Esta imagem vem a propósito de uma curiosa notícia inserta no “Público” de ontem: Bush terá lido, nas férias, “O Estrangeiro”, de Camus, e terá gostado do que leu. O que mais me pode acontecer!
A minha leitura perversa da coisa é a seguinte: um conselheiro de Bush, mais versado na leitura dos clássicos, conhecendo a obra e a biografia de Camus, face à necessidade urgente de lançar sinais de aproximação com a Europa – Grã-Bretanha à parte – lembrou-se da obra de um autor que não pudesse ser incomodado pela razão simples de estar morto.
Tendo o dito conselheiro lido, na sua juventude, “O Estrangeiro” – obra consagrada, de autor nascido num país árabe, título sugestivo e tema oportuno, no contexto político actual - dela fez uma breve resenha que, na melhor das hipóteses, leu a Bush.
O conselheiro deve saber que Camus era um pacifista, que nunca defenderia as políticas de Bush, nem da actual liderança de Israel, nem do Hezbollah; que se colocaria, inevitavelmente, numa posição “impossível” de conciliação entre as partes em conflito; que sempre defenderia a coexistência pacífica de todas as raças e religiões sob o império da tolerância e da liberdade.
Como acabei de reler “A Queda” aconselharia ao tal conselheiro a preparação de uma resenha desta obra, a apresentar a Bush, na qual colocaria em destaque a seguinte passagem: "Quando se meditou muito sobre o homem, por ofício ou vocação, acontece-nos sentirmos nostalgia dos primatas. Esses ao menos não têm segundas intenções."