sábado, agosto 7

"Palavra-maná

Não será forçoso haver sempre, no léxico dum autor, uma palavra cuja significação ardente, multiforme, inatingível e como que sagrada dê a ilusão de se poder com ela responder a tudo? Essa palavra não é nem excêntrica nem central; é imóvel e transportada, está à deriva, nunca é arrumada, é sempre atópica, (fugindo a todo e qualquer tópico), é ao mesmo tempo resto e suplemento, significante que ocupa o lugar de todo o significado. Essa palavra surgiu pouco a pouco na sua obra; foi primeiro disfarçada pela instância da Verdade (a da História), a seguir pela da Validade ( dos sistemas e das estruturas); agora, desabrocha: esta palavra-maná é a palavra "corpo"."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 23
(pag. 10, 3 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

Anotação
Na página 10 deste livro artesanal de excertos escrevi: "acreditar que mesmo fora (ou só aí?) do terreno das massas (ou dos grandes grupos) é possível estabelecer um novo tipo de relação, nem exclusiva, nem episódica, mas preferencial."

sexta-feira, agosto 6

Política/Moral

Que nem de propósito o Dr. Pina Moura opina hoje, no Público, planando sobre o tema do último excerto dos "Fragmentos de leitura". Para ele basta que haja uma "ética da lei". O que não admira pois é um burocrata da escola do comunismo antigo.

Mas o problema é que a ética não é uma questão formal. O político ético não é o que está conforme a lei. É o que age conforme as suas convicções, é fiel aos seus compromissos, respeita os adversários e nutre compaixão pelos inimigos.

Por todas as razões o político ético é uma realidade arqueológica. Tem para cima de duzentos anos. Tal como, por outras razões, o Dr. Pina Moura.

quinta-feira, agosto 5

O sucessor natural

Se o Dr. Pedro Santana Lopes decidir abandonar a função - Deus o guarde em descanso - pela lógica do raciocínio formal do PR, aconselhado pelos inefáveis dois ou três sábios que apaziguam a sua alma com os poderosos, sabem quem é o seu sucessor natural na liderança do PSD? É o Dr. Rui Rio.

Com o Dr. Rui Rio em primeiro ministro o governo vai direitinho para o Porto e ele vai ser espalhar ministérios, secretarias de estado e serviços pelas vilas e aldeias de Portugal. Que esta história da Golegã não fica assim! Ah! Ah! Ah!

É só poupar!

Fagmentos de leitura

Volto ao título original para assinalar a actualidade deste texto antigo. Aquele que tentar associar política e moral fica com mais de duzentos anos de idade. Alguns casos recentes na nossa política doméstica são uma ilustração deste pensamento estúpido.

"Político/Moral

Toda a minha vida me tenho ralado, políticamente. Induzo a partir daqui que o único Pai que conheci (que ofereci a mim mesmo) foi o Pai político.

É um pensamente simples, que regressa muitas vezes mas nunca vejo ser formulado (talvez seja um pensamento estúpido) : não existirá sempre ética no político? Aquilo que fundamenta o político, ordem do real, ciência pura do real social, não será o Valor? Em nome de quê decidirá um militante...militar? Não será a prática política, que se desliga precisamente de qualquer moral e de qualquer psicologia, uma origem...psicológica e moral?

(Isto é um pensamento verdadeiramente atrasado, uma vez que ao acoplarmos a Moral e a Política ficamos com duzentos anos de idade, passamos a ser de 1795, ano em que a Convenção criou a Academia das ciências morais e políticas: categorias velhas, lanternas velhas. - Mas, em que é isto falso? - Nem sequer é falso; já não se usa; as moedas antigas também não são falsas: são objectos de museu retidos por um consumo peculiar, o consumo do que é velho. - Mas não será possível extrair dessas moedas um pouco de metal útil? - O que se torna útil nesse pensamento estúpido é ver-se nele o afrontamento intratável de duas epistemologia: o marxismo e o freudismo.)"

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 22
(pag. 10, 2 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

Polícia

Tomou posse o novo director da PSP (Polícia de Segurança Pública). É uma decisão política. Entrou, ponto final. Eu gostava de saber é porque saiu o Inspector Geral do Ministério da Segurança Social e do Trabalho nomeado, com pompa e circunstância, por Bagão Félix, em finais do ano passado. Não deu sequer para apresentar um relatório anual. É porque um e outro são a mesma pessoa: o juíz Branquinho Lobo.

Estranho modelo de gestão e de estabilidade político-administrativa.


O Suicídio de Estado

As notícias vão surgindo devagar. Ontem a PSP, hoje a justiça, antes a educação, depois a saúde . Todas, sem excepção, apontam na mesma direcção. Vence a ideia do caos. A modernização do Estado perdeu o rumo. Não que os responsáveis não saibam traçar um caminho Mas não querem. Assim é mais fácil fazer vencer os interesses ilegítimos. Sejam privados, sejam públicos. Contratar, alienar, favorecer, desfavorecer, omitir, revelar, valorizar, desvalorizar... Um dia destes esta lógica vai estourar. Alguém vai ter de reunir os cacos. Para muitos dirigentes e trabalhadores honestos, competentes e dedicados pode ser tarde demais. Para o país é o desastre anunciado.

quarta-feira, agosto 4

A praia

Ontem, ao fim da tarde, na Praia Grande, uma nuvem de surfistas sobre a água. Ao longo da praia, no mar calmo, ao contrário do habitual, os surfistas exercitavam o seu jogo. O negro dos fatos e a multidão dos corpos, em movimento, faziam lembrar um cardume de peixes de visita à costa.

Aquela vista permite um exercício acerca da praia. No norte a praia é a partir da tarde depois de se esbater a neblina. No sul a praia é de manhã pela fresca.

A água é sempre fria para os do sul ? E, para os do norte, é sempre quente ? Tudo depende da ideia que fazemos do lugar que é a praia para nós.

terça-feira, agosto 3

Adornar

A vida de muita gente adorna. Outros naufragam. Outros sobrevivem à tona, a maioria. A energia vital que empurra a vida para a frente, fracassa. Espanta-me a capacidade, de alguns, em conviverem em silêncio com o medo.

Lírica - Redondilhas

Endechas a Bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E, pois nela vivo,
É força que viva.

Luís de Camões

In, Lírica, Obras Completas
Círculo de Leitores





"Uma recordação de infância

Era eu criança, morávamos num bairro chamado Marrac; este bairro estava cheio de casas em construção, em cujos estaleiros as crianças brincavam; havia grandes buracos cavados na terra argilosa, destinados aos alicerces das casas, e certo dia em que tínhamos estado a brincar num desses buracos todas as crianças saíram dele excepto eu, que não consegui.; do solo, de cima, troçavam de mim: perdido! sozinho! olhado! excluído! (estar excluído não estar de fora, é estar só no buraco, fechado a céu aberto: excluído); vi então a minha mãe acorrer; tirou-me dali e levou-me para longe das crianças, contra elas."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 21
(pag. 10, 1 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

segunda-feira, agosto 2

Arder em lume brando

Neste primeiro dia de regresso ao trabalho confirmo: a administração pública arde em lume brando. É um incêndio sem labaredas alterosas mas de consequências dramáticas para o país.

"Legível, escrevível e para além disso

Em S/Z propõe-se uma oposição: legível/escrevível. É legível o texto que eu não poderia voltar a escrever (poderei eu hoje escrever como Balzac?); é escrevível o texto que leio com dificuldade (a menos que altere totalmente o meu regime de leitura). Imagino agora (como me sugerem certos textos que me são enviados) que talvez haja uma terceira entidade textual: ao lado do legível e do escrevível haveria algo como o recebível. O recebível seria o ilegível que se agarrra, o texto ardente, produzido permanentemente fora de qualquer verosimilhança e cuja função - visívelmente assumida pelo seu escritor - seria a de contestar o constrangimento mercantil do escrito; este texto, guiado, armado por um pensamento do impublicável, faria apelo à seguinte resposta: não posso ler nem escrever aquilo que você produz, mas recebo-o, como um fogo, uma droga, uma desorganização enigmática."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 20
(pag. 9, 4 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70

Derrapagem orçamental

O "Jornal de Notícias" dá a conhecer esta interessante situação da gestão de um organismo público da maior importância. A SIC-on line sintetiza e ilustra a notícia com uma foto do Ministro Bagão Félix. O organismo em causa era da tutela do Ministério da Segurança Social e do Trabalho.

"Inspecção Geral do Trabalho gastou em meio ano todo o orçamento para 2004

Há uma derrapagem nas contas da Inspecção Geral do Trabalho. Em seis meses, foram gastos mais de cinco milhões de euros, ou seja todo o orçamento previsto para 2004.

De acordo com o Jornal de Notícias, na origem desta derrapagem poderá estar dinheiro gasto em despesas como reuniões de grupos da Inspecção geral do trabalho e do Instituto e Desenvolvimento das Condições do Trabalho em hotéis caros de Lisboa. Os funcionários contactados pelo jornal dizem que o despesismo começou após a tomada de posse do ex-inspector geral, Ataíde das Neves e de Veiga e Moura, presidente do IDICT. O jornal, cita vários inspectores, que dizem que este deslize pode levar ao cancelamento de várias investigações e acções aos fins-de-semana e em horário pós-laboral."







domingo, agosto 1

Incêndios, confirmação

O "Jornal de Notícias", na sua edição de hoje, confirma todos os piores vaticínios acerca dos incêndios. Este tema carece de ser abordado de forma insistente.

"Um balanço negro do Livro Branco dos fogos - Tragédia anunciada

Pouco ou nada do que foi anunciado após os fogos de 2003 se concretizou. Medidas "imediatas" e "urgentes" não foram concretizadas e leis não saíram do papel. Já ardeu mais floresta do que no ano passado"

"No ano passado, arderam 400 mil hectares de matos e floresta, morreram 20 pessoas, 113 habitações permanentes ficaram destruídas e 190 pessoas desalojadas. Ao todo, eclodiram cerca de 15 mil incêndios e fogachos. Em 2000, o número de incêndios tinha sido quase o dobro, mas a área ardida ficou a menos de metade.

Este ano,a Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) calcula que já tenham ardido mais de 50 mil hectares. Este valor compreende áreas agrícolas, áreas de repovoamentos florestais, terrenos incultos e área urbanizadas. Na segunda-feira passada, atingiu-se quase o pico das ocorrências registadas no ano passado (650), com 572 incêndios registados, que mobilizaram 7300 bombeiros e cerca de 1900 veículos.

Até ao dia 18, ainda segundo dados da DGRF, já tinham ardido mais cerca de cinco mil hectares do que durante o período homólogo do ano de 2003 e tinha sido igualmente ultrapassado o número de ocorrências registadas."

Quem assume as responsabilidades pela "tragédia anunciada"? O governo de José Manuel Barroso saíu de cena. Os ministros responsáveis (Administração Interna, Ambiente e Agricultura) foram embora. O governo em funções é novo e vai estudar a matéria mil vezes estudada. Vai o PR, no âmbito das suas competências, passar dos discursos à acção? Quem lucra com os incêndios? Quem são os responsáveis pela não aplicação das medidas de prevenção previstas? Quem manda investigar? Quem investiga?

O paradoxo como gozo

G. sai muito excitado, muito enebriado duma representação da Cavalgada no Lago Constança, que ele descreve nestes termos: é barroco, é louco, é kitsch, é romântico, etc. E, acrescenta ele, está completamente fora de moda! Para certas organizações o paradoxo é portanto um êxtase, uma perda das mais intensas.

Adenda ao Prazer do Texto : o gozo não é aquilo que responde ao desejo (que o satisfaz), mas sim aquilo que o surprende, que o excede, o despista, o faz derivar. Temos de nos voltar para as místicas para podermos encontrar uma boa formulação daquilo que faz assim desviar o sujeito: Ruysbroek: "Chamo embriaguez do espírito a esse estado em que o gozo ultrapassa as posibilidades entrevistas pelo desejo."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 19
(pag. 9 - 3 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70

Roland Barthes por Roland Barthes

Após um intervalo de mais de um mês retomo a publicação desta série. Para quem não de lembre trata-se de um conjunto de fragmentos da obra em título, em si mesma, uma obra fragmentada.

São fragmentos de fragmentos. Um livro artesanal que descobri nas deambulações pelas memórias das minhas leituras de inícios dos anos 80. Neles fui, em cada página, colocando uma nota pessoal.

Esta foi a nota que escrevi na página 9: "uma atitude consciente de disponibilidade para aceitar novas realidades, factos, processos, crises, dores, mágoas, alegrias e prazeres."

sábado, julho 31

Incêndios, de novo

Patética. É a situação dos incêndios em Portugal. No último dia do mês de Julho de 2004 o número de incêndios duplicou em relação ao ano de 2003. A área ardida ainda não se sabe. Mas deverá ser semelhante à do ano passado, 80.000 hectares.

O governo mudou nas vésperas da vaga de incêndios. O Dr. José Manuel Barroso fugiu a tempo. As medidas de prevenção e combate aos incêndios, anunciadas no rescaldo da tragédia do ano de 2003, não foram, no esssencial, executadas. Mas o orçamento público, destinado a esse fim, mais que duplicou de um ano para o outro.

Ninguém fala, no entanto, na execução desse orçamento. Como foram aplicadas as verbas e qual o nível de execução desse orçamento? Quem são as entidades às quais foram adjudicados os meios de combate aos incêndios? Qual o verdadeiro grau de empenhamento, nesta missão, das forças armadas?

A conclusão patética é que este ano, face a 2003, se está a repetir tudo: o desastre ecológico, económico e social. A incapacidade e incompetência na prevenção e no combate. O anúncio, pelo governo, de medidas para o futuro. Tudo, tudo é igual, só o governo é diferente. Para o primeiro ministro Santana Lopes isto é uma maçada e o PR visita concelhos passando ao lado dos fogos.

Quem manda realizar uma investigação a sério aos processos e dispositivos públicos afectos à prevenção e combate aos incêndios florestais?

Entrevista de Sócrates

Li, finalmente, na íntegra, a entrevista de José Sócrates ao "Expresso", publicada na edição de 24 de Julho. Tanta gente falava dela! É, exactamente, o que esperava que fosse. Sobra muita coisa e falta qualquer coisa. A ver as cenas dos próximos capítulos.

quinta-feira, julho 29

"Presidência Aberta" - 9

O dia 15 de Julho, sexta-feira, foi dedicado à viagem de regresso a Lisboa, ou melhor, às Azenhas do Mar. O mar por aqui, mais frio, está excepcionalmente calmo e atraente.

Desta semana de férias na minha terra ficou-me o sabor amargo de uma derrota política de geração. Dando o poder executivo à direita o PR desiludiu uma geração que nele se revia como referência ética.

Não vale a pena ter ilusões. O poder corrompe absolutamente a ideia romântica de justiça e liberdade em que a minha geração acreditou (e acredita). Os outros são sempre os outros. Os mais fracos são sempre os mais fracos. Os mais pobres são sempre os mais pobres.

Como ouvi dizer, vezes sem conta, nesta "presidência aberta" para quê votar num presidente se ele pode, mais tarde, fazer o contrário do que dele esperava o seu eleitorado?

Para que servem os votos? Para que servem as campanhas eleitorais? Para que servem os eleitos? Para que serve o poder? Para que serve a democracia representativa?

Compreendo agora melhor as frases que, antes, desprezava, e que se ouvem ao povo humilde. Aqueles frases terríveis de desprezo pelos políticos.

O PR fez, num momento breve, o pior serviço que um eleito pode fazer à democracia. Torná-la letra morta. Fazer o povo desacreditar no poder do seu voto.

Porquê?!?

Parabens à jornalista São José Almeida... que não pode deixar de perguntar a quem decide destas coisas o tratamento desigual a quem o não merecia.
O assunto é sobre o luto nacional e honras de Estado, por certo devidas, a Carlos Paredes. O assunto é sobre o porquê de não se ter feito o mesmo, ainda tão recentemente, a Sophia de Mello Breyner e Lurdes Pintasilgo.
[Por Que Não Também para Sophia e Pintasilgo? por SÃO JOSÉ ALMEIDA, no Público de Domingo]


O post anterior foi publicado no blogdamiuda na 2ª feira passada. Eu próprio me coloquei a questão. Questionei amigos e tentei encontrar uma explicação. Não acreditei. Mas finalmente tive que acreditar.

Uma ex-Primeira Ministra não mereceu luto nacional, ou seja, a homenagem pública do Estado. Uma grande poeta, a maior poeta portuguesa do sec. XX, não mereceu a homenagem pública do Estado.

Tenho uma explicação. As mortes não escolhem dias mas, infelizmente, os titulares dos mais altos cargos do Estado esquecem, com demasiada frequência, os interesses da comunidade nacional, em favor de outros interesses. O Dr. José Manuel Barroso andava, naqueles dias, a tratar da vida dele. O PR, naqueles dias, andava a tratar da vida do Dr. José Manuel Barroso.

O que é mais espantoso é que nenhum funcionário tenha sido encarregado pelos altos titulares de fazer o óbvio. O espírito liberal chegou ao mais alto nível: o desdém pelas mais ilustres figuras da política e da cultura nacional. Vivas ou mortas, se não derem lucro ou votos, o mais certo é serem humilhadas e esquecidas. Estamos preparados para o pior?

quarta-feira, julho 28

Aforismos

Pacheco Pereira, no abrupto, subtilmente, evoca a "SABEDORIA POPULAR - Para os que, distraídos, a esquecem : "o peixe apodrece pela cabeça".

Diria, no caso, que "o peixe apodrece pela cabeça e pelo rabo"

terça-feira, julho 27

Incêndios, sempre

Com respeito a incêndios vamos andando bem, graças a Deus! Como previsto. Diversas fontes confirmam que já ardeu, este ano, uma área superior à do ano passado. Mas também já ardeu um governo! O saudoso Figueiredo Lopes já não fala, em directo, da Protecção Cívil. Agora fala o ministro Sanches com o ar mais distraído do mundo. O calor...mão criminosa...falta de meios... Leiam o anti-post "post moderno" de Marienbad no abébia vadia.

"Presidência Aberta" - 8

Na quinta-feira, dia 15 de Julho, véspera da partida, já Santana Lopes tinha mostrado a sua raça. O próprios defensores da decisão do PR devem ter ficado preocupados. A direita democrática mostrava, desde o início, reticências à "investidura" de Santana Lopes, como 1º Ministro, e as suas primeiras declarações confirmavam os piores receios.

Haja saúde! Mudemos de assunto. Enfim, surgiu a oferta de um jantar de mariscos em casa de um familiar. Os meus sobrinhos esmeraram-se. Tudo do bom e do melhor. Os mariscos, como tudo a vida, podem ser vulgares ou, em casos excepcionais, absolutamente divinais. Foi o caso.

As notícias amargas da política, entretanto, não perturbaram a leitura da semana de férias: "Os Cabelos de Beethoven", de Russell Martin. É uma história, muito bem contada, acerca dos destinos de uma madeixa dos cabelos de Beethoven cortados por um jovem músico quando, em 1827, Beethoven jazia no seu leito de morte.

Desta leitura retive uma pequena história a propósito do título da sua 3ª Sinfonia. Esta devia chamar-se Bonaparte "em honra do heróico esforço de Napoleão para moldar uma Europa livre e completamente nova".

Mas desde a data em que a 3ª Sinfonia foi esboçada e composta, em apenas 4 meses, no ano de 1803, a situação mudou aos olhos do compositor. De facto quando, em 1804, Beethoven soube que o general se tinha proclamado Imperador de França teve um acesso de raiva e rasgou o titulo Bonaparte, reintitulando a 3ª Sinfonia de Eroica.

Beethoven não tolerou que Napoleão, a seus olhos, se tenha transformado num tirano sendo-lhe atribuídas as seguintes palavras: "então também ele não passa de um homem vulgar....agora vai espezinhar todos os direitos humanos para satisfazer a sua própria ambição. Colocar-se-á acima de todos os outros e tornar-se-á um tirano."

Os grandes criadores têm a aguçada sensibilidade que, por norma, falta aos homens e aos políticos vulgares.

segunda-feira, julho 26

Mistérios

"Famílias Mais Pobres Ficam Fora do Rendimento Social de Inserção
Alteração na Fórmula de Cálculo dos Rendimentos Leva a Que Pessoas Que Beneficiavam do Rendimento Mínimo Não Tenham Acesso à Prestação Social" (Público).

De súbito rompeu-se o silêncio. O Público aborda a fundo a questão do RSI (Rendimento Social de Inserção). Os responsáveis, nomeados por Bagão Félix, concedem entrevistas. Afinal o RSI exclui os mais pobres e não promove a inserção. Veja aqui e aqui.

Nesta abordagem existem dois mistérios: o primeiro é que afinal o RSI, criado para promover a inclusão social, exclui os mais pobres e não promove a inserção; o segundo é o fenómeno de surgirem informações e críticas ao RSI curiosamente poucos dias após a saída de Bagão Félix do Ministério da Segurança Social. Coincidências?

Haja coragem, senhores dirigentes, não tenham medo da liberdade.

Pressões

Marcelo Rebelo de Sousa, na sua crónica dominical na TVI, aludiu a pressões. Pressões exercidas sobre órgãos de comunicação social.

Motivo? Os comentadores têm sido muito críticos em relação ao governo. De forma unânime. Esta alusão é muito interessante. Num país a sério seria motivo para uma crise política.

Quem fez as pressões? Em que termos? Que meios adoptou? Quem foram os pressionados? Quais as ameaças? Etc, etc...Em Portugal a afirmação/denúncia de Marcelo, aposto, vai passar em claro.

Incêndios de volta

O calor aperta e voltam os grandes incêndios. Que é feito do governo? Olhemos com atenção para os desenvolvimentos dos próximos dias.

domingo, julho 25

"Presidência Aberta" -7

O ambiente político ameaçava não desanuviar. As visitas, os passeios, os almoços e jantares, as conversas e olhares continuavam carregados.

Na quarta feira, 14 de Julho, o programa tinha que prosseguir. Uma visita à "barrinha". Estamos situados no extremo sul de Portugal. A natureza é muito diversificada nas envolventes de Faro. A norte da cidade são as "hortas" e a sul a "ria". A "Ilha de Faro" é uma duna que separa o Atlântico de uma vasta área, de águas calmas, que é parte da "Ria Formosa".

Uma reserva ecológica que é alvo dos mais desmedidos apetites especulativos. A "barrinha" é o canal que, no extremo este da "ilha de Faro", liga a ria ao mar. O caminho, para lá chegar, é feito por uma moderna passadeira de madeira. São 20/30 minutos a pé. Caminhando junto à costa o tempo e as dificuldades aumentam.

Há muito que não fazia este pecurso. Uns anos atrás a extensão de areia e a vegetação eram incomensurávelmente maiores. A cidade branca, vista de longe, tinha um perfil mourisco. Agora cresceu em altura e o branco desbotou. Os cheiros intensos da vegetação rasteira, que cobria as dunas, perdeu-se.

As construções, fora do núcleo central da ilha, medraram ocupando espaços proibidos. Para meu espanto vejo obras de saneamento - novas canalizações de água potável e iluminação pública - ao longo da passadeira. Aquelas casas (muitas) nunca mais sairão dali.

O Presidente da Câmara descobriu o valor daquela mão cheia de votos para a sua reeleição. A natureza, e a sua beleza deslumbrante, não vale um voto. Os votos premeiam a decisão de manter um amontoado de habitações, anexos, quintais, galinheiros... típicos dos subúrbios.

O mar límpido, no fim do caminho, compensa o caminhante. E a pesca também. A preservação da natureza é um slogan. Faltam aos políticos a coragem e a radicalidade necessárias para dar substância ao chamado desenvolvimento sustentável.

Presidências Abertas, para quê?

sábado, julho 24

Venha o diabo e escolha

Entre um "animal feroz" e um "1º primeiro ministro de alto risco" ("Expresso") venha o diabo e escolha.

Entretanto prossegue a deslocalização do governo (no dicionário aqui do computador surgiu a palavra "desmoralização).

Pacheco Pereira titula "brincando às casinhas". O número de gabinetes de secretários de estado assim aumentou de 6.

Carlos Paredes, de novo

Há momentos únicos na vida. Em todas as esferas da vida. São os momentos em que sentims o desejo da partilha. Que pena não serem vividos por todos os que amamos.

Por volta do dia 1 de Maio de 1974 (ou mesmo nesse dia) vivi um desses raros momentos. No Quartel do Campo Grande ocupado, no fervor da libertação, Carlos Paredes, José Afonso e Mário Viegas (nosso camarada de armas) criaram, improvisando, um espectáculo memorável.

Agora estão todos mortos. É um daqueles momentos cujo único registo é a memória dos participantes. Como a maior parte dos momentos da nossa vida. Únicos para nós. Desconhecidos para todos os outros.

sexta-feira, julho 23

Manuel Alegre

Um poeta candidato a lider do Partido Socialista. Uma novidade. Um bom sinal para Portugal.

Palavras vazias

Todos os dias o governo anuncia benefícios para todos. As ideias são velhas. As palavras vazias. A factura vai ser pesada.


Carlos Paredes

Morreu. Como ele há poucos. Um artista universal. Tantas vezes o ouvi. Nas lutas contra a ditadura era convidado a tocar. Tocava. Silêncio e arte maior. Uma guitarra e duas mãos que se moviam com absoluta singularidade. Sonoridade ímpar. Sem palavras. Só musica. Dobrado sobre si próprio. Radioso de vigor e entusiasmo. Arte pura. Portugal no seu melhor.

"Presidência Aberta" - 6

A visita à terra que me viu nascer é também um reencontro familiar. Nesta terra, a mais a sul de Portugal, continuam a residir e a trabalhar a maior parte dos membros da minha família e também os de minha mulher.

Nas nossas famílias coexistem diversas preferências partidárias e ideologias políticas. Trocam-se opiniões, em ambiente cordato, ouvem-se os argumentos contrários, omitem-se as palavras mais fortes, exercita-se em suma, a cidadania que a democracia impõe e exige.

Nem a mais tumultuosa das crises políticas faz vacilar o espírito de compreensão recíproca ou o essencial dos laços da solidariedade familiar. No dia 13 de Julho, 3ª feira, o jantar foi em casa de uma minha cunhada.

Casa nova. No hall térreo recebi um telefonema que me fez atrasar a entrada no elevador. Fiquei só uns instantes e finalmente subi. Saí no 3º andar, vi uma porta aberta e entrei. Pareceu-me ver passar na varanda de fronte da sala, excelentemente equipada, o meu filho.

Fui na sua direcção e deparei-me com uma senhora que não conhecia. "Olá, boa noite...". A senhora respondeu-me, como se estivesse frente a um velho conhecido, "boa noite". Venho para jantar com ... A reacção da senhora foi de espanto e, finalmente, estranhei a situação.

Após uns minutos de hesitação pedi desculpa e subi ao andar certo...que era o 4º. Falta de segurança? Governo para quê?

Lutar contra o esquecimento

Manuel Alegre é a vantagem da memória na política espectáculo. Não há futuro sem passado. O saudosismo não é património da esquerda. Mas o esquecimento do passado favorece a direita. Lutar contra o esquecimento: uma das vantagens da candidatura de Manuel Alegre à liderança do PS.

quinta-feira, julho 22

"Presidência Aberta" -5

Segunda feira, 12 de Julho, foi um dia cheio de visitas e de contactos. A intensa actividade deste dia mais me fez crer que a decisão do PR, foi, salvaguardadas as distâncias, históricas e políticas, uma espécie de "mudança na continuidade", de Marcelo Caetano.

Suprema ironia. A direita, histórica ou oportunista (os que votam sempre nos vencedores), revia-se na decisão do PR. A esquerda estava contra ela. O silêncio compenetrado da direita contracenava com a revolta da esquerda.

O PR tinha feito a prova de como é possível ser rejeitado pela própria família e adoptado pela família que sempre rejeitara.

As visitas - à "Ilha Deserta" e ao Estádio do Algarve, o do EURO-2004, provaram-me como a vida pode sobreviver aos piores instintos do homem. A "Deserta", com acesso exclusivo de barco, é um paraíso intocado de areias limpas e mar transparente.

O Estádio, o primeiro desta geração que visitei, é um magnífica obra, equipamento polivalente, que fazia muita falta ao Algarve, em particular, no apoio ao desenvolvimento da sua vocação de região turística.

quarta-feira, julho 21

Primeiros dias

O PR deu as posses. O governo está completo. Está? Nunca se tinha assistido a tamanha trapalhada.

É o caos, diz Pacheco Pereira. É mau de mais, digo eu. É calvário para mais de dois anos! Como vai ser possível aguentar?

Presidência Aberta - 4

Domingo, 11 de Julho, foi dedicado a visitar Monchique. Tornou-se uma tradição almoçar no Restaurante Charrete. É um belíssimo lugar da gastronomia tradicional com bom acolhimento e serviço.

O empregado que sempre nos serve toma a liberdade de tecer algumas considerações acerca do estado da arte dos incêndios. É bom não esquecer que o concelho de Monchique foi, o ano passado, devastado pelos fogos de verão. A opinião não é abonatória para o governo. Mas também não há governo!

Desta vez o PR não veio à baila. Descemos para a Praia da Rocha. Vislumbrei, após muitos anos, a vista da praia, tomada da Fortaleza. Magnífica. Apesar do crescimento medonho da construção a beleza da praia permanece intocada.

terça-feira, julho 20

Lugares de culto-1

Na caminhada ao longo das escarpas a natureza está do lado do mar. A terra é massacrada pela mão do homem. Os caminhos dos pescadores e os lugares da sua arte não são cultivados.

Ao lado da paisagem fulgurante do oceano majestoso a miséria do abandono. Sujidade. Despojos de uma boçal apropriação da natureza. Um lugar de culto morto em terra e vivo no mar traiçoeiro.

(Caminho entre a Praia das Maçãs e as Azenhas do Mar)

"Presidência Aberta"-3

Nas caminhadas pela cidade de Faro, sábado, dia 10 de Julho, fui visitar o engraxador que conheço desde a infância. Os serviços dele estão sempre disponíveis quando se encontra ao serviço. O que é raro!

"Engraxa?". "Engraxo." As conversas são curtas mas ricas para a minha actualização acerca das figuras e das actualidades da terra. Desta vez as suas palavras tinham como destinatário o PR. Assim mostrou, com veemência, a sua certeza de que o PR iria convocar eleições antecipadas e mandar esta maioria ás urtigas.

Bem tentei explicar-lhe que, no dia anterior, o PR já tudo tinha decidido mas em sentido contrário. Os meus esforços foram em vão. Não ouviu ou não quis ouvir.

A sociedade da informação tem destas coisas. A informação, para alguns, adianta-se às suas convicções, tornando póstumas as suas certezas.

Desistência

A notícia da desistência de um falso candidato a alguma coisa só é notícia quando a mentira é erigida em valor apreciado no mercado da comunicação. Hoje foi notícia de destaque que um falso candidato a secretário geral do PS, José Lamego, desistiu.

Um dia escrevi, porque alguém me pediu, um texto para um livro de testemunhos de homenagem a Lamego. Um dia trágico, muitos anos atrás, na minha universidade, Ribeiro Santos foi assassinado pela PIDE. Lamego estava próximo e foi ferido. Eu tenho a minha parte nessa história mas fica para mim. Esta odisseia deu-lhe o estatuto de resistente à ditadura.

Acabou a fazer uma "comissão de serviço" no Iraque, a convite do seu amigo José Barroso, ao serviço da política do Sr. Bush. Desculpem a palavra, pouco diplomática, mas "odiei". Escreveu, semanas a fio, umas crónicas no Expresso das quais não li uma linha. É o género de político "biombo": só existe para esconder a realidade. É uma pena mas é assim mesmo que penso.

E não julguem que sou um anti- americano primário. Vejam o que sublinhei no livro de memórias de Jean Monnet (leitura de férias) acerca dos americanos na primeira guerra mundial: "Doravante, o transporte das tropas americanas tornava-se absolutamente prioritário. É certo que os Estados Unidos tinham declarado guerra à Alemanha a 6 de Abril de 1917, mas, no final de Março de 1918, os seus efectivos presentes na Europa não ultrapassavam trezentos e cinquenta mil homens. Ora, no dia do Armistício, estavam em França mais de dois milhões."

Eu conheço e reconheço o papel do povo norte americano na luta pela paz, pela democracia e liberdade. Mas nem sempre a gesta heróica dos homens e das nações, no passado, justificam os seus actos no presente. É o caso do lamentável Sr. Lamego

segunda-feira, julho 19

Presidência Aberta - 2

Ouvimos, na noite de 9 de Julho, a comunicação do PR em silêncio. Depressa se percebeu qual seria o desenlace. Foi o contrário do que esperava. Aguardei para ouvir as reacções.

Eu sabia qual seria a decisão de Ferro e que a mesma não seria ditada pela emoção do momento. Só a profunda ignorância, ou má fé, de alguns jornalistas e comentadores podem ter encontrado essa justificação primária para a demissão de Ferro.

Saí de casa com o meu filho. Encontrei logo ao dobrar da esquina o amigo M. que não conteve a indignação: "Nunca mais voto para PR, nunca mais...". Assim ao longo das ruas de Faro e nas esplanadas, os rostos, as conversas, as interjeições eram de profunda revolta.

Um clamor surdo que revelava muita desilusão e pouco encorajamento para o futuro governo Santana Lopes.

domingo, julho 18

"Estão podres as palavras...."

Estão podres as palavras - de passarem
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o carácter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras - como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece o mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra.

Jorge de Sena

"Presidência Aberta"-1

Regressei após uma semana de férias no Algarve. O tempo dessa semana começou no dia 9 de Julho. Sempre, em toda a minha vida, desde que me afastei para Lisboa, passei uns dias de férias na minha terra: o Algarve.

Em 1975 esse período de férias foi o mais curto de todos: 1 dia. Os acontecimentos políticos, à época, exigiram o meu regresso, precipitado, a Lisboa. Talvez desnecessário mas os homens são feitos das circunstâncias da sua época.

Ninguém é eternamente fiel à sua terra, aos seus princípios, à sua fé (excepto os santos e não conheço, pessoalmente, nenhum) e de ninguém se pode esperar a coerência absoluta no cumprimento dos seus deveres e compromissos de honra. A tolerância é a capacidade de aceitar os desvios e os erros próprios e alheios. Sejam de amigos, companheiros ou adversários.

Mas o silêncio perante as injustiças do mundo e o "mau governo" é o caminho para a aceitação da tirania. Por isso recuso aceitar, em silêncio, a decisão adoptada pelo PR para conjurar a crise política. Pelas mesmas razões prezo, e aplaudo, o gesto de Ferro Rodrigues pois a sua abdicação mostra o melhor da capacidade do homem em ser fiel aos compromissos perante os outros homens.

Prezo, neste deserto de dignidade, em que se tranformou a política, as palavras de Pacheco Pereira ("pobre país") e o seu acto de desprendimento ao abdicar da UNESCO.

Tomei nota, no dia 9 de Julho, da comunicação pública do PR acerca da magna decisão que pesava sobre os seus ombros: eleições legislativas antecipadas ou Governo Santana Lopes. A sua decisão foi uma dolorosa revelação da minha própria incapacidade para entender, a fundo, a natureza dos homens, a superficialidade dos políticos "de salão" e a força dos interesses económicos na formação e legitimação dos governos.

A minha estadia, em família, no Algarve, permitu observar uma realidade que resolvi relatar num conjunto de despretensiosos posts intitulados "Presidência Aberta".

(continua)

sábado, julho 17

Governo

O governo de Santana Lopes tomou posse. Discursos. Discursos. Parece um governo de um Partido imaginário (que não existe senão na cabeça do seu chefe) e experimentalista.

A ideia que fica a pairar é a de uma equipa que conhece pouco e mal a realidade do país e ainda pior os mecanismos da administração. Vai fazer, obrigatoriamente, várias leis orgânicas antes de as anteriores entrarem em vigor; vai rever legislação; vai refazer chefias e estruturas; vai meter pessoal; vai pensar para agir (seis meses) ou agir sem pensar (desperdício).

Acima de tudo vai preparar politicamente eleições: regionais dos Açores e Madeira (Outubro de 2004); autárquicas (Outubro de 2005); presidenciais (Fevereiro de 2006) e legislativas (Outubro de 2006). Tempo útil de governação? Pouco mais que nada. Um gabinete eleitoral que alia os interesses partidários dos dois partidos da coligação em favor dos interesses dos grandes grupos económicos. Nem dá para disfarçar. O governo está repleto de funcionários desses grupos. Mais nada.

Para o país anuncia-se o desastre. O PR disse hoje na tomada de posse, se bem entendi, que nada tem a ver com isso. Mas tem...

Regresso

Uma semana depois regresso ao absorto. Uma semana de férias no Algarve (a minha terra) que vão continuar agora junto ao ponto mais ocidental da Europa.

Vejam aí, os amigos do Brasil, no mapa de Portugal: Cabo da Roca, Praia das Maçãs, Azenhas do Mar. Estou por aqui. Esta semana das minhas férias foram uma espécie de "presidência aberta" pois esta semana foi muito especial para os portugueses.

Nos próximos dias eu conto o programa e as incidências da minha "presidência aberta" no Algarve.

sexta-feira, julho 9

Pausa Breve

Este é o anúncio de uma pausa breve. Uma semana de férias para descansar os olhos e, tanto quanto possível, a alma. Aqui vos deixo, entretanto, o texto inspirador do absorto.

Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou á lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada á fronte do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente á terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.














quinta-feira, julho 8

Bica do Sapato

Fui almoçar, um dia destes, à "Bica do Sapato". Um restaurante de referência de Lisboa e de Portugal.

À beira do Tejo, usufruindo da luz e da vista magnífica do estuário e da outra banda. Um caso de bom gosto e de qualidade em todas os aspectos. Não é um projecto que possa perdurar sem um conceito e sem muita persistência na cuidada atenção a todos os pormenores.

É um daqueles casos que devia ser o orgulho de uma cidade e dos seus responsáveis. Assisti, desde o início, ao percurso da "Bica do Sapato" assim como do "Pap´Açorda", no Bairro Alto, com a mesma gerência.

Mas, surpresa das surpresas, não é que a "Administração do Porto de Lisboa", entidade proprietária do espaço e que assume a gestão da área portuária, mandou colocar, entre o cais e o restaurante, uma grade de protecção que vai ao cúmulo de ser encimada por arame farpado. De repente a paisagem ganha os estranhos contornos de um filme da II Guerra Mundial.

O Sr. Fernando Fernandes estava desconsolado e dizia aquela frase que se ouve cada vez mais: "Assim não vale a pena…assim não vale a pena…"

quarta-feira, julho 7

Sophia

O que a morte alcança! A morte de Sophia de Mello, poeta maior, faz parecer que a poesia interessa a tantos aos quais não interessa absolutamente nada.

Cronistas, comentadores, editorialistas, políticos, fazem por aparecer, escrevem, citam e recitam. A poesia, em Portugal, na verdade, deve ter uns 500 leitores inveterados. Mais poetas haverão que leitores de poesia.

Mas dizem os entendidos que ler é mais difícil que escrever. De verdade a poesia não interessa quase nada a quase todos os que se mostram nos funerais dos poetas.

Alguns até usam o nome da poesia em vão: alguma ideia ousada ou arremedo de perfeição é coisa de poetas...não é?

terça-feira, julho 6

Opinião - "Semanário Económico"

Já está disponível, na versão online do "Semanário Económico", o artigo "Eleições Europeias - sinais de preocupação". Nas bancas na próxima sexta-feira.
Pode ler aqui.




Trapattoni

Digam o que disserem a grande notícia do dia é a contratação de Trapattoni para treinador do Benfica. Por ser o Benfica e por ser Trapattoni.

Para quem tenha dúvidas acerca do significado desta contratação para o futebol português e para Portugal leia o artigo "O omnipresente".

É um extraordinário texto da jornalista Andreia Schianchi, da "La Gazzeta Dello Sport", publicado hoje no Público.

Sonetos (V)

Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se duma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.

Luís de Camões

(in Obras Completas, Círculo de Leitores,
Edição de Lobo Soropita, de 1595)



segunda-feira, julho 5

Marlon Brando

Ao observar as notícias da sua morte reparei que vi todos os seus filmes principais.

Um dia dei conta que os actores, que povoam o nosso imaginário, também morrem. Como os nossos pais. Foi uma desilusão. Sempre achei que os actores, meus heróis, eram imortais. Assim como os meus pais. E são mesmo imortais.

Alguns actores e actrizes - no cinema e no teatro - estão para a nossa formação de homens livres ao mesmo nível que a revolução - liberal - na qual tivemos a felicidade de participar. Uma raridade.

No caso de Brando acresce que nunca comiserou com as misérias do comércio do cinema. Sempre foi capaz de olhar para as misérias do mundo. Sentir o sofrimento dos outros com a grandeza dos autênticos heróis. Aliás se assim não fosse nunca seria o grande actor que foi. Isso sente-se.

domingo, julho 4

Vinhedos da ilha do Pico são Património Mundial

Não esqueço a paisagem do Pico. Os seus vinhedos e o resto. A viagem de barco a partir da cidade da Horta, no Faial. A passagem do canal mesmo com bom tempo. Assusta mas faz-nos lembrar a gesta heróica do povo açoriano peregrinando de ilha em ilha. A paisagem mais extraordinária de Portugal. O povo mais sofrido e acolhedor. Uma notícia que devia encher o coração dos portugueses de alegria. Viva!

"A paisagem da cultura da vinha na ilha do Pico passou hoje a ser Património Mundial, após a aprovação da candidatura pela agência das Nações Unidas UNESCO numa reunião na cidade japonesa de Suzhou, anunciou o Governo dos Açores."




Perdeeeemos

O futebol é isto. Ganha-se e perde-se. Perdemos contra uma equipa manhosa com dignidade. A selecção ganhou todos os jogos com excepção dos dois que disputou com a Grécia.

Perdeu o primeiro jogo (na véspera das eleições europeias) e o último (na véspera da demissão do primeiro ministro). Nos restantes fomos grandes vencedores.

O povo português teve razões para festejar. Mas amanhã os portugueses vão cair no real. E no centro desse real está um facto incontornável:

o José Manuel fugiu!

Domingo

As leituras de fim-de-semana:
a direita está cheia de medo de perder o governo.
O povo cheio de esperança de ganhar o Europeu de futebol.
No ar corre, finalmente, uma aragem da esperança.

Ganhaaaaamos (7)

O futebol é uma realidade que sempre me fascinou. Quando era criança ia, muitas vezes, ao Estádio de S. Luiz, em Faro, ver os treinos do Farense. O Estádio fica perto da casa onde vivia. Conhecia todos os jogadores.

O Benje na baliza era um lince. O Balela, agora treinador. O "Tarro" um espanhol goleador de primeira água. Num jogo de apuramento para a 1ª divisão, julgo que com o Salgueiros, no Porto, deu um murro no árbitro e foi irradiado. A injustiça às vezes é difícil de suportar.

O Reina, defesa lateral, duro entre os duros, vejo-o sempre na rua quando vou a Faro. O Simões de quem já ninguém se lembra. O Rato e o Isaurindo, guarda redes, de grande categoria, mais antigos. O Vinueza, espanhol, de primeira. O Ventura, defesa central, de personalidade vincada. O Gil, mais recente, internacional brasileiro.

Apanhei boladas atrás das balizas que nunca contei a ninguém e me fizeram andar tonto dias e dias. Ver o jogo perto dos jogadores tem uma respiração única e empolgante. O futebol é jogado com os pés, com a cabeça e todo o corpo, com excepção das mãos. O guarda- redes é o único que joga com todas as partes do corpo (mas só dentro da grande área). Vem de ser jogado com os pés o encanto do futebol. Os pés são uma das partes mais inábeis do corpo.

Hoje somos livres de pensar o que quisermos acerca da final de amanhã. Vamos ser campeões? Cuidado que os gregos são manhosos. Aconteça o que acontecer assinalo esta bonita frase de Maniche que diz quase tudo acerca do significado do EURO-2004: "Fala-se muito dos jogadores de forma negativa, que ganham muito dinheiro, mas, hoje, verificamos que o futebol é muito importante para as pessoas. Fico feliz por poder contribuir para que muitas famílias fiquem felizes".

sexta-feira, julho 2

Mentiras e mais mentiras

Leio no abrupto Pacheco Pereira fazer uma denúncia que me deixou petrificado. Afinal Manuela Ferreira Leite não disse no Conselho Nacional do PSD nada daquilo que a comunicação social disse que ela disse.

Onde vai chegar a manipulação da informação? De facto é preciso e urgente que as fontes destas notícias (e de outras) sejam denunciadas.

"TEMPOS NOVOS
Como se viu com a forma como foi "relatada" aos jornalistas a intervenção e o voto de Manuela Ferreira Leite no Conselho Nacional, já se percebeu como está a funcionar uma estratégia de "informação", ou seja, uma central de desinformação. Coordenada, organizada e intencional, destinada a obter efeitos políticos imediatos. Os jornais foram manipulados para contarem mentiras. Manuela Ferreira Leite nem pediu desculpas, nem votou Santana Lopes.

Está na altura dos jornalistas fazerem aquilo que sempre disseram que fariam quando as suas "fontes" deliberadamente mentem: denunciar os seus nomes."

Xeqmat

Do causa nossa transcrevo, com a devida vénia, este argumento do Dr. Silva Lopes que é um autêntico xeqmat no jogo das opções do PR para conjurar a actual crise política:

As eleições e a estabilidade
Silva Lopes apresentou um dos melhores argumentos que já ouvi a favor das eleições antecipadas: o de que só elas poderão garantir alguma estabilidade e consolidação financeira nos próximos anos. É caso para dizer que as aparências iludem!
Na verdade, fosse qual fosse o partido que viesse a ganhar agora as eleições, iniciar-se-ia uma nova legislatura de 4 anos e, por isso, o vencedor não teria a tentação de desenvolver de imediato políticas de tipo eleitoralista (que também já não tinha tempo de praticar antes do acto eleitoral). Pelo contrário, essa tendência será quase inevitável com o cenário de um governo da actual coligação, governando a dois anos de eleições. E não se adivinham meios de poder travar tal desvario. Promessas, como se ouviu ontem, não faltarão. Mas teria o Presidente da República algum instrumento para pôr o Governo "no sério", por exemplo, se este viesse, nos próximos meses, a libertar o endividamento das autarquias ou a subir o ordenado dos funcionários muito a cima do que o bom senso financeiro nos aconselha?

Maria Manuel Leitão Marques



Homenagem a Sofhia de Mello Breyner Andersen

Faleceu hoje a maior poeta portuguesa contemporânea. Eis o seu primeiro poema publicado em livro.

Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.

In "Poesia", 1944, Coimbra, edição da Autora.


Incêndios

Começaram a surgir as imagens terríveis do desespero dos incêndios. Numa zona que conheço do Algarve, pois é perto da terra dos meus avós, ardem largos hectares de mata e de floresta. As populações, em desespero, combatem o fogo com os seus escassos meios artesanais. As imagens são as do costume.

Pergunta inocente: que é feito da tropa que o Ministro Paulo Portas anunciou que estaria no terreno aos milhares de homens? Que é feito do Ministro Figueiredo Lopes? Quando acabar a euforia do EURO -2004 e a angústia da crise política, caso o calor aperte, como é de prever, seremos confrontados com uma nova calamidade de proporções semelhantes à do ano passado? Por enquanto as autoridades estão em silêncio.

quinta-feira, julho 1

DEZ ARGUMENTOS EM FAVOR DE ELEIÇÕES ANTECIPADAS

Aqui pode ver os dez argumentos do jumento, de que reproduzo os dois primeiros, e ainda uma pitoresca referência à tomada de posse clandestina do novo Director Geral de Contribuições e Impostos. Com a devida vénia.

Imagino que Sampaio não é leitor do Jumento, e nem acredito que um blogue anónimo seja para ele credível, mesmo quando quase todos os dez milhões de portugueses sejam cidadãos anónimos, e não é por isso que deixam de pensar ou de dizer o que pensam. Mesmo assim aqui ficam as razões porque neste palheiro se defende a realização de eleições antecipadas:

1. A ESTABILIDADE
Um governo que só existe para evitar eleições imediatas assente no mero desejo dois partidos que apenas desejam exercer o poder a qualquer custo é uma situação de instabilidade política mais grave do que a que resultaria da realização de eleições.

2. UM GOVERNO SEM PROGRAMA

O programa de governo de Durão não era mais do que a mistura de uma receita ultra-liberal com uma amálgama de promessas avulsas o até aqui primeiro-ministro havia feito na campanha eleitoral. Um novo governo seria dirigido por um primeiro ministro que o povo não escolheu cumprindo um programa que já não seria o proposto aos eleitores.

quarta-feira, junho 30

Ganhaaaaamos! (6)

Escrevo meia hora antes do início do jogo. Muita animação pelas ruas. Buzinas em alta antes do jogo: mau sinal. Nos anteriores não foi assim. Parece que se instalou um convencimento de vitória antecipada.

Desta vez quase não há governo. A bancada VIP vai ficar mais espaçosa para os verdadeiros responsáveis pelo sucesso do EURO - 2004 que, finalmente, vão poder sentar-se. Ufff!

Se passarmos à final e Durão Barroso apresentar a demissão, como prometido, no fim-de-semana, temos muitas hipóteses de ser campeões.

Este projecto foi uma iniciativa do governo do PS. O governo demissionário não conseguiu travar o EURO - 2004 como Santana Lopes acabou com os "Jogos de Lisboa".

Ficou provado, uma vez mais, que "Deus não dorme". É a "pesada herança" em todo o seu esplendor.

O jogo terminou. O coração aguentou. O povo festeja com mais intensidade. Foi sofrer até ao fim. Agora só falta um. Domingo pode ser a apoteose. Espero que a selecção nacional possa dar a grande alegria da conquista do título europeu ao povo português que tanto tem sofrido nestes últimos dois anos.


Sonetos (IV)

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

Luís de Camões

(in Obras Completas, Círculo de Leitores,
Edição de Lobo Soropita, de 1595)


terça-feira, junho 29

Freitas do Amaral

Freitas do Amaral é uma personalidade singular. Fundador do CDS o partido, criado no pós 25 de Abril, mais à direita do espectro partidário português, Freitas do Amaral tem mostrado uma extraordinária capacidade de independência e originalidade de pensamento.

Não é uma questão de direita ou de esquerda. É uma manifestação da mais pura liberdade de pensamento. Freitas do Amaral é um exemplo de cidadão que oferece à comunidade uma participação cultural, científica e política altamente qualificada, despida de preconceitos e mobilizadora da iniciativa cívica.

Sei do que falo pois fui responsável, em primeira linha, com o Carlos Fragateiro, por ter acolhido, no Teatro da Trindade/INATEL, as suas experiências de dramaturgo, permitindo que fossem representadas duas peças de sua autoria. Representações de grande sucesso pela única verdadeira medida do sucesso, em teatro, que é a adesão do público. Não foi tão fácil como possa parecer acolher a criação teatral de um homem como Freitas do Amaral. Mas valeu a pena.

O entusiasmo e a paixão pela novidade e iniciativa de Freitas do Amaral são um bálsamo para a alma daqueles que anseiam, contra as tendências ultra conservadoras, "andar para a frente", arriscar, reformar sem concessões aos interesses instalados, em suma, modernizar o país respeitando a tradição.

Assino de cruz a sua posição, divulgada, hoje, no Público, explicando as razões da bondade da convocação de eleições antecipadas. Bem haja, prof. Freitas do Amaral.

segunda-feira, junho 28

Vitorino Nemésio

Uns largos tempos andei, de livraria em livraria, em busca de um determinado livro de poesia de Vitorino Nemésio. Tinha lido de Nemésio um ou outro poema solto e guardava na memória as extraordinárias conversas que nos ofereceu na Televisão. Agora já entendo um pouco melhor este poema heterodoxo de Eugénio de Andrade.

A VITORINO NEMÉSIO,
ALGUNS ANOS DEPOIS

Ninguém te lê os versos, tão admiráveis
alguns, e a prosa não tem muitos leitores,
embora todos reconheçam, mesmos os que
nunca te leram, que é magnífica.
A moda é o Pessoa, coitado: dá para tudo;
e a culpa é dele, com aquela comovente
incapacidade para ser ele próprio.
De nada lhe serviu ter dito e redito
que a fama era para as actrizes.
Que vocação de carneiro têm as maiorias:
não há fúfia universitária ou machão
fardado que não diga que a pátria
é a língua ou a puta que os pariu.
Não, contigo isso não pegou. Durante anos
e anos arrumaram-te na prateleira:
eras o Cavaleiro das Tristes Figuras.
Conversão ao catolicismo, fretes ao estado
novo, prémios do sni não ajudavam muito
a que te lessem, além de haver outros poetas
a festejar, por sinal bem medíocres, mas
"democratas
convictos", coisa que dizem que não foste.
Isto de morrer pela pátria não é para
todos e tu, decididamente, para a morte
não tinhas nenhuma inclinação. Afinal,
além dos alçiões a quem davas os olhos,
só tinhas versos, e alguns bem maus,
coisa aliás de pequeníssima importância,
como exemplarmente, depois de morto, provou
Pessoa, que está, como se sabe, no paraíso.
Coitado, pensava ter tempo para por ordem
na arca, mas a morte veio antes da hora.
Contigo ao menos isso não aconteceu,
bebias menos, pudeste arrumar a casa.

Nada disto te importa já, e de resto
que lêem esses que lêem quando lêem?

1983

(In Poesia - Eugénio de Andrade. Edição
da Fundação Eugénio de Andrade, 2000)

A hipocrisia em estado puro

"O presidente da Câmara de Lisboa e vice-presidente do PSD, Pedro Santana Lopes, negou hoje ter sido convidado para substituir Durão Barroso no cargo de primeiro-ministro e estranhou as manifestações e comentários quanto a esta possibilidade."

Vejam aqui a notícia do desmentido das notícias.

domingo, junho 27

Durão - Presidente da Comissão Europeia (3)

O Correio da Manhã, um tablóide, diz abertamente o que outros afirmam em complicados discursos políticos. Durão Barroso vai embora. A maioria precisa de Santana Lopes porque tem medo de eleições. É isto simplesmente.

"Sucessão: Sociais-democratas com receio de antecipadas
SANTANA SEGURA COLIGAÇÃO
A estabilidade governativa e o receio de fracasso numas eleições antecipadas levaram os principais dirigentes sociais-democratas a cederam o seu aval a Santana Lopes." Correio da Manhã

Pacheco Pereira entendeu cedo o cenário do "golpe" . Desenha-se no horizonte uma solução populista, pura e dura, na qual o PP, de Paulo Portas, ganhará ainda maior influência e peso político. Não se deve menosprezar o populismo. Nem os perigos que as soluções populistas encerram.

Esperemos que o Presidente da República encontre uma solução equilibrada para a crise política. Haverá uma solução no quadro da actual maioria palamentar que dispense Santana Lopes? Os acontecimentos das últimas horas estreitaram a margem de manobra do PR. As soluções para esta crise gizadas no recato dos gabinetes são uma machadada na credibilidade do sistema político democrático.

Será que vai prevalecer o entendimento de que em democracia as eleições são um factor de instabilidade? A crise aberta pela demissão de Durão Barroso é muito grave. Para uma crise de tamanha gravidade, que envolve a legitimação do governo, não pode deixar de ser aplicada a medida mais eficaz, prevista na Constituição, que permite legitimar um novo governo. Eleições.


sábado, junho 26

Sonetos (III)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Luís de Camões

(in Obras Completas, Círculo de Leitores,
Edição de Lobo Soropita, de 1595)

Durão - Presidente da Comissão Europeia (2)

Vi ontem um debate na SIC Notícias - Expresso da Meia Noite - com um grupo de comentaristas divertidos. Para eles - sejam de simpatias da esquerda ou da direita - a crise política aberta com a demissão do primeiro-ministro é uma alegria.

Disseram muitos e variados disparates sem que algumas chamadas ao bom senso tivessem resultado. Hoje o Público fala de uma "remodelação profunda" do governo. Mas do que se trata é de um novo governo, com um novo primeiro-ministro. Não há remodelação nenhuma.

Se o PR não convocar eleições antecipadas, no fim do mandato deste novo governo os portugueses vão pedir contas a quem? A Durão Barroso, presidente da Comissão europeia (ex-primeiro ministro) ou a Santana Lopes, primeiro-ministro (ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa)?

E em Lisboa, no fim do mandato de Santana Lopes, os lisboetas vão pedir contas a quem? Só há uma maneira para legitimar politicamente uma mudança de primeiro-ministro e de governo: eleições antecipadas.

Não se trata de um cálculo político para dar o poder de volta à esquerda. Trata-se de uma questão de higiene democrática.

sexta-feira, junho 25

Durão - Presidente da Comissão Europeia

Faço um primeiro comentário, acerca deste magno assunto, na abébia vadia mas confesso que, depois do jogo de ontem, estou cansado e esta crise política foi bem pensada. É o dia certo.

"Pedro Santana Lopes, actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa e vice-presidente do PSD, será o próximo primeiro-ministro de Portugal, após Durão Barroso ter decidido aceitar o cargo de presidente da Comissão Europeia. »

Se for verdade, como afiança o Expresso na sua versão online, cujo resumo reproduzo acima, o que pensar desta saída de Durão Barroso? O seu governo dura há pouco mais de 2 anos. A sua popularidade está em baixa. Não vai haver remodelação. Vai haver um novo governo. Certamente sem eleições e um novo primeiro-ministro - Pedro Santana Lopes?

Há muitas maneiras de fugir. Para cima, para baixo ou para o lado. Esta é uma dança. Se não houver eleições antecipadas tudo se resolve num círculo restrito. Depois admirem-se que haja cada vez mais desinteresse dos cidadãos pela política e pela participação cidadã.

Ganhaaaaamos (5)

Dei uma vista de olhos pela imprensa internacional buscando os relatos do Portugal-Inglaterra. Vejam aqui um exemplo.

É difícil imaginar o valor desta vitória para a imagem de Portugal no mundo. As notícias são todas de primeira página. Descrições de um jogo épico. Referências constantes a um herói: Ricardo. Pormenores: defendeu o penalty decisivo sem luvas e marcou o golo que nos deu a vitória facto invulgar para um guarda-redes.

Pormenores de um alcance para o imaginário colectivo que é difícil de interpretar. É um sinal de que os encantos da vida estão na assunção do risco, na novidade da descoberta, no afrontamento das dificuldades da vida com as mãos nuas.

Em realizar o que antes se considerava irrealizável. Muito do que o homem tem de bom em si próprio, e para oferecer aos outros, não se encontra, afinal, do lado da razão mas no lado da emoção. Não se encontra do lado do calculismo, mas do lado do expontâneo.

Afinal o "pequeno Portugal" venceu a "grande Inglaterra". Eram mesmo só 11 contra 11. O mundo tomou, com simpatia, conhecimento. Portugal, digo Portugal, surgiu aos olhos do mundo, através deste episódio, como um país vencedor.

Mas o povo não mudou, nem as dificuldades da vida foram atenuadas. Mas sempre é melhor vencer do que ser derrotado. Não é?

quinta-feira, junho 24

Ganhaaaaaamos (4)

Estou vivo. Nada mau. Foi um jogo raro. Daqueles que nos fazem acreditar na beleza de um combate travado frente a frente. Os ingleses não pertencem à categoria das turmas "manhosas".

Lutam com galhardia e sinto estima por eles. Podíamos ser nós os derrotados e mesmo se assim fosse teríamos merecido o aplauso geral. Mais uma festa e estamos cada vez mais próximos de alcançar um feito.

Scolari mostrou coragem e foi recompensado. Com ele a média de idades da selecção baixa de jogo para jogo. Não tem medo de substituir os "monstros sagrados". Olhem com atenção os nossos políticos como se faz uma reforma em acção.

Mas cuidado que os próximos adversários serão, porventura, ainda mais difíceis que os ingleses. Suécia ou Holanda. Na próxima quarta feira vou torcer para um novo Ganhaaaaamos. Um abraço especial ao respirar o mesmo ar e ao Joaquim Paulo.

Sonetos (II)

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha senhora.


Luís de Camões

(in Obras Completas, Círculo de Leitores,
Edição de Lobo Soropita, de 1595)

Ironia

"Beneficiários do RSI Sem Projectos de Inclusão"

A filosofia do "rendimento mínimo" assentava numa ideia de integração social. O "rendimento social de inserção" assumiu, na própria designação, a regeneração dessa ideia, pretensamente pervertida, pelo anterior governo.

Balanço: Os beneficiários do antigo "rendimento mínimo" recebem um subsídio. Os potenciais beneficiários do "RSI" não recebem subsídio, nem participam em projectos de integração.

quarta-feira, junho 23

CV-17

Regressando aos blogs do Brasil aqui têm o Papel de Pão. De tudo, nada

Sem apresentações. Assunto morto com o lema: "Tudo que eu possa dizer sobre mim está nos posts ao lado. O resto não importa"

Um dos mais belos blogs que tenho visitado nesta digressão. Na escrita e nas imagens. Vale a pena.

Vistas de Rua (6)

Rua Dr. Coelho de Melo, Faro, Algarve, Portugal

Quando olhava, da janela, aquela rua os meus olhos viam uma paisagem povoada de sonhos. Não era uma rua o que eles viam mas o espaço da liberdade. Ir à rua era sair em busca de sensações novas caminhando ao encontro do desconhecido. Ir à rua era buscar as diferenças que a disciplina da escola e as obrigações da casa tornavam grandiloquentes e imensas como o mar.

A rua em que eu nasci era de terra batida e nela era possível escavar buracos para jogar ao berlinde, desenhar, com o pé, figuras e olhar, curioso, os sulcos deixados pelas rodas do triciclo. A rua em que eu nasci era uma rua vulgar aos olhos do comum dos mortais mas, para mim, era uma avenida luminosa de sol e sombras desenhadas pelo calor da paixão de viver.

A rua em que eu nasci ainda lá está quase tal qual era na época da minha meninice. Uma rua de casas baixas, brancas de cal, com terraços mouriscos que, no verão, me queimavam os pés descalços. Nessa rua perdi a inocência. Aprendi tudo: a sonhar, a ler, a contar e a rezar. Nela conheci a beleza das mulheres e a cor da solidão. Aprendi a amar os que me amavam. A reconhecer a ausência e a partida. A morte e a vida. A doença e a miséria.

Tudo se aprende até aos 8 anos. Depois não se aprende nada.

terça-feira, junho 22

Sonetos (I)

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!

Luís de Camões

(Edição de Lobo Soropita, de 1595
In Obras Completas - Círculo de Leitores)
.

Ganhaaaaamos (3)

As reflexões acerca do fenómeno do futebol não podem deixar de fora a crítica às tentativas descaradas de instrumentalização do Euro - 2004 à estratégia da coligação governamental nas últimas eleições europeias.

Queria deixar aqui uma nota de repugnância pelas sucessivas e organizadas acções de premeditada colagem e confusão entre a realidade do futebol e os desígnios políticos de uma candidatura eleitoral. O post de Porfírio Silva hoje afixado no abébia vadia refere só uma manifestação extrema desta política de inominável apropriação do fenómeno desportivo pela maioria de direita.

As recentes vitórias da selecção portuguesa e os festejos que delas resultaram, esperados e legítimos, deram para perceber, em toda a plenitude, a ideia dos estrategos da coligação "Força Portugal". A colagem à imagem de um país em festa vitoriando a selecção na véspera de eleições. A vitória sobre a Grécia permitiria a saída para a rua de multidões de portugueses carregando às costas os símbolos nacionais que a Coligação "capturou" para a sua campanha.

A imagem de um povo feliz a que se associariam os lideres do governo e da coligação. Tal fúria desesperada de protagonismo, ilegítima e desproporcionada, levou até a uma "invasão" da bancada vip do Estádio do Dragão, por membros do governo e comitiva, a que não escapou nem o próprio responsável pela organização do Euro.

Depois, após a vitória sobre a Rússia e, ainda com mais evidência, com as manifestações suscitadas pela vitória sobre a Espanha, foi possível antever o que teria sido esse momento. O tiro saiu pela culatra. Portugal perdeu com a Grécia. Em boa medida essa derrota foi da responsabilidade daqueles que quiseram, a todo o custo, instrumentalizar a selecção aos seus desígnios partidários. (imagino as pressões - directas e indirectas - sobre a Federação, técnicos e jogadores!).

Os portugueses celebraram, com euforia, as vitórias fazendo o que seria de esperar. Agora será melhor acautelar esta euforia para a disputa com a Inglaterra que, verdade seja dita, passe a ironia, foi a potência determinante na vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota. Depois de vencida a Espanha, uma "potência continental" é a vez de nos defrontarmos com a nossa aliada estratégica tradicional, a Inglaterra, uma "potência marítima" como nós, embora nós tenhamos vergonha, a mais das vezes, de o assumir.

Espero que todos tenhamos razões para festejar, na próxima quinta-feira, a vitória do "pequeno" Portugal contra a "grande" Inglaterra". Pois, neste caso, não há desproporção de forças: são só onze contra onze.

segunda-feira, junho 21

CV-16

Ouguela Com Vida - o blog

"Este blog será um espaço onde os alunos e a comunidade de Ouguela poderão partilhar com todos os amigos os seus sonhos..."

Este blog tem a particularidade de ser editado por uma escola do Concelho de Campo Maior, Alentejo, frequentada por 5 alunos. Não tenho abordado, por opção pessoal, de forma sistemática, as questões da educação mas esta experiência vale bem a abertura de uma excepção.

Ganhaaaamos (2)

O meu amigo Joaquim Paulo Nogueira no seu Respirar deu-me um cartão amarelo amigável. Aqui vai a minha réplica antes que se faça tarde.

O que está em causa nestas abordagens críticas do fenómeno do futebol é uma certa incapacidade de percepção das diversas vertentes do "ganhámos". O meu compromisso com a comunidade em que insiro a minha acção, criatividade, convicção, crença, saber,..., não se esgota na observação das facetas imbecis da paixão colectiva.

Se assim fosse estaria, no limite, a dar caução a um nacionalismo serôdio ("que está fora do seu tempo") e a uma fé irracional nas vitórias decididas pelo destino. Mas o meu compromisso com a comunidade exige de mim uma capacidade de compreender o entusiasmo e a paixão dos outros e, em particular, quando os outros somos, de facto, nós próprios, embora não o queiramos reconhecer.

Não quero ficar de fora nem por uma razão de exibicionismo nem por uma razão de sensibilidade. Desde sempre tenho uma paixão pelo futebol que não consigo esconder nem dominar. Por isso nunca poderia ficar de fora da paixão destes dias.

Tenho, ao mesmo tempo, a percepção de que o futebol é visto por alguns como um subtil factor da distorção (distracção) das penas dos dias difíceis a que certas políticas têm submetido o nosso povo. Mas esses manipuladores são perdedores à partida pois jogam um jogo que a multidão exultante, no nosso tempo, não aceita nem amplia.

O perigo de erosão da democracia não provem da paixão do povo pelo futebol mas da capacidade dos podesres democráticos e seus agentes (os eleitos) serem capazes de se manterem fiéis aos compromissos que assumiram quando se apresentaram a sufrágio. Tenho para mim que a qualidade da democracia depende, acima de tudo, da qualidade dos eleitos. E que, salvo em situações de extrema penúria, todos nos podemos deixar possuir livremente pelas nossas paixões que o poder não cai na rua.

Preocupante seria o contrário. Aliás como têm afirmado diversos sociólogos, no âmbito desta discussão, são inúmeras as manifestações de resistência às tiranias que se têm apoderado do fenómeno desportivo e, em particular, do futebol, assim como são conhecidos os casos de sentido contrário. Mas esse também é um jogo que os democratas não podem recusar-se a jogar.

Nada, de essencial, muda na vida de uma comunidade com uma vitória da selecção mas a força do contentamento de um povo jamais pode ser aprisionada pela reflexão crítica do fenómeno da paixão. Estou pois de ambas as margens deste rio caudaloso. Paixão pelas vitórias (ganhaaaaamos!), compaixão pelas penas da vida qua a paixão da vitória não amacia nem atenua.


Pina Moura

Julguei que Pina Moura estivesse afastado da vida política activa. Agora que foi contratado por uma grande empresa e tem a sua vida profissional "encaminhada" pensei que guardaria o recato próprio dos profissionais da gestão privada cujas energias não são demais na dedicação às suas empresas e seus patrões.

Pelos vistos as tarefas de Pina Moura são outras. Os seus patrões preferem um primeiro-ministro de Portugal com um "perfil reformador inequivoco" e uma especial "consciência e sensibildade pessoal". Entendi. Alguém mais "flexível", menos "rígido", mais sorridente do que Ferro Rodrigues. Estão a ver! Vem isto a propósito da tomada de posição crítica de Pina Moura acerca de Ferro Rodrigues.

Sem menosprezo pela liberdade de opinião de todos os cidadãos, lembrei-me de um episódio curioso: no último Congresso do PS da "era António Guterres" Pina Moura foi crucificado, em particular, pelo silêncio de todos. Durante o Congresso não se ouviu uma palavra de apoio e solidariedade pelo seu esforço no exercício da função de Ministro das Finanças e da Economia. A única voz que se fez ouvir, solidária com Pina Moura, imaginem de quem foi... foi de Ferro Rodrigues. Eu estava lá e assisti a tudo.

A memória de Pina Moura é fraca e caminha na razão inversa dos seus rendimentos e de interesses particulares que só ele poderá explicar.

"Pina Moura critica Ferro Rodrigues
Apesar do recente triunfo eleitoral do PS, Pina Moura mantém as reservas quanto à actual direcção do partido. Para o deputado socialista, o líder do PS não tem perfil para levar os socialistas de volta ao poder.
Em declarações ao programa da SIC "Negócios da Semana", o deputado socialista e antigo ministro de Guterres criticou Ferro Rodrigues, dizendo que ele não tem o perfil reformador para levar o PS de volta ao poder.
"Não é o candidato melhor colocado, em virtude das suas próprias características para personificar, com mais eficiência, junto do eleitorado, esta conjugação de um compromisso reformador inequívoco de mudança e de modernização da sociedade portuguesa, conjugado com consciência e sensibilidade pessoal", disse Pina Moura."