Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, maio 5
Revolta
Com razon ó sin ella - Goya
Nasceu assim o despontar da minha consciência para a vida e a revolta no seu estado puro.
Depois tomei consciência de que a revolta é o berço da criação e a criação é o traço que define a fronteira definitiva entre os homens livres e dignos, assumindo plenamente as suas diferenças, e
os homens torturados pela suprema humilhação de ideologias absurdas que Camus resumiu nesta definição universal do fascismo:“como não tinham carácter, arranjaram uma doutrina”.
A criação é uma forma de afirmação das diferenças que não das desigualdades. As origens da revolta não as encontrei na leitura dos clássicos mas na observação da vida dos meus avós.
Eles não encontraram facilidades no caminho para o progresso e eu encontrei um sopro de inspiração na medida das minhas escassas forças para combater o conformismo e o aviltamento dos valores essenciais que salvaguardam a humanidade da barbárie.
Esses valores são as velhas bandeiras do pensamento humanista e liberal dos últimos séculos, quais sejam, o direito à vida e a defesa da liberdade individual e da democracia, assim como a
igualdade de oportunidades para todos no acesso aos benefícios do progresso económico, cientifico, tecnológico e social.
Na vertigem deste caminho muitas interrogações sempre se colocaram aos homens dos tempos modernos: o humanismo é um pensamento limitado? O liberalismo é um pensamento
pervertido? O progresso uma aspiração antiquada?
A revolta do homem talvez aconselhasse a adoptar sempre os princípios de um pensamento que tudo tomasse em conta. Sem sublinhados nem os encargos de múltiplas heranças filosóficas ou históricas.
Mas a maioria, salvo os assassinos, que estão sempre prontos a sujar as mãos de sangue e a lançar para a valeta os corpos das suas vitimas, executadas à vista de todos os homens de boa vontade, aceitam certamente, de forma consensual, que fiquem de pé, na luta contra a barbárie, os princípios do direito à vida, à liberdade e à justiça.
REVOLTA – NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS (5 de 10)
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