quinta-feira, julho 28

LIBERDADE

(Interpretado na voz de João Villaret)

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

2 comentários:

Anónimo disse...

Sr. Eduardo

“O problema não é inventar, é ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente”. Carlos Drummond de Andrade

O negócio é se reeditar, sempre

Rose

Eduardo Graça disse...

Mudando de assunto quero compartilhar um problema: quando coloco um poema e não verifico, pela sua edição em livro, a sua correcção fico preocupado. Foi o caso deste que, ainda por cima, é daqueles que quase se sabe de cor. Preciosismos!