quarta-feira, março 2

"A Última Tília"



“ Tchekov, primeiro acto do “Tio Vânia”. Fala Astrov:

- O homem foi dotado de razão e força criadora para multiplicar o que lhe legaram, mas até hoje não criou, destruiu. Há cada vez menos florestas, os rios secam, a caça desaparece, o clima torna-se mais rude dia a dia, a terra mais pobre e mais feia. Vejo que me olhas ironicamente, tudo o que digo te parece que não é a sério e … e, talvez seja apenas mania minha, mas quando passo por uma floresta que salvei ou ouço o rumor da floresta ainda jovem que plantei com as próprias mãos, torno-me consciente de que o clima depende um pouco de mim e que se o homem dentro de mil anos tiver de ser feliz mo fica também a dever um pouco. Quando planto uma bétula nova e a vejo em seguida cobrir-se de folhas verdes, balançar ao vento, o meu coração enche-se de orgulho …

Pobre Astrov. Os operários derrubam a última tília e partem nos camiões pouco antes de se acenderem as lâmpadas da praça, que são (como os arboricidas gostam) flores de gás.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (6 de 6)

Fotografia de Helder Gonçalves

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