terça-feira, setembro 21

O ritmo

Ele sempre acreditou nesse ritmo grego, na sucessão da Ascese e da Festa, no desencadeamento duma pela outra (e de forma alguma no ritmo insípido da modernidade: trabalho/lazer). Era precisamente o ritmo de Michelet ao passar, na sua vida e no seu texto, por uma série de mortes e ressurreições, enxaquecas e entusiasmos, narrativas (ele "remava" em Luís XI) e quadros (aí a sua escrita desabrochava). Foi o ritmo que de certo modo conheceu na Roménia, onde, por virtude de um costume eslavo ou balcânico, as pessoas se encerravam periodicamente, durante três dias na Festa (jogos, comida, vigília e o resto: era o "Kef").

Assim, na sua própria vida, esse ritmo é permanentemente procurado; não só é necessário que durante o dia de trabalho haja em vista o prazer à noite (o que é banal) como também, complementarmente, surja da noite feliz, mais para o fim dela, o desejo de chegar muito depressa ao dia seguinte a fim de recomeçar o trabalho (de escrita).

(De reparar que o ritmo não é obrigatoriamente regular: Casals dizia muito bem que o ritmo é o retardo.)

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 38
(Fragmento 2 de 2, pag. 15)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Nesta página escrevi: "Barthes, o autor, não é o meu ídolo. É um pretexto agora instrumento do meu desejo de ser identificado com uma reflexão que se propõe essencialmente para agradar".

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