteontem.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira

Fragmentos (Chuva) – pág. 15, 16 e 17 (3 de 6)

Fotografia de Helder Gonçalves

sexta-feira, fevereiro 11

Ouvir Toda a Gente


Eu acho, no meu perfeito juízo, que deve ser ouvida toda a gente. Não neste ou naquele processo de inquérito, investigação, auditoria, sindicância, ou outro qualquer procedimento previsto no ordenamento jurídico nacional. Estas acções a que temos assistido, de quando em vez, e que tocam a todos, mais a uns do que a outros, é verdade, nos seus prazos e conforme manda a lei, são de uma vulgaridade, banalidade, insignificância e sacanância que nos coloca mal no concerto das nações.

A acção a que o país aspira é mais ambiciosa. Deve ser ouvida toda a gente. Mesmo toda a gente. São cerca de 10 milhões, retirando os emigrantes, até á terceira ou quarta geração. A maioria, segundo o Dr. Medina Carreira, são velhos e relapsos, mas que importa, são esses, porventura, os mentores da depravação que a Pátria não aguenta mais. Contratem-se os serviços ao estrangeiro. Existem países populosos com gente experimentada na reposição da “ordem” e dos “bons costumes”.

Existem no país infra-estruturas capazes de albergar um exército de inquiridores qualificados. Podem ser utilizados os estádios construídos para o EURO, alguns deles sem fim útil à vista, como o do Algarve, cuja manutenção custa o equivalente a duas equipas na primeira liga. Faça-se um calendário rigoroso dos interrogatórios com tradução simultânea. Toda a gente é obrigada a denunciar toda a gente, a confessar as suas fraquezas, aproveita-se a ocasião para revistar a “coisa pública” e a privada, imaginar os crimes imaginários, adivinhar os sonhos inconfessáveis, espreitar os devaneios erécteis, gozar com a alheia cobiça do corpo inalcançável.

O país precisa de uma limpeza,
de uma devassa a sério,
de um “choque psicológico”
que, ao menos, dê aos cidadãos
aquela sensação de liberdade
de “por enquanto” não serem arguidos
ou, pelo menos, “ainda” não serem suspeitos.

Viva Portugal.

Foto de Helder Gonçalves
"Caídos pelo Caminho" - Chile

Obrigado a Portugal (Fim)


Atento o JPN, do respirar o mesmo ar,
retoma a imagem da capa do programa
do sarau "Obrigado a Portugal" e,
nas tábuas do próprio "Teatro da Trindade",
lugar do seu mister, escreve um belo texto.

As Imagens dos Artistas


Alguns dos artistas refugiados, de diversas nacionalidades, que actuaram no Sarau de 19 de Dezembro de 1940 no Teatro da Trindade.

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer
-Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Fernando Pessoa

"Nada Será Esquecido"

O "Público", de hoje, deu-me a ler um relato de campanha do PS, em Lisboa, com duas referências que me tocaram: a energia de Jorge Coelho e as intensas manifestações de afecto dirigidas a Ferro.

O povo não esquece e, como diz Correia de Campos, “nada será esquecido”.

"Semi-Democracia"

Santana Lopes criou uma nova categoria de democracia: "Semi". Desde que as notícias da democracia não lhe sejam favoráveis é semi. Faltam 9 dias.

Líder do PSD diz que Portugal "parece estar a cair numa situação de semi-democracia"
Santana Lopes acusa orgãos de comunicação social de fazerem campanha

quinta-feira, fevereiro 10

Obrigado a Portugal


Estas duas imagens são a minha homenagem à liberdade reconquistada em 1945 com a derrota do nazi-fascismo. E caso algum sobrevivente se reconheça neste programa antigo - tantos eram jovens - maior será a minha felicidade.

Programa


Esta imagem e a anterior são fragmentos
de um programa antigo, de 19 de Dezembro de 1940,
em época de guerra. Refugiados de toda a Europa,
devastada pela ofensiva nazi, procuravam
um porto de abrigo e uma plataforma
de onde embarcar para outras paragens.
Quase todos judeus.

Muitos artistas de todas as artes.
O Teatro da Trindade, que tão bem conheço,
serviu de palco para que os refugiados agradecessem
o acolhimento dos portugueses. Esse espírito solidário
de um povo que nem o regime ditatorial foi capaz de quebrar.

A liberdade acaba sempre por vencer a tirania.
Mas é preciso não vergar a espinha às ameaças
dos novos aspirantes a ditadores.
Eles com os seus cânticos populistas,
quais aves predadoras, volteiam no ar
em torno das nossas cabeças.
O esquecimento é a sua arma.
É preciso lembrar ao povo, sem saudosismo,
o terrível passado das ideologias nacional-populistas.

Populismo em Estado Puro

“CDS, o partido revolucionário do séc. XXI
Pires de Lima responsabiliza esquerda por salários baixos”

Onde é que eu já ouvi isto? Pelo menos os mais velhos conhecem a herança salazarista: ditadura= miséria cívica e material.

Os dirigentes do CDS/PP são os depositários históricos dessa herança e eles sabem que a ditadura salazarista também se apresentou como uma Revolução Nacional.

Não brinquem com a memória de um povo que sofreu 48 anos de ditadura, em grande parte, sob a direcção de um "partido revolucionário". São coisas sérias demais!

Veja aqui um exemplo ilustrativo.



A Crise do PSD

Tudo indica que a crise está instalada no PSD. Para lavar e durar.

Ver aqui, aqui e aqui.


quarta-feira, fevereiro 9

Luciana


“Seja como for, hoje rompeu
uma ponta de sol e desço à
beira rio. Levo Luciana comigo.
Conheço-a ainda mal. Cabelo
azulado, um pouco mais claro
do que a asa do corvo, voz
com o toque da tal rouquidão
que excita não há dúvida os
homens. Fala de montanhas
cobertas de neve, uma fonte
para encher a bilha, searas,
fruta, o corpo nu na espuma
duma corrente. Coisas naturais
e ingénuas, o que é, a voz velada
dá-lhes a lentidão, o erotismo,
dos sonhos mais fundos.
Eis o que sei a respeito dela.”

“O Aprendiz de Feiticeiro”
Carlos de Oliveira

Fragmentos – (Chuva)
pag: 15, 16 e 17 (2 de 6)

Marcelo na RTP

Todos sabemos que a política não é um paraíso onde a virtude floresça. Alguns protagonistas distinguem-se, no entanto, pela sua falta de vergonha a confundir as questões e a mentir ao povo. É o caso da tomada de posição do PSD acerca de Marcelo como futuro comentador na RTP.

Sócrates colocou uma questão pertinente. A RTP não é, de facto, uma entidade privada como a TVI ou a SIC. A RTP, pela sua natureza, tem obrigações de serviço público que os canais privados não têm.

Já antes Vital Moreira tinha colocado a questão nos termos em que deve ser colocada.

Tudo mudará de figura se o PSD quisesse privatizar a RTP. Mas para isso precisava ser governo. Como não vai ser deixa o terreno minado. Na RTP e não só...


Imigração nos Programas Eleitorais do PS, PSD e CDS/PP

Finalmente consegui o acesso à leitura do programa eleitoral do CDS/PP. Interessava-me conhecer a abordagem do CDS/PP à questão da imigração. Afinal a posição do CDS/PP é assim como uma espécie de "célula adormecida" usando a linguagem da luta anti-terrorrista tão do agrado da direita radical.

Insere a questão da imigração no capítulo da "Segurança", tal como o PSD, assume a neutralização da natureza "fracturante" da questão e dispersa a sua abordagem em alíneas ao longo daquele capítulo. Ao contrário dos partidos liberais, conservadores e de extrema direita (vejam-se os casos do Partido Conservador Britânico e dos partidos da coligação de direita que acabou de vencer as eleições na Dinamarca) não coloca a imigração como uma questão prioritária nos planos ideológico, social e político.

A imigração para o CDS/PP como que "passou à clandestinidade". Não será, certamente, falta de coragem mas cálculo estratégico tendo em vista eventuais acordos ou alianças com o PSD ... ou o PS.

Por sua vez o PDS resume a questão a dois parágrafos onde se perfilam as mesmas ideias contidas no programa do PS. Pela sua irrelevância (estranha opção da direcção do PSD) não trancrevo esses parágrafos no link abaixo.

Por fim o PS apresenta a questão da imigração num capítulo autónomo, inserindo-a no contexto das políticas sociais, muito bem estruturado, actualizado e completo. As minhas congratulações e esperanças de que, no essencial, caso o PS venha a constituir governo, tal programa seja concretizado.

Ver os programas do PS e do CDS/PP, referentes à questão da imigração, no IRAOFUNDOEVOLTAR.

Chuva

“Temos o inverno à porta. A cidade pressente-o: vai-me cair o céu em cima e o céu agora não é a transparência leve de Agosto ou Setembro, uma coisa de nada, etérea como os escritores dizem, longe disso, é o peso das nuvens carregado de electricidade, a ameaça quase a desabar. Pressinto-o eu também: vai de facto cair não tarda muito. Basta ver como a cidade se tornou um desenho aguado e fusco a tinta da china. O clarão de barro a cozer extinguiu-se nos telhados, desapareceu a chama trémula dos grãos de areia, que me enchia o quarto toda a tarde, vinda de Montes Claros. E a propósito: os escritores já não chamam etéreo a nada nem ao céu de verão.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Chuva) – pag. 15,16 e 17 (1 de 6)

terça-feira, fevereiro 8

Homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen

A Fundação das Casas de Fronteira e Alorna promove uma homenagem a Sophia que inclui a "leitura integral da sua Obra Poética segundo a edição definitiva da Editorial Caminho, editada em 2004."

16 de Fevereiro, 2, 16, e 30 de Março, 13 e 27 de Abril,
11 e 25 de Maio, 8, 22 e 29 de Junho de 2005


III CICLO DE MÚSICA E
POESIA PORTUGUESA DO SÉC. XX
HOMENAGEM A SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN


Segundo o programa "Dado o carácter especial de homenagem de que este ciclo se reveste, entendeu a Fundação dar a possibilidade a outras pessoas, para além dos leitores que colaborarão regularmente nas sessões, de a ela se associarem lendo um poema em voz alta. Bastará para isso que nos informe atempadamente, por carta ou e-mail (cristinasousa@ip.pt), do poema que escolheu e que compareça na respectiva sessão. Caso a escolha recaia num poema que esteja “tomado”, será informado do facto e terá a possibilidade de alterar a sua escolha."

Faltam 11 dias

Santana Lopes, com ar displicente, no lugar de “Homem de Estado” chama os jornalistas e dá explicações acerca das questões eleitorais. Acrescenta um passeio com os filhos pelos jardins de S. Bento. Explica porque não faz campanha fazendo-a na residência oficial do primeiro-ministro. À sombra e à conta do Estado. Assim vamos cantando e rindo. Só o tempo resolve a cegeira que o bom senso não é capaz resolver.Faltam 11 dias.

A Hora das Grandes Decisões

A notícia não é inocente. Se for verdade o xadrez eleitoral fica mais claro: PS com maioria absoluta nas legislativas, quer dizer que Sócrates “elimina” Santana, “inibe” Guterres e “impulsiona” Cavaco.

A partir de Janeiro de 2006 à maioria absoluta do PS (8 ano de governo, no cenário mais favorável) corresponderia a presidência de Cavaco (10 anos no cenário mais provável).

É a possibilidade da concretização de um cenário com a obtenção do máximo denominador comum de estabilidade política e autoridade democrática.

Caso o PS não alcance a maioria absoluta nas legislativas tudo será diferente. A ver vamos!



"Olho-te nos olhos e pergunto-me de que côr serão teus sonhos..."


Terça-feira gorda. O Dr. Santana Lopes não faz campanha eleitoral no Carnaval. Mas assinou ontem um protocolo. Com pompa e circunstância. Ainda se fosse a inauguração do novo aeroporto da Ota. Como primeiro-ministro valia a pena o desaforo. Mas não tem obra para apresentar. Uns livros e um protocolo para dar uso civil a um aeroporto militar. Ainda por cima sem a presença do ministro da defesa. Até deu para o Eng.º Sócrates dar um elogio ao Dr. Portas.

Não sei o que se passa na cabeça do dito cujo mas tenho para mim que está a tentar colocar-se no papel do que ele pensa ser o sentimento do cidadão comum. Descrédito nos políticos. Mal por mal antes o Pombal! Esta estratégia do Dr. Santana, e do seu círculo restrito de amigos, ou está muito bem urdida ou está à deriva. Inclino-me mais para a segunda hipótese.

O Dr. Santana entrou naquela fase de roda livre em que tudo se pode esperar. Ou me aceitam como sou ou nada feito! O PSD que se lixe! Acho que o Dr. Santana vai acabar na “Quinta das Celebridades II” a ganhar umas massas e a aproveitar da notoriedade do cargo de “primeiro” e da campanha eleitoral.

De cada vez que lhe vejo o olhar a imagem que dele transparece é o vazio.

Fotografia de Helder Gonçalves- Granada, 2003

segunda-feira, fevereiro 7

Mário de Sá-Carneiro

Quasi

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d´espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quasi vivido...

Quasi o amor, quasi o triunfo e a chama,
Quasi o princípio e o fim - quasi a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quasi, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos d´alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos d´herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

..................................................................
..................................................................

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Paris, 13-5-1913

Mário de Sá-Carneiro

"Só"

“Estou de facto só. Apesar de tu existires, Gelnaa, rejeito em bloco o passado, o presente, o futuro e escrevo as duas palavras, desolação, desilusão, que tanto ponderei. Para quê afinal se hoje não tenho outras?”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 14 (3 de 3)

"O Chumbo"

Na vida como na política o carácter dos homens determina o essencial da sua acção. Não é possível esconder todo o tempo a perversidade do carácter dos homens públicos. Em democracia essa é mesmo uma tarefa impossível.

Ao fim de algum tempo a propaganda que transformara um político num decisor perfeito como que se desmorona. Isso acontece quando o carácter do homem político se revela vulgar, atreito a preocupar-se com as tarefas mesquinhas, os juízos preconceituosos e as decisões sectárias, quando não persecutórias.

O carácter dos homens é, no fundo, o essencial na política. Bagão Félix é uma expressão da verdadeira natureza do mal na política. A dissimulação levada aos limites torna-se uma obsessão perigosa para a própria democracia. Até Santana Lopes foi obrigado a reconhecer isso quando “dispensou” Bagão Félix de um seu governo virtual que o povo português, por sua vez, também já dispensou.

Estamos a 12 dias das eleições. Santana esbraceja qual naufrago que agarra, desesperado, todos os sobreviventes, arrastando-os para o fundo. Bem vistas as coisas é provável que só venham a sobreviver os que ficaram fora do "barco do santanismo" ou os que se protegeram com o silêncio autentico da vergonha.

Leia-se: "O Chumbo", de Nicolau Santos, in “Expresso on line” (acesso integral à leitura só para assinantes):

“O Presidente da República vai vetar a nova Lei Orgânica do Ministério das Finanças. Faz Jorge Sampaio muito bem. Sob essa capa, o que o ministro das Finanças pretende é acabar com a autonomia administrativa e financeira de entidades reguladoras, como o Instituto de Seguros de Portugal e a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, e passar a controlá-las do Terreiro do Paço.”

sábado, fevereiro 5

Debate a Dois

Eleições e Debates. Programas e protagonistas. Já temos assistido a muitos. Soares, Cunhal, Freitas, Sá Carneiro, Pintassilgo, Mota Pinto, Eanes, Sampaio, Cavaco, Constâncio, Ferro, Durão.

Santana, Sócrates. Este foi mais um. Mas ficou à vista de toda a gente que um só debate não é suficiente. Seriam necessários dois ou três. A Sócrates não interessavam? Tenho as maiores duvidas. Pois Sócrates os ganharia a todos. Foi um erro da estratégia do PS. Santana não suportaria ser confrontado com as “trapalhadas” e não chegou a sê-lo. Aí saiu beneficiado.

Além do mais, e mais importante, não se abordaram diversas questões centrais da política nacional. Isto é um assunto sério. Salvo alguma referência telegráfica nem uma palavra acerca da educação, saúde, justiça, imigração, demografia, defesa, segurança, Europa, relações externas…A complexidade dos problemas da governação não foram revelados.

Eu vi, na íntegra, um dos debates entre Bush e Kerry. Aí se revelavam, com mais clareza, as diferenças dos programas e das personalidades. Aqui parece um jogo das escondidas. Sócrates acabou por se diferenciar puxando para a primeira linha as questões sociais. Curioso jogo que eu tinha previsto, num post antigo, comentando o Congresso do PS.

Sócrates marcou a diferença onde recusara a diferença no debate interno. Mesmo na questão do que “é vencer” as eleições no discurso de Sócrates aflorou um lapso, ou uma “fraqueza”, quando não atacou, logo na primeira frase: “para o PS vencer é obter a maioria absoluta”. A sua resposta foi um acto falhado lembrando o discurso de Guterres em 1999.

Por outro lado Alegre hoje surgiu em Beja a reforçar a linha da esquerda socialista que Ferro encarnaria com mais autenticidade. Com um PSD desfeito e Santana Lopes desacreditado a maioria absoluta joga-se, afinal, à esquerda. Suprema ironia, com profundas consequências futuras, para Sócrates que surge perante a opinião pública com um programa político de centro-esquerda.

O debate serviu, ao menos, para mostrar, e isso é positivo, que Santana e Sócrates são diferentes.

Ver esta análise bastante interessante.



O Futuro do PSD

A reflexão de Pacheco Pereira acerca do futuro do PSD interessa a todos.

Neruda e Picasso



El viento en la Isla

El viento es un caballo
óyelo como corre
por el mar, por el cielo.
Quiere llevarme: escucha
cómo recorre el mundo
para llevarme lejos

Escóndeme en tus brazos
por esta noche sola,
mientras la lluvia rompe
contra el mar y la tierra
su boca innumerable.

Escucha cómo el viento
me llama galopando
para llevarme lejos.

Con tu frente en mi frente,
con tu boca en mi boca,
atados nuestros cuerpos
al amor que nos quema,
deja que el viento pase
sin que pueda llevarme.

Deja que el viento corra
coronado de espuma,
que me llame y me busque
galopando en la sombra,
mientras yo, sumergido
bajo tus grandes ojos,
por esta noche sola
descansaré, amor mío.

Pablo Neruda

Eleições, continuidade e mudança

O artigo, com o título em epígrafe, publicado ontem no “Semanário Económico”, já está disponível no site daquele Semanário, podendo ser também ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.

"Para começar o quê?"

"Não compreendo bem. E depois, sem filhos, o rio pára em mim, o fio de aranha quebra-se. Não entro nesta ordenação de factos, de gente, nesta engrenagem que ultrapassa o nascimento e a morte de cada um, ou melhor, termino-a. Para começar o quê?"

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 14 (1 de 3)

quinta-feira, fevereiro 3

A Cauda da Serpente

A cauda da serpente rabeia, ainda rabeia. A verdadeira natureza do PP revela-se em toda a sua miséria. Sempre é melhor assim do que a dissimulação como sistema de afirmação das ideologias totalitárias. (Ainda espero saber qual a posição política do PP face à questão da imigração, por exemplo).

Estamos no terreno em que só pelas margens ou insinuações no discurso os dirigentes revelam as diferenças de políticas e ideologias. Um dia Louçã proscreve Portas por não procriar, no outro Santana afirma-se, perante as mulheres, como “muito homem” colocando Sócrates noutros “colos”, agora Guedes conclamação o povo de Coimbra ao levantamento popular, excluindo Sócrates do “direito à cidade”.

O caminho das eleições, até 20 de Fevereiro, estará pejado de insinuações torpes, ameaças de violência e arroubos de valentia. É assim a nossa direita nacional-populista em democracia. Abençoada União Europeia.

Nobre Guedes apela a levantamento popular para impedir entrada de Sócrates em Coimbra

quarta-feira, fevereiro 2

As cartas

Louçã acusa Portas e Bagão de usarem moradas de ex-combatentes

Agora percebi o des-encantos

"evitar que a tempestade das coisas desencadeadas nos corrompa ou destrua"



“O poema é um objecto de substância especialíssima, com meios de produção adequados, cuja evolução se processa por caminhos muito seus que não admitem, ao que penso, qualquer ruptura na profunda integridade em que fluem. A poesia evolui, experimenta, liberta-se, mas não deixa de ser um produto directo, dilecto, da consciência humana. A verdadeira vanguarda não imita exactamente aquilo que mais precisa de combater, o esquecimento do homem na rápida aridez do mundo, que não advém do progresso mas do seu uso deturpado. Se a poesia é como queria Maiakovski uma “encomenda social”, o que a sociedade pede aos poetas de hoje, mesmo que o peça nebulosamente, não anda longe disto: evitar que a tempestade das coisas desencadeadas nos corrompa ou destrua.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pág. 13 (3 de 3)

Para Compreender Santana

“Digamos, sucintamente, que o santanismo nos propõe novamente uma cena mediática, imaginária, essencialmente espectacular. Numa mistura de discursos, decisões incoerentes e oportunistas em que se mistura o elogio do 25 de Abril (da democracia, dos valores da liberdade) com a leviandade de iniciativas que parecem caprichos ou nascidos de humores variáveis segundo os momentos, Santana Lopes dá-nos uma imagem da governação – e do comportamento político e cívico de que ele, enquanto primeiro-ministro nos dá o exemplo – que se adequa curiosamente aos antigos comportamentos que herdámos do salazarismo”.

(...) "Docemente sem escrúpulos, suavemente cínico, gozador da vida empírica imediata, amigo dos amigos semelhantes - esta imagem do comportameneto cívico do cidadão não convém como uma luva àquela não-existência que desde sempre devora a nossa vontade de viver de portugueses?"

José Gil – “Portugal, Hoje – O Medo de Existir”

Saraband

Fui ver Saraband. O rosto de Liv Ullmann. A luz. A palavra. As pausas. O não dito. O amor. A raiva. A ternura. A solidão. A morte. A vida. O passado. O futuro. Nós. Ali dentro. Os nossos filhos. Os nossos pais e os pais dos nossos pais. A floresta. O charco. A escada. A lágrima. O sufoco. A música. A amizade. Um dia telefono, passaram 20 anos. Um dia destes vou visitá-lo, nunca mais. Havemos de nos ver... A separação. O esquecimento. O reencontro. O vazio. A lembrança. A nossa vida ali dentro. Todo o tempo. O mais perfeito filme que se pode desejar ver. Ingmar Bergman é uma memória que nos faz reconciliar com a memória. Falando de tudo o que nos rodeia na vida concreta em que se inscrevem os medos e os sonhos, os rancores e as paixões, os filhos, avós, mulheres e amantes, a nossa vida, a doença e a morte, o nosso passado e o nosso futuro. Além do mais Saraband é o reflexo da imagem de Liv Ullmann a fulminar o imaginário de uma geração que é a minha. Tão sobriamente bela hoje como na sua juventude. Puxa, foi duro...

Os Homens do Poder Enlouqueceram

A indignidade é a sua profissão. É disso que vivem. Sócrates está a viver o seu calvário. Era previsível. Outros antes dele já o viveram. Já se esqueceram de Ferro Rodrigues? Passou tão pouco tempo!

Era certo e sabido que seria organizada uma campanha contra o líder do PS. Fosse qual fosse. E essa campanha seria em torno dos mesmos ingredientes que tanto estimula a herança de uma mentalidade fascizante que ainda percorre a sociedade portuguesa.

Quem organiza estas as campanhas sabe o que faz. Não sejamos ingénuos. São os mesmos que querem manter o poder a todo o custo. Não vale a pena dar muitas voltas à imaginação. Só há uma resposta possível: derrotá-los nas urnas.

Há quem se queixe que Santana deu um pretexto para a dramatização da campanha de que o PS precisava para obter a maioria absoluta. Mas o problema não está aí mas na baixeza moral desta gente que pode levá-los ainda mais longe.

O poder, por vezes, corrompe as consciências mas, desta vez, acho que enlouqueceu os homens do poder. A loucura já lá morava mas a expectativa de perder o poder enlouqueceu-os absolutamente.

O Dr. Dias Loureiro, o Dr. Marques Mendes, e outros que até são candidatos e que mantêm, certamente, a sua sanidade mental, não dizem nada? Vão ficar associados a esta campanha feita de indignidades?

Faltam 18 dias.

Líder socialista diz estar a ser alvo de "onda de boatos completamente falsos"
Sócrates acusa Santana Lopes de comportamento "indigno"

terça-feira, fevereiro 1

Para mí corazón.../Para o meu coração...


Para mí corazón...

Para mi corazón basta tu pecho,
para tu libertad bastan mis alas.
Desde mi boca llegará hasta el cielo
lo que estaba dormido sobre tu alma.

Es en ti la ilusión de cada día.
Llegas como el rocío a las corolas.
Socavas el horizonte con tu ausencia.
Eternamente en fuga como la ola.

He dicho que cantabas en el viento
como los pinos y como los mástiles.
Como ellos eres alta y taciturna.
Y entristeces de pronto, como un viaje.

Acogedora como un viejo camino.
Te pueblan ecos y voces nostálgicas.
Yo desperté y a veces emigran y huyen
pájaros que dormían en tu alma.

......................

Para o meu coração...

Para meu coração basta o teu peito
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a sua alma.

És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.

Pablo Neruda

“Vinte Poemas de Amor e
Uma Canção Desesperada”
Tradução de Fernando Assis Pacheco

Publicações D. Quixote

Cobardes e Hipócritas

Os cobardes atiram pedras e recolhem a mão. Insinuam não concretizando as razões das insinuações. Os hipócritas incentivam ao ódio clamando pela justiça, mentem pregando a verdade.

AMAZÓNIA


I

Selva.
O negro, o índio
e o mais que me souber.
O fogo doutro céu,
o nome doutro dia.
Tudo o que estiver
nos nervos
que me deu.

II

Navegação.
O Amazonas
atira os barcos ao mar.

Defende o seu coração
Marca as zonas
de navegar.

III

Fruto.
Minha selva
de nervos.
Potros,
potros na selva.

Maré cheia,
árvores em parto,
ondas sobre ondas
dum inferno farto.
Inferno pleno.
Terras verdes
e céu moreno.

Sol loiro.
Estrídulo, de hastes vermelhas.
Toiro.

Plasma.
Nus, torcidos.
Estrelas, que poucas.
Vento de todos os sentidos.
Bocas.

IV

Céu.
Apalpo e oiço
o silêncio. O silêncio
adensou e rangeu.

V

Anjos
entregam-se a anjos
e caem na terra
embebedados.

A terra
freme,
sabor de sol que lhe ficou
do dia calcinado,
treme
minhas orgias doiradas
enquanto as asas dos anjos
caem maculadas.

Carlos de Oliveira
In "Turismo"

( Ver “Viagens especulares. Imagens de Europa e Brasil em Carlos de Oliveira e Carlos Drummond de Andrade” - Maria Corrêa Silva – UEM)

"Site" do CDS-PP

Queria conhecer o programa do CDS-PP. A comunicação social divulgou-o num destes dias passados. Mas, espanto dos espantos, o site do CDS-PP está em baixo.

Ao contrário do que dizia uma notícia do DN, no passado dia 15 de Janeiro: “Site. «O CDS é o voto útil a Portugal» é também a mensagem com que Paulo Portas abre o novo site do CDS/PP – há anos inactivo, o site dos centristas está desde ontem disponível on-line.” Não, não está. Pelo menos não o encontro activo em lado nenhum.

A sociedade da informação ainda não chegou a um partido que se reclama ser o mais moderno e eficaz na governação. Se não fosse trágico seria cómico.

Ora como a minha curiosidade se centra na questão da imigração, sobre a qual o CDS-PP deverá assumir posições próprias - à semelhança do Partido Conservador Britânico - opostas às dos restantes partidos (incluindo PS e PSD), e não há informação disponível, pergunto-me se estamos mesmo à beira de eleições.

Ou há temas -demasiado ideológicos e embaraçosos - sobre os quais convém ao CDS-PP manter o silêncio?

Ou será mesmo um indício de que o CDS-PP está disponível para em todas as “estações” e “apeadeiros” tentar apanhar o comboio do poder?

Sofia Areal


Recebi hoje um cartão da Sofia Areal com as suas novas moradas.
Aconselho uma visita à sua obra. Uma pausa para descansar. Matar
a sede. Organizar os passeios e seguir caminho. A vida continua.

"Two American Tourists" - 1951
Foto de Mary Angel

segunda-feira, janeiro 31

Indignidade

“1 desonra; baixeza 2 desumanidade; crueldade 3 injúria; ultraje” – Houaiss

Sócrates: reacção do Governo ao apoio de Freitas do Amaral é um "acto indigno"



"O Rigor Poético"


Não me refiro já à brutal aventura da destruição que o 20º aniversário da bomba de Hiroshima, comemorado à pouco, recorda aterradoramente, ou à poluição industrial ameaçando de gangrena a terra, a água, o ar, a flora, a fauna. Refiro-me aos perigos dum outro apocalipse, por dentro, menos espectacular mas também destruidor: a tecnocracia; a habituação passiva ao mecanismo, a uma atmosfera de metal diluído; e a idolatria, a sufocante obsessão dos objectos, fomentada por um aparelho publicitário formidável. É neste ponto que julgo ter a arte um papel de medicina humanista, de contraveneno insubstituível. Sartre diz algures que o "rigor científico reclama em cada um de nós outro rigor mais difícil, que o equilibra: o rigor poético", sublinhando que se trata de duas formas culturais "complementares"".

"O Aprendiz de Feiticeiro" - Carlos de Oliveira

Fragmentos - pág.13 (2 de 3)

Fotografia de Helder Gonçalves - Santiago do Chile, 2003.

Não votem mas depois não se queixem

Freitas falou alguma coisa acerca do desvario desta direita mas sempre o podem acusar de prosseguir inconfessados interesses pessoais. Por mim acredito na sua honradez.

Pacheco Pereira sempre tem falado destes desvarios e abdicou, honra seja feita, de lugares e prebendas.

Na presente campanha eleitoral o que espanta é o espanto de alguns acerca dos métodos de Santana, Portas e Bagão.

Na política portuguesa o que espanta é o espanto de muitos acerca das perseguições movidas por esta maioria aos seus adversários políticos.

O que espanta é que alguns só agora tenham reparado como esta direita no poder tem orquestrado campanhas para liquidar, pessoal e politicamente, os seus adversários. Sem olhar a meios. À bruta ou, de preferência, dissimuladamente.

A verdade é que os que têm tido a coragem de afrontar as políticas e os métodos de Santana, Portas e Bagão têm sido, por diversas formas, perseguidos e humilhados.

Espero que, em breve, todos venhamos a saber a verdade acerca dos métodos e dos resultados para o país desta governação de direita para além do julgamento político que será feito democraticamente nas urnas.

Para compreender este fenómeno é que é muito recomendável ler José Gil (“Portugal, Hoje – O Medo de Existir”).

Os que dizem que não votam nos partidos da direita e, em “alternativa”, não votam mesmo, depois não se queixem.


domingo, janeiro 30

Dignidade


"O que vive em nós mesmo irrealizado precisa nestes tempos dúbios da rijeza da pedra. Orgulho autêntico. Recusa da conivência, do arranjo disfarçado. Dignidade. Elementos de que se faz a vagarosa teimosia dos sonhos. E então a partida está ganha. Pode perdê-la o escritor (por outras razões, aliás) mas o homem vence-a de certeza."

"O Aprendiz de Feiticeiro" de Carlos de Oliveira
Fragmentos - pág. 13 (1 de 3)

Fotografia de Helder Gonçalves
Roma - Janeiro de 2005

Este Homem

Ana Sá Lopes e Vasco Pulido Valente no "Público"

Isto sim, é doença grave!


É este mesmo o caso cuja imagem reveladora fui buscar ao barnabé. Consta-me que já estão várias juntas médicas a analisar o doente. O prognóstico parece ser grave.

sábado, janeiro 29

Santana e a Psicanálise

Vamos assistir, como previsto, a uma deriva populista pura a que Santana Lopes não é capaz de fugir. O primeiro-ministro e candidato a primeiro-ministro, Santana Lopes, entre mulheres, puxa o tema da homossexualidade. A ver se alguém lhe pega.

Já Loução tinha caído na tentação a propósito da questão do aborto no debate com Portas. O objectivo a atingir é de uma baixeza tão triste como os seus autores. A mensagem subliminar é óbvia: na campanha só existe um verdadeiro macho. E quem havia de ser? Santana. O puro macho latino, ou melhor, português, mesmo assim um macho latino de segunda.

Hoje vi o seu novo cartaz de propaganda mas sinceramente não me consigo lembrar da mensagem. Estava a ser colado. Diz qualquer coisa como: “Este sim, sabe quem é”. Ao lado da foto de Santana. (O meu filho deu-me uma ajuda). Terá alguma coisa a ver com o discurso do casamento entre homossexuais? Ou com psicanálise? Não se entende bem o alcance da coisa! Talvez a Clara Ferreira Alves, por exemplo, possa dar uma ajuda na interpretação da mensagem. Parece uma brincadeira. Cara.

O povo, coitado do povo!

sexta-feira, janeiro 28

Carlos de Oliveira


Carlos de Oliveira[Portugal] 1921–1981
The son of Portuguese emigrants to Brazil,
Carlos de Oliveira was born in Belém do
Pará in 1921. Two years later the family
returned to Portugal, settling in a rural
district northwest of Coimbra. It was in
Coimbra that the writer went to high
school and then on to university,
graduating in History and Philosophy
with a thesis titled Contribution to a
Neo-Realist Aesthetics. That was in 1947,
the fifteenth year of the by then firmly
entrenched Salazar dictatorship.

"Santana admite dívidas"

Pois é! Pode acontecer a qualquer um, menos ao primeiro-ministro! Eu recebi, como relatei há pouco tempo, uma cartinha das finanças com a ameaça de penhora de bens por uma “divida” de 88 euros!

Pode parecer estranho ao Dr. Santana Lopes mas o primeiro-ministro não é um cidadão como outro qualquer! O Dr. Santana Lopes se ainda não percebeu que é primeiro-ministro não vai chegar a ter tempo para o perceber.

Mas o senhor ministro das finanças, Bagão Félix, não conhecia a situação fiscal do primeiro-ministro? Eu acho que muita gente sabia! Porque não pediu a demissão do primeiro-ministro? Não faria sentido, não é? Então porque não se demitiu ele próprio?

Finalmente qual a sua “ética” para pedir a demissão de Freitas do Amaral? Faltam 22 dias…

“O primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, admitiu hoje que teve dívidas às Finanças relativas a juros e justificou que isso pode acontecer a qualquer cidadão que vive do seu salário.

«Às vezes pode haver uma questão de juros, como com todos os cidadãos que vivem dos seus salários», disse Santana Lopes depois de ter sido questionado sobre quando é que regularizou as dívidas ao fisco hoje noticiadas por um jornal.”

Expresso on line

Com Freitas contra a política do medo

Sei do que fala Freitas do Amaral. Bagão Félix gosta de se apresentar como o “guru” da ética, sob cuja fina capa se esconde a continuação da política do medo que, sob outras formas, se perpectua desde a ditadura de Salazar. (Ver anteriores citações de José Gil).

Bagão Félix é o soprano dessa hipocrisia de proclamar a ética e praticar o seu contrário. Conheço os seus truques. A festa está a acabar. Perseguição política, é isso! Até aos limites da insanidade mental. As faces que, ontem, apresentavam os dirigentes do PP, atacando Freitas, tresandavam a ódio e Bagão Félix é o seu mensageiro mais refinado.

“Freitas do Amaral recusa demitir-se da presidência da assembleia geral da Caixa Geral de Depósitos (CGD), como sugeriu o ministro das Finanças, por ter feito um parecer contra a transferência do fundo de pensões do banco para o Estado.

"Não renuncio ao cargo, como é óbvio", garante Diogo Freitas do Amaral, em comunicado hoje divulgado.

"Se o senhor ministro quiser demitir-me, ele que assuma a responsabilidade", acrescenta.

"Não será a primeira vez, nem provavelmente a última, que este Governo faz perseguição política aos seus adversários", insinua.

No comunicado, Freitas do Amaral questiona o facto de o ministro das Finanças, António Bagão Félix, só ter reagido hoje, três dias depois de divulgado o parecer.

"Lamento e estranho que o senhor ministro das Finanças só tenha reagido contra mim, não quando o meu parecer foi tornado público (terça-feira, dia 25 de Janeiro), mas apenas hoje (sexta-feira, dia 28 de Janeiro), logo que foi conhecido o meu apoio público ao PS nas próximas eleições", afirma o jurista.
(…)
"Dificilmente se percebe como é que Freitas do Amaral não renuncia ao lugar de presidente [da mesa da assembleia geral da CGD] depois de discordar tão frontalmente da posição do accionista que o nomeou e representa", acrescentou (Bagão Félix).


Na resposta a estas declarações, Freitas do Amaral afirma que é um jurisconsulto independente, diz que não existe qualquer incompatibilidade entre ter feito o parecer e presidir à assembleia geral da CGD e garante que não renuncia ao cargo.

"Sou um jurisconsulto independente e, para dar os meus pareceres, não falo com ninguém antes, como a pedir licença, e muito menos ao Governo", aponta Freitas do Amaral, defendendo a inexistência de qualquer incompatibilidade.

"Eu não dei um parecer contra a Caixa, mas sim a favor dos seus trabalhadores e, portanto, a favor da própria Caixa", sustenta.

Lusa



Sondagens - e não se pode exterminá-las?

Santana Lopes, derrotado em todas as sondagens, ameaça com os tribunais. Nunca se tinha visto uma iniciativa política que evidenciasse tanto desespero.

As sondagens podem estar erradas mas apontam todas no mesmo sentido: a vitória dos socialistas. O indicador mais eloquente é o que respeita à convicção esmagadora de que o PS vai ganhar. Depois resta somente a dúvida acerca da dimensão da vitória do PS que depende do sentido de voto dos indecisos.

Breve síntese do dia:

Correio da Manhã
Sondagem: diferença do PS para o PSD aumentaMaioria na mão dos indecisos


Diário de Notícias
PSD com mínimo histórico, socialistas menos absolutos...

Público
PS com maioria absoluta mas há um terço de indecisos

Ser Livre


"Dentro mandamos nós. Se não podemos expandir-nos livremente podemos recusar, fechar a porta às intrusões, manter a casa limpa. Difícil e duro, eu sei. Custa momentos de grande solidão. Mas pagando esse preço as pessoas dormem em paz consigo mesmo."

"O Aprendiz de Feiticeiro" de Carlos de Oliveira
Fragmentos - pag. 12 (3 de 3)

quinta-feira, janeiro 27

O Bom Senso e o Reino do Medo

“A democracia tornou-se uma questão de bom senso. É a única via. Impõe-se universalmente e impõe-se em Portugal, misturando-se com o mais fino tecido das mentalidades que querem o consenso e fogem dos conflitos, valorizando acima de tudo a paz da mediania, o equilíbrio do justo meio – numa palavra, o bom senso.”

“Ausência de excessos, mediania em tudo, limitações legitimadas pelos “costumes”, quer dizer, pela própria coesão da sociedade civil – tudo isto que era sustentado pelo regime de Salazar é hoje suportado pela norma única invisível do bom senso. Não há outra via. O medo, de perder todos os benefícios materiais que a entrada na União Europeia proporcionou, enxertou-se no sedimento de temor que já existia, transformando-o. Nasceu um novo objecto em que se investiu, inconscientemente, o medo do medo, o pequeno terror, a exclusão, o próprio terror de ser excluído, ou de vir a ser objecto de conflito (que comporta a ameaça de exclusão). Ameaça que existe disseminada no interior do real, sem que se saiba quem é o responsável, sem que o real se desrealize. É pois sempre mais conveniente continuarmos a não assumir responsabilidades, a não afrontar opiniões contrárias, a fugir aos problemas e a não pensar mais além das soluções que entram no quadro de todas as integrações. Sobretudo, recusar os conflitos.”

(Citações de “Portugal, hoje – O medo de existir” de José Gil - Editora Relógio d´Água)

Votar ou não votar, eis a questão!

Freitas do Amaral vota PS

O problema destas eleições é que a tomada de posição de Freitas do Amaral não é surpreendente. Surpreendentes serão as tomadas de posição de figuras notáveis da sociedade portuguesa a apelar ao voto no PSD.

O apelo ao voto é algo de natural em regime democrático. Ou, não é? Votar é a posição mais natural em regime democrático. Ou, não é!

Está na moda escarnecer os políticos, cavar a desilusão, enegrecer o quadro da descrença. Mas as eleições vão ditar vencedores e vencidos. Se nós não votarmos, alguém vai "votar por nós".

Se não votarmos o "buraco negro" do não dito, ou do "não inscrito", vai crescer. É a via indolor para a autocracia mediática. Mais vale prevenir que remediar. Mais vale que as sondagens sejam menos promissoras para o PS. Para estimular o voto no PS.

"Que Fazer Então?"


"Que fazer então? Pensarmos, já se vê. Ou (melhor ainda) pedir a Fausto que pense por nós o medo da velhice, o amor perdido, a juventude lá para trás, e tente sem descanso o negócio ilusório pensando esta última coisa:
- Que pena o Diabo não existir.
Enquanto repetimos melancolicamente:
- De facto, que pena."

"O Aprendiz de Feiticeiro" de Carlos de Oliveira
Fragmentos - pág. 12 (2 de 3)

quarta-feira, janeiro 26

Bases Programáticas do PS

Agora sim, parece que é possível ter acesso, on line, às bases programáticas do PS, ou seja, aos compromissos de governo.

Posso escrever os versos...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe."

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a, e por vezes ela também me amou.

Em noites como esta tive-a nos meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi já.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, e ela não está comigo.

A mesma noite faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas tanto que eu a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta a tive nos meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.

Embora esta seja a última dor que ela me causa
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

Poema 20 de
“Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”

Tradução de Fernando Assis Pacheco
Publicações D. Quixote

Pode ouvir o poema dito aqui.

Faz Frio?


Esperando pelo frio anunciado. Era do Ártico que ele vinha?

José Gil

O livro é pequeno. Barato. Em formato popular. Paradoxal para um livro de filosofia. Assim como a sua actualidade crítica (violenta) do poder e da própria situação política em Portugal.

Acabei de o ler. Não vou sequer entrar no comentário. Se fosse há vinte e cinco anos atrás faria, com fragmentos dele, um livro artesanal. Como fiz de outros que mais me impressionaram.

Agora, depois de tantas experiências, o que posso dizer é que vi neste livro um retrato, a preto e branco, do “ser português”. Conheço, à minha maneira, esta história de algum lado. Também me cabe uma parte dela. Como a todos nós. O mais que posso fazer é recomendar vivamente a sua leitura.

“Portugal, Hoje – O Medo de Existir”, autor: José Gil; Editora: Relógio de Água.

As Contas Públicas

Défice orçamental de 2004 agravou-se 10,1 por cento face a 2003

A divulgação pela DGO (Direcção Geral do Orçamento) destes números só pode ter sido autorizada pela tutela: Ministro das Finanças. Se os números estão errados há que demitir quem os autorizou, se estão certos (o mais certo) é um atestado de incompetência política à gestão do Ministro Bagão Félix.

Afinal, apesar de todas as cosméticas, Bagão Félix é um gastador ou, pelo menos, não foi capaz de controlar a despesa pública. Austero, mas pouco! Quando passar a pasta espero que se fiquem a conhecer os “cadáveres” que o Ministro Bagão Félix guarda no armário – Ministério por Ministério – incluindo o da Defesa.



"Até ao Fim"

“Ora, se não podemos empenhá-la, a juventude herdada pelos filhos apesar de viável resolve mal (não resolve) o problema. Evidentemente, ninguém é o próprio filho, por mais enredadas e complexas que nos pareçam as relações ascendência-descendência, por maior que seja a carga biológica, afectiva, social, histórica, detectável nelas. Não se transmite a individualidade mas apenas alguns cromossomas. O indivíduo (leia-se tudo o que a palavra condensa de insubstituível, irrepetível) continua prisioneiro da sua pele, do seu limite, até ao fim.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 12 (1 de 3)

terça-feira, janeiro 25

Livro Verde da Imigração

A “Comissão Europeia” decidiu recentemente relançar o debate acerca da imigração económica na Europa. Um tema que, como já afirmei, deveria, no debate eleitoral, em Portugal, separar as águas entre a direita e a esquerda.

Antes de abordar a questão nos programas eleitorais dos partidos portugueses, quando todos os tiverem divulgado, assinalo a publicação do “Livro verde – uma abordagem comunitária da gestão das migrações económicas”, que pode ser lido aqui.

Pentimento

Belas as imagens que Marcelo adoptou para ilustrar a transcrição de alguns fragmentos de “O Aprendiz de Feiticeiro”, de Carlos de Oliveira, que fazem parte deste livro artesanal que compus nos inícios de Agosto de 1981. Chama-se a isto uma parceria informal pelo gosto…

"O Ponto Fraco das Utopias"

“O ponto fraco das utopias, porque têm um, consiste na sua qualidade de negócios perdidos à priori; belos mas (redundantemente) utópicos. A juventude reencontrada à nossa espera na derradeira esquina da vida? Ilusões. E então o instinto de Osório segreda-lhe para além do sonho a solução possível: um filho. Creio que, no fundo, o esquema autêntico é esse. Não se reencontra a juventude mas a juventude que ela gera e que não podemos empenhar.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (4 de 4)

O Debate Acerca dos Debates

Muito sintomático este debate. As televisões impõem as regras do debate político. Reparem como “O PSD aceitou hoje a proposta da SIC”. A SIC e o PSD, o PSD e a SIC. Tudo em torno, afinal, do PDS. Pois não é, afinal, Pinto Balsemão, proprietário da SIC, fundador e militante do PSD? Parece um tanto simplista demais, mas é mesmo assim.

Todos sabem que, nas eleições de 2002, Durão Barroso impôs um só debate, a dois, na SIC. Assim foi. Todos sabem que nos debates travados entre Santana e Sócrates, durante mais de um ano na SIC, Sócrates levou sempre vantagem.

Santana está encostado às cordas e vai levar, até ao fim, a campanha da vítima inocente. Pena é o sentimento que tenta instalar entre os eleitores. Triste bandeira política para um líder a quem foi dada, de mão beijada, o estatuto e a tribuna de primeiro-ministro para enfrentar uma campanha eleitoral.

Entre queixas, lamúrias e inaugurações de última hora se arrasta a campanha eleitoral do PSD. Não sei quem ganhará mais votos com o debate acerca dos debates mas não podem ser as televisões a dirigir as escolhas políticas dos portugueses. Este é um caso em que está em jogo mais do que se possa pensar: a ditadura mediática, cavalo em que jogam todos os líderes populistas.

“PSD aceita, PS recusa
O PSD aceitou hoje a proposta da SIC para um frente-a-frente entre Pedro Santana Lopes e José Sócrates no Jornal da Noite, nos dias 2 ou 3 de Fevereiro, mas o PS rejeitou e insistiu num entendimento entre as várias televisões.

«O PSD aceitou a proposta da SIC, que considera muito equilibrada e abrangente», disse à Lusa o secretário-geral dos sociais-democratas, Miguel Relvas.

Contudo, o PS continuou a fazer depender o frente-a-frente televisivo entre Santana Lopes e José Sócrates de um entendimento entre as diferentes estações, manifestando apenas disponibilidade para o debate promovido pelo Clube dos Jornalistas.”


"Expresso on line" (sempre o mesmo grupo mediático!)

Juventude

(…o passado) “Quando incompletamente vivido. Por outras palavras, quando se adia o amor, a acção política, o romance a escrever. Osório fica assim diante de um dilema incómodo: ou poupar a juventude ou vivê-la. No primeiro caso, de que lhe serve a juventude se não a vive completamente, isto é, se não a aproveita no que tem de mais peculiar, a plenitude e até o excesso? No segundo, adeus juventude transferida. E transferida para quê? Para a poupar de novo? Não, para a perder, como veremos adiante.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (3 de 4)

Auschwitz

A “Pública” publicou ontem um expressivo trabalho acerca do campo de concentração de Auschwitz.

“Há 60 anos, o mundo descobriu o campo de Auschwitz – as tropas aliadas chegaram a 27 de Janeiro. As vítimas não perdoam. Os outros fazem por esquecer.”

No verão passado descobri, numa arca, em casa de meus pais, uma brochura do meu velho professor de liceu Elviro Rocha Gomes, intitulada “Hitler – Quem foi e como chegou ao poder”, um libelo acusatório implacável do nazismo e do seu chefe.

Essa brochura abre com os números do holocausto. Entre muitos outros: “250 mil ou talvez perto de 300 mil (mortos) só em 1944, em Auschwitz; 8 milhões de mártires, ao todo, em todos os campos de concentração.”

Para que conste neste triste aniversário.

segunda-feira, janeiro 24

Imigração e Eleições

A imigração é um tema que separa, de forma clara, a direita da esquerda. Os conservadores britânicos assumem essa diferença chamando à primeira linha do seu programa para a próximas eleições gerais a questão da imigração.

Em Portugal, na eminência de eleições, o PSD "engole" os princípios defendidos pelos socialistas e os ultraconservadores do CDS/PP estão, para já, calados que nem ratos acerca do tema aproveitando os deslizes do BE para "deslocalizar" o epíteto de "neo-fascistas", que lhes assenta que nem uma luva, para longe. (Voltaremos ao tema no plano nacional.)

"Michael Howard, líder do Partido Conservador britânico, vai explicar hoje como é que, com cortes orçamentais de 35 mil milhões de libras, logrará estancar a imigração, mantendo uma segurança ininterrupta - 24 horas sobre 24 horas - nos portos do Reino Unido.

Isto depois de, ontem, em anúncio de página inteira no Sunday Telegraph, ter gizado as linhas gerais do seu plano de permitir apenas a entrada de "refugiados genuínos" e familiares de imigrantes já legalizados, caso ganhe as eleições legislativas da Primavera.

Descendente de uma família de imigrantes romenos (o pai imigrou para o sul de Gales em 1939), o líder dos Tories entende ser chegado o momento de impedir o surgimento de mais "Peterborough" no país - cidade com cerca de 157 mil habitantes, o correspondente ao número de imigrantes que, anualmente, entraram no Reino Unido desde 1999. Um ritmo de entradas que, de acordo com o político britânico, está a minar "as boas relações comunitárias, a segurança nacional e a gestão dos serviços públicos".

"Ao Passado Não se Volta..."

“ – Ao passado não se volta… mas … o passado quando incompletamente vivido transfere-se (não na memória, mas fisicamente) para o futuro e fica à nossa espera, puro esboço, pronto a desenvolver-se… Nesse sentido, é a própria juventude que vai resistindo ao tempo, que vai esperando por nós lá ao longe.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (2 de 4)

O Púlpito e o Santanismo

Ouço Santana a falar no púlpito adornado com a palavra Competência. A imagem ressoa a falso. A personagem não se encontra a si própria. A mensagem é reduzida a uma espécie de diálogo do candidato consigo próprio. Cada um que se amanhe na decifração da mensagem. Não há memória de um personagem como Santana na política portuguesa contemporânea.

Estou a ler “Portugal Hoje – o medo de existir”, um livro breve, mas cristalino, sobre o ser português, de José Gil, que a certo passo escreve:

“O que é próprio do santanismo, com toda a sua avidez pelo controlo dos meios de comunicação social, não é trazer a vida para o palco mediático, mas moldar a vida à imagem, os comportamentos ao capital de mediatização, produzir acontecimentos cuja importância se deverá medir pelo seu grau de eficácia mediática.” (…)

“A sua falsa “leveza”, no entanto, permite muita estratégia obscura, muito menos leve de poderes económicos e de eminências pardas que eventualmente imporiam políticas de controlo desastrosas. Tão desastrosas que podem levar a formas insuspeitadas de autocracia política ou de ditadura mediática no seio da democracia.


Se não afastarmos agora o nevoeiro que ameaça novamente toldar o nosso olhar, poderá ser demasiado tarde quando nos apercebermos que, sem dar por isso, nos encurralaram num beco, por um período indeterminado. Não pelo regime santanista, que pode ser breve, mas por outro qualquer que aproveite uma série de circunstâncias (económicas, sociais, psicológicas) para operar uma derrapagem da democracia para um sistema autocrático de tipo desconhecido.”


Verdadeiramente preocupante, senão mesmo assustador!

domingo, janeiro 23

Uff...

Tanto esforço, tanto esforço, para quê? Só não sei o que são um “Monumento ao Cristo” e uma pré-escola…palavras para quê! Só gasto espaço com isto para ilustrar a pública falta de vergonha que tomou conta do nosso governo demitido… em gestão, ou lá o que é isto.

“Em cerca de hora e meia, o primeiro-ministro inaugurou hoje, no concelho, uma unidade de cuidados continuados de saúde, um “Monumento ao Cristo”, um complexo cultural e recreativo e outro desportivo e de lazer, uma pré-escola, um terminal de camionagem, um bairro de habitação social nos Pinheirais com 26 fogos, um posto de turismo, a sede da junta de freguesia da Arrifana e ainda o pavilhão polidesportivo municipal Eduardo Campos."


"Quem Tem Medo do Vento?"

(...) "5) Provérbio a propósito: semeias florestas, colhes tempestades. Como todos os aprendizes de feiticeiro. Ainda bem. O vento nas ramagens confusas. Quem tem medo do vento?”

(Pacheco Pereira no Abrupto, certamente, por coincidência reproduz hoje a citação, que intitulei “A Dignidade”, postada no passado dia 19.)

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (1 de 4)

Moralismos Serôdios

Serôdios = “que estão fora do seu tempo” (Houaiss)

Não vi o debate Portas/Louçã que havia de ser o debate entre os dois lideres mais afastados no plano ideológico na política portuguesa.

Mas ouvi e li a frase que marcou esse debate. Acerca da despenalização do aborto Louça atirou a Portas: “O senhor não sabe o que é gerar uma vida! O senhor não sabe o que é gerar uma vida! Não tem a mínima ideia do que isso é! Eu tenho uma filha! Eu sei o que é o sorriso de uma criança!” (transcrito de Ana Sá Lopes – “Público”, de hoje, “ A velha Esquerda Moralista ao Ataque” – não disponível na versão on line).

Esta é uma daquelas tiradas que devia fazer pensar aqueles que olham o BE como uma força política de esquerda. Na verdade a afirmação de Louçã não é um lapso de um pensamento assente numa base ideológica defensora dos valores da liberdade e da tolerância. É, afinal, o seu contrário, radicando em princípios de intolerância e cultura antidemocrática de uma extrema-esquerda que foi varrida, há muito tempo, para o caixote do lixo da história.

Tem razão Ana Sá Lopes quando afirma: “O uso da vida privada de cada um com objectivos políticos é uma arma sempre populista e quase sempre indecorosa.” “Deliberadamente ou não, o BE fez o jogo da direita mais conservadora, colando-se a ela nos seus valores e preconceitos”. “A velha esquerda polícia de costumes ressurgiu, em todo o seu esplendor, na ira de Francisco Louçã …”.

Por mim sempre defendi, e pratiquei, (com consequências penalizantes para a minha própria vida pessoal, profissional e política) a mais completa e radical defesa da separação entre vida privada, vida profissional ou vida pública, seja por efeito da acção política ou de qualquer outra militância cívica.

Pois, de facto, penso que o fundamentalismo nesta separação de águas é essencial para a defesa dos próprios alicerces em que assenta a convivência humana fundada nos valores da liberdade individual e da democracia representativa.

Mas muitos já se esqueceram que o BE não é mais do que uma “diluição” entre o PSR (trotskista) e a UDP (maoista) que nunca abdicaram das suas verdadeiras ideologias de raiz, ou seja, de vocação totalitária.