Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, maio 2
Faro - Capital da Cultura
Faro - O "Passarinho"
Fui lá pois é a minha terra. Passar o 1º de Maio. O dia do trabalhador e o da mãe. Lembrei-me dos tempos em que me envergonhava dos empreendimentos públicos sem a qualidade que desejava. Por vezes fechava-me em casa depois de ter feito a minha parte. Com o Grupo de Teatro Lethes isso não acontecia. Lembrei-me desses tempos a propósito da inauguração da “Faro – Capital Nacional da Cultura”.
Deambulei pelas ruas e assisti a diversos acontecimentos no dia inaugural. Vi as notícias e as imagens. Para ser franco pareceu-me que, na cidade, ninguém sabia nada acerca do evento. A pobreza das apresentações até podia ganhar grandiosidade com a presença de multidões. Mas nada. Ninguém, verdadeiramente, sabia de nada. A divulgação resumia-se a uma vulgar folha A4 com a lista dos actos públicos.
Talvez o evento sirva para ajudar o Dr. Vitorino a ser reeleito Presidente de Câmara no pleito de Outubro. E fica o novo teatro a inaugurar a 1 de Julho. Mais nada.
Vi o “Passarinho” no jardim e engraxei, como sempre, os sapatos no Renato da "Gardy". O engraxador do "Aliança" morreu. Agora só há dois: o “Passarinho” e o Renato. Indiferentes à festa. Se o povo não conta para as Capitais Nacionais da Cultura então acabe-se com elas. Os criadores devem ter mais que fazer do que trabalhar para o “boneco”.
Lembrei-me, ainda, de Fernando Pessoa, no "Livro do Desassossego", composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa:
"Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também."
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