Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, junho 22
Lenine Segundo o Evangelho
“Foto de António José Alegria, do amistad”
Diálogo, no corredor da prisão de Sverdlovsk, entre Anna Bukharina e uma mulher muito velha que lhe chamou a atenção.
- Meu filho, dá-me qualquer coisa para os rins – pediu ela.
- E que é que tu queres que eu te dê? Com os teus 110 anos, não há nada que te possa fazer bem!
Todos ficaram espantados: de verdade, 110 anos?
- Há-de haver, há-de haver. Dá-me um comprimido – insistiu ela.
- Aspirina, se quiseres: pode fazer-te bem. Dá-lhe um comprimido!
- É verdade, avozinha, que tem 110 anos? – perguntei eu.
- Tudo o que há de mais certo – disse o legpom. – Eu vi o seu processo: ela nasceu em 1827.
- Porque é que não havia de ser verdade, se é a verdade? – confirmou ela.
- Então viveste no tempo do Puchkine?
- Daquele que escrevia versos? É o que se diz.
- Porque é que te prenderam, avozinha?
- Eu não sei porquê. O inquiridor disse que eu lia o Evangelho e que este dizia mal de Lenine.
- Tu confundiste alguma coisa, avozinha, não é possível.
- Eu não confundi nada, foi ele que misturou tudo.
Por causa de Lenine segundo o Evangelho, cinco anos de campo de concentração.
In “Bukharine, Minha Paixão”, de Anna Larina Bukharina (Terramar). Livro de leitura aconselhável também para entender muitos dos fenómenos do nosso tempo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário