sábado, maio 7

Lugares de Infância


Faro - Caminhando Para a Sé

Quando em criança frequentava a escola, na minha cidade natal, fazia o caminho a pé de casa para a escola e da escola para casa. Nesses percursos sempre me impressionou a carroça dos cães que percorria as ruas da cidade.

Os homens laçavam os “cães vadios”, entre ganidos de desvairado sofrimento, prendiam-nos nas celas e conduziam-nos ao canil. A morte era o seu destino. Senti impotência e uma profunda compaixão pelo destino dos “cães vadios” antes de sentir compaixão pelo destino dos homens.

A escola de “S. Luiz” situa-se num bairro pacato entre o mercado e a baixa da cidade. Para frequentar a escola, um acontecimento notável na vida da família, percorri dois caminhos. O primeiro era o mais saboroso e ia da casa em que nasci, na Rua Coelho de Melo, que desce do Espaldão para o Largo da Caganita, percorrendo a Rua de Brito Cabreira.

O segundo vinha desde o Bairro de S. Luiz, construído nas hortas a norte da cidade, da Rua Dr. Emiliano da Costa (poeta consagrado, mas esquecido), residência para onde se tinha mudado a família, passando ao lado do mercado. A distância seria a mesma mas o encanto do primeiro era, em afectos e surpresas, superior ao segundo.

A mudança da casa em que nasci, por volta de 1955, foi um acontecimento marcante assinalando o fim do tempo da inocência.

Vivia no casulo feliz
até que um dia sem
saber porquê o desfiz


tratava-se de uma obra
fina de rendilhado puro
com virtudes de sobra


eu não soube a razão
de tal desaforo nem
talvez o meu coração
....

Dizia-o com a noção de não ter feito uma descoberta original pois todos os que reflectem acerca da origem da sua arte o dizem e os que se aventuram, ao menos uma vez, a encontrar as motivações do seu percurso de vida, o dizem também.

REVOLTA – NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS (6 de 10)

1 comentário:

Anónimo disse...

Curiosamente também nasci na Coelho de Melo, no número 11, e toda a minha famíli materna vivia em redor do Largo da Caganita e na Rua do Alportel.