“Quem quer aprender a voar, precisa primeiro aprender a ficar de pé e a andar e a subir e dançar: a arte de voar não se aprende voando!Aquele que ensinar os homens a voar afastará todos os limites, batizará a terra de novo como A Leve.Quem quer se tornar leve e se transformar em pássaro deve se amar.”
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, janeiro 5
VOAR
“Quem quer aprender a voar, precisa primeiro aprender a ficar de pé e a andar e a subir e dançar: a arte de voar não se aprende voando!Aquele que ensinar os homens a voar afastará todos os limites, batizará a terra de novo como A Leve.Quem quer se tornar leve e se transformar em pássaro deve se amar.”
O INEVITÁVEL
Não sou adepto muito fiel da celebração de efemérides. Cada um de nós as celebra à sua maneira quando não nos esquecemos delas. Não foi o caso do aniversário da morte de Albert Camus no dia 4 de Janeiro de 1960. O post anterior, Bordel, não faz menção à data mas tinha-a presente.
Poucos blogues deram pela efeméride. A Natureza do Mal foi uma honrosa excepção dando a conhecer um texto de Sartre que, nas suas entrelinhas, não esconde o afastamento entre ambos. Camus tinha-se, de forma irremediável, afastado de Sartre a partir de 1952.
Cito a descrição de um episódio chave desse afastamento, segundo Daniel Rondeau, em “Camus ou les promesses de la vie”:
“En novembre de la même année, (1946) “Ni victimes ni bourreaux” paraît à la une de Combat. La rupture avec le communisme, au moment où les informations sur les camps soviétiques se font plus précises (Sartre, alerté par Roger Stéphane, prépare un numéro des Temps modernes sur ce sujet tragique), est consommée. Camus et Sartre vont se réconcilier avant s´affronter à nouveau sur la même question en 1952, et de rompre définitivement.”
Poucos blogues deram pela efeméride. A Natureza do Mal foi uma honrosa excepção dando a conhecer um texto de Sartre que, nas suas entrelinhas, não esconde o afastamento entre ambos. Camus tinha-se, de forma irremediável, afastado de Sartre a partir de 1952.
Cito a descrição de um episódio chave desse afastamento, segundo Daniel Rondeau, em “Camus ou les promesses de la vie”:
“En novembre de la même année, (1946) “Ni victimes ni bourreaux” paraît à la une de Combat. La rupture avec le communisme, au moment où les informations sur les camps soviétiques se font plus précises (Sartre, alerté par Roger Stéphane, prépare un numéro des Temps modernes sur ce sujet tragique), est consommée. Camus et Sartre vont se réconcilier avant s´affronter à nouveau sur la même question en 1952, et de rompre définitivement.”
quarta-feira, janeiro 4
BORDEL
Bordel- Di Cavalcanti (Mestres do Modernismo)
“Le journalisme, selon Tolstoï: un bordel intellectuel.”
Albert Camus
“Le journalisme, selon Tolstoï: un bordel intellectuel.”
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
O que vejo além de mim
Fotografia de Philippe Pache
O que vejo além do mim, além do mar
Teu corpo arqueado um assobio agudo
Silvando mais alto que o pássaro alado
Um corpo em forma de violoncelo toca
A música comovente e correm lágrimas
Salgadas qual mar tornado rio pungente.
Azenhas do Mar, 7 de Agosto de 2005
O que vejo além do mim, além do mar
Teu corpo arqueado um assobio agudo
Silvando mais alto que o pássaro alado
Um corpo em forma de violoncelo toca
A música comovente e correm lágrimas
Salgadas qual mar tornado rio pungente.
Azenhas do Mar, 7 de Agosto de 2005
FELIZ AÑO NUEVO
Santiago do Chile, September 1973: August Pinochet gets the power by force, beginning a terror era
A despropósito do comentário que galgata, deixou neste post, María que me desculpe, mas lembrei-me de coisas boas, como este intercâmbio de mútuas simpatias, e de coisas más, como a lembrança das tiranias que sempre ameaçam os povos quando descrêem da sua vontade de serem livres.
A despropósito do comentário que galgata, deixou neste post, María que me desculpe, mas lembrei-me de coisas boas, como este intercâmbio de mútuas simpatias, e de coisas más, como a lembrança das tiranias que sempre ameaçam os povos quando descrêem da sua vontade de serem livres.
Um dia, de frio agreste, logo pela manhã, visitei o cemitério de Santiago. Era um sonho antigo que, felizmente, concretizei. O de saudar a memória daqueles que caíram, injustiçados, às mãos do ditador que se esconde na demência da idade.
Esta é uma imagem que me ficou gravada na memória e que, por mais súplicas da minha tolerância, tenho dificuldades em esconjurar.
FELIZ AÑO NUEVO.
terça-feira, janeiro 3
LEMBRA-TE, CORPO ... (CORPO, LEMBRA ...)
Fotografia de Philippe Pache
LEMBRA-TE, CORPO …
Corpo, lembra-te não só do quanto foste amado,
não só das camas onde te deitaste,
mas também daqueles desejos que para ti
brilhavam nos olhos abertamente,
e tremiam na voz – e algum
obstáculo casual os frustrou.
Agora que tudo está no passado,
quase parece como se também àqueles
desejos tivesses sido dado – como brilhavam,
lembra-te, nos olhos que para ti olhavam;
como tremiam na voz, para ti, lembra-te, corpo.
C. Kavafis
Tradução de Joaquim M. Magalhães e Nikos Pratsinis
Relógio d´Água
LEMBRA-TE, CORPO …
Corpo, lembra-te não só do quanto foste amado,
não só das camas onde te deitaste,
mas também daqueles desejos que para ti
brilhavam nos olhos abertamente,
e tremiam na voz – e algum
obstáculo casual os frustrou.
Agora que tudo está no passado,
quase parece como se também àqueles
desejos tivesses sido dado – como brilhavam,
lembra-te, nos olhos que para ti olhavam;
como tremiam na voz, para ti, lembra-te, corpo.
C. Kavafis
Tradução de Joaquim M. Magalhães e Nikos Pratsinis
Relógio d´Água
CORPO, LEMBRA …
Corpo, não te lembres de quanto foste amado
só; nem só dos leitos em que te deitaste;
mas também dos desejos que por ti
brilharam francamente nos olhares,
nas vozes palpitaram – e que apenas
um acaso impediu e reduziu a nada.
Agora que ao passado já pertencem todos,
quase é como se tu, a tais desejos,
também te houveras dado – como eles brilhavam,
lembra, nos olhos que se demoravam,
e como nas vozes palpitavam, lembra-te, por ti.
(1918)
Constantino Cavafy
Tradução de Jorge de Sena
“90 e Mais Quatro Poemas” - Edições ASA
(Duas traduções de um dos mais belos poemas de Kavafis (Cavafy) para que se comparem as diferenças. Esta última de Jorge de Sena, muito anterior à primeira, já a tinha postado anteriormente)
BOYS
Scarlett Johansson
Mega Ferreira no CCB
De repente, como por milagre, deixou de se ouvir falar em “jobs for the boys”. Os secretos meandros da política à portuguesa! Ou se deixaram de fazer nomeações, o que é manifestamente exagerado, ou os nomeados são todos competências inquestionáveis, ou foi celebrado um “Tratado de Tordesilhas”, ou …
Mega Ferreira no CCB
De repente, como por milagre, deixou de se ouvir falar em “jobs for the boys”. Os secretos meandros da política à portuguesa! Ou se deixaram de fazer nomeações, o que é manifestamente exagerado, ou os nomeados são todos competências inquestionáveis, ou foi celebrado um “Tratado de Tordesilhas”, ou …
segunda-feira, janeiro 2
CONTRADIÇÕES GLOBAIS
Imagem de Wang Guangyi "Chinese Contemporary Artists"
Primeiro estranha-se, depois entranha-se … depois …
1/2 Bossa Nova e Rock n Roll
Primeiro estranha-se, depois entranha-se … depois …
1/2 Bossa Nova e Rock n Roll
PATAGONIE
Photos : Roger - collection personnelle - voyage en Patagonie déc. 2005
Apresentando “Je t´ai, l´encre!
Apresentando “Je t´ai, l´encre!
domingo, janeiro 1
DESEJOS
Fotografia de Angèle
Como corpos belos de mortos que não envelheceram
e estão fechados, com lágrimas, em esplêndida tumba grandiosa,
com rosas na cabeça e nos pés jasmim –
desse modo parecem os desejos que desapareceram
sem serem cumpridos; sem nenhum deles ser dignado assim
com uma noite de prazer, ou manhã dele luminosa.
C. Kavafis
Como corpos belos de mortos que não envelheceram
e estão fechados, com lágrimas, em esplêndida tumba grandiosa,
com rosas na cabeça e nos pés jasmim –
desse modo parecem os desejos que desapareceram
sem serem cumpridos; sem nenhum deles ser dignado assim
com uma noite de prazer, ou manhã dele luminosa.
C. Kavafis
Tradução de Joaquim M. Magalhães e Nikos Pratsinis
PRIMEIRO DIA
Fotografia de Philippe Pache
Primeiro dia. O mar eleva a voz e ouvem-se os seus sons trazidos pela aragem húmida. Na ponta de terra mais ocidental da Europa o sol saúda o despertar do novo ano.
O corpo se acalma e se deixa penetrar pelo ambiente que o rodeia.
Sei do cansaço alguma coisa. E da humilhação quanto baste. Talvez mesmo da alegria. Do sofrimento físico um pouco. Todos se reparam melhor nestes dias.
Penso nos que sofrem em silêncio: aqueles para quem o tempo já nada representa.
_________________
Poema de Ano Novo
Estou medindo o tempo pelos pontos
Angulares da minha união
Com todos os outros em comunhão
A hora marca a diferença conforme
Se olham as suas faces
E se aparafusa o tempo na charneira
O tempo corre à medida que se pára
E se observa o mesmo lugar
Duas vezes à distância de um ponteiro
O tempo nos embriaga e nos mata
E na hora marcada
Não espera para nos dar a sua bênção
Azenhas do Mar, 1 de Janeiro de 2006
Primeiro dia. O mar eleva a voz e ouvem-se os seus sons trazidos pela aragem húmida. Na ponta de terra mais ocidental da Europa o sol saúda o despertar do novo ano.
O corpo se acalma e se deixa penetrar pelo ambiente que o rodeia.
Sei do cansaço alguma coisa. E da humilhação quanto baste. Talvez mesmo da alegria. Do sofrimento físico um pouco. Todos se reparam melhor nestes dias.
Penso nos que sofrem em silêncio: aqueles para quem o tempo já nada representa.
_________________
Poema de Ano Novo
Estou medindo o tempo pelos pontos
Angulares da minha união
Com todos os outros em comunhão
A hora marca a diferença conforme
Se olham as suas faces
E se aparafusa o tempo na charneira
O tempo corre à medida que se pára
E se observa o mesmo lugar
Duas vezes à distância de um ponteiro
O tempo nos embriaga e nos mata
E na hora marcada
Não espera para nos dar a sua bênção
Azenhas do Mar, 1 de Janeiro de 2006
sexta-feira, dezembro 30
DEBOCHE
Imagem daqui
O verdadeiro deboche é libertador porque não cria nenhuma obrigação. No deboche, só nos possuímos a nós mesmos; ele fica sendo, pois, a ocupação preferida dos grandes apaixonados da sua própria pessoa.
Camus – A Queda (Sublinhados de Ana Alves) 9
O verdadeiro deboche é libertador porque não cria nenhuma obrigação. No deboche, só nos possuímos a nós mesmos; ele fica sendo, pois, a ocupação preferida dos grandes apaixonados da sua própria pessoa.
Camus – A Queda (Sublinhados de Ana Alves) 9
Então é você
Então é você
que bem antes de mim
diz o que eu queria dizer
tão bem quanto eu diria.
E quem diria?
ainda melhor
Acho que teu nome é poesia
e por isso todos te chamam
Então é você
tua simples presença
preenche a minha existência
me faz ver o que eu não via.
E quem diria?
ainda melhor
Acho que teu nome é vida
e por isso todos te querem
Então é você
que quando fala
instala a compreensão
de tudo que eu seria.
E quem diria?
Ainda melhor
Acho que teu nome é amor
e por isso todos te amam
E quando todos te chamam
quem sou eu pra não chamar?
E quando todos te querem
quem sou eu pra não querer?
E porque todos te amam
“eu sei que vou te amar”
Estrela Ruiz Leminski e Alice Ruiz
5+2=7
A Ler no Corporações: isto, isto e mais isto – a PT dá para tudo. Comissão Executiva 5+2=7. Tudo previsto nos Estatutos! As soluções de gestão encontradas pelas empresas privadas são lá com elas. Mas a PT joga em todos os tabuleiros.
Um dia estava na presidência do INATEL e fez-se um concurso para contratar as telecomunicações. Resultado de um processo de choque tecnológico “avant la lettre”. A PT perdeu perante uma proposta mais vantajosa da ONI. Os poderes devem ter ficado tristes! Estão a perceber? Com o tempo vamos percebendo a lógica dos poderes!
Não se pode privatizar a PT a 100%? Ou fazer como na TAP: contratar uma equipa de gestores estrangeiros? Já não se pode ouvir falar no Dr. Horta e Costa. Sempre os mesmos em rotação, dentro de cada empresa, ou saltitando de empresa em empresa.
Um dia estava na presidência do INATEL e fez-se um concurso para contratar as telecomunicações. Resultado de um processo de choque tecnológico “avant la lettre”. A PT perdeu perante uma proposta mais vantajosa da ONI. Os poderes devem ter ficado tristes! Estão a perceber? Com o tempo vamos percebendo a lógica dos poderes!
Não se pode privatizar a PT a 100%? Ou fazer como na TAP: contratar uma equipa de gestores estrangeiros? Já não se pode ouvir falar no Dr. Horta e Costa. Sempre os mesmos em rotação, dentro de cada empresa, ou saltitando de empresa em empresa.
CORPO (2)
O corpo de mulher é fascinante pelas suas imperfeições, mais do que pelas suas linhas perfeitas. A soma das imperfeições do corpo de mulher pode inspirar uma sinfonia, mas a soma das suas infinitas perfeições é uma desolação.
quinta-feira, dezembro 29
Quem, se eu gritasse ...
Fotografia de Jacques Henri Lartigue
Apresentando: Quem, se eu gritasse...
Promete-me que as tuas palavras chegarão em silêncio
Apresentando: Quem, se eu gritasse...
Promete-me que as tuas palavras chegarão em silêncio
Que serão da matéria da noite
Promete-me palavras de ar, de saliva ou de sangue
Inteiras e nuas como a alma
Derramadas na pele como luz ou música
Palavras que possa guardar em mim
Como uma memória ou um filho
ARISTOCRACIA
Fotografia de Philippe Pache
Reparei sem dificuldade, a propósito do segundo aniversário do absorto, que ele é reconhecido como um “blogue camusiano”. Mais do que qualquer outro tema avulta este sinal de identidade. Não esperava tamanha espessura alcançada por esta manifestação de interesse por Camus que me acompanha desde a adolescência.
Mas atenção que, por detrás desta quase obsessão, se encontram diversas perplexidades, senão mesmo contradições, em particular, no que respeita à relação do seu pensamento com a esquerda do seu e do nosso tempo.
Camus rompeu com a ortodoxia do pensamento da esquerda, dominado pelos comunistas, marcando, com a sua obra, um caminho de incessante busca da perfeição e da verdade que não se compadeceu com qualquer obediência de natureza política ou ideológica.
Nada me opõe à fidelidade a princípios, antes pelo contrário, mesmo que tenham as suas raízes numa filiação partidária ou fé ideológica, desde que não ceguem no homem a capacidade da busca da verdade, da liberdade e da justiça.
Nas batalhas da vida e da política, por vezes, precisamos de afirmar a nossa fidelidade à herança ideológica que se encontra depositada no mais fundo de nós. Reconhecendo os defeitos de qualquer escolha, seja ela qual for, arriscamos escolher e aceitando o risco da escolha, mostramos o valor da tolerância.
Eu escolho Mário Soares não tanto por uma razão de fidelidade pessoal, pois não partilho qualquer interesse material ou relação pessoal com ele, mas porque me permite aderir ao essencial de uma ideia do homem e do mundo que, no fundo, sempre foi a minha. Sei que todos os políticos têm defeitos e contra cada um deles se movem montanhas de ressentimentos.
Eu ataco Cavaco para defender Soares. Tenho que aceitar que ataquem Soares para defender Cavaco. Mesmo Vasco da Graça Moura quando ataca Soares violentamente, confirmando a importância de Soares, integra plenamente o jogo democrático que suporta pior os silêncios manhosos do que os ruídos estridentes.
Mas partilho essa ideia antiga que nos diz que devemos aceitar partilhar os defeitos dos outros para que possamos ser aceites, por eles, com os nossos próprios defeitos. Coloco-me do outro lado da virtude pura que, quando proclamada como bandeira política, conduz, quase sempre, à tirania.
Revejo-me, nas minhas deambulações pelas dúvidas acerca do destino imediato da comunidade nacional, tomando partido, optando, escolhendo e recusando, nesta reflexão de Camus que, apesar de se referir a um século que já passou, se mantém, plenamente actual:
“Quoi qu´il prétende, le siècle est à la recherche d´une aristocratie. Mais il ne vois pas qu´il lui faut pour cela renoncer au but qu´il s´assigne hautement: le bien-etre. Il n´y a d´aristocratie que du sacrifice. L´aristocrate est d´abord celui qui donne sans recevoir, qui s´oblige. L´Ancien Régime est mort d´avoir oublié cela.”
Reparei sem dificuldade, a propósito do segundo aniversário do absorto, que ele é reconhecido como um “blogue camusiano”. Mais do que qualquer outro tema avulta este sinal de identidade. Não esperava tamanha espessura alcançada por esta manifestação de interesse por Camus que me acompanha desde a adolescência.
Mas atenção que, por detrás desta quase obsessão, se encontram diversas perplexidades, senão mesmo contradições, em particular, no que respeita à relação do seu pensamento com a esquerda do seu e do nosso tempo.
Camus rompeu com a ortodoxia do pensamento da esquerda, dominado pelos comunistas, marcando, com a sua obra, um caminho de incessante busca da perfeição e da verdade que não se compadeceu com qualquer obediência de natureza política ou ideológica.
Nada me opõe à fidelidade a princípios, antes pelo contrário, mesmo que tenham as suas raízes numa filiação partidária ou fé ideológica, desde que não ceguem no homem a capacidade da busca da verdade, da liberdade e da justiça.
Nas batalhas da vida e da política, por vezes, precisamos de afirmar a nossa fidelidade à herança ideológica que se encontra depositada no mais fundo de nós. Reconhecendo os defeitos de qualquer escolha, seja ela qual for, arriscamos escolher e aceitando o risco da escolha, mostramos o valor da tolerância.
Eu escolho Mário Soares não tanto por uma razão de fidelidade pessoal, pois não partilho qualquer interesse material ou relação pessoal com ele, mas porque me permite aderir ao essencial de uma ideia do homem e do mundo que, no fundo, sempre foi a minha. Sei que todos os políticos têm defeitos e contra cada um deles se movem montanhas de ressentimentos.
Eu ataco Cavaco para defender Soares. Tenho que aceitar que ataquem Soares para defender Cavaco. Mesmo Vasco da Graça Moura quando ataca Soares violentamente, confirmando a importância de Soares, integra plenamente o jogo democrático que suporta pior os silêncios manhosos do que os ruídos estridentes.
Mas partilho essa ideia antiga que nos diz que devemos aceitar partilhar os defeitos dos outros para que possamos ser aceites, por eles, com os nossos próprios defeitos. Coloco-me do outro lado da virtude pura que, quando proclamada como bandeira política, conduz, quase sempre, à tirania.
Revejo-me, nas minhas deambulações pelas dúvidas acerca do destino imediato da comunidade nacional, tomando partido, optando, escolhendo e recusando, nesta reflexão de Camus que, apesar de se referir a um século que já passou, se mantém, plenamente actual:
“Quoi qu´il prétende, le siècle est à la recherche d´une aristocratie. Mais il ne vois pas qu´il lui faut pour cela renoncer au but qu´il s´assigne hautement: le bien-etre. Il n´y a d´aristocratie que du sacrifice. L´aristocrate est d´abord celui qui donne sans recevoir, qui s´oblige. L´Ancien Régime est mort d´avoir oublié cela.”
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
AS JANELAS
Fotografia de Daniel Costa-Lourenço in Olhares
Nestas salas escuras, onde vou passando
dias pesados, para cá e para lá ando
à descoberta das janelas. – Uma janela
quando abrir será uma consolação. –
Mas as janelas não se descobrem, ou não hei-de conseguir
descobri-las. E é melhor talvez não as descobrir.
Talvez a luz seja uma nova subjugação.
Quem sabe que novas coisas nos mostrará ela.
C. Kavafis
Nestas salas escuras, onde vou passando
dias pesados, para cá e para lá ando
à descoberta das janelas. – Uma janela
quando abrir será uma consolação. –
Mas as janelas não se descobrem, ou não hei-de conseguir
descobri-las. E é melhor talvez não as descobrir.
Talvez a luz seja uma nova subjugação.
Quem sabe que novas coisas nos mostrará ela.
C. Kavafis
Tradução de Joaquim M. Magalhães e Nikos Pratsinis
Relógio d´Água
quarta-feira, dezembro 28
CORPO (1)
A mais bela das invenções humanas foi o corpo e a imagem dele. Ele se afirma pela transfiguração, seja na pose para a objectiva, seja no gesto quotidiano, seja no trabalho ou no repouso, seja na violência ou na dádiva de amor.
IMAGINATIO LOCORUM
Fotografia de Angèle
Era uma vez talvez algum país de sinos
de sons entreouvidos no passado
constantemente renovado de quem morre cada dia
e forra de manhãs o interior dos olhos
(…)
Ruy Belo
IMAGINATIO LOCORUM
O problema da Habitação
Era uma vez talvez algum país de sinos
de sons entreouvidos no passado
constantemente renovado de quem morre cada dia
e forra de manhãs o interior dos olhos
(…)
Ruy Belo
IMAGINATIO LOCORUM
O problema da Habitação
terça-feira, dezembro 27
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