Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, maio 6
"É necessário não nos perdermos e não renunciarmos".
Camus com a sua segunda mulher: Francine.
O mês de Julho de 2004 caminhava para o fim. No dia 22 desse mês escrevi um post adivinhando o “caos que se desenha no horizonte” ao pensar na governação de Santana Lopes ainda no seu início.
A minha previsão, infelizmente, bateu certa. E vinham-me à memória as citações mais desencantadas de Camus acerca da política e dos homens da política.
Nesse contexto escrevi:
As trapalhadas do governo Santana Lopes começam na sua própria formação.
Constrangedor. O PR empossa em silêncio da mesma forma que, em silêncio, ouviu as atoardas de Alberto João Jardim e, logo depois, os seus elogios.
Será que no Conselho de Estado, o PR, na presença do dito, lhe "puxou as orelhas"? Aposto que não. O PR deixou, no dia 9 de Julho, cair a sua autoridade. Tudo o que se passou, diante dos seus olhos, e sob a sua responsabilidade, nas tomadas de posse, é um exemplo flagrante de falta de autoridade.
É um detalhe do caos que se desenha no horizonte e avivam-se, na minha memória, as citações, radicais e desencantadas, de Camus acerca da política.
"A política e o destino dos homens são organizados por homens sem ideal e sem grandeza. Aqueles que têm uma grandeza neles próprios não se ocupam de política. Assim em todas as coisas. Mas trata-se de criar agora em si próprio um novo homem. Seria preciso que os homens de acção fossem também homens de ideal e poetas industriais. Trata-se de viver os próprios sonhos - de os pôr em movimento. Outrora, renunciávamos ou perdíamo-nos. É necessário não nos perdermos e não renunciarmos." (Dezembro de 37)
Albert Camus, in Cadernos, "Caderno n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) - Edição Livros do Brasil
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