domingo, setembro 6

ELEIÇÕES - 6 de setembro

Estava escrito nas estrelas. Qualquer cidadão atento, quanto mais politico empenhado, sabia que, o mais tardar, dia 9, a situação de Sócrates - quanto às chamadas medidas de coação - mudaria no sentido já antes apontado. Em democracia e liberdade não há assuntos tabu muito menos este facto excecional, único no nosso país, pelo menos desde o golpe militar que derrubou a 1ª República, de um ex-primeiro ministro ser preso (preventivamente). As condições politicas em que decorre o processo eleitoral para a escolha do parlamento, com os acontecimentos do passado dia 4, mudaram radicalmente. Só não vê quem não quiser ver. Fazer de conta que tudo corre com plena normalidade no processo eleitoral é de uma hipocrisia insuportável. O mesmo se diga para as eleições presidenciais que se seguem. E suponho que ainda nem se viu "da missa a metade". A integração do país na UE garante, ao menos, que a democracia representativa sobreviva, com a condição de que a UE sobreviva...

sexta-feira, setembro 4

ELEIÇÕES - 4 DE SETEMBRO

A um mês das eleições legislativas. Este dia é marcante neste processo mas ainda faltam 30 dias no curso dos quais muita coisa ainda vai acontecer. Parece um daqueles jogos de futebol cujo resultado cada vez mais gente desconfia se resolve fora das quatro linhas. Não terá sido sempre assim? Acho que não, mas adiante... Se não resultar das eleições legislativas de 4 de outubro uma maioria absoluta de qualquer das candidaturas, com um presidente em fim de mandato, após ter afirmado o que já afirmou, demorará bastante tempo a formação do governo. Acresce que os derrotados nas eleições terão a vida difícil no seio dos seus próprios partidos. Só vejo soluções improváveis que nem enuncio de forma completa com todas as consequências. Mas pode ser que as minhas dúvidas sejam infundadas e que das eleições resulte uma maioria, mesmo que não absoluta, pelo menos, clara. Que permita formar um governo de forma célere, entendida a celeridade no conceito politico português: lenta.

terça-feira, setembro 1

Norah Jones (with Wynton Marsalis) - You Don't Know Me


ELEIÇÕES - 1 de setembro

Voltando ao tema das eleições legislativas de 4 de outubro próximo. A geometria político-partidária do regime democrático português, criado no pós 25 de abril, não deverá sofrer uma derrocada. Manterá, no essencial, a mesma estrutura com suas peculiaridades de que assinalo duas que julgo bastante distintivas de outros países com regimes democráticos: a blindagem, à esquerda e à direita, do sistema impedindo a emergências de forças politicas populistas - com expressão eleitoral relevante - e a resistência eleitoral do PCP, ao contrário do que acontece em quase todos os países da UE nos quais os partidos comunistas tradicionais se tornaram politicamente irrelevantes. O que é provável que aconteça nas próximas eleições, em linha com uma tendência que vem fazendo o seu caminho, sem novidade, é uma forte abstenção que o "bipartidarismo" não ajuda a combater ajudada pelo crescente peso da emigração.

sábado, agosto 29

ELEIÇÕES - 29 de agosto

A um mês e poucos dias das eleições legislativas toda a gente, mesmo toda a gente, deve estar preparada para tudo o que se diz, se anuncia, promete, proclama, se subentende, se faz e ameaça fazer, de dentro, e de fora, do circulo restrito dos políticos na refrega eleitoral. Uma nota acerca do tema que me apraz deixar registada: diga-se o que se disser o PS português pertence à família política europeia, e mundial, da social democracia, do socialismo democrático e do trabalhismo. Trata-se de uma questão de atualidade, por razão dos debates eleitorais, mas também uma questão histórica herdada dos tempos longínquos da revolução industrial. Quer queiram, ou não queiram, o PS português é, na verdade, um partido do centro/esquerda no modelo construído após o 25 de abril (certamente discutível) da nossa democracia representativa, existindo partidos representativos à sua direita - PSD e CDS/PP e à sua esquerda - PCP e BE. Já sabemos que é um caso de estudo na situação atual da Europa na qual emergem novas forças politicas organizadas, com expressão eleitoral, que colocam novos desafios mas, em Portugal, o PS é o que é: o partido dominante e congregador do centro/esquerda, com vocação para a construção de soluções de governo. Quais? Não sei, pois esse veredito compete aos eleitores que somos, afinal, nós todos.

Mayra Andrade - Traz outro amigo também


terça-feira, agosto 25

Paris Libertada - 25 de agosto de 1944

Passam hoje 71 anos que Paris foi libertada da ocupação nazi. Nesse dia Camus escreveu um notável editorial para o jornal Combat, órgão da Resistência, intitulado: LA NUIT DE LA VÉRITÉ que começa assim:

Tandis que les balles de la liberté sifflent encore dans la ville, les canons de la libération franchissent les portes de Paris, au milieu des cris et des fleurs. Dans la plus belle et la plus chaude des nuits d’août, le ciel de Paris mêle aux étoiles de toujours les balles traçantes, la fumée des incendies et les fusées multicolores de la joie populaire. Dans cette nuit sans égale s’achèvent quatre ans d’une histoire monstrueuse et d’une lutte indicible où la France était aux prises avec sa honte et sa fureur. (...)


71 anos é muito tempo mas nada é mais importante do que celebrar a liberdade e os acontecimentos que a evocam em toda a sua força telúrica. Desde esse dia a Europa tem vivido um longo período de paz que somente hoje, no tempo que é o nosso, está verdadeiramente em perigo.

quarta-feira, agosto 19

Presidenciais - 19 de agosto - 2015

Não sou capaz de opinar, tomar posição, acerca dos episódios que se têm vindo a desenrolar sob o manto das eleições presidenciais. Existem anúncios de intenções, intenções disfarçadas de comentários, anúncios para marcação de lugar na pré campanha, figuras que se propõem sem programa, por fim, um jogo político que vale pelo próprio jogo. Não ignoro que algumas das intenções anunciadas terão objetivos políticos bem definidos mas ainda somente do conhecimento de quem manobra nos bastidores. Como cidadão eleitor decidirei o meu voto a seu tempo somente quando a cartas estiverem todas em cima da mesa. Faltam pelo menos quatro meses e até lá muita água vai correr debaixo das pontes.

domingo, agosto 16

FARO

Faro. Pelas ruas da baixa da cidade, reencontro os espaços que percorri, alguns intatos, banhados pela claridade da cidade meridional. No ar quente cheira a maresia e escasseia a gente, é domingo de praia, aqui tão perto.

sexta-feira, agosto 14

Bernstein: Mambo / Metzmacher · Berliner Philharmoniker


Eleições - 14 agosto - 2015

Faltam 50 dias para as eleições legislativas de 4 de outubro. Não vai haver Orçamento de Estado para 2016 senão após as eleições. Trata-se de uma questão da qual ninguém fala mas que é da maior importância. É provável que, caso a entrada em funções do próximo governo seja relativamente demorada, no início de 2016 se aplique o chamado regime de duodécimos. Desde o momento em que se torna percetível que assim será produz-se um efeito de adiamento e/ou retardamento de decisões na administração. Na prática salvo se das eleições resultar uma maioria absoluta - a qual poucos acreditam que venha a tornar-se realidade - entrar-se-á num período de debate politico intenso destinado à formação do governo em simultâneo com a pré campanha para as eleições presidenciais. Rescaldo de umas eleições início de outras eleições para todos os órgãos de soberania eleitos - AR e PR. Uma situação singular pois não me lembro de ter acontecido alguma vez no pós 25 de abril... (talvez na I República!). Nada que não fosse previsível e o tempo é uma importantíssima variável na política ...

terça-feira, agosto 11

Eleições - 11 de agosto de 2015

Acerca das polémicas dos cartazes da campanha eleitoral em curso apetece passar à frente o mais depressa possível. Porque descredibiliza a política numa das suas facetas mais sensíveis qual seja a da imagem que se projeta dos partidos revelando(ou confirmando)o seu afastamento das pessoas e o simultâneo afastamento das pessoas dos partidos. A gravidade do uso de imagens de cidadãos, "roubadas" ou "compradas", para ilustrar cartazes de campanha eleitoral está no facto de simbolizar o afastamento dos partidos que as usam dos cidadãos que pretendem que se identifiquem com a sua mensagem. É uma incompetência que vai para além da mera tecnicidade das tarefas da propaganda política inscrevendo-se numa espécie de esgotamento do papel dos partidos tradicionais. Nada de novo existe neste breve apontamento acerca de um tema que está na ordem dia. Em Portugal observam-se manifestações de fadiga do papel dos partidos tradicionais (nem por isso menos representativos e democráticos)sem que das próximas eleições, por efeito dos seus resultados eleitorais, se preveja o seu ocaso ou esfacelamento. Esta é uma singularidade de Portugal entre os países do sul da Europa no que respeita à paisagem partidária. Matéria para os estudiosos.

quinta-feira, agosto 6

HIROSHIMA - 70º ANIVERSÁRIO


A Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas,
Pensem nas meninas
Cegas inexatas,
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas,
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas.

Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa!

Da rosa de Hiroshima,
A rosa hereditária,
A rosa radioativa
Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose,
A anti-rosa atômica.
Sem cor, sem perfume,
Sem rosa, sem nada.

Vinicius de Moraes

domingo, agosto 2

Primeiro domingo de agosto - 2015

Primeiro domingo de agosto do ano da graça de 2015. Perto do ponto mais ocidental da Europa olho pela janela o mar que, em seu azul puro, anuncia mais vida para além das preocupações do dia a dia. Nada a temer da natureza a não ser o homem que dela é pertença. Por entre todas as ameaças, lutas e guerras não declaradas, persiste a necessidade de partilhar, em paz e liberdade, a luta pela dignidade do homem. Incorporo-me nessa amalgama de vontades que aparentando por vezes fraqueza de súbito, como sempre na história, se agigantam e se transformam em força.

terça-feira, julho 28

ELEIÇÕES - 2015 - dia 28 julho

Estamos nas vésperas, em Portugal, de mais um combate político travado em democracia. Esta frase parece uma banalidade mas é saudável recordar que em Portugal, durante 48 anos, vigorou uma ditadura. Não vale a pena dourar a pílula, com fraseados mais ou menos adocicados, acerca do regime politico que vigorou em Portugal entre 1926 e 1974 - uma ditadura. Nesse período, correspondente a mais do que uma geração de portugueses - o meu pai só conheceu a cor da liberdade aos 63 anos de idade - efectuaram-se simulacros de eleições. Somente após o 25 de abril de 1974 se realizaram eleições livres e democráticas, com o pleno vencimento do sufrágio universal, que mesmo na 1ª República havia sido limitado, por exemplo, no caso do voto das mulheres. Nunca poderei dizer que não me interessa o vencedor das eleições de 4 de outubro próximo e, muito menos, por em dúvida o exercício de voto pois sempre votei em todas as eleições realizadas depois do 25 de abril (e mesmo em alguns simulacros de eleições realizadas antes.). Sempre, desde a adolescência, fui atraído pelos ideais do socialismo partilhando todas (ou quase todas) as suas derivas, ou tendências, que, em cada época, ganham novos contornos e protagonistas. Votarei em fidelidade aos meus ideais de sempre. Mas o voto, em liberdade e democracia, só faz sentido, para mim, no respeito sagrado pelo sentido do voto de todos e de cada um.

Liliana Barrios Tango à Eygalières

sexta-feira, julho 24

Norah Jones - Live At LPR, NY

FÉRIAS - julho - dia 24

A época de férias aí está para os cidadãos que as podem gozar. As férias são uma aquisição recente dos trabalhadores, ao contrário do que muita gente pensa, mais por desmemória do que por outra razão qualquer. Na verdade foi o governo da frente popular, no ano de 1936, em França, que instituiu, alargando às grandes massas de trabalhadores, essa banalidade dos nossos dias que são as férias (pagas). Este ano, uma vez mais, as férias serão a antecâmara de eleições (legislativas e presidenciais) com os episódios próprios das disputas eleitorais. Mais vale o ruído, incómodo para alguns, das refregas eleitorais democráticas do que o pesado e cúmplice silêncio das tiranias.

quarta-feira, julho 15

Grécia . julho - dia 15

Não quero escrever da Grécia senão acerca de sentimentos pois sei que pouco, ou nada, sei acerca da realidade. A situação que nos é dada a conhecer através dos relatos, como sempre acontece nas mudanças verdadeiramente decisivas, é estranhamente original. Sinto-a como sinal de ameaça para a democracia e interrogo-me acerca das razões, e objectivos, de quem mexe os cordelinhos - não sejamos ingénuos - se uma qualquer máfia ou a pura incompetência de políticos sem alma. Sinto a Grécia e as suas circunstancias como uma semente de guerra, uma frincha que se abre à confrontação irracional ou ao surgimento de uma ditadura militar, ou ambas as coisas. Na Europa da paz e dos sonhos federais - da moeda à governação - alguém muito poderoso terá desistido de perseverar pela concórdia, pela aposta no diálogo, pela crença na superioridade da democracia. Sempre me lembra o desembarque na Normandia, a epopeia dos milhares de americanos, canadianos, australianos e dos resistentes europeus, que morreram, faz agora precisamente 70 anos que esse pesadelo terminou, para devolver a liberdade e a paz à Europa. Espero que seja somente um sonho mau.

terça-feira, julho 7

CRISE - dia 7 de julho 2015

Nós sabemos pouco dos meandros, encontros e desencontros, da politica que se compõe de uma sobreposição de vontades, interesses, doutrinas ... , que se entre-chocam no tempo e no espaço, hoje mais do que nunca a uma velocidade alucinante. Nós cidadãos comuns somos espectadores de um jogo do qual conhecemos as regras gerais mas que raramente jogamos. Em democracia somos eleitores o que não é nada pouco, e representa um avanço civilizacional brutal, mas é assustador o quanto transparece de medo ao sufrágio popular por parte dos lideres europeus. Ao ponto a que se chegou a Grécia, salvo qualquer milagre, vai ser um teste à sobrevivência do € e da própria UE, tal como a conhecemos no presente. Os americanos rezam para que não se abra uma nova fronteira de crise militar nos flancos da Europa da NATO (poucos falam em guerra, mas a guerra está presente em todo o cenário da presente crise politica), os países membros da UE, cada um a seu modo, temem os nacionalismos radicais quando as respectivas lideranças já não foram engolidas por eles, incluindo a Grécia. Assim resta esperar que reine o bom senso e que, numa linguagem antiga, e fora de moda, seja possível fazer emergir nas lideranças europeias, com suficiente massa critica, um verdadeiro e forte sentido de estado supra nacional...

domingo, julho 5

BEETHOVEN - Symphony no. 9 "CHORAL" - Leonard Bernstein (4)

Grécia - 5 de julho, 2015

Não sabemos o que vai acontecer na Grécia, e ao povo grego, após o dia de amanhã. Alguns afirmam que não somos a Grécia, pois é verdade, mas todos opinam acerca dos acontecimentos da Grécia. A Grécia tornou-se o epicentro da crise da politica europeia, revelando as fragilidades da moeda única e do próprio projecto da UE. Estamos perante um ruptura politica que pode ser de baixa intensidade e com efeitos restritos ou, o mais certo, o inicio da criação de uma convicção, em largas camadas da opinião pública europeia, da necessidade de repensar o € (ou sair dele) e o próprio edifício da UE. Certamente muitos responsáveis políticos já preparam o caminho de mudanças profundas que correspondam à necessidade de combater o avolumar na descrença de uma cada maior parte dos europeus no próprio projecto da UE. A UE não pode existir sem democracia. Os povos não podem ser desapossados do direito ao voto livre. Nem à liberdade de expressão do pensamento. Nem à liberdade de imprensa. O valor supremo que deve ser preservado em quaisquer circunstâncias, a defender pelos democratas, é o da liberdade. Inquieto-me ao pensar que a guerra da propaganda em que se envolveram os dirigentes das potências europeias na questão grega possa despertar não o ressurgimento politico das forças moderadas do centro mas avolumar o peso, quiçá a vitória, das forças anti europeístas hegemonizadas pela extrema direita - na Grécia e não só. Aí a tentação da intervenção militar pode ganhar, para os incautos, uma surpreendente e inesperada força. A ver vamos!

terça-feira, junho 30

A Grécia em Guerra - 30 de junho - 2015

A Grécia está desde alguns anos mergulhada numa guerra pois o que é a guerra senão os efeitos dela. Os indicadores falam por si e não falo deles aqui pois deverão hoje ser bem mais desoladores do que há uma semana atrás. É verdade que faltam as acções militares na Grécia, conforme nos habituamos a entender as acções militares. Nada que não possa vir a acontecer um dia destes como tantas vezes aconteceu na Grécia num passado não muito longínquo. Aliás a guerra está presente ao longo de boa parte das fronteiras da Europa e a Grécia é uma das suas fronteiras mais sensíveis. A Grécia, por estes dias, é um tema que suscita - tal como em qualquer teatro de guerra - uma intensa actividade de informação, e contra informação, que se estende a nível global. Por isso me previno de acreditar nas notícias da guerra.

domingo, junho 28

Junho - dia 28

A crise grega - uma faceta radical da crise da UE - permite-nos ficar a conhecer muita coisa. Por exemplo que a reunião dos ministros das Finanças dos países que adoptaram o € é informal quando, no que me toca, sempre pensei que era uma instância cujas decisões, obrigatoriamente unânimes, "subiam", após aprovadas para decisão de instâncias superiores. Afinal é uma instância informal... mas que deve, certamente, reger-se por regras próprias escritas e ... formais. Se assim não for como se justificam as despesas em viagens e estadias, além do tempo gasto pelos ministros das Finanças para participar nessas reuniões? Mas mostra que a UE é, paradoxalmente, menos burocrática do que quer fazer crer... Também toda a gente ficou a saber que não está previsto, nos tratados, que um país saia do €, tendo sido criado um modelo no qual só estão previstas adesões ao €. Há porta de entrada mas não há porta de saída! Nesta semana de finais de Junho, inícios de Julho de 2015, vão ensaiar-se, pois, um conjunto de experiências sem enquadramento nas normas que regem o funcionamento da UE. Assim parece. O mais curioso - se não fosse dramático - será assistir-se aos dirigentes dos países do norte da Europa envolvidos num processo que apela mais ao "improviso organizacional", próprio da cultura dos países do sul, do que à "previsibilidade racional" da cultura dos alemães e dos povos do norte da Europa. Afinal ainda existe, e continuará a existir, em toda a sua diversidade, UE!

domingo, junho 21

Dvorak - Symphony No. 9 "From the New World" - II (part 2)

O MURO

Acontecem, por estes dias, coisas assustadoras por essa Europa fora. O governo de um país da UE anunciou que vai levantar um muro na fronteira do país que governa (Hungria)com a Sérvia. Para evitar ou, pelo menos, conter a entrada de migrantes! Um muro não virtual mas que deverá ser de betão, ou assim, com uma dimensão de cerca 170 KM. Na União Europeia! E as gerações vivas de alemães que assistiram ao derrube do muro que dividia a Alemanha em duas, desde a final da II Guerra, toleram a um governo de um país da UE que venha a construir um muro que separe um país da UE de um outro país que, apesar de não a integrar, faz parte desta mesma Europa? Se for possível construir este muro, sem consequências politicas para os seus construtores, adeus UE!

terça-feira, junho 16

junho. Dia 16

A Grécia. Desde quando se não falava tanto da Grécia! Hoje num comentário na TV Vitorino (António) gracejou acerca da Grécia enquanto berço da democracia. Não gostei. Antes, ou depois, já não me lembro, fez uma declaração de interesses para se pronunciar acerca da privatização da TAP. Integra o escritório de advogados contratado pelos vencedores. Não é obrigatório ser uma má pessoa para exercer advocacia de negócios. Mas advogar um negócios em concreto, o que é próprio da profissão de advogado, e emitir opinião num espaço público de opinião, como um canal de TV, acerca do dito, não me parece eticamente muito promissor. Não gostei. A liberdade de opinião condicionada, ou aprisionada, pelos interesses.

domingo, junho 14

Junho - dia 14


Um dia após o 13 de junho numa época em que o simbolismo das datas sofre tratos de polé. As fronteiras externas da UE após a euforia do alargamento, e com a emergência da crise, são o epicentro de uma crise não já financeira, mas politica. Os sinais são bastante explícitos mesmo para um leigo em ciência politica. A criação da moeda única sem orçamento único (fosse qual fosse o calendário da sua implementação e o modelo de gestão), e o arrastamento consequente do debate acerca de soluções politicas, de feição federalista, tornaram as regiões de fronteira da UE, cada uma com suas especificidades, bombas ao retardador - Ucrânia, Grécia, Portugal, Espanha, Itália... Não se vislumbram sinais de convergência no sentido de conciliar as democracias representativas, e seu fortalecimento, e os interesses estratégicos das grandes potências. Não é possível, todo o tempo, subalternizar o resultado politico de eleições democráticas sem por em causa o próprio modelo democrático. Se os povos concluírem que de nada vale, através do voto, escolher os governos, e respectivas politicas, não é de admirar que seja o próprio sistema democrático a entrar em colapso. Está a aproximar-se um tempo de grandes escolhas que se podem sintetizar em poucas palavras: guerra ou paz? democracia ou tirania? O que até há pouco tempo parecia um cenário de equações improváveis e longínquas torna-se cada vez mais presente até nos discursos dos mais altos responsáveis pelos estados.

sábado, junho 13

Dia 13 de junho. 2015

Noite de Santo António, 2015. Por vezes penso naqueles que foram ficando pelo caminho. Naqueles que sofrem as dores de doenças difíceis de suportar. Dos caminhos que cada um de nós foi trilhando, de suas venturas e desventuras. Um mundo complexo de decisões, vivências e acontecimentos que a geração do "baby boomers" marcou de uma forma muito particular. Resta um pavio de energia por consumir que, por junto, representa muita experiência, saber e força disponível em prol da defesa dos valores da liberdade e da democracia. Uma geração mais jovem será capaz de erguer uma nova esperança. Sei que essa geração está a despontar, dispensa paternalismos bacocos, espera somente que a deixem fazer o seu caminho. Mais do que tudo o que lhe podemos deixar de herança, são exemplos. Uma persistente defesa dos valores da dignidade humana, da valorização do trabalho honesto, da demonstração prática de que é possível ascender socialmente pelo mérito, da solidariedade cívica nas dificuldades do momento, da coragem de abraçar o futuro sem renegar o passado.

domingo, junho 7

Maio de 2015, dia 7

Eu sei que as expectativas são baixas para a maioria das gentes e muitas as suas aflições; sei que se temem as politicas sejam elas quais forem, qualquer um que mantenha o discernimento, cidadão desperto para a vida que o rodeia, percepciona o desencanto, salpicado pela crença ingénua dos que sempre acreditam no futuro, ou que beneficiam das benesses do presente. Eu sei que o mundo não vai acabar amanhã, que a politica ocupará o seu lugar, e se regenerará pela participação de uma nova geração que ainda dela não participa, que a descrença pode durar muito tempo mas não se eternizará. O que terão pensado, e sentido, os portugueses em 1580? Como se acomodaram à perda de independência nacional, que aconteceu ao patriotismo, como se transformou e se readquiriu, sessenta anos passados. Portugal quer queiram, ou não, os eurocratas, (não os europeístas), tem língua (que evoluiu) e fronteira física (que se manteve na Europa) faz muitos séculos. Arvorou o estandarte nacional em muitas praças, por esse mundo fora, e manteve capital em cinco cidades (Guimarães, Coimbra, Lisboa, Rio de Janeiro e Angra do Heroísmo), tendo em todas as épocas, a mais das vezes conturbadas, sobrevivido a variadas e fortes desditas. Ninguém desvalorize a crise contemporânea de Portugal no seio da Europa, nem facilite na hora de traçar os caminhos do futuro. Mas, uma vez mais, se formos capazes de exercer essa extraordinária capacidade de inventar o futuro, persistiremos na feitura de uma história própria na partilha com o diverso.

sexta-feira, junho 5

PELO ANIVERSÁRIO DE GARCIA LORCA

Fotografia de Hélder Gonçalves

O SILÊNCIO

Ouve, meu filho, o silêncio.
É um silêncio ondulado,
um silêncio
donde resvalam ecos e vales,
e que inclina a fronte
para o chão.

Federico Garcia Lorca - Traduzido por Eugénio de Andrade

El silencio

Oye, hijo mío, el silencio.
Es un silencio ondulado,
un silencio
donde resbalan valles y ecos
y que inclina las frentes
hacia el suelo.

domingo, maio 31

SPORTING

O futebol não é uma escola de virtudes mas como tal deveria fazer-nos pensar da razão de suscitar tantas, e tão fortes, paixões. Como nenhuma atividade do homem é uma escola de virtudes como nos demonstra a experiência vivida mais do que as públicas notícias. Não que não haja virtudes na atividade do homem e não hajam homens virtuosos nos percursos das suas vidas. Mas é pequena a margem pura da virtude e querer viver só nela, e por ela, é quase reduzirmos a nossa vida a sucessivos desencontros e, por fim, a nos retirarmos dela. Vem esta prosa a propósito do comezinho feito do Sporting, hoje, ter ganho a Taça como antes o próprio, e outros, terem ganho troféus e campeonatos por entre a sorte, o saber e a luta dos seus heróis, em jogos limpos e, quem sabe, sujos, que oferecem à multidão apaixonada momentos de alegria sublime e libertadora. O futebol, com seus meandros obscuros, ganha no jogo, e suas vissitudes, uma claridade singular que, apesar de todos os seus males,alumia o mundo.

sábado, maio 30

Maio, dia 30


Final de maio, o mês das flores, que muitas mãos acariciam - como a minha mãe gostava de rosas - e encantam em todos os canteiros vivos por esse mundo fora. Os homens, a mais das vezes, não são merecedores de apreciar a sua beleza que, para sorte da humanidade inteira, se espraia por fora deles. O mercantilismo, sem principios, tende a matar a justiça, capturando-a, tornando-a parte dos negócios. O desespero de muitos à mingua do pão exige um fortalecimento da justiça para defesa da liberdade. Muito mais além do que um valor abstrato a liberdade merece, tal como as flores, os maiores cuidados. Não como ornamento de uma sociedade injusta mas como garantia de ser possível lutar pela plenitude do exercício dela. A imprensa, em todas as suas formas, exige ser servida por cidadãos livres o que se mostra cada vez mais dificil à nossa observação. E, no tempo presente, o mais perigoso nem são os meios da imprensa tablóides que todos sabem do formato e dos fins que prosseguem, mas dos meios chamados de referência que lutam pelas audiências e cedem, em prol do que julgam ser a sua salvação económica, às facilidades do populismo.

Norah Jones - Live At LPR, NY


segunda-feira, maio 25

Espanha, pós eleições, maio - dia 25


As eleições realizadas ontem em Espanha tinham o atrativo especial de testar a resistência dos partidos tradicionais à emergência dos novos. Já se sabia que se desgataria o partido de apoio ao governo maioritário (PP), restava saber como se aguentaria o PSOE, na oposição, "apertado" pelos partidos emergentes. Não é de espantar o meu interesse pelas eleições em Espanha pois, de todos os países europeus,são as que mais influenciam a politica portuguesa. E o que aconteceu? O PP, partido maioritário, ganhou, perdendo; o PSOE perdeu, ganhando; os partidos emergentes, simplesmente, ganharam as eleições. O PP obteve mais votos, mas perdeu a maioria absoluta, o PSOE manteve-se a uma curta distância alcançando uma representação relevante, (sómente os resultados do PP e do PSOE se podem comparar nas presentes eleições por terem apresentado candidaturas em todas as circunscrições ao contrário dos emergentes). A marca destas eleições é a recomposição do xadrez politico em Espanha, uma óbvia conclusão, pois o modelo bipartidário cedeu ao multipartidarismo, sendo visivel uma fragmentação em benefício das forças progressistas, quiçá de esquerda na nomenclatura tradicional, indo, porventura, mais além no desafio de buscar mudanças irreversíveis que, mesclando projetos de sociedade diversos, novas, ou renovadas ideologias e, certamente, novos personagens, são o inicio de uma reforma do modelo da democracia representativa que, na verdade, ninguém, no essencial, questionou. Em Portugal, como quase sempre, este processo, na sua expressão eleitoral, será mitigado pela ausência de partidos emergentes com vibração suficiente para retirar espaço relevante aos partidos criados pós 25 de abril (o Bloco de Esquerda é uma coligação de partidos criados no pós 25 de abril!). Mas as próximas eleições em Portugal são nacionais a todos os títulos (legislativas e presidenciais) e, no caso português, irão confrontar-se, em ambas, a direita e a esquerda tradicionais sejam quais forem os seus programas e os protagonistas em confronto. Quem for capaz de trazer mais inovação à disputa ganhará, mas é pequena a margem para a imaginação, e oxalá aconteça um milagre de ganhar não só quem tenha mais votos, mas quem irradie mais esperança!

domingo, maio 24

Maurice Bejart- bolero de ravel( last part)


LEITURAS


A leitura da imprensa, em qualquer dos formatos disponíveis, é um atividade temerária. A liberdade dos jornalistas, de cujo exercício depende a imprensa livre, parece ter-se tornado um luxo raro. É preciso percorrer uma imensidade de manchetes, para prescutar no seu alinhamento - modelo "voz do dono" - notícia, reportagem, ou opinião, que não tresande a intriga, sangue ou dinheiro.
Mas pior, muito pior, uma espécie de fábrica da cuscuvilhice, subprodutos das notícias online, são as mensagens vertidas nas caixas de comentários. Basta cair lá uma vez por curiosidade, ou por acaso, eis uma amostra do caldo de que se fazem as ditaduras. Um albergue onde se acoitam, sob anonimato, o grau zero da inteligência e o elogio da intolerância.

sábado, maio 23

23 de maio - 2015

Praticamente a 4 meses de eleições legislativas, que deverão realizar-se a 4 ou 11 de outubro, com o verão pelo meio, o debate politico acende-se e há quem se espante por surgirem propostas programáticas oriundas dos partidos que se supõe disputarem, através de eleições, o poder. O que poderá causar espanto é a impreparação da opinião pública, e publicada, para debater as propostas que são apresentadas. Sabemos que todos os partidos as apresentarão tarde ou cedo, que os programas cedem ao teste da realidade, e que, com mais ou menos fragor, o futuro governo incumprirá, pelo menos, parte das promessas eleitorais. Faz parte do jogo, mas ao que é possível julgar, neste momento, quer em qualidade, quer em calendário,o debate politico subiu alguns degraus. Os programas, tal como as sondagens, valem o que valem, mas mais vale que sejam elaborados com seriedade assegurando, no que houver por necessário, as ruturas inevitáveis, assim como as incortornáveis continuidades. Como sabem os mais avisados, pela saber e experiência, salvo nas mudanças de regime, as politicas mudam de grau mas não mudam de natureza. Ou seja, que não se espere do resultado das próximas eleições uma revolução. E que na campanha que aí está se minimizem os golpes baixos e as proclamações populistas.

quarta-feira, maio 20

OS PROGRAMAS POLITICOS

Os programas políticos e, por maioria de razão dos partidos políticos, e ainda para mais em democracia, são necessários e importantes. Os programas enunciam, pelo menos, as grandes linhas de orientação que cada partido assume como suas. Criam expetativas e, nos mais crédulos, alimentam esperanças ou na mudança, ou na renovação, ou na continuidade, ou na “evolução na continuidade” (extraordinário slogan da “primavera marcelista”). O tempo, e a complexidade das sociedades contemporâneas, corroem, no entanto, o bom espirito clássico que deu fundamento aos programas. Falta, em regra, qualidade aos programas políticos, sólidos fundamentos, maturidade da experiência feita, mas, tal como a violência, essa fragilidade estrutural banalizou-se. Todos os programas políticos falam verdade, e são assertivos, exceto naquelas matérias que cada um de nós conhece a fundo. Haja saúde!

VIOLÊNCIA

A violência está presente, e aparenta ter crescido na nossa sociedade, não se expressando pelas formas tradicionais segundo os estereótipos. É uma violência contida, raiva surda, impotência de expressar as recusas de forma brutal. O Benfica e a sua vitória, paradoxalmente, destaparam uma faceta dessa violência, em regra, contida. Os festejos pelo triunfo num simples campeonato de futebol trouxeram consigo a exasperação pelo vazio de esperança, a ausência, ou a escassez, do espaço para a maioria do povo sonhar com suas próprias vitórias. E sem expetativa e esperança em vitórias não há futuro.

domingo, maio 17

maio, dia 17


É quase verão anoitece tarde, da janela aberta sopra uma brisa fresca, as árvores e os arbustos estão quase imóveis à minha frente, ao longe o mar azul rodeado de todas as cores da paleta do mundo. Perto da ponta mais ocidental da Europa aparenta viver-se em harmonia, ilusão que sempre esconde as injustiças e desigualdades. Não se quadra com a minha conceção de liberdade a afirmação de que não há liberdade de pensamento. Mesmo a olhar a natureza o homem é livre de pensar dela o que lhe aprouver.

Elīna Garanča - Mozart Aria


sábado, maio 16

ORDEM

“Fala-se agora muito de ordem. Porque a ordem é uma coisa boa que bem falta nos fez. […] Evidentemente, a ordem de que se fala muito hoje é a ordem social. Mas a ordem social é somente a da tranquilidade nas ruas? Não é certo. […] Talvez ajude para saber o que é a ordem social a comparação com a conduta individual. Quando dizemos nós que um indivíduo pôs a sua vida em ordem? Quando ele vive de acordo com ela e conformou a sua conduta ao que julga verdadeiro. Um insurreto que, sob a desordem das paixões, morre por uma ideia que fez sua, é na verdade um homem de ordem, porque ordenou toda a sua conduta segundo um princípio que lhe parece evidente. Mas não podemos nunca dizer que tem a vida em ordem um privilegiado que faz regularmente, durante toda a sua vida, três refeições por dia, e baseia a sua fortuna em valores seguros, mas que se fecha em casa quando ouve barulho na rua. Trata-se somente de um homem com medo e poupado. E se a ordem francesa fosse a da prudência e a da secura do coração, estaríamos tentados a ver nela a pior das desordens, já que, por indiferença, se passariam a permitir todas as injustiças. De tudo isto se concluiria que não há ordem sem equilíbrio e sem acordo. Não basta exigir ordem para bem governar, porque bem governar é a única forma de atingir uma ordem que faça sentido. Não é a ordem que dá força à justiça, mas a justiça que dá a certeza da ordem.“

Albert Camus, in "Atuais".

domingo, maio 10

Natalie Dessay," et incarnatus est " Mozart


TAVIRA 1989

No dia seguinte ao aniversário da Guida pelas terras do sul, no lugar do berço, com ameaços de verão, espalhado no ar o cheiro que me acompanha desde sempre,mais mediterrânico que continental, o Magreb aqui tão perto do outro lado do mar, e algumas das relíquias fotográficas do Hélder Gonçalves. (Tavira 1989)

sábado, maio 9

Agostinho Roseta- 20 anos


9 de maio de 1995-2015. Em Maio, o ar dos pobres diabos que deambulam pelos passeios. O pólen que se desprende das flores e árvores eretas quais bandeiras desfraldadas. A vista luminosa sobre a outra banda com o Tejo pelo meio. As efemérides tristes e empolgantes. A morte e a vida que ganham a cor clara dos longos fins de dia. Maio em Lisboa é uma sinfonia de sentimentos desencontrados. O que escrevem os poetas? Nunca se sabe o que escrevem os poetas mesmo que mostrem o que escrevem. Hoje passam vinte anos sobre a morte do Agostinho Roseta. No mesmo dia do aniversário de minha mulher. Maio, mês de todas as desilusões e promessas felizes.


quinta-feira, maio 7

OSCAR MASCARENHAS


José Pedro Castanheira, no Expresso, traça com precisão a biografia de Oscar Mascarenhas que ontem nos deixou. Vivo na minha memória e no meu coração. Coisas antigas que a razão não explica e deixam marcas dentro de nós. Com um abraço para a Natal Vaz.

Antigo presidente do Conselho Deontológico dos jornalistas portugueses, Oscar Mascarenhas faleceu na manhã de dia 6 de maio, vítima de um fulminante ataque cardíaco. Provedor do Leitor do “Diário de Notícias” até ao final do ano passado, tinha 65 anos. Casado com a também jornalista Natal Vaz, deixa uma filha.

Professor na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, ainda deu aulas na segunda-feira, mas na terça, sentindo-se mal, preferiu ficar em casa. Membro do Conselho Deontológico dos jornalistas portugueses (para o qual fora eleito no ano passado), na noite de dia 5 trocou emails com a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, a propósito da legislação relativa à cobertura mediática das campanhas eleitorais.

Um email com uma lista de jornalistas imortais
Na manhã seguinte, como era seu hábito, sentou-se ao computador. Tinha aprazado um almoço com um grupo de pessoas ligadas ao jornalismo, destinado a discutir uma lista de nomes para um futuro panteão criado no âmbito do Museu das Notícias, a ser inaugurado no próximo ano em Sintra. Completavam o grupo os jornalistas Adelino Gomes e Alexandre Manuel, e Luís Paixão Martins, o proprietário da agência de comunicação com o seu nome e principal “motor” do referido museu. Foi para esse pequeno “comité” que Mascarenhas terá enviado o seu último email (eram 7h44 horas), com uma lista anexa de 32 nomes de jornalistas “imortais”, e que vão desde Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, a Manuel António Pina e Carlos Pinto Coelho.

Pouco depois, sentindo-se mal, foi chamada uma ambulância, para a qual subiu ainda pelo seu pé. Foi já no interior do veículo do INEM que teve um ataque cardíaco fulminante, que lhe provocou uma paragem cardiorrespiratória, de que não recuperou.

De Goa à Faculdade de Direito de Lisboa
Oscar José Mascarenhas nasceu a 9 de dezembro de 1949 na freguesia de Ribandar, em Goa, um dos territórios que faziam parte do então Estado Português da Índia. Veio para Portugal em 1957, antes ainda da invasão de Goa, Damão e Diu pela União Indiana.

Fez o ensino secundário na Externato Frei Luís de Sousa (em Almada) e no Liceu Gil Vicente (em Lisboa). Neste último estabelecimento, foi colega de Carlos Cáceres Monteiro, Luís Almeida Martins e João Vaz – um quarteto de futuros jornalistas que haveriam de trabalhar em conjunto no vespertino “A Capital”.

Frequentou depois, e durante três anos, a Faculdade de Direito de Lisboa, tendo sido colega, para além de Cáceres Monteiro, de Marcelo Rebelo de Sousa, Leonor Beleza, do franciscano Vítor Melícias e do também jornalista Luís Pinheiro de Almeida, bem como de Carlos Veiga, futuro primeiro-ministro de Cabo Verde. Na faculdade, fez parte da lista candidata à Associação de Estudantes que se apresentou sob o lema “Ousar Lutar, Ousar vencer”, liderada por Arnaldo de Matos, que viria a ser o secretário-geral do MRPP.

Interrompeu o curso de Direito e alistou-se como voluntário na Força Aérea Portuguesa, tendo sido colocado nos Açores.

De “A Capital” à Lusa, passando pelo “Diário de Notícias”
Entrou na profissão a 2 de janeiro de 1975, no vespertino “A Capital”, dia em que conheceu a sua futura mulher, Natal Vaz, que entrara para o jornal no verão anterior. Militante do Movimento de Esquerda Socialista (MES) – o único partido a que pertenceu -, colaborou no seu jornal, “Poder Popular”. Já em 1976, pertenceu à redação do semanário “Página Um”, que apoiou a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho às eleições presidenciais. Era um jornal por onde passaram jornalistas como Fernando de Sousa, Henrique Garcia, Artur Albarran e João Vaz, o cartoonista Vasco, o pintor Leonel Moura e o jurista Francisco Teixeira da Mota.

Em 1982 trocou “A Capital” pelo "Diário de Notícias", onde trabalhou durante dois períodos: 1982-2002 (como repórter e redator principal) e 2012-2014 (como provedor do leitor). Trabalhou ainda no “Jornal do Fundão” e na agência Lusa (entre 2003 e 2009, altura em que passou à situação de pré-reforma, em que ainda se encontrava).

Dois livros na forja
Tirou o primeiro curso de pós-graduação em jornalismo, promovido pelo ISCTE e pela Escola Superior de Comunicação Social. Seguiu-se o mestrado e admitira recentemente avançar para o doutoramento, em Ciências da Comunicação, ainda pelo ISCTE.

Foi durante várias décadas dirigente do Sindicato dos Jornalistas, tendo presidido ao Conselho Deontológico durante oito anos. Fez parte igualmente da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas.

Publicara dois livros: “O Poder Corporativo Contra a Informação” (2001, Minerva Coimbra) e “Nuvem de Chumbo. O Processo Casa Pia na Imprensa” (com Nuno Ivo, 2004, Dom Quixote). Deixou em fase de publicação a tese de mestrado, a que dera o título sugestivo de “O Detetive historiador. O jornalismo de investigação e a sua ética”, bem como um livro com uma vasta seleção de citações.

O corpo de Oscar Mascarenhas vai às 15h desta quinta-feira, 7, para a capela mortuária da Igreja de São João de Deus (à Praça de Londres). Será cremado às 12h de sexta-feira, no cemitério do Alto de São João.

32 nomes para o Panteão de Jornalistas
Segue-se a publicação da sua proposta de 32 nomes para o futuro Panteão de jornalistas, com algumas anotações que fez:

Adolfo Simões Müller – jornalismo didático
António Paulouro – jornalismo regional
Artur Agostinho
Augusto de Castro – direção e editorialismo
Camilo Castelo Branco – folhetinismo
Cândido de Oliveira – jornalismo desportivo^
Carlos Pinhão
Carlos Pinto Coelho – jornalismo cultural televisivo
Eça de Queiroz – crónica de viagem
Eduardo Coelho – pioneiro do noticiarismo e novas tecnologias
Fernando Assis Pacheco
Fernando Pessa – jornalismo radiofónico e televisivo
Fialho de Almeida – jornalismo de crítica de costumes
Joshua Benoliel – fotografia
Leitão de Barros – jornalismo da nota do dia, “Os Corvos”
Manuel António Pina
Maria Lamas – jornalismo no feminino
Mário Castrim – jornalismo para jovens e pioneiro da crítica de televisão
Mons. Moreira das Neves – jornalismo religioso
Norberto de Araújo – olisipógrafo
Norberto Lopes – repórter de guerra e entrevistador
Rafael Bordalo Pinheiro – caricaturista
Ramalho Ortigão – polemista
Raul Proença – fundador da “Seara Nova” e criador do “Guia de Portugal”
Raul Rego – jornalismo oposicionista
Reynaldo Ferreira – “Repórter X”
Roby Amorim – jornalismo enciclopédico
Rodrigues Sampaio – jornalismo político
Sousa Veloso – jornalismo televisivo de divulgação da agricultura
Stuart Carvalhais – cartoon
Vera Lagoa
Vítor Direito – jornalismo popular

domingo, maio 3

A minha mãe Tolentina

A minha mãe foi batizada de Tolentina, nascida na freguesia de S. Estêvão de Tavira, de família de camponezes remediados, vivendo dos proventos do cultivo de uma terra de sequeiro a que se juntou, mais tarde, uma horta que, no conjunto, produziam desde os frutos secos aos mimos tipicos das produções algarvias. Sempre conheci aquele campo, como lhe chamavamos, convivi com os meus avós maternos, Rosa e José, o meu tio Ventura, os meus primos Gervásio e Ezequiel, todos, sem exceção, dedicados à agricultura. Gente com mãos rugosas e faces marcadas pelas agruras do mister. A minha mãe, pelo casamento, saiu do campo para a cidade cedo, mantendo o espirito de camponeza e fortes os laços que a ligavam à família. Era uma mulher desabrida, obstinada, solidária e crente em que era sempre possível ir mais além. Morreu num dia de aniversário do meu filho Manuel, em minha casa, depois de uma divertida festa na qual animadamente participou. Foi assim cumprido, estou certo, o seu desejo. E vive no meu coração.

sexta-feira, maio 1

1º de maio (II)

Gerações e gerações de cidadãos do mundo lutaram, sofreram e morreram, pelas causas do direito à dignidade no trabalho. Esta luta não se circunscreveu nunca somente à questão material, em particular, consagrada pelas reivindicações salariais. Foi sempre, desde o início, mais além, centrando-se na reivindicação de direitos (reunião, associação, greve, cogestão…), de reconhecimento do valor do trabalho face ao capital, da consagração da dignidade do trabalho como fator decisivo para o desenvolvimento económico-social e integração social, da assunção do trabalhador como consumidor, com acesso a bens não há muito tempo reservados aos aristocratas e aos ricos, em suma, da afirmação do trabalhador como cidadão de parte inteira. Hoje, embora possa parecer estranho, continuam atuais reivindicações que pensaríamos desatualizadas: não ao trabalho escravo, não ao trabalho infantil, não à discriminação de género, pelo direito ao descanso (férias) e por um salário digno.
Viva o 1º de maio!

quinta-feira, abril 30

1º de maio

Amanhã é 1º de maio, dia do trabalhador, que no campo se festejava (e festeja) com um sentido diferente do movimento operário nascido da revolução industrial. Mas é por todo o mundo, com diferentes formas, um dia de festa (e de luta) tomando como certo que há dias que não são de luta. No nosso tempo, hoje, aqui e agora, é o arranque definitivo de um processo politico que vai durar 5 meses, até às eleições legislativas, ou um pouco mais de 8 meses até às eleições presidenciais. Campanha a toda a brisa... o que, afinal, é próprio da democracia. Tomemos, no entanto, os nossos cuidados, em particular,com as promessas que não trazem futuro dentro e com as não promessas que são todo um programa. Em qualquer caso festejemos ....

quarta-feira, abril 29

3 FOTOGRAFIAS

O Hélder Gonçalves, amigo, fotografo de mérito, ofertou-me pelo aniversário três fotografias recuperadas do baú da nossa história de vida. Pelos idos dos anos 80 em Tavira, e arredores, com a Xica Moura e a Guida Ramos, sendo o fotógrafo, certamente, o próprio Hélder.

terça-feira, abril 28

ANIVERSÁRIO

Aniversário, sempre igual, sempre diferente, um ano mais de caminhada, sempre com os olhos postos no futuro, a vida, o trabalho, o gesto comum que se aprecia, um olhar, uma palavra, nada mais simples do que festejar, o mais, o menos, o que se deseja, olhos abertos ao céu que ilumina o mundo, ao mar que reflete o sonho, ir mais além, de cabeça levantada sem temor de nada, a não ser nunca ter agradecido o suficiente aos que sempre nos amaram. Haja saúde!

segunda-feira, abril 27

Thomas Piketty (II)

Depois de assistir à conferência de Thomas Piketty, uma figura simpática de académico preocupado com a sua tarefa, na FCG, cheia de gente reunida em torno de uma sã expetativa em partilhar o debate aberto na descoberta de novos caminhos.
O exercício da democracia é complexo na sociedade e nas esferas dos poderes – todos os poderes – e no quotidiano das nossas vidas de cidadãos comuns. O que me sugeriu a conferência de Piketty: a defesa e o debate de ideias, exercício hoje tão depreciado, prevenir, antes de tudo prevenir, arriscando e persistindo no exercício paciente da pedagogia da liberdade, exercendo-a, ouvindo para que outros nos ouçam, podendo de nós discordar. É tudo uma questão de equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.

Thomas Piketty

“Para que a democracia consiga um dia retomar o domínio do capitalismo, é preciso primeiro partir do princípio de que as formas concretas da democracia e do capital estão ainda e sempre por reinventar.”

Thomas Piketty, in “O Capital no Século XXI”

Thomas Piketty deverá hoje visitar Lisboa. Espero que os seus interlocutores privilegiados nesta visita tenham lido o livro que lhe deu notável notoriedade. E se quiserem ser seguidores de algumas das suas ideias não se esqueçam do que ele próprio afirma acerca do seu livro: “Todas as conclusões a que cheguei são, por natureza, frágeis e merecem ser questionadas e levadas a debate. A investigação em ciências sociais não tem por vocação produzir certezas matemáticas e inquestionáveis e substituir-se ao debate público, democrático e sujeito a contraditório.”


sábado, abril 25

25 de abril - 41 anos

A memória tem um lugar no presente mesmo que não sejamos saudosistas. Na história das Nações, além do ruminar dos dias,há datas marcantes. Neste dia faz 41 anos deu-se inicio a um novo regime. Que viva!

Na porta de armas com o meu amigo João Mario Mascarenhas

quinta-feira, abril 23

A politica tem que ser feita por políticos ...

A política tem que ser feita por políticos/cidadãos, insuspeitos de se deixarem capturar por interesses particulares, ou pelo seu próprio interesse de perpetuação no poder, sendo certo que se os titulares do poder tendem a perpetuar-se, os das oposições não lhes ficam atrás! Com a usura do tempo, à semelhança do capital financeiro, muitos políticos – de todos os quadrantes - descolam da realidade da vida em sociedade. Deixam de ser capazes de apreciar, com peso e medida, as necessidades da comunidade e de percecionar as expetativas dos cidadãos. O regime democrático, através de eleições livres, realizadas quando a lei, ou circunstâncias excecionais, o determinam, é o espaço para as escolhas políticas. A democracia é simples mas deu um trabalhão, à custa de muitas vidas, até ser reconhecida, e adotada, em Portugal. Sejamos capazes de cuidar dela, a par da liberdade, como um bem precioso.

quarta-feira, abril 22

A política em democracia ... (2)

A política em democracia é feita por mulheres e homens comuns, longe dos heróis que a história consagrou, pois vemo-los de perto, e nada ao escrutínio público escapa. São os políticos. Gosto da coisa politica e acho irónico quando os políticos recriminam, a mor das vezes sem nunca o revelar, os defeitos do homem comum que eles próprios encarnam. Envolvidos na disputa do poder resta saber se sabem o que fazer com ele. E quando sabem o que fazer com o poder que lhes cai nas mãos – traçando metas e objetivos – resta o mais importante: como lidar com os cidadãos comuns que somos todos e cada um de nós. Em democracia a disputa do poder não dispensa, antes exige, a consideração do mérito e a humildade na compaixão.