segunda-feira, novembro 14

EDITAL PÓSTUMO


Daniel Cohn-Bendit, leader of the students' strike and more familiarly known as "Danny the Red", addresses a street meeting at the Gare de l'Est, Paris, 14 May 1968

Escrevo na sequência do post “Cavaco” e para matar as saudades de uns quantos tradicionalistas, ou seja, daqueles que vivem paredes-meias com as memórias precisas dos acontecimentos.

A minha memória é selectiva quanto baste e me esquece o mais que não cabe naquela parte do cérebro que o Damásio, por acaso, apoiante de Soares, tem estudado e diz que guarda as memórias segundo critérios que têm a ver com as emoções.

Seja assim, ou não, pouco importa que o que me chamou a este escrito foi uma fúria por ver que o homem se tenta sentar em cima da desmemoria e singra a todo o vento fazendo dos gentios almas parvas.

Um dia – vai para muitos anos – estava a assistir a uma aula do dito cujo no meio da maior das contestações que é possível imaginar – devia ser de finanças públicas que era (e é) a sua única especialidade – ele explicava a coisa com base no exemplo da ilha onde a comunidade era reduzida a um humano, ou a um casal de humanos, já não me lembro muito bem.

Estávamos fartos, como os jovens estão sempre fartos de formalismos e trejeitos autoritários, se forem jovens normais, claro, quando o dito a propósito de uma reivindicação, certamente exagerada, como são todas as reivindicações dos jovens, disse uma mentira cuja já não me lembro qual foi.

O homem, naquele momento, revelou-se, a meus olhos e ouvidos, um mentiroso compulsivo, e apossou-se de mim um desassossego fulminante que deu no que deu, ou seja, numa refrega forte e feia que o fez vacilar e, dizem, cair desmaiado mas eu não vi, ou já não me lembro, pois me debatia nos braços de quem me susteve os ímpetos.

Quem estava presente e assistiu à cena, digna de um filme de acção, a preto e branco, género série B, sabe melhor do que eu descrevê-la, que já mo têm feito, mas eu não acredito em nada do que se passou, passa e passará, com o dito cujo desde a ocorrência do infausto acontecimento.

Fiquei em estado de amnésia intermitente face à criatura – que sofre do mesmo mal mas do ramo político – e fiquei possuído por uma descrença, em geral, acerca do saber dos professores e, ainda mais, dos métodos por eles utilizados. É um clássico na matéria mas, graças a Deus, há excepções.

Toda esta prédica é para dizer que me preocupa, ligeiramente, ter de me assumir como concidadão da mentira elevada à mais alta dignidade do estado.

A pobrezinha da Nação merece melhor, na mais alta magistratura, que mais não seja, alguém, do cuja verdade sempre se possa duvidar, mas que assuma a política pelos cornos, sem vergonha e com coragem, elevando-se ao nível do que ela é, a mais nobre arte de transformar o homem e o mundo.

Desculpai o desabafo. A bem da Nação. Aos 14 de Novembro de 2005.

1 comentário:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.