quinta-feira, março 12

VIOLÊNCIA/ESCOLA


Há muitos tipos de violência e de vários graus. Em Portugal, nos últimos anos, a violência na escola tem merecido bastante atenção pública assim como das autoridades públicas. Nenhum país, nem instituição, está a salvo de actos de violência brutais como este que ocorreu ontem na Alemanha.

Mas julgo que não é errado afirmar, empíricamente, que não há uma correlação directa entre o nível de desenvolvimento sócio económico dos países, das comunidades e famílias, e o número e gravidade dos actos de violência praticados nas escolas.

Estranho, hoje, que aqueles que estão sempre na primeira linha da denúncia da violência nas escolas em Portugal não aproveitem – face a este acontecimento -para discorrer acerca da violência na escola.

Sabemos que a violência é indesejável e deve ser combatida por todos os meios legítimos e disponíveis. Mas o título da notícia do El Pais, reproduzindo uma frase de um amigo do jovem assassino, identifica, porventura, o essencial das motivações imediatas do tresloucado e dá que pensar: "Era un tipo aburrido, no tenía amigos y le dejó su novia"

O que é que podem os governos, as polícias, as magistraturas, os professores, as vigilâncias electrónicas … fazer para prevenir e combater a violência na escola? Talvez a solução possível esteja na mistura da acção de todos os cidadãos e autoridades, ou seja, da comunidade, na educação fora da escola através, em primeira linha, da acção da família, dos amigos e das "redes sociais".

Talvez o mundo dos afectos e emoções dos jovens, construído fora da escola, tenha mais importância do que pensam muitos ideólogos da escola de sucesso.
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quarta-feira, março 11

UMA CORRENTE


O Tomás Vasques embrulhou-me na corrente Página 161, quinta frase. Um vírus acabou de apagar todos os meus contactos do Hotmail e todos devem ter recebido, ontem durante a noite, uma mensagem mais ou menos estúpida. Estava mesmo agora a reconstruir a coisa de forma artesanal o que até me permite fazer uma limpeza. As crises têm o seu lado virtuoso.

Já quase me tinha esquecido das correntes e o livro que tenho à mão – alguns vão sorrir! – intitula-se "primeiros cadernos", de Camus, uma velha edição da “Livros do Brasil” que não os volumes da “Colecção Miniatura”. Tem, graças a Deus, 461 páginas o que me evita a busca de uma alternativa.

No entanto a página 161, atenta a natureza fragmentária do texto, torna difícil definir com rigor a quinta frase. Escolho aquela que eu próprio identifico como tal, e assim seja...

Aí vai:

“Léger. Essa inteligência – essa pintura metafísica que reflecte a matéria. Curioso: desde que se reflecte a matéria, a única coisa permanente é justamente a que produziu a aparência: a cor.”

Caderno nº 3 – Abril 1939/Fevereiro 1942
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terça-feira, março 10

IMAGEM E COMUNICAÇÃO (II)

José Mourinho doutorado Honoris Causa

Estas coisas da imagem e comunicação, como demonstra, todos os dias, José Mourinho são fáceis. É uma questão de escola e de compreensão do ar do tempo.
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IMAGEM E COMUNICAÇÃO


Estas coisas da imagem e comunicação como demonstra, todos os dias, a Dra. Manuela Ferreira Leite são muito complicadas.
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segunda-feira, março 9

AS VIAS DA IRA


Caminhando pelas auto-estradas deste nosso Portugal pude verificar quilómetros e quilómetros de obras com supressão de vias, desvios, obstáculos e limitações de velocidade. Em tempos foi aprovado um diploma legal que pretendia proteger o consumidor pagador de portagens em auto estradas e outras vias em obras. Querem ver? Importam-se de me explicar como na prática se pode obter o reembolso do pagamento?
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domingo, março 8

Maria Teresa Horta - "Poesia Reunida"

Minha senhora de mim

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

recusando o que é desfeito
no interior do meu peito

Minha Senhora de Mim,
Editorial Futura, 1974 - Lisboa, Portugal

Hoje, Dia Internacional da Mulher, lembrei-me que Maria Teresa Horta lança um livro que reúne a sua obra poética. Aqui está um verdadeiro acontecimento cultural, de âmbito nacional, que deveria merecer manchetes, documentários e públicos festejos.
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SONDAGENS, CURVAS E CÍRCULOS

James Friedman

Tendências de longo prazo das sondagens desde Janeiro de 2005 até à actualidade: “estimativas mensais, controlados "house effects". Será que as curvas, mantendo-se as actuais lideranças do PS e PSD, se vão cruzar nos escassos meses que restam até às eleições legislativas? Não parece provável a não ser que ocorra uma hecatombe!

Os resultados do PS, nas sondagens mais recentes, situam-se sempre próximo dos 40%. A quebra do PS é pequena considerando as “campanhas cirúrgicas”, os efeitos da usura do tempo sobre a governação e o impacto da crise financeira global na economia real. Tudo parece jogar-se no peso do “voto de protesto” à esquerda e à direita.

A maneira como são apresentados os resultados, pela comunicação social, é outra coisa, como diz Pedro Magalhães - Este é o tipo de resultados que, suspeito, os jornalistas detestam: nada para dizer a não ser falar de "subida de 0,1 pontos percentuais".

Aximage, 2-5 Mar, N=600, Tel.

Resultados com redistribuição proporcional de indecisos:
PS: 40,2% (40,0%)
PSD: 25,2% (24,9%)
BE: 13,2% (12,6%)
CDU: 9,5% (9,6%)
CDS: 7,1% (8,1%)
OBN: 4,7% (4,9%)

Eurosondagem, 26 Fev-3 Mar, N= 1018, Tel.

PS: 39, 0% (40, 3%)
PSD: 28, 3% (29, 1%)
BE: 10, 4% (10, 1%)
CDU: 9, 6% (8, 8%)
CDS-PP: 7, 7% (6, 9%)
OBN: 5, 0% (4, 8%)
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sábado, março 7

O homem que eu seria se não houvesse sido a criança que fui

“O homem que eu seria se não houvesse sido
a criança que fui !”

“L´homme que je serai si je n´avait pas été l´enfant que je fus !"*


O homem que eu seria aberto generoso
Olhando os outros homens de frente
Se não tivesse nascido no tempo dos silêncios
Que deram consentimento à tirania

O homem que eu seria ousado em cada gesto
E buscando o sucesso em cada passo
Se não me tivesse assomado o medo
Que tolhe inteira toda a verdade

O homem que eu seria esclarecido
A cabeça povoada de ideias de mudança
Não fosse a memória da mulher ao postigo
Afastando a cortina de chita às cores

O homem que eu seria se os homens
Fossem uma criação divina e não o fruto natural
De outros homens seres originais nascidos
Do prazer carnal ou social obrigação

O homem que eu seria se não me tivessem
Em criança forçado a fazer os deveres
Cortado o cabelo e não me tivesse crescido
O corpo uma medida acima do normal para a época

O homem que eu seria se não fosse fruto tardio
De um amor que não agradeci o suficiente
E me faz pensar no homem que eu seria
Se não houvesse sido a criança que fui

* Citação de 1945, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 4 (Janeiro de 1942 – Setembro 1945) - página 126, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (1935 – 1948) – “Cahier IV (janvier 1942 – septembre1945) – página 1025, Oeuvres complètes – II. (Mesmo quando surgem duvidas tenho mantido sempre a tradução original.)

[Também no Caderno de Poesia]
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sexta-feira, março 6

"Romance sobre a justiça."


A propósito de justiça e tanto que, por vias abertas e ínvias, se tem discutido acerca dela, seus protagonistas e incidentes, vítimas e carrascos, tantas vezes sendo apresentados, ou apresentando-se, a si próprios, no lado errado da barricada, apeteceu-me transcrever este breve fragmento dos Cadernos de Albert Camus, escrito por volta de finais de 1944:

“Romance sobre a justiça.

O tipo que estabelece as ligações entre os revolucionários (Com.) depois de julgamento ou suspeita (porque é precisa unidade), dão-lhe imediatamente uma missão na qual toda a gente sabe que irá morrer. Aceita porque é o seu dever. Morre, pois.
Id. O tipo que aplica a moral da sinceridade para afirmar a solidariedade. A sua imensa solidão final.
Id. Matamos os melhores do outro lado. Eles matam os melhores do nosso lado. Restam apenas os funcionários e os medíocres. O que é ter ideias."
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Endividados, desempregados e revoltados

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quinta-feira, março 5

AVARIA? COINCIDÊNCIA?

Generacion Y de Yoani Sanchez e outros blogues cubanos, críticos do regime, estão “em baixo”. Pode ser uma avaria! No mesmo dia foram divulgadas cartas de auto-crítica, enigmáticas, de dois altos, e prestigiados, dirigentes do PC cubano demitidos por Raul Castro. Pode ser coincidência!
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MES - Anti-autoritário e de esquerda toda a vida…


Para os Caminhos da Memória

Na sequência do IV Congresso do MES, realizado a 8 de Julho de 1979, marcado pela vitória da moção intitulada “Nova Prática, Novo Programa, Outro Caminho”, foi aberto o caminho para a auto-crítica em relação à orientação política anterior e para uma demarcação, assumida e sem regresso, do MES face à chamada “Esquerda Revolucionária”.

Foi Vítor Wengorovius quem assumiu as funções de porta-voz desta ruptura que haveria de anteceder a extinção do MES, formalizada em 7 de Novembro de 1981, no emblemático jantar/festa realizado no pavilhão sobrevivente da Exposição do Mundo Português (ironias da história!).

Na política nada acontece por acaso, apesar dos imponderáveis que o acaso dita, e das idiossincrasias, por vezes bizarras que, em cada época, os dirigentes políticos ostentam. Tudo isto para dizer que, no caso do MES, não fui o primeiro a assumir a autocrítica dos seus erros, mérito que Nuno Brederode Santos, simpaticamente, me atribuiu, mas Vítor Wengorovius em entrevista concedida, em 19 (?) de Novembro de 1979, ao extinto diário “Portugal Hoje”:

“ (…) Entre os erros cometidos interessa hoje sublinhar, não tanto os derivados de discutíveis atitudes pessoais ou de relativa inexperiência devida à juventude da maioria dos seus dirigentes, mas os próprios estratégicos ou os mais importantes a nível táctico.

Contrariando as vantagens das suas origens (…) o MES veio a enredar-se rapidamente no confronto apressado em torno do marxismo-leninismo, a querer construir voluntaristicamente um partido desse tipo, a querer disputar a cintura industrial de Lisboa, dando muito pouca atenção quer ao operariado de outras zonas do país quer aos trabalhadores de serviços, quer à juventude (…) e a perder assim o seu papel original. Vogou depois ao sabor das oscilações do processo revolucionário (…).”

Nessa mesma entrevista VW, em nome do MES, explicou também, com detalhe, as razões da decisão tomada na reunião da sua Comissão Política, realizada em 18 de Novembro desse ano, que consagrava o rompimento definitivo, com a chamada “esquerda revolucionária”.

Embora mantendo em aberto, em teoria, uma via estreita para a criação de uma futura força partidária de esquerda “democrática, socialista e independente” (do PS e do PCP), que nunca viria a passar do papel, VW anunciou, publicamente, a 19 de Novembro de 1979, a decisão do MES de não concorrer às eleições legislativas intercalares de 2 de Dezembro de 1979 aconselhando, ao mesmo tempo, “aos partidos de esquerda com menores possibilidades de elegerem deputados” que desistam a favor do PS ou da APU” tendo em vista o “voto eficaz contra a direita” que concorreria unida na “Aliança Democrática” (AD).

Em declarações prestadas à imprensa, nesse mesmo dia, VW explicou as razões que levaram ao fracasso das negociações entre o MES, a UDP e a UEDS tendo em vista a criação de uma “frente eleitoral” alternativa, destinada a concorrer às eleições intercalares que se avizinhavam: “ E tal aconteceu (…) devido às posições de auto-afirmação partidária tomadas quer pela UDP quer pela UEDS, vindo estas a apresentar candidaturas isoladas que de forma nenhuma respondem às condições mínimas de uma candidatura unitária com verdadeira credibilidade.[Diário de Lisboa de 21/11/79.]

Na verdade o IV Congresso do MES fez emergir uma orientação política que não podendo já fazer regressar o MES às suas origens de força política de “esquerda socialista”, desempenhando um papel de “charneira” entre as diversas esquerdas, assumiu como inevitável o fim da sua breve, empolgante e solitária aventura partidária.

Talvez o MES tenha morrido não uma, mas três vezes: com a ruptura do I Congresso, em Dezembro de 74; com o apelo ao voto no PS, ou na APU, nas eleições intercalares de Dezembro de 79 e, finalmente, em apoteose, no Jantar/Festa de extinção, em Novembro de 81. Anti-autoritário e de esquerda toda a vida...
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quarta-feira, março 4

DO JORNALISMO POR UM JORNALISTA

Entrevista com Jean Daniel

A capacidade de fazer o mal que tem o jornalista é devastadora. Em um dia ou em uma hora se pode desmontar uma reputação. É um poder terrível.

Não é a frase antecedente que me conduz a postar a entrevista com Jean Daniel. É o cruzamento, a propósito dela, da vida dos protagonistas cujo percurso e obra sempre me interessaram muito. Neste caso cruzam-se Jean Daniel, um velho jornalista, no activo, e Albert Camus, apresentado como seu inspirador, na sua faceta de jornalista. O tema é de uma actualidade desarmante e a sua simples abordagem mostra a actualidade de princípios éticos antigos. Um sinal de esperança.

[Também no ir ao fundo e voltar.]
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terça-feira, março 3

O EURO ... DEPRESSA!


Les déclarations se multiplient à l'Est, pour demander à l'Union européenne (UE) de "simplifier les procédures d'adhésion à la zone euro", selon les termes du premier ministre polonais, Donald Tusk, quelques jours avant le sommet des Vingt-Sept, à Bruxelles dimanche 1er mars. Sur les dix pays de la région ayant rejoint l'UE depuis 2004, huit ont toujours leur propre monnaie. Les trois pays baltes ont intégré le mécanisme de change MCE II, antichambre de l'entrée dans la zone. Seules la Slovénie et la Slovaquie ont adopté l'euro, partagé par 16 Etats membres de l'UE.
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UM LUGARZINHO NO CÉU

estreia dia 6 de Março na Guilherme Cossoul

O altaCena, grupo de teatro da histórica Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, estreia o seu novo espectáculo, Um Lugarzinho no Céu , cuja acção se passa na rua, numa zona ribeirinha e que tem como personagens centrais três arrumadores e uma empregada doméstica. Um deles, Mirov, é ucraniano e num longo telefonema que faz para a sua mulher, fala em russo. Esse telefonema não tem (propositadamente) tradução para português.

Fidélio, o Toxicodependente, Casimiro, o Jornalista, Mirov, o Ucraniano e Anunciada, empregada doméstica. O que é que os une naquela zona onde ninguém passa, onde ninguém vive? Será a tragédia que se avizinha?

SINOPSE

Fidélio, Casimiro e Mirovic são arrumadores. Anunciada, empregada doméstica, é namorada de Fidélio, trazendo-lhe todos os dias dinheiro, comida e cigarros. Fidélio é o patrão da zona e é ele que comanda o trabalho de Mirov e Casimiro. Embora Mirov faça tudo para passar despercebido, já que o seu único objectivo é arranjar dinheiro para voltar para casa, acaba por ser o alvo do ciúme de Fidélio, já que Anunciada manifesta por Mirov um carinho especial. Dá-lhe comida e cigarros. Fidélio começa a ficar desconfiado aumentando a sua agressividade para com Mirov. Anunciada, preocupada, decide pagar uma viagem de camioneta para a Ucrânia, de modo a acabar com o seu drama. Fidélio apercebe-se e vem pedir contas a Casimiro, com quem Anunciada tinha combinado tudo. No calor da discussão tira de uma ponta e mola e, quando o ataca, Mirov atravessa-se à frente e morre. Fidélio é preso, Mirov morre e consegue finalmente regressar à sua terra, num caixão pago pela embaixada do seu país. Anunciada tem direito ao seu momento de glória ao ser a protagonista de uma notícia que saiu no jornal.

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Texto:
Joaquim Paulo Nogueira
Encenação: Joaquim Paulo Nogueira, Joana Lobo (Assistente de encenação /Dinâmicas de corpo e voz)

Actores: Ana Gil, Filipe Luz, Miguel Santos, Rui Pereira e José Carlos Pontes (pianista)
Música original: José Carlos Pontes
Espaço Cénico e Figurinos: Isabel Alves Mendes
Espaço sonoro: Hugo Guerreiro
Graffitis: Marco Almeida
Iluminação: Marinel Matos
Sonoplastia: Dina Marques
Luminótecnia: Carlos Casimiro e Élio Luís
Cartaz/Programa: Tiago Alves Mendes /Magnésio
Direcção de Produção: Élio Luís
Retroversão do telefonema de Mirov: Valentina Naumyuk do Grupo RefugiActo
Fotografia: David Marçal e Daniel Lobo Antunes

Produção: AltaCena
Ideia original: Joaquim Paulo Nogueira, José Boavida e Pedro Alpiarça
Duração: 1h30
Classificação etária: M12
Preço: 7,5 € e 5 €
Apresentações: Março: 6,7,13,14,21,27,28 Abril: 3,4 de às 21h30
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domingo, março 1

SESSENTÕES


Kathleen Sebelius vai ser a “ministra da saúde” de Obama e Vital Moreira o cabeça de lista do PS nas eleições para o parlamento europeu. A emergência dos sessentões, ou o envelhecimento activo trazido para a política, é um efeito colateral do envelhecimento demográfico. As sociedades ocidentais dão sinais, paulatinamente, de ter assimilado as vantagens da incorporação da experiência dos mais velhos na direcção da coisa pública.
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sábado, fevereiro 28

VITAL MOREIRA

Decorre em Espinho o Congresso do PS. A cobertura mediática carrega nas tintas da monotonia só quebrada pela exaltação da ausência de Manuel Alegre. A imagem mediática que passa é de um Congresso alinhado nos elogios ao governo do PS e ao seu líder. Sem asperezas, nem confrontos, nem diferenças de opinião. Os jornalistas sem “matéria” de escândalo entrevistam-se a si próprios. De súbito Sócrates anuncia o cabeça de lista às eleições europeias: Vital Moreira.Trata-se de um intelectual, académico e político que não é filiado no PS e que, em matérias relevantes, tem manifestado algumas discordâncias com a linha oficial do partido e do governo. No seu discurso ao Congresso Vital Moreira aceita o desafio e declara-se "socialista free-lance". Afinal o PS ainda consegue criar expectativas, surpreender pela novidade e pela diferença. Os jornalistas buscam, afanosamente, entre os militantes anónimos, uma declaração de desagrado pela escolha. Em vão. A escolha parece ser, entre muitas possíveis, uma boa escolha, alheia à demagogia e ao populismo e fiel à tradição do PS na luta pela construção de um europeísmo sem tergiversações, nem cedências, à emergência dos nacionalismos e da xenofobia. Sócrates escolhe para uma eleição difícil, tradicionalmente pouco participada, um cabeça de lista que permitirá acomodar qualquer resultado. Digam o que disserem, pensem o que pensarem, uma jogada política de mestre.
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Bob: nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.

Manche. Saint-Sauveur-Le-Vicomte. 16th June 1944. US soldier.


“Bob ao ataque nos prados de Verão. O seu capacete coberto de goiveiros e de ervas bravas.”

“Bob à l´attaque dans les prairies d´été. Son casque couvert de ravenelles et d´herbes folles. »


Bob: milhões de mortos jazem nos prados
de verão da Normandia. Nasci no tempo
de enterrar os mortos. Cresci com o som
do choro longínquo dos seus órfãos. Aqui
à ponta ocidental não chegou a liberdade
de chorar os capacete cheios de lágrimas
suspensos nas mãos das viúvas solitárias.

Bob: milhões de mortos em nome da paz
não foram suficientes. O teu sangue regou
o chão da Europa e no verão da Normandia
nasceu a esperança de um novo dia. Bob:
ainda bem que vieste. A barbárie sucumbiu.
O teu capacete coberto de goiveiros e ervas
bravas foi um alvo fácil como fácil é morrer.


* Citação de 1944, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 4 (Janeiro de 1942 – Setembro 1945) - página 121, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (1935 – 1948) – “Cahier IV (janvier 1942 – septembre1945) – página 1021, Oeuvres complètes – II. (Mesmo quando surgem duvidas tenho mantido sempre a tradução original, aqui: folles/bravas (?). Neste caso a citação que serviu de epígrafe não corresponde aquela que, neste momento, leio no original. Não encontro uma explicação imediata para a discrepância.)
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sexta-feira, fevereiro 27

GENERALIDADES E INSINUAÇÕES

Susana Raab

Fernando Ulrich pede mais reflexão no combate à crise e quer saber o que se passou no Freeport

Cada um é livre de expressar as suas opiniões. Está fora de questão e por via do exercício pleno da liberdade de opinião todos os dias estamos sujeitos a ouvir os mais diversos epígonos perorar acerca de todos os assuntos, questões e processos.

Contra nossa vontade somos obrigados, com uma frequência avassaladora, a sentarmo-nos à mesa do café, da taberna ou do banco de jardim, ouvindo “falar mal”, o único desporto nacional que dá conforto à maioria dos portugueses.

Muito pior é quando o discurso do “falar mal” alcança o patamar da legitimidade, capturada por representantes dos poderes instituídos, ou por reputados comentadores, por fuga de informação ou informação em fuga.

Acontece que quase tudo o que se ouve, neste exercício de “falar mal”, é verdade excepto aquilo que toca em questões que dominamos tecnicamente, ou conhecemos por experiência própria, pois logo aí verificamos a pura nudez da mentira.

O populismo medra na ignorância e os ignorantes ganham diploma de sabedoria das mãos dos pregadores do populismo. No caso apetecia-me perguntar a Fernando Ulrich como vai de saúde o banco a que preside. O que se passou na banca e, em particular, no BPI?
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segunda-feira, fevereiro 23

UMA NOITE ESPECIAL

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ANTINOMIAS POLÍTICAS


As caixas de comentários dos jornais online, sites e blogues, tudo o que mexe na esfera da informação no espaço virtual, ou como lhe queiram chamar, são uma choldra. São a face visível da mente de muitos comentadores encartados e bem vencidos (de vencimento) que debitam dislates, insinuações e mentiras no espaço público. A liberdade que a democracia política permite tem a vantagem extraordinária de banalizar o dislate, a insinuação e a mentira. É uma das faces da sociedade de consumo. Mas se o povo ficar à mingua como se vai aguentar a democracia liberal na Europa? De súbito uma velha questão torna-se actual! Camus no imediato pós guerra, num texto escrito entre Setembro e Outubro de 1945, interrogava-se:

Antinomias políticas. Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais. Esta escolha não é fácil. Pareceu-me sempre que na realidade não há carrascos, há apenas vítimas. No fim de contas, bem entendido. Mas é uma verdade que está pouco espalhada.

Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de Europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos, e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.

Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso?
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sábado, fevereiro 21

Não posso viver fora da beleza.

“Não posso viver fora da beleza. É o que me torna fraco diante de certos seres.”

“Je ne peux pas vivre hors de la beauté. C´est ce que me rend faible devant certains êtres. »*


A caminho do futuro incerto
se joga a minha vida
e os gestos dela
tudo se joga menos a pura
beleza daquela face
e o meu olhar nela

não seria capaz de viver
fora da beleza
e um olhar por vezes basta
novidade do breve desejo
arrebatado e triste
no aceno de despedida

chegar partir abrir a mão
apertar os lábios
e lamber as feridas
sorver a lágrima
que cai pelo rosto desabrida
e não perder o trilho

amar o dia como a um filho
que se viu nascer
e admirar a beleza do seu rosto
olhar o anoitecer
e a luz que ilumina o caminho
me faz crer

não posso viver fora da beleza
perdida a juventude
o meu corpo oblíquo
rememora resiste e reverdece
qual movimento do desejo
que se não perde e cresce.


* Citação de 1943, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 4 (Janeiro de 1942 – Setembro 1945) - página 88, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (1935 – 1948) – “Cahier IV (janvier 1942 – septembre1945) – página 994, Oeuvres complètes – II. (Mesmo quando surgem duvidas tenho mantido sempre a tradução original.) [Também no Caderno de Poesia.]
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quinta-feira, fevereiro 19

RENÉ CHAR


QUE VIVA!

Este lugar é só um voto do espírito, um contra-sepulcro.

Na minha terra preferem-se as ternas provas da primavera e os pássaros mal-vestidos aos objectivos longínquos.

A verdade espera pela aurora à luz de uma vela. O vidro da janela não está limpo. Pouco importa ao atento.

Na minha terra não se fazem perguntas a um homem comovido.

Não há sombra maligna no barco soçobrado.

(…)

Só se pede de empréstimo o que se pode devolver aumentado.

Há folhas, muitas folhas, nas árvores da minha terra. Os ramos podem escolher não ter frutos.

Ninguém acredita na boa-fé do vencedor.

Na minha terra agradece-se.

“A Sesta Branca”, in Os Matinais (1947-49)

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CHAR FAZ 33 ANOS EM 1940.

CHAR É DENUNCIADO COMO MILITANTE DE EXTREMA-ESQUERDA À PERFEITURA DE VAUCLUSE.

AS SUAS ANTERIORES ACTIVIDADES NO MEIO SURREALISTA SERVIRAM TAMBÉM DE PRETEXTO PARA A DENÚNCIA.

PASSA À CLANDESTINIDADE E COM O NOME DE CAPITÃO ALEXANDRE ORGANIZA A RESISTÊNCIA, DIRIGE A SAP, A SECÇÃO DE ATERRAGEM E PARAQUEDISMO, DESDE 1940 A 1944.

[RENÉ CHAR – ESTE FANÁTICO DAS NUVENS, Uma antologia organizada por Marie-Claude Char e Y. K. Centeno, tradução de Y.K. Centeno – Cotovia, uma prenda recente do António Silva.]
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FRANÇA - A CRISE (2)


Sommet social : 2,6 milliards d'euros pour les classes moyennes
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quarta-feira, fevereiro 18

PRÉ-HISTÓRIA


Seduziu-me também esta capa da qual me lembro muito bem. E lembrei-me que continuo a ser adepto incondicional do MES talvez porque me poupa a maçada de defender as suas propostas. A simples, e sábia, decisão de o extinguir libertou-me, e aos seus militantes, aderentes e simpatizantes, das obrigações que a sua existência exigia. Resta uma espécie de reconfortante filiação nas memórias pois nelas cabe toda a gente e ninguém.

Só não estou de acordo com o Pedro Rolo Duarte no parêntesis em que afirma que franjas do MES terão estado na origem do Bloco de Esquerda. As relações históricas entre o MES, a UDP e a LCI, em conjunto ou separado, revelam uma profunda incapacidade de gerar consensos duradoiros em prol da criação de uma frente política. Na verdade só ocorreram encontros de ocasião. Vou escrever um dia destes, com mais detença, acerca deste assunto.

Por isso não posso deixar de sorrir quando o Bloco de Esquerda, hoje, se reclama da Esquerda Socialista. Quanto muito foi o MES, por puro mimetismo, na época remota dos “amanhãs que cantam”, que se deslocou para o campo da esquerda revolucionária, ou extrema-esquerda, que é o verdadeiro campo político das organizações que deram origem ao Bloco.

O Bloco, ou interpostos ideólogos por ele, quando reivindica o ideário da esquerda socialista ensaia uma manobra, seguindo a velha táctica “entrista”, típica dos partidos trotskistas, visando capturar parte da “inteligência afecta ao PS”. O tom beatífico do seu líder é a face pós moderna da extrema-esquerda, já falecida, de cujos programa, e ideologia, a esmagadora maioria dos antigos acólitos do MES, por estarem vivos, se separaram há muito.

Não quer isto dizer que no Bloco não se possam encontrar meia dúzia de antigos filiados no MES, como também os há no PSD, mas, com toda a estima e consideração, são o que eu chamo de activos tóxicos. É no que dá a bendita liberdade … Haja saúde!
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JAPÃO - A CRISE (1)


La recesión se agudiza en Japón, que sufre ya la peor crisis desde la II Guerra Mundial
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terça-feira, fevereiro 17

DESEMPREGO - 2008

Rene Burri

As estatísticas são o que são. Não podem ser más quando são boas para o governo, nem boas quando são más para a oposição, e por aí fora …são o que são! O facto é que, surpresa das surpresas, em média, em 2008, a taxa de desemprego foi de 7,6%, o que se traduziu por um decréscimo de 0,4 p.p. face ao ano anterior. A população desempregada situou-se em 427,1 mil indivíduos, tendo diminuído 4,8% em relação ao ano anterior. A população empregada registou um acréscimo anual de 0,5%. Não vale a pena argumentar que o desemprego, apesar de ter diminuído, em média, em 2008, vai aumentar em 2009, o que é um facto mais do que previsível. O que interessa saber é qual o resultado das políticas contra o desemprego adoptadas pelo governo. Pelos vistos o resultado dessas políticas, em 2008, foi positivo. Quanto a 2009 mais vale esperar para ver … [Uma notícia séria, entre muitas notícias abjectas, acerca do assunto. Um artigo de opinião com pés e cabeça.]
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A MINHA TURMA DO 1º ANO DO LICEU DE FARO


Clique na fotografia e legenda para ampliar

Tenho na minha frente a fotografia da turma que frequentei nesse 1º ano em cujo verso a minha mãe escreveu: "Recordação do 1º ano – Faro – 10-4-1959".

Naquela fotografia dos professores que ilustra uma crónica de Lina Vedes pareceu-me, a um primeiro olhar, reconhecer onze (11) professoras e professores que me calharam em sorte. O tempo é traiçoeiro e a legenda, colocada posteriormente, permitiu-me identificar mais professores do que aqueles 11 que, no primeiro relance, tinha reconhecido.

O envio da fotografia da minha turma do 1º ano, adornada com uma surpreendente legenda, que mão cuidada se deu ao trabalho de fixar, permitiu-me mergulhar na memória de um convívio distante e reconhecer muitos rostos que nunca mais vi.

Na verdade entrei para o 1º ano do Liceu de Faro no ano lectivo de 1958/59. Um ano recheado de muitos, e significativos, acontecimentos políticos dos quais destaco, por curiosidade, as eleições presidenciais, às quais se candidatou Humberto Delgado (1958), e a chamada “Revolta da Sé” (1959).

Hoje sou capaz de associar o meu quotidiano juvenil, as ambiências familiares e escolares, com os acontecimentos de um tempo político, do qual guardo viva recordação, e que marcam, com nitidez, os antecedentes de um percurso pessoal que só a memória pode revelar de forma tão coerente e fiel.

Vejo os meus professores de liceu, entre os finais da década de 50 e inícios de 60, como uma mistura de conservadorismo pardo e de progressismo ilustrado encontrando-se gente de ambos os campos entre os "novos" e os "velhos" professores. A certa altura, no início dos anos 60, no Liceu de Faro, esquecendo os pardos, juntaram-se, por exemplo, no campo do progressismo ilustrado, os “velhos” Neves Júnior e Joaquim Magalhães, com os “novos” Gastão Cruz e Luísa Neto Jorge.

Já entre os alunos, além das marcas próprias da juventude de todas as épocas, é mais difícil vislumbrar, ou adivinhar, o resultado, nas suas vidas, da mistura das influências de mestres e funcionários, ilustrados ou pardos. O que é certo é que os jovens estudantes retratados ostentam uma pose compenetrada e, não lhes sendo permitido o convívio com as meninas, era-lhes imposta a “autoridade professoral” através de duas mulheres/professoras.

A fotografia foi tirada no Ginásio, onde todas eram tiradas, e no meio do grupo lá estão a Prof. ª Isabel Madruga e a Prof. ª Maria José Santos, a primeira das quais, por boas razões, nunca esquecerei. No Natal de 2007 ofereci uma cópia desta fotografia ao meu amigo Bexiga (António) e era bem capaz de mandar fazer tantas cópias quantos os personagens retratados, fazendo renascer em cada um de nós a memória de um tempo feliz.
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domingo, fevereiro 15

Esto no tiene que llegar a ser el cerco de Lisboa!

Quando tantos falam no medo que teria tomado de assalto a nossa sociedade e os partidos se debatem na Assembleia da República, ao ponto de uma voz, entre os seus deputados, se distinguir ululando contra o primeiro-ministro uma palavra sibilina: “palhaço”; quando a comunicação social, com tiragens, audiências e balanços mais ou menos ridentes, inunda a opinião pública com um “buffet rico” de notícias algumas delas saídas do “segredo dos deuses”; quando estão à vista três (3) eleições tornando o ano de 2009 numa orgia de escolhas políticas livres através do voto não obrigatório; quando as forças políticas se alinham à medida de regras constitucionais democráticas que, salvo Jardim, ninguém contesta, apresentando programas e lideres conforme a vontade livre de cidadãos associados em partidos políticos conforme o modelo democrático que tantas penas e sacrifícios exigiram; reparei que em La Habana o ministério do interior colocou sob vigilância policial Yoani Sanchez , do Generación Y, uma voz verdadeiramente livre, corajosa e sem medo na defesa das liberdades. Talvez seja um belo exercício de cidadania para os nossos paladinos das denúncias do medo dar uma atençãozinha aos regimes políticos que fazem do medo a sua bandeira, denunciá-los e demarcar-se deles.
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sábado, fevereiro 14

O vento, uma das raras coisas próprias do mundo.

“O vento, uma das raras coisas próprias do mundo.”

“Le vent, une des rares choses propres du monde.”*


o vento,

empurra os odores e espalha as sementes

o vento,

assobia canções de embalar entre dentes

o vento,

canta os amores coloridos e suspira fundo

o vento,

dança nas frestas e sopra as ondas do mar

o vento,

é um mensageiro alado que nos faz sonhar

o vento,

é uma das raras coisas próprias do mundo.


* Citação de 1941, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 3 (Abril de 1939 – Fevereiro 1942) - página 169, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier III (Avril 1939 – février 1942) – página 923, Oeuvres complètes – II. (Mesmo quando surgem duvidas tenho mantido sempre a tradução original. Neste caso muitos amigos me chamaram a atenção para um erro de tradução desta frase de Camus na edição portuguesa que, faz muitos anos, sublinhei. Ora acontece que tomei a frase para epígrafe do poema antes de ler a edição na língua original. Assim se fez o poema que apesar do erro da tradução ganhou vida própria carregando com o dito ... Assim fica assinalado o erro sem rasurar o poema ... ) TAMBÉM NO CADERNO DE POESIA.
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quarta-feira, fevereiro 11

PROMOÇÃO DA IGUALDADE


Já se sabe que “o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo” é um dos pontos polémicos da “moção política de orientação nacional”, apresentada por José Sócrates, ao próximo Congresso do PS. As versões que circulam são mais que muitas e vão todas bater no mesmo ponto: “casamento homossexual”. Como esta questão integrará o programa de governo do PS às eleições legislativas, sempre será mais saudável discutir o que está colocado à discussão, pelo que transcrevo, ipsis verbis, o texto que consta na moção:

“A segunda prioridade na promoção da igualdade é o combate a todas as formas de discriminação e a remoção, na próxima legislatura, das barreiras jurídicas à realização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.” - [In Capítulo 4) Democracia, alínea F) Promoção da Igualdade.]

Aqui pode ler-se uma síntese acerca da evolução política do tratamento desta questão e outra informação útil.
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O "CRIME PERFEITO"


Que me desculpem os críticos, e objectores de consciência, do futebol mas não resisto a comentar o penalty do último Porto - Benfica. De facto foi público e notório que não existiu penalty nenhum. Como sói dizer-se, na linguagem popular, o Benfica foi roubado. Outros já o foram noutras pelejas e, neste caso, deu empate. Do mal, o menos! Mas o facto mais extraordinário, ao que dizem, é que o árbitro é benfiquista. Ao ponto a que chegou a justiça! O “juiz da partida” estava com o nariz em cima do lance, viu bem e julgou mal prejudicando a equipa da qual é adepto. Por fim, arrependido, pediu desculpa! O Benfica ficou calado, assobiou para o lado, e o Sr. Pinto da Costa nem precisou de suportar o ónus da suspeição. O “crime perfeito"!
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terça-feira, fevereiro 10

I Congresso do MES - Um almoço tardio?


Meu caro Eduardo:

Começo, se mo permites, pela matéria dos autos, com comentários pontuais.

Talvez nem te esteja a corrigir, mas o que admito é que, à partida para o Congresso fundacional do MES, eu queria que os meus amigos (pessoais e políticos) saíssem. Isto era do pleno conhecimento de alguns, o que não significa que merecesse a sua concordância. Porque a quase totalidade foram para lá na melhor fé, embora sabendo que havia o risco de não terem margem para ficar. Aquilo em que eu diferia deles nem é, pelo menos no comum das situações, muito bonito: e, por isso, lhe chamei «reserva mental». Para corresponder à honestidade intelectual com que vens tratando do assunto - um assunto em que estás completamente envolvido - senti-me na obrigação compulsiva de te fazer saber que havia quem, do outro lado (o meu), tivesse por aliados os «zulus» que queriam correr com os «doutores».

Ora isso não faz de mim «tenor». Mesmo que eu tivesse qualidades pessoais para isso, ou a ambição disso - o que não era manifestamente o caso - não conseguiria sê-lo: cheguei a essa novela muito tarde e, ainda por cima, tinha de lidar em simultâneo com velhos amigos, que conhecia de ginjeira, mas também com outros, que eles bem conheciam e eu não (por se tratar de amizades que eles fizeram desde 69/70, ou seja, quando começou a minha ausência «militar»).

O que eu fiz reflecte, aliás, o que te digo: ao datar a minha carta de saída do primeiro dia dos trabalhos, eu coloquei-me na posição, de pressionar os outros, é certo, mas também na de eu próprio já não ter recuo. Afundei as caravelas, como o Cortez. Mas até nisso há distinções. Porque outro signatário, que foi o J. M. Galvão Telles, foi sendo empurrado para essa atitude. Mas não havia nele senão abertura: e a prova, que tu mesmo já invocaste, é que levou a «militância» ao ponto de arranjar uma sede de que era ele, obviamente, o verdadeiro penhor.

O que eu queria não fica retratado com aquilo a que chamas «federação inorgânica de grupos convergentes», porque era mais simples (ainda que pouco maduro, admito hoje). O que eu queria era que entrássemos para o PS, mas ganhando o tempo de um compasso de espera com dois fins: a) O primeiro e mais importante, era deixar passar a fase do PS como cabeça da frente nacional de resistência ao esquerdismo (o que arrastaria também o desbloqueamento de algumas tensões que subsistiam entre o Melo Antunes e «os 9», de um lado, e a direcção do PS, do outro); o segundo era permitir a «digestão» e o «luto», de que a maior parte dos meus amigos políticos carecia após o malogro da aposta no MES. Era, pois, necessário um interinato. E, para esse, eu queria um «grilo do Pinóquio», um «clube» de reflexão ao qual, numa carta que ainda enviei de Moçambique, eu chamava, assumindo o paradoxo, um «PSU sem carácter partidário». De facto, a «coisa» tinha de ser compatível com filiações partidárias. Por exótica que tal liberdade hoje pareça. Basta citar o caso do César Oliveira, que não aceitaria acompanhar uma saída conjunta, se ficasse tão dela prisioneiro quanto se sentia no MES. Ora, com pequenas adaptações, foi o que veio a suceder com a saída do MES em grupo e a criação do grupo de Intervenção Socialista (que durou até à nossa entrada para o PS, em 1978) não andou longe disso.

Quanto ao decurso do Congresso. De facto, já sabíamos que a maioria (a tal a que eu chamava «zululãndia») iria fazer valer os seus direitos e colocar os «doutores» em minoria. Mas havia dois imponderáveis. O primeiro era saber se resistiriam, no contexto da época, à assunção formal do marxismo-leninismo. O segundo era quais os sinais que dariam a essa minoria, indiciadores da tolerância e flexibilidade com que se preparavam para tratá-la. Ora as respostas dadas foram ambas claras. Na primeira questão, porque o obreirismo patente nalguns discursos já falaria por si mesmo, mas o marxismo-leninismo foi, de facto, formalmente proclamado na moção que viria a ser a vencedora. Na segunda questão, porque os discursos da maioria podiam reflectir três hipotéticas atitudes: afirmar princípios, mas ressalvar algum pluralismo; fingir - algo «arrogantemente», diria eu - que a minoria nem existia; ou, na prática, convidá-la a sair. A nossa percepção foi a de poucos discursos se terem colocado na primeira hipótese, quase todos se colocando na segunda e o Afonso ter encarnado explicitamente a terceira (numa resposta explícita e «ad hominem» ao discurso anterior do Jorge Sampaio). Claro que o factor geracional - eu diria mesmo de amizade pessoal - que a muitos de nós ligava o Afonso teve o efeito «demolidor» de que tu falas.

Para terminar, quero só esclarecer que não foram poucas as pessoas que quiseram então largar o nascente MES, mas sem qualquer propósito de virem a ligar-se ao PS ou a qualquer outro partido. O César, por exemplo, viria a militar na UEDS; o João Bénard ou a Luísa Castilho são exemplos dos muitos que, nos primórdios de 1978, não quiseram acompanhar a entrada no PS e preferiram ficar independentes.

Quanto ao resto, meu caro Eduardo, não estou em condições de discutir o muito mais que vais apreciando e comentando: a aventura do MES até ao fim. Mas reitero que muito me impressionou o teu raríssimo e genuíno esforço de autocrítica, nos textos que já publicaste na blogosfera. Além do mais, gostei muito da conversa. E nem desgostei da refeição. É, pois, uma experiência a repetir, se e quando estiveres para aí virado.

Abraço
Nuno (Brederode Santos)
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segunda-feira, fevereiro 9

I Congresso do MES - Um almoço tardio com o Nuno Brederode Santos


Julgo não cometer nenhuma inconfidência grave se revelar que, um dia destes, almocei com o Nuno Brederode Santos. Os anos passaram e as minhas incursões pelas memórias do MES fizeram despertar nele, no meu entendimento, a necessidade de uma reflexão acerca de algumas reservas mentais que apimentaram a batalha do I Congresso do MES nos finais do ano da graça de 1974.

Curiosamente ficámos a saber, no decurso do repasto, que o nosso regresso às lides políticas, ocorreu em Outubro desse ano pelas mesmíssimas razões. Ele «guerreava» em Moçambique, no curso de uma longa comissão na guerra que combatíamos, eu «guerreava» na magna tarefa de instruir levas de milicianos - alguns deles ilustres intelectuais da nossa praça - habilitando-os para a deserção ou para o combate numa das frentes dessa guerra, para nós, desditosa.

Além de agradável, no plano pessoal, como haveria sempre de ser, a conversa revelou-me algumas facetas do primeiro conclave do MES que se me haviam varrido da memória e que, como consequência, levaram a omissões involuntárias nas anteriores deambulações que empreendi acerca do tema. Não é que a coisa tenha uma importância por aí além mas, na verdade, nunca me tinha apercebido de que o Nuno, ele próprio, fora um dos principais, senão o principal, tenor da tese da ruptura.

Se tivesse sido alcançada uma conciliação de posições permitindo manter a unidade, que acabou por se quebrar com estrondo no I Congresso do MES, seria uma derrota para a sua tese que, pelo que entendi, preconizava a criação de uma espécie de federação, inorgânica, de grupos convergentes que, sem um compromisso demasiado vincado com as forças partidárias emergentes, permitiria ganhar tempo, congregando vontades, para a formulação de um programa político à margem da inevitável opção entre um «compromisso histórico entre famílias socialistas» ou uma deriva esquerdista.

O Nuno revelou-me ainda algo que se me tinha varrido da memória e que, na sua opinião, foi um factor decisivo, pelo seu efeito psicológico, na consumação da ruptura com o MES daquele que seria conhecido como o grupo de Jorge Sampaio: uma intervenção radical, em pleno Congresso, de Afonso de Barros, filho de Henrique de Barros que, por razões geracionais era tido como elemento próximo do grupo com o qual, naquele momento, romperia de forma brutal.

Com essa intervenção de Afonso de Barros, da qual não me lembro uma palavra, NBS deu, de imediato, como adquirida a vitória da sua tese, fundada numa confessada reserva mental, ou seja, a da inevitabilidade da ruptura ainda antes da formalização do MES como partido político.Pois sendo a ruptura consumada num momento anterior ao acto final do I Congresso, não seria a reserva mental que presidiu à estratégia dos dissidentes revelada nem estes jamais seriam dissidentes de um partido ao qual, afinal, nunca haviam aderido.

Com esta revelação mais se vincou a ideia, que sempre tenho acalentado, de que teria sido possível celebrar um acordo entre as partes desavindas, com o empenho de meia dúzia daqueles a que NBS sempre designou por «zulus», derrotando a sua tese que, acabou por sair vencedora aproveitando a imaturidade, pessoal e política, da maioria desses «zulus» entre os quais eu me incluía.

Assim andámos todos, de um e outro lado, anos a fio, na dúvida acerca do lugar exacto, e do papel de cada um, nos acontecimentos dos primórdios do MES como se fosse importante manter reservas e distâncias quando a ruptura, provavelmente, nunca se chegou a concretizar pelo simples facto de nunca se ter criado o «corpus partidário» que poderia ter sido alvo dela.

O MES foi, porventura, um mal entendido extinto por quase todos os que se haviam confrontado no I Congresso, através do celebrado, e inédito, convívio de 7 de Novembro de 1981. Só faltam esclarecer uns pormenores que, com a passagem do tempo, se refinaram ganhando a patine das preciosidades inúteis que todas as famílias rejubilam em poder contar como património comum.
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