sexta-feira, setembro 17

"O que é que limita a representação ?

Brecht mandava pôr roupa molhada no cesto da actriz para que a anca desta tivesse o movimento certo, o da lavadeira alienada. Está muito bem; mas é também estúpido, não será ? Porque o que pesa no cesto não é a roupa, é o tempo, é a historia, e esse peso, como representá-lo ? Impossível representar o político: resiste a toda a cópia, por muito que nos esforcemos por torná-la cada vez mais verosímil. Contrariamente à crença inveterada de todas as artes socialistas, onde começa o político cessa a imitação."

(Não resisto, a título excepcional, a um comentário com plena actualidade: já repararam a razão pela qual certos políticos surgem aos nossos olhos com tão pouca autenticidade.)

Na página 14 deste livro artesanal escrevi o seguinte: "uma leitura incompleta, fragmentada (como todas as leituras), repleta de hiatos (frases e palavras incompreensíveis) mas que representa um comentário indirecto (o único possível como nos diz a própria leitura) às nossas iniciativas convencionais ( ia escrever convivenciais) permitindo melhor jogar (mascarar) o jogo das nossas relações."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 37
(pag. 15, 1 de 2)

Edição portuguesa - Edições 70


Sem comentários: