Confirma-se: sismo de magnitude 6 ao largo do Cabo de S. Vicente (SIC - noticiário das 2,00h), no Algarve. É incrível mas os sites da LUSA e do Instituto de Meteorologia estão em baixo.
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, dezembro 17
ABALO DE TERRA DE GRAU 6 (AO LARGO DO CABO DE S. VICENTE)
Confirma-se: sismo de magnitude 6 ao largo do Cabo de S. Vicente (SIC - noticiário das 2,00h), no Algarve. É incrível mas os sites da LUSA e do Instituto de Meteorologia estão em baixo.
António Barreto: "Tínhamos melhor justiça no regime anterior"
António Barreto acerca da justiça: o problema é que no anterior regime, ou seja na ditadura, a justiça era melhor salvo as excepções! O problema é que a opinião de Barreto nos poderá levar a sustentar a seguinte tese: no anterior regime era tudo melhor, salvo a falta de liberdade! Mas a liberdade, que Barreto parece supor que está adquirida para sempre, é a mais dolorosa conquista do homem em sociedade e a mais preciosa garantia do exercício da justiça. Não há verdadeira justiça sem liberdade. Barreto desliza, perigosamente, para menosprezar o valor da liberdade. Estou contra!
Para A Regra do Jogo
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quarta-feira, dezembro 16
EU CONHEÇO UM PAÍS ...
Daqui
Nicolau Santos, Director - adjunto do Jornal Expresso, In Revista "Exportar"
Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade mundial de recém-nascidos, melhor que a média da UE.
Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores.
Eu conheço um país que é líder mundial na produção de feltros para chapéus.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende no exterior para dezenas de mercados.
Eu conheço um país que tem uma empresa que concebeu um sistema pelo qual você pode escolher, no seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventou um sistema biométrico de pagamento nas bombas de gasolina.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventou uma bilha de gás muito leve que já ganhou prémios internacionais.
Eu conheço um país que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, permitindo operações inexistentes na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos.
Eu conheço um país que revolucionou o sistema financeiro e tem três Bancos nos cinco primeiros da Europa.
Eu conheço um país que está muito avançado na investigação e produção de energia através das ondas do mar e do vento.
Eu conheço um país que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para toda a EU.
Eu conheço um país que desenvolveu sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos às PMES.
Eu conheço um país que tem diversas empresas a trabalhar para a NASA e a Agência Espacial Europeia.
Eu conheço um país que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas.
Eu conheço um país que inventou e produz um medicamento anti-epiléptico para o mercado mundial.
Eu conheço um país que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça.
Eu conheço um país que produz um vinho que em duas provas ibéricas superou vários dos melhores vinhos espanhóis.
Eu conheço um país que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamento de pré-pagos para telemóveis.
Eu conheço um país que construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pelo Mundo.
O leitor, possivelmente, não reconheceu neste país aquele em que vive... PORTUGAL.
Mas é verdade.Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.
Chamam -se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Out Systems, WeDo, Quinta do Monte d'Oiro, Brisa Space Services, Bial, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Portugal Telecom Inovação, Grupos Vila Galé, Amorim, Pestana, Porto Bay e BES Turismo.
Há ainda grandes empresas multinacionais instalada no País, mas dirigidas por portugueses, com técnicos portugueses, de reconhecido sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal e a Mc Donalds (que desenvolveu e aperfeiçoou em Portugal um sistema que permite quantificar as refeições e tipo que são vendidas em cada e todos os estabelecimentos da cadeia em todo o mundo).
É este o País de sucesso em que também vivemos, estatisticamente sempre na cauda da Europa, com péssimos índices na educação, e gravíssimos problemas no ambiente e na saúde... do que se atrasou em relação à média UE...etc.
Mas só falamos do País que está mal, daquele que não acompanhou o progresso.
É tempo de mostrarmos ao mundo os nossos sucessos e nos orgulharmos disso.
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terça-feira, dezembro 15
segunda-feira, dezembro 14
Sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos de Albert Camus (IV)
Os meus sublinhados de leitura saltam, por razões que não sou capaz de explicar, para o Caderno nº5.
Em Junho de 1947 Camus abandona a redacção do jornal “Combat” e no dia 10 de Junho, desse ano, é publicado o romance "A Peste" que o torna célebre o que, sem dúvida, explica a reflexão acerca do êxito que percorre alguns destes excertos. Repare-se, por outro lado, como o tema do terrorismo é antigo na acção política, na doutrina e no debate. Nos meus sublinhados verifico a curiosidade de ter colocado entre aspas a frase "A adversidade é necessária". Um sublinhado do sublinhado.
O ar de pobres diabos que têm as pessoas nas salas de espera dos médicos.
Conversações com Koestler *. O fim não justifica os meios senão quando a ordem de grandeza recíproca for razoável. Ex: Posso mandar Saint-Exupéry em missão mortal para salvar um regimento. Mas não posso deportar milhões de pessoas e suprimir toda a liberdade por um resultado quantitativo equivalente e estipular previamente o sacrifício de três ou quatro gerações.
- O génio: Não existe.
- A grande miséria do criador começa quando se lhe reconhece talento (Já não tenho coragem de publicar os meus livros).
1947
Como todos os fracos, as suas decisões eram brutais e de uma firmeza insensata.
Que vale o homem? Que é o homem? Depois de tudo o que vi, enquanto viver, hei-de ficar sempre com uma desconfiança e uma inquietação fundamental a seu respeito.
Terrorismo.
A grande pureza do terrorista estilo Kaliayev é que para ele o homicídio coincide com o suicídio (cf. Savinkov**: Recordações de um terrorista). Uma vida paga-se com outra vida. O raciocínio é falso, mas respeitável. (Uma vida ceifada não vale uma vida dada.) Hoje o homicídio por procuração. Ninguém paga.
1905 Kaliayev: o sacrifício do corpo. 1930: o sacrifício do espírito.
Que é impossível, a respeito de quem quer que seja, dizer que é absolutamente culpado e, por conseguinte, impossível pronunciar um castigo total.
25 de Junho de 1947
Tristeza do êxito. A adversidade é necessária. Se tudo me fosse mais difícil, como dantes, teria mais direito a dizer o que digo. O que vale é que posso ajudar muitas pessoas - entretanto.
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* O diálogo mantido com o anti-estalinista Koestler levou, em 1957, à co-publicação de “Reflexões sobre a pena capital”.
** Boris Viktorovitch Savinkov (1879-1925). “Recordações de um terrorista” (Payot -1931). O lema “uma vida por uma vida” resume a moral de Kaliayev em “Os Justos”.
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Extractos, in "Cadernos" (1964-Editions Gallimard), Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº5 ( Setembro de 1945/ Abril de 1948).
domingo, dezembro 13
CALIGRAFIA DE TRAÇOS E PALAVRAS
Não há termos. Certezas tão
pouco. Linhas bem definidas
que esfumo interiormente.
Prefiro as minhas.Inventadas
ao sabor do tempo. Fora das
possibilidades e de todas as
probabilidades.
Incongruentes.Mas com o sal
do mar e das lágrimas. Mais
puras. Sobreviventes.Cientes
de que a vida se constrói em
cada margem. No parapeito
da ponte. Rente ao silêncio e
a todos os gestos.
Militante de incertezas vagueio entre mar e terra apurando sentido
no infinito - meu eterno ponto de fuga.
Setembro 2009
Maria Helena Faria Monteiro
A Helena enviou-me, de oferta, o livro “Caligrafia de Traços e Palavras”, com dedicatória, que espero, em breve, retribuir. É composto de Palavras, Escritos, Anoitecidos, Diurnos, Contos e Poesia, Aguarelas, Desenhos... Acabei de o ler e o mais que digo: obrigada, é lindo.
pouco. Linhas bem definidas
que esfumo interiormente.
Prefiro as minhas.Inventadas
ao sabor do tempo. Fora das
possibilidades e de todas as
probabilidades.
Incongruentes.Mas com o sal
do mar e das lágrimas. Mais
puras. Sobreviventes.Cientes
de que a vida se constrói em
cada margem. No parapeito
da ponte. Rente ao silêncio e
a todos os gestos.
Militante de incertezas vagueio entre mar e terra apurando sentido
no infinito - meu eterno ponto de fuga.
Setembro 2009
Maria Helena Faria Monteiro
A Helena enviou-me, de oferta, o livro “Caligrafia de Traços e Palavras”, com dedicatória, que espero, em breve, retribuir. É composto de Palavras, Escritos, Anoitecidos, Diurnos, Contos e Poesia, Aguarelas, Desenhos... Acabei de o ler e o mais que digo: obrigada, é lindo.
sábado, dezembro 12
OBAMA: A PAZ E A GUERRA
Discurso integral de Obama na cerimónia da atribuição do Nobel da Paz
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Bob: nos prados de Verão da Normandia.
O seu capacete coberto de goiveiros
e ervas bravas.
Bob: milhões de mortos jazem nos prados
de verão da Normandia. Nasci no tempo
de enterrar os mortos. Cresci com o som
do choro longínquo dos seus órfãos. Aqui
à ponta ocidental não chegou a liberdade
de chorar os capacete cheios de lágrimas
suspensos nas mãos das viúvas solitárias.
[In “Há um momento em que a juventude se perde …”. Escrevi este poema, glosando uma frase de Camus, em homenagem aos soldados americanos mortos na II Guerra Mundial na luta pela libertação da Europa do nazi-fascismo.]
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Bob: nos prados de Verão da Normandia.
O seu capacete coberto de goiveiros
e ervas bravas.
Bob: milhões de mortos jazem nos prados
de verão da Normandia. Nasci no tempo
de enterrar os mortos. Cresci com o som
do choro longínquo dos seus órfãos. Aqui
à ponta ocidental não chegou a liberdade
de chorar os capacete cheios de lágrimas
suspensos nas mãos das viúvas solitárias.
[In “Há um momento em que a juventude se perde …”. Escrevi este poema, glosando uma frase de Camus, em homenagem aos soldados americanos mortos na II Guerra Mundial na luta pela libertação da Europa do nazi-fascismo.]
sexta-feira, dezembro 11
OS MÍNIMOS SENHORES, OS MÍNIMOS!
Patti Levey
Não quero acreditar que, na nossa política doméstica, possa ser tudo tão mesquinho, sem rasgo nem medida, a caminho de um desentendimento que fica aquém do mínimo de realismo e decência no combate democrático. Camus cita, e comenta, Vigny (correspondência): "A ordem social é sempre má: de tempos a tempos é apenas suportável. Para se ir do mau ao suportável, a disputa não vale uma gota de sangue." Não, o suportável merece, se não o sangue, pelo menos o esforço de uma vida inteira.
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quinta-feira, dezembro 10
OBAMA - NOBEL DA PAZ
Digam o que disserem, diga o que disser, Obama é uma personalidade que merece toda a sorte do mundo. Com seus erros e desvios, dúvidas e certezas, o seu rosto, e o sorriso que dele se desprende, dizem-me tudo acerca dele: um homem de confiança. É como se fora o meu Presidente!
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quarta-feira, dezembro 9
Sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos de Albert Camus (III)
Albert Camus. Excertos que mereceram os meus sublinhados, por sinal escassos, na leitura inaugural do Caderno nº 2 escrito entre 22 de Setembro de 1937 e Abril de 1939.
Huxley."No fim de contas, vale mais ser um bom burguês como os outros que um mau boémio ou um falso aristocrata, ou um intelectual de segunda ordem…"
(Deveria eu ter acabado de ler "O Admirável Mundo Novo" e uma enorme emoção resultou dessa leitura.)
Aquele que ama neste mundo e aquela que o ama com a certeza de se lhe juntar na eternidade. Os seus amores não estão no mesmo plano.
O parzinho no comboio. Ambos feios. Ela agarra-se a ele, ri, excitada, seduzindo-o. Ele, de olhar sombrio, sente-se embaraçado por ser amado diante de toda a gente por uma mulher da qual não se orgulha.
A Argélia, país ao mesmo tempo medido e desmedido. Medido nas suas linhas, desmedido na sua luz.
Esta manhã cheia de sol: as ruas quentes e cheias de mulheres. Vendem-se flores por todas as esquinas. E estes rostos de raparigas que sorriem.
(Esta frase, como outras que constam neste Caderno, e que não sublinhei, manteve-se sempre muito viva na minha memória. Desperta fortes ressonâncias afectivas da minha infância no campo, e na pequena cidade de Faro, na distante província que era o Algarve rural dos anos 50.)
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terça-feira, dezembro 8
CO-INCINERAÇÃO - MILIONÉSIMO EPISÓDIO
Esta é uma questão antiga. Daquelas que ocuparam o espaço mediático, por muito tempo, desde há muitos anos. Chamo o assunto por ter ouvido, minutos atrás, num canal da TV alguém, com ar de advogado, lançar acusações (graves!) contra o Supremo Tribunal Administrativo por ter proferido um acórdão favorável à co-incineração na cimenteira de Souselas. Mas o mais extraordinário deste caso talvez venha a ser a tentativa de desacreditar a decisão judicial – e a própria justiça, não é? Nos tempos que correm parece fácil: os mesmos que proclamam a defesa urgentíssima da credibilização da justiça tornam a co-incineração numa questão política – pois tudo é político, já foi ou será político – e perdida a batalha na justiça, sujeitam à consideração da maioria negativa da Assembleia da República a proibição do que a justiça autorizou. Por aí adiante – e que viva o Poder Popular!
segunda-feira, dezembro 7
Sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos de Albert Camus (II)
Jovem eu pedia às pessoas mais do que elas me podiam dar: uma amizade contínua, uma emoção permanente.
Hoje sei pedir-lhes menos do que podem dar: uma companhia sem palavras. E as suas emoções, a sua amizade, os seus gestos nobres mantêm a meus olhos o autêntico valor de milagre: um absoluto resultado da graça. [pág. 12]
(Tenho dificuldade em interpretar as razões que me levaram, com 20 anos, a escolher este excerto mas seria capaz, hoje, de o sublinhar de novo com acrescidas razões.)
Abril.
Primeiros dias de calor. Sufocante. Todos os animais estão deitados. Quando o dia começa a declinar, a natureza estranha da atmosfera por cima da cidade. Os ruídos que nela se elevam e se perdem como balões. Imobilidade das árvores e dos homens. Pelas esplanadas, mouros à conversa na espera da noite. Café torrado, cujo aroma também se eleva. Hora suave e desesperada. Nada para abraçar. Nada onde ajoelhar, louco de reconhecimento. [pág. 25]
(Nesta página escrevi à mão em frente a Abril: "3-1968-Faro-Cais".
O ambiente da Argélia natal de Camus tem algo a ver com o ambiente de Faro, a minha cidade natal. Devia ser o período das Férias de Páscoa. Curiosamente nas vésperas do "Maio de 68")
Os sentidos e o mundo – Os desejos confundem-se. E neste corpo que aperto contra o meu, aperto também essa alegria estranha que vem do céu em direcção ao mar. [pág. 25]
Perna partida do carregador. A um canto, um homem novo que ri silenciosamente. [pág.26]
Maio.
Estes fins de tarde em Argel em que as mulheres são tão belas. [pág.27]
Intelectual? Sim. E nunca renegar. Intelectual = aquele que se desdobra. Isto agrada-me. Sinto-me contente por ser ambos. "Se isto se adapta?" Questão prática. É preciso meter mãos à obra. "Eu desprezo a inteligência" significa na realidade: "não posso suportar as minhas dúvidas". Prefiro manter os olhos abertos. [pág. 35]
Fevereiro. (de 1936)
A civilização não reside num grau mais ou menos elevado de requinte. Mas numa consciência comum a todo um povo. E essa consciência nunca é requintada. Ela é mesmo completamente sincera. Fazer da civilização a obra de uma elite, é identificá-la à cultura, que é uma coisa diferente. Há uma cultura mediterrânea. Mas há também uma civilização mediterrânea. Pelo contrário, não confundir civilização e povo. [pág. 32]
Narrativa – o homem que não se quer justificar. A ideia que se faz dele é a preferida. Ele morre, único a guardar consciência da sua verdade. Futilidade dessa consolação. [pág.33]
(Com uma nota: "Prefiguração do tema chave de “O Estrangeiro”.)
Maio.
Erro de uma psicologia de pormenor. Os homens que se procuram, que se analisam. Para nos conhecermos bem, temos que nos afirmar. A psicologia é acção - não reflexão sobre si próprio. Definimo-nos ao longo da vida. Conhecermo-nos perfeitamente, é morrer. [pág.34]
As filosofias valem aquilo que valem os filósofos. Maior é o homem, mais a filosofia é verdadeira. [pág. 36]
Combate trágico do mundo sofredor. Futilidade do problema da imortalidade. Aquilo que nos interessa, é de facto o nosso destino. Mas não "depois", "antes". [pág. 37]
Regra lógica. O singular tem valor de universal.
-ilógica: o trágico é contraditório.
-prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros. [pág. 37]
Os casais: o homem tenta brilhar diante de terceiros. A mulher imediatamente: "Mas tu também…", e tenta diminui-lo, torná-lo solidário da sua mediocridade. [pág. 41]
Mulheres na rua. A besta arrebatada do desejo que trazemos enroscada na cavidade dos rins e que se agita com uma suavidade estranha. [pág. 43]
Extractos, in "Cadernos" (1962-Editions Gallimard), Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937).
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domingo, dezembro 6
CASA DO PÁTEO - UMA VISITA
Ontem por entre o verde dos campos do Alentejo a caminho da nova casa do António Pais e da Carmo, ali perto do Vimieiro, uma peça de arquitectura e design, pensei nos amigos, companheiros e camaradas (como se dizia, e diz?) que, noutros tempos, calcorrearam os mesmos caminhos na perseguição de um sonho irrealizável. Hoje este caminho real, com sonhos dentro, faz-se em cerca de uma hora, tão longe e tão perto, como se o Alentejo profundo, tão diferente, fosse um arredor de Lisboa. E todos os reencontros e conhecimentos são possíveis, gerações, filhos e netos, amigos e conhecidos, desde que nos reste o prazer do reencontro. Por entre as dificuldades do quotidiano, que sempre as houve, mesmo as despedidas me soam a promessas de novas aventuras crentes no futuro.
sexta-feira, dezembro 4
O TEMPO NÃO VOLTA P´RA TRÁS
Haruto Maeda
O meu computador pessoal está como novo. Em tempos de crise recorre-se cada vez mais à reparação e reciclagem dos equipamentos a que alguns – prudentes - nunca deixaram de recorrer. Suponho que muitos pequenos negócios, ao invés dos que morrem, tenham voltado a prosperar com a crise. Esperava por levantar o dito computador lado a lado com uma senhora que, vim a saber por ela, ser professora de matemática. Desabafou. Enquanto esperava o portátil – de alto gabarito - mostrou-me quanto se sentia desiludida com o facto de não poder apresentar os enunciados das provas, escritos à mão. Mais do que desilusão perpassava das suas palavras em certo ressentimento pela adopção imparável da informática nos processos de aprendizagem. E dessa forma tudo “empurrar” para mudanças inelutáveis (para ela irreparáveis) nas metodologias, nas atitudes, nos equipamentos… Lembrei-me de quando o meu pai me falava do belo cavalo que o levava à janela na qual (pelo lado de fora) namorava a minha mãe e vice-versa. E do ferrador. E do cheiro a forragem. A aveia. A bosta. E os sons dos relinchos e pinotes. E aquele fado do qual tanto gostava a minha mãe “Oh Tempo Volta P'ra Trás”! Mas não volta!
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quinta-feira, dezembro 3
PSD - "O SUICÍDIO"
Nesta frase se contém toda uma filosofia política que privilegia a bisbilhotice ao cumprimento das regras do estado de direito democrático. Se há escutas ilegais que se dane a legalidade pois o que o povo quer é o mexerico. Há partidos que vendem o seu ideário por uma mão cheia de votos. Quer-me parecer que foi o que Balsemão quis dizer quando se referiu ao risco de suicídio do PSD.
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quarta-feira, dezembro 2
Sublinhados dos Cadernos de Albert Camus - uma leitura de juventude (I)
A propósito do 50º aniversário da morte de Albert Camus, ocorrida no dia 4 de Janeiro de 1960, retomo o conjunto de “sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos”. Desta vez introduzo algumas correcções, desde o alinhamento cronológico à tradução, sem pretensões de atingir a perfeição a qual, nesta matéria, sendo sempre inalcançável ainda mais o seria para um “não estudioso” pois sou, tão-somente, um simples amante da obra do autor de “A Queda”.
Mas dói-me que esta efeméride passe em claro no nosso país, sem uma única reedição da obra de Camus, sem que um novo trabalho académico ganhe a luz do dia, porventura, sem uma única referência pública, perdendo-se uma oportunidade de ouro para levar ao conhecimento das novas gerações a obra de um autor que, para além de ter sido aureolado com o Nobel da Literatura em 1957, é um acérrimo defensor dos valores da liberdade contra todos os totalitarismos.
O projecto inicial de compilar os sublinhados da minha primeira leitura dos Cadernos de Albert Camus foi suscitado pela criação de um blogue intitulado CADERNOS DE CAMUS, uma iniciativa de José Pacheco Pereira, ao qual, desde a primeira hora, aderi e que, apesar de ter abortado pouco tempo depois, continua disponível na rede. Escrevi, à época da criação desse blogue, que um projecto semelhante, antes do surgimento do fenómeno dos blogues, já me tinha, por diversas vezes, assaltado a imaginação.
Esta primeira leitura dos Cadernos de Albert Camus aconteceu pela primavera de 1968, pelos meus 20 anos. Os sublinhados que agora se apresentam, na íntegra, sem algumas supressões da edição anterior, foram assinalados nos livros, de forma "assassina", a esferográfica que, no entanto, sobreviveram tendo sido, posteriormente, restaurados e encadernados, a capa dura, com a ajuda preciosa da Manuela Espírito Santo.
Esta é uma daquelas tarefas que me continua a dar um prazer autêntico, quer pelo facto de partilhar uma leitura de toda a vida, quer por me sentir, não raras vezes, surpreendido pela actualidade das referências contidas nos excertos que leio e volto a ler. E o que me apraz dizer é que, hoje, tal como aquando da leitura inaugural, sinto a mesma adesão de fundo às ideias e à filosofia de vida que, no essencial, Albert Camus defendeu e que, de forma fragmentada, como se fora um blogue “avant la lettre”, plasmou nos seus Cadernos.
A publicação desta série de posts decorrerá até ao dia 4 de Janeiro de 2010 e será acompanhada por um conjunto de links com notícias de actualidade acerca do autor que introduzo ao longo do texto.
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