terça-feira, maio 3

Lugares Luminosos


O gato e eu próprio no monte dos meus avós maternos.

Senti sempre as casas de meus avós como lugares luminosos, afastados do mundo, varandas com vista para o mar azul florido. Eles eram certamente mais adeptos de Franco do que apreciadores de Lorca. Talvez conhecessem alguns versos da sua poesia popular:

“Verde que te quero verde
Verde vento. Verdes ramos.
O navio sobre o mar,
o cavalo na montanha.”


Mas não conheciam, quase pela certa, o poeta. No tempo distante das minhas andanças de juventude pelas terras dos meus avós maternos senti o seu conformismo que não nascia de uma postura intelectual mas era o resultado de uma existência sofrida longe do progresso que a ditadura abominava.

A pura existência da natureza ditava as leis da vida. A família, pequena para a época, não cresceu na miséria mas o apego à vida dos seus antepassados deu-lhe o sentido da dimensão humana. Eram os tempos da luta pela sobrevivência.

Observei a dignidade dessa extraordinária empresa de fazer face à escassez da água, às agruras do tempo, à inexistência de electricidade, aos fracassos das colheita, às doenças das mulheres, homens e animais, à falta de dinheiro...

REVOLTA – NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS (4 de 10)

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