terça-feira, setembro 21

Professores colocados com atraso e…à mão

Um dia, andava eu no liceu, reparei, como todos os meus colegas, que o professor Almodoval (julgo não errar no nome) trazia, durante todo o Inverno, sempre a mesma gabardina com um remendo bem à vista de qualquer olhar menos atento. No ano seguinte igualmente.

O Prof. Neves vestia com a modéstia de um sábio pouco preocupado com as aparências. No ano seguinte igualmente. Eram excelentes os professores Almodoval e Neves, assim como tantos outros que conheci no Liceu de Faro.

A permanência dos professores nas escolas era assegurada por um par de anos razoável. Todos se lembram das carreiras de professores poetas consagrados como Régio, ligado a Portalegre ou Gedeão, ligado a Lisboa. Ficaram muitos anos a leccionar no mesmo liceu.

Eu sei que o liceu, nessa época, era frequentado por um número de alunos incomparavelmente inferior aos liceus dos nossos dias. Da frequência do ensino liceal restrita a uma elite de privilegiados, passamos, em poucas décadas, felizmente, para a frequência em massa dos liceus abarcando, tendencialmente, a totalidade dos jovens portugueses em idade escolar. A natureza do processo educativo mudou.

Mas serve a evocação para, sem saudosismo, lembrar que não mudou o valor inestimável da sobriedade, da competência, da modéstia, do saber e da estabilidade no exercício da função docente. Assim sejamos capazes de aplacar a ira do fascínio pela sociedade da informação, da mobilidade e do consumo para dar à escola pública a capacidade (em recursos, qualidade e autenticidade) de reter, por mais e melhor tempo, alunos e professores. É essa uma das questões que está escondida por detrás deste problema da colocação dos professores.

Paradoxalmente, na sociedade da informação, os professores vão ser, finalmente, colocados nas escolas, com atraso e …à mão. Pode ser, quem sabe, um bom sinal!

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