segunda-feira, março 1

Faro Cidade desfigurada


Visitei este fim-de-semana uma cidade desfigurada. A minha cidade de Faro.

O processo de destruição é antigo. Mas acelerou nos últimos anos. A cidade foi desfigurada pela mistura de todos os géneros de prédios, fachadas, estilos e materiais. Em compensação podia ter-se desenvolvido uma nova dinâmica, em particular, através da preservação da "baixa alargada". Não foi assim. A cidade está desfigurada. Não se trata de ser contra a construção e sabemos que alguns responsáveis pelo gestão da cidade se preocuparam. Mas o panorama que se pode observar é um desastre. Não é possível aceitar que se não cumpram as regras mínimas nas intervenções urbanas. Parece que passou por ali uma "guerra civil" que feriu a cidade de morte. E a destruição continua. Observei, este fim-de-semana, demolições de prédios tradicionais. As poucas vivendas que resistem são aprisionadas por construções em altura. As casas antigas, com qualidade (outras existem sem interesse arquitectónico) são emparedadas, isoladas, privadas da luz do sol, cercadas pela especulação que abocanha o território sem piedade. As modernas zonas verdes são escassas e descuidadas e os tradicionais quintais desapareceram. O comércio mal sobrevive na paisagem desoladora da "baixa", com pouca animação e quase deserta de gente e de bulício. As grandes superfícies comerciais, criadas nas antigas hortas dos arrabaldes, são um atractivo mas não acrescentaram cidade à cidade. O cais industrial está abandonado à extracção de areias, as obras meritórias, como a Biblioteca Municipal, parecem escondidas e desvalorizadas. As novas obras, em curso, são projectos antigos e sobredimensionados. A eventual "Capital da Cultura", em 2005, pode dar visibilidade à cidade mas não acode aos seus verdadeiros problemas de fundo. O que falta é uma ideia clarividente e mobilizadora para a regeneração da cidade. Creio que muitos ainda acreditam que o progresso não é destruição, horror urbano e pura especulação.

domingo, fevereiro 29

A TV NO SEU MELHOR

Três reportagens magníficas

Vi recentemente três reportagens, de grande qualidade, na SIC, abordando temas delicados e comoventes. É a TV mobilizadoras da nossa vontade de participação cívica.

Desemprego

Uma reportagem mostra imagens da tragédia do desemprego. Mulheres, quase só mulheres, de rosto nobre e comovido, despedindo-se das companheiras de trabalho. Nalguns casos uma vida inteira de trabalho em comum. A despedida de uma vida de esperanças perdidas. Lágrimas e sorrisos, palavras sussurradas e cúmplices, olhares embaciados e amargos de raiva e incerteza. Mas paira no ar, na respiração da reportagem, uma réstia de esperança. As pessoas parecem dispostas a enfrentar as dificuldades da vida.

Doença

Uma outra ousa penetrar, até ao âmago, na tragédia da doença. Na Unidade de Cuidados Paliativos da Instituto de Oncologia do Porto a esperança de encontrar o conforto no fim da vida. Os corredores e os espaços parecem não ter sentido. Os gestos serenos das enfermeiras e os rostos e vozes das doentes, quase só mulheres, apesar de dolorosos, deixam transparecer amargura, mas também lucidez e gratidão. As imagens mostram como a vida pode ser vivida com dignidade até ao fim. Lutar para que os outros vivam, cuidando deles, sem nunca perder a esperança. O voluntariado e as ajudas desinteressadas! A vida no seu melhor, perto do fim ou a meio caminho. Afinal não está a vida sempre perto do fim? Quem sabe?

Jogo

A última reportagem aborda a epopeia da equipa de futebol do Culatrense, Ilha da Culatra, Concelho de Faro, mas com tudo a ver com Olhão. A Ilha tem uma população jovem onde falta quase tudo. Mas a equipa participa no Campeonato Distrital do Algarve. Imagens magníficas da Ria Formosa: os azuis fortes do mar e o voo suave das aves a propósito das viagens de barco na travessia da ilha para a cidade. Metade da equipa treina na ilha e outra metade em Olhão. Juntam-se à 5ª feira. A vontade de participar no jogo sem outro interesse senão a pura participação. Prémios simbólicos no sucesso, tácticas de jogo desenhadas, a marcador, nos azulejos do balneário. A realidade real do país contruída pelos seus cidadãos. O regresso quase perfeito aos primórdios de uma relação pura entre a vida, o trabalho e o jogo. Os homens pisam o chão e lutam por ganhar no velho Estádio Padinha, em Olhão, onde tantas vezes fui, pela mão de meu pai. Como se fora num qualquer estádio do Euro.

As TVs passam, vezes sem conta, notícias repugnantes na busca exclusiva de audiências. Mentiras e indignidades. É a sua vertente mercantil. Mas, outras vezes, recompensam-nos com o melhor da vida e de nós. É a sua vertente humana. E nos revemos nelas.

SOUSA FRANCO

Uma boa escolha do PS.

Em primeiro lugar porque é um cabeça de lista para as eleições europeias que precisa do aparelho mas só no ouvido; em segundo porque é muito selectivo a ouvir e, em terceiro, embora não pareça, é um político a sério…O PS, desta vez, fez as coisas bem feitas: antecipou-se, marcou o terreno, colocou os adversários na defensiva. Dá até a sensação que a coligação PSD/PP foi obrigada a adoptar, à pressa, um slogan perigoso para o PSD: "Força Portugal". Por outro lado não há, no terreno empresarial e social, sinais de retoma económica. Para o perceber basta ouvir os empresários sejam pequenos, médios ou grandes. Na economia, até Junho, nada de essencial vai mudar.

sexta-feira, fevereiro 27

UM PRESIDENTE EUROPEISTA


O Presidente da República, Jorge Sampaio, na parte final de um discurso de hoje, crítica directamente aqueles que menosprezam a Europa em favor da "Aliança Atlântica". O interesse desta alusão está no facto de ser explícita e… vinda de quem vem...

"E é forte a convicção de que seria um desastroso erro de estratégia, de incalculáveis consequências negativas, conceber que o futuro de Portugal possa ter lugar à margem do processo de integração europeia.
Aos que nisso acreditem - num salutar direito de opinião - responderei apenas que se esquecem que vivemos num mundo globalizado em que, só pertencendo a um espaço integrado, se conseguirá assegurar a defesa eficaz dos nossos interesses nacionais, no plano político, no campo económico, no domínio cultural. É, pois, pela Europa, e não contra a Europa, que nos devemos bater, pela defesa intransigente do acervo de valores e princípios que até agora têm modelado o seu rosto, nomeadamente, pela preservação da igualdade, pelo reforço da solidariedade e pela manutenção da coesão entre todos os seus Membros.
Aos que à integração europeia e ao alargamento atribuem o ónus das nossas presentes dificuldades económicas, lembrarei que aumentar a produtividade, investir numa economia competitiva, num sistema produtivo moderno, inovador, tecnologicamente avançado, capaz de produzir bens e serviços de qualidade nos mercados internacionais é responsabilidade que cabe, em primeira mão, aos empresários, aos trabalhadores, ao Governo e aos poderes locais e que, nestes domínios, a União Europeia desempenha afinal um papel decisivo ao criar um quadro de regulação necessário a um desenvolvimento sustentado e equitativo.
E aos que imaginam que a alternativa à Europa está no Atlântico, lembrarei também que muita da nossa capacidade de intervenção nos espaços tradicionais da acção externa portuguesa dependerá do lugar útil que conseguirmos assegurar no seio da União Europeia, como parceiro activo e empenhado.
Pela minha parte, não tenho quaisquer dúvidas de que para Portugal a aposta certa é a Europa e que, para Portugal, a participação no processo político de integração europeia é uma questão de identidade."

Uma estranha notícia

"ESPAÇO
Lançamento de Rosetta adiado novamente"

A cultura portuguesa vê assim adiada mais uma oportunidade da ganhar visibilidade...

TC avalia Sector Empresarial do Estado

Durão Barroso já criou 39 novas empresas públicas


Será verdade, será mentira? Vem no SEMANÁRIO ECONÓMICO

quarta-feira, fevereiro 25

DR. CORDEIRO - I



"Prescreveram poucos genéricos

Medicamentos: farmácias culpam médicos pelo aumento da despesa dos utentes

O presidente da Associação Nacional das Farmácias responsabilizou hoje os médicos pelo aumento de 85 mil euros da despesa dos utentes com medicamentos em 2003, alegando que a prescrição de genéricos ainda é insuficiente. " Público
Bem me queria parecer que a despesa com medicamentos a cargo dos consumidores ia aumentar! O Dr. Cordeiro acusa os médicos! O Dr. Cordeiro faz a gestão dos dinheiros! Dr. Cordeiro a Ministro da Saúde, Já!

DR. CORDEIRO - II

"Gastos com medicamentos


Nova política prejudica os utentes Os portugueses estão a gastar mais em medicamentos. As despesas com os fármacos abrangidos pela nova forma de comparticipação aumentaram 85 mil euros em 2003. A conclusão é da Associação Nacional de Farmácias (ANF) que, esta quarta-feira, faz o balanço da política do medicamento". SIC
Um ângulo diferente de abordagem da mesma questão. O Dr. Cordeiro prepara-se para assumir a defesa de uma política social para o medicamento. Afinal a nova política do medicamente prejudica os cidadãos. O Dr. Cordeiro prepara qualquer coisa...

DR. CORDEIRO - III


"Preço dos medicamentos para os mais pobres pode subir em 2005

O presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF) alertou hoje para o risco de aumento do preço dos medicamentos para os doentes mais pobres no próximo ano, se o Governo não garantir a manutenção do acréscimo na comparticipação dos genéricos.

João Cordeiro defende a política do medicamento desenvolvida pelo Ministério da Saúde, mas alerta que há um risco de acréscimo de preço para os medicamentos dos doentes mais pobres porque a taxa de majoração na comparticipação do Estado para os medicamentos com genéricos equivalentes no mercado só está em vigor até ao final deste ano" PÚBLICO/lLUSA

Está devendado o mistério. O Dr. Cordeiro quer mais dinheiro. Verseja e com razão...

EM DEFESA DO OPEN DE PARAPENTE DE LINHARES

O Open de Parapente de Linhares da Beira foi abordado no FORUM VOO LIVRE e numa entrada no absorto, de autoria de Pedro Pedrosa, dando notícia que os parapentistas teriam de começar a pagar por cada aterragem que fizessem em Linhares da Beira. A ironia da questão está em que o terreno em causa só se valorizou pela existência do próprio parapente em Linhares e pelo afluxo de parapentistas e de visitantes-espectadores interessados. Na suposição de que a questão não se tenha resolvido convém esclarecer o seu enquadramento mais geral tomando a defesa daquela actividade por tudo o que ela representa de positivo.
A região da Beira Interior é uma das menos desenvolvidas de Portugal. O programa "Aldeias Históricas de Portugal" foi concebido, no início dos anos 90, para contrariar esse subdesenvolvimento.
Linhares da Beira, no Concelho da Celorico da Beira, é uma das Aldeias Históricas abrangidas pelo projecto. As intervenções físicas destinadas a reconstruir 10 Aldeias Históricas, da Região da Beira Interior, foram apoiadas por um programa designado PPDR, que já acabou, tendo permitido realizar uma obra notável.
O financiamento comunitário e nacional vertido neste projecto foi dinheiro bem aplicado mas a intervenção não está concluída. Nalgumas aldeias faltam obras, em quase todas faltam programas de animação que atraiam os visitantes e, certamente, faltam actividades económicas viáveis e criação de emprego. Não é pois um projecto concluído e todas as entidades, com responsabilidade, nele envolvidas, têm consciência desse facto.
O Open de Parapente de Linhares da Beira foi uma das mais antigas e emblemáticas actividades concebidas como âncora da animação para o desenvolvimento daquela região, constituindo um factor de atracção de visitantes, com a vantagem de ser uma actividade não poluente, amigável para as populações locais e dinamizadora da economia local, em suma, uma actividade estruturante de um modelo de desenvolvimento sustentável.
O mesmo se pode dizer da "CARTA DA LAZER DAS ALDEIAS HISTÓRICAS" e da "GRANDE ROTA DAS ALDEIAS HISTÓRICAS", actividades inovadoras na região que deram origem a actividades e publicações notáveis que só encontram rival em países, com grande tradição nestas actividades, como a França.
Quer o "Open", numa primeira geração, quer a "Grande Rota", mais recentemente, são actividades que apresentam uma relação custo/benefício altamente vantajosa para o desenvolvimento local e regional.

Desde o início dos anos 90, até 2003, o INATEL tomou a iniciativa de promover estas actividades, em parceria com as autarquias, com o apoio de técnicos entusiastas e competentes.
As dificuldades conjunturais, originadas pelos pequenos interesses locais, não podem servir de pretexto para lhes por fim. Estas actividades são verdadeiros e genuínos exemplos de promoção do desenvolvimento local e regional. O tal desenvolvimento sustentável de que tanto se fala e tão pouco se pratica.

terça-feira, fevereiro 24

CESÁRIO VERDE


Num dia, por tradição, sempre festejado e, nos nossos dias, tão triste, lembrei-me deste extraordinário poema de Cesário Verde que aqui vos deixo.

Contrariedades


Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.


Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.


Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.


Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...


O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.


Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.


A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.


Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.


Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.


Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.


Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
Ea mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.


A adulação repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...


E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!


Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!


Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?


Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague",
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...


E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!










Cada vez menos e mais velhos


"Portugal Terá Menos Um Milhão de Pessoas em 2050

A população portuguesa terá menos cerca de um milhão de pessoas em 2050 e estará ainda mais envelhecida, havendo perto de 2,5 idosos por cada jovem, segundo estimativas constantes de um relatório do Conselho da Europa."
A notícia de ontem reforça e agrava todas as expectativas acerca da evolução demográfica. O PÚBLICO põe em relevo as projecções acerca da população portuguesa. São os dados de um relatório do Conselho da Europa. Este Relatório reforça a minha ideia de que deveria ser criada uma estrutura, de âmbito nacional, sob patrocínio do Senhor Presidente da República, para acompanhar, estudar e apontar estratégias que permitam fazer face às catastróficas perspectivas de evolução da demografia em Portugal.

segunda-feira, fevereiro 23

Efeitos devastadores do envelhecimento

"Ministro fecha 2194 escolas

Até 2007 o Ministério da Educação vai fechar 2194 escolas primárias que estão a funcionar com menos de 11 alunos. Neste ano lectivo, 68 escolas têm apenas um estudante. "

Eis uma notícia abordada pelo EXPRESSO que mais não é que uma consequência devastadora do envelhecimento demográfico. Os jovens são uma raridade em muitas regiões do país. As escolas passam a ser peças de museu. Esta é uma questão estratégica para o futuro de Portugal e dos países do ocidente. Podem e devem discutir-se as razões, a metodologia e as consequências deste tipo de medidas. Mas o envelhecimento demográfico é uma questão abordada sistemáticamente pelas suas consequências e não pela sua raíz. Merecia uma abordagem ao mais alto nível. Um assunto para o Presidente da República?

IMIGRAÇÃO - entrevista


"Esta Política de Imigração É Abaixo de Zero Porque Não Vai Legalizar Praticamente Nenhum dos Imigrantes"

Esta é a manchete da PÚBLICA, de 22 de Fevereiro, que dá a conhecer a opinião de Inácio Mota da Silva acerca do tema e da política de imigração do governo português.


domingo, fevereiro 22

DOIS MESES DE ABSORTO - UMA EXPERIÊNCIA PARA CONTINUAR

No passado dia 19 passaram dois meses desde a criação do ABSORTO. Esta é uma experiência que não se dirige à blogosfera e seus fazedores mas fundamentalmente aqueles que estão de fora dela. Ainda não saimos da fase experimental que ainda vai durar mais algum tempo. Como acontece sempre neste tipo de projecto individual, pois o ABSORTO é uma inicitiva da única responsabilidade do seu editor, surgem problemas que carecem de tempo para serem superados. Não falo de problemas de concepção, ou de falta de ideias para partilhar com quem nos procura, mas de problemas técnicos. O ABSORTO tem um programa e vai continuar a desenvolver esse programa. Sabemos das dificuldades próprias deste instrumento de comunicação. Cometemos erros e estamos atentos à sua correcção. Vamos continuar. Com melhorias e algumas novidades. Hoje, fora do nosso lugar habitual de trabalho, sem o programa que nos ajuda a "postar" com mais eficácia, aqui junto à ponta mais ocidental da Europa, uma saudação para todas e todos que nos têm ajudado, das mais diversas formas, e nos visitam com assiduidade.
Com um abraço do EG

sábado, fevereiro 21

AQUI PORTUGAL


Aqui Portugal
Bicesse
O Fim-do-mundo mais perto de
Lisboa e da boa flôrdelis
e
Entre a Serra da Lua (Sintra)
As grutas e necrópoles daqueles
Que nascidos em Creta
Passaram em Homero
Em Cristo
E a vista de Roma
Saíram do Mediterrâneo
E aqui ficaram e passaram
Trazendo consigo para toda a parte
A civilização da Liberdade individual
Do Homem

Almada Negreiros

sexta-feira, fevereiro 20

Cadernos de Camus - 9



Esta é a última parte dos meus sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos de Camus. Esta leitura foi iniciada, certamente, antes de Abril de 1968, tinha eu a idade de 20 anos.

Os sublinhados que se apresentaram, com pequenas alterações de pormenor e raras supressões, foram assinalados nos livros, de forma "assassina", a esferográfica. Os livros, no entanto, sobreviveram e, recentemente, foram restaurados e encadernados a capa dura. Estão em condições de serem legados ao meu filho pois tenho a ambição de que um dia os venha a ler.

Com esta nona parte, segundo a minha nemeração, chega ao fim a estimulante tarefa que me foi suscitada pela ideia do José Pacheco Pereira. Mas devo confessar que um projecto semelhante a este, antes do surgimento dos Blogs, já me tinha, por diversas vezes, assaltado a imaginação. Esta minha participação suscitou, para minha surpresa, uma mal disfarçada "azia" em algumas pessoas que devem viver ainda no tempo da "noite fascista" e persistem em separar os campos políticos e ideológicos com base em preconceitos e mal ultrapassadas relações com os respectivos pais. Há gente adulta e com responsabilidades na vida pública pública portuguesa que ainda não saíu das "cavernas" e suspeito que delas não sairá jamais. Paz à sua alma!

Esta é uma daquelas tarefa que me deu prazer autêntico, quer pelo facto de poder partilhar uma leitura de toda a vida, quer por me ter sentido, não raras vezes, surpreendido pela actualidade das referências contidas nos excertos que reli. Continuo a sentir hoje a mesma adesão de fundo à filosofia de vida e de sociedade que, no essencial, Camus defende e que, de forma peculiar, foi explicitada nos Cadernos.

Além do mais devo confessar que este é, desde a minha juventude, um "livro de cabeceira" que, naturalmente, não li todos os dias mas que sempre esteve presente na minha vida mesmo quando os impulsos de uma desinteressada militância cívica e política exigiram, e continuam a exigir, a tomada de opções difíceis ou mesmo dolorosas.

Não sei ao certo qual o caminho que este projecto tomará mas, a partir de um dado momento, as participações numa empresa séria desta natureza carecem de ser enquadradas por uma metodologia e por objectivos precisos sem os quais cada um de nós se sentirá decerto constrangido. Estou disponível para aprofundar a minha participação.

Eis os meus últimos sublinhados do caderno nº 6 nos quais se inclui aquele que sempre me tem acompanhado e que constitui, para mim, um lema de vida: "os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade":

"Não se deve julgar um homem nem pelo que diz, nem pelo que escreve, segundo Beyle. Eu acrescento: nem pelo que faz."
(Camus deve referir-se a Marie Henri Beyle, ou seja, STANDHAL)

"Começa-se por não amar ninguém. Depois amam-se todos os homens em geral. A seguir apenas alguns, depois uma única e depois o único."

""Alexandre Block.
...
Só uma compaixão total pode produzir uma mudança. Reajo assim porque a minha consciência não está tranquila.""
(Escrevi dois pontos de interrogação)

"É pela recusa de uma parte deste mundo que este mundo é habitável? Contra o amor fati. O homem é o único animal que recusa ser o que é."

"Os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade".

"Num mundo que já não crê no pecado, é o artista que está encarregado da pregação. Mas se as palavras do padre produziam efeito era porque o exemplo as alimentava. O artista esforça-se por se tornar num exemplo. Eis porque o fuzilam ou o deportam, com grande escândalo seu. E depois a virtude não se aprende tão depressa como o manejo da metralhadora. O combate é desigual."

"Enquanto o homem não domina o desejo, nada dominou. E não o domina quase nunca."

"Ensaio. Introdução. Porquê recusar a delação, a polícia, etc. .. se não somos nem cristãos nem marxistas. Não temos valores para isso. Enquanto não tivermos encontrado fundamento para esses valores, estamos condenados a escolher o bem (quando o escolhemos) de maneira injustificável. A virtude será sempre ilegítima até esse momento."

""A revolução de 1905 principiou pela greve de uma tipografia moscovita cujos operários pediam que os pontos e as vírgulas fossem contados como caracteres na avaliação "por peça".
O Soviete de Saint-Peterburgo em 1905 apela para a greve aos gritos de abaixo a pena de morte.""

""Durante a Comuna de Moscovo, na Praça Trubnaia, perante um edifício destruído pelos canhões, um prato contendo um pedaço de carne humana é exposto com um cartaz com a seguinte inscrição: "dai o vosso óbolo para as vítimas.""

Extractos, in "Cadernos" (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).








quinta-feira, fevereiro 19

Europa - jogos perigosos


A cimeira dos Grandes


Sejamos claros e realistas: a UE só existirá enquanto houver um entendimento entre os chamados grandes. Basta conhecer um pouco da história da Europa. O alargamento da UE (mais 10+2 países) não muda nada esta questão crucial. Só dá mais peso aos grandes, entre outras razões, porque "puxa para leste" o centro geográfico da UE. A Alemanha, "potência continental", por excelência, alarga a sua área de influência; a Inglaterra "potência marítima, por excelência", vê estreitar-se a sua capacidade de influência na Europa e procura minorar o desgaste de uma "parceria aventureira" com a Administração conservadora dos EUA e a França não tem outra saída, para alimentar o velho sonho da Grande Europa, senão ceder à Alemanha salvaguardando a aliança central que dá sentido estratégico à UE.

Se a Alemanha+França (+Inglaterra) são forem aliados, no essencial, não há garantia de paz na Europa. Fica aberta a porta ao regresso das tendências belicistas que estiveram na origem das duas terríveis guerras mundiais do Séc. XX.

Se a Alemanha+França (+Inglaterra) não estiverem de acordo acerca do modelo de desenvolvimento da UE não haverá condições para o progresso económico, social, científico e tecnológico da Europa e será aberta a porta da sua decadência inexorável.

Os governos que subscreveram a recente Declaração dos 6, valha a verdade, contam pouco para a definição do essencial do futuro da EU e da Europa: guerra ou paz, progresso ou decadência, independência ou subserviência face aos desígnios estratégicos dos EUA?

O problema é que os conservadores que governam, no presente, os países do sul da Europa escolheram o caminho da subserviência face aos EUA e dão-se mal com os temas da chamada "Agenda de Lisboa" que, paradoxalmente, ou talvez não, os "Grandes" citam sem qualquer constrangimento. Interessante!

Os "grandes" que são acusados, aberta ou veladamente, de prosseguirem objectivos detestáveis e egoístas, assumem a "Agenda de Lisboa", ou seja, a componente social do desenvolvimento da Europa como noticia hoje o Público:

"Schroeder, Chirac e Blair Relançam "Agenda de Lisboa" para as Reformas Económicas e Sociais

Oficialmente, a reunião na capital alemã visou sobretudo delinear uma estratégia comum contra os problemas económicos e sociais que afectam a Europa, dando um novo impulso aos objectivos estabelecidos pela "Agenda de Lisboa" , de alcançar , até 2010, o pleno emprego e que a economia comunitária se torne na mais dinâmica e competitiva a nível mundial . É esta estratégia que se explana numa carta de seis páginas dirigida à presidência irlandesa da União Europeia, ao presidente da Comissão Romano Prodi e aos restantes chefes de Estado e de Governo.

Para alcançar as ambiciosas metas de Lisboa é necessário, de acordo com o chanceler alemão, que se dê maior ênfase às políticas de investigação e desenvolvimento. O investimento europeu neste domínio ainda está distante do objectivo dos 3 por cento do PIB europeu, o que é insuficiente "para permitir as empresas europeias estar na vanguarda tecnológica". Por seu turno, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, defendeu a necessidade de reformar os sistemas de protecção social na UE "para que sejam sustentáveis a prazo", uma maior qualificação dos trabalhadores e uma "melhoria da competitividade das nossas empresas".

Ao iniciar a sua intervenção o presidente francês Jacques Chirac considerou ser "normal que os países que representam mais de 50 por cento do PIB da UE" se reunam para discutir em conjunto preocupações comuns". Efectivamente, os problemas domésticos com que se confrontam o Reino Unido, a Alemanha e a França são semelhantes e em todos está em curso um processo de reformas estruturais. Como analisava a edição de ontem do o "Financial Times" os líderes de Berlim , Londres e Paris partilham o objectivo de "inflectir a política europeia de acordo com as respectivas prioridades e num sentido que lhes permita marcar pontos em casa".

Questões mais "interessantes" em privado - Já sem jornalistas os líderes passaram as analisar os dossiers que mais interessavam a estes últimos: os "nomeáveis" para presidente da Comissão, o Iraque, o Afeganistão, o Médio Oriente, assim como novas relações euro-americanas e as perspectivas de adesão da Turquia.

A cimeira de ontem foi vista pelos comentadores como um sinal de que algo está a mudar na Europa e que a política de alianças está a ser reformulada. A edição de ontem do diário "Le Monde" citava Bernard Nivet, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas em Paris, que frisava que a carta dos seis "demonstra uma degradação do clima de confiança entre os membros do Conselho europeu". Este mal-estar pode traduzir-se na passagem do casal franco-alemão a uma relação de "poligamia" germano-franco-britânica , a qual se juntará possivelmente mais tarde , isto segundo a diplomacia alemã, a Polónia."



Acácio Barreiros


Adeus

Não fui às cerimónias fúnebres. Mas hoje vesti-me a preceito. É como se tivesse ido. Ele não me exigiria mais. Nunca privei com ele. Mas eram-mos velhos conhecidos. Fez com a sua participação cívica, tantas vezes, vibrar muitos de nós. Nunca concordei com a UDP. Mas com ele concordei muitas vezes. É a diferença entre uma causa e a representação de uma causa.

É a questão do protagonismo. Ele foi um protagonista. No país, para surpresa dos "10 grandes educadores da opinião pública", há milhares de protagonistas. Sempre houve. Gente com qualidade. Pouco conhecida e, a mor das vezes, não reconhecida.

O Acácio Barreiros foi um dos que, no seu tempo, se destacou. Ele representou, durante uns bons anos, muita dessa gente, a maioria da minoria. Por fim optou por uma carreira política. A sua voz quase desapareceu. Respeito a sua opção. O Acácio Barreiros fica para sempre na minha (nossa) memória.

quarta-feira, fevereiro 18

José Gomes Ferreira


"Viver sempre também cansa"
Descobri pelos meus apontamentos nos Cadernos de Camus a leitura entusiástica que, pelos meus 19/20 anos, fiz da poesia de José Gomes Ferreira. Aqui está a explicação, dada pelo próprio poeta, das circunstâncias em que surgiu o poema "Viver sempre também cansa" e de como, nesse momento, se afirmou a própria identidade do poeta. Esta é uma época muito marcada pela resistência comunista ao Estado Novo quando a ditadura vivia a sua primeira fase ainda antes da Constituição de 1933. A qualidade deste poeta e do seu trabalho ultrapassa, no entanto, as circunstâncias históricas da época em que iniciou a sua criação poética. Vale a pena revisitar este poeta e a sua poesia.

"Na noite de 8 de Maio de 1931, num segundo andar da Rua Marquês de Fronteira, encontrei, finalmente, a expressão autêntica do poeta autêntico, há tanto procurada. À terceira tentativa, para uma série de poesias que eu intitulava Poemas de Reincidência, escrevi dum jacto e quase sem emendas o poema 'Viver sempre também cansa'. Mostrei-o ao Carlos Queiroz, então meu amigo de todos os dias, que, sem me consultar (e se consultasse daria logo o meu consentimento, claro), o enviou a João Gaspar Simões. Pouco depois aparecia na Presença. E assim entrei no âmbito da chamada Poesia Modernista. A propósito, devo dizer que nunca fiz parte do grupo presencista. Como nunca pertenci a qualquer grupo saudosista . Ou à Seara Nova. voltemos à noite de 8 de Maio de 1931 e à poesia de 'Viver sempre também cansa', onde já havia - coisa insólita na época! - uma referência a Mussolini...Desde então senti que surgia em mim a expressão do poeta verdadeiro. E para marcar bem, para separar bem o novo do antigo poeta, acrescentei sub-repticiamente ao Gomes Ferreira, com que assinara os 'Lírios do Monte' e as duas edições de 'Longe', o meu nome próprio: José! Passei a bagatela, reputo eu de valor psicológico importantíssimo. E, assim, num novelo terrível de ganhar a vida com artigos diversos, crónicas anedóticas, contos e contecos, anúncios das cintas Pompadour, publicidade, traduções de fitas, etc., iniciei a minha carreira de poeta, a que mais tarde chamei de poeta militante."

Viver sempre também cansa!


Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda me
nina no meu colo..."

José Gomes Ferreira (1931)

terça-feira, fevereiro 17

A notícia mais importante do dia


Contributos dos Imigrantes na Demografia Portuguesa


Foi hoje apresentado, em livro, o estudo que se intitula "Contributos dos Imigrantes na Demografia Portuguesa", de Maria João Valente Rosa, Hugo de Seabra e Tiago Santos. O Estudo conclui que a imigração é necessária e os seus efeitos são positivos atenuando o envelhecimento demográfico. Os interessados no tema, lendo o estudo, aliás, muito completo e interessante, entenderão a complexidade do fenómeno da imigração e a sua importância no futuro do desenvolvimento económico e social do Portugal e da Europa.

A LUSA divulgou uma síntese do estudo de que reproduzimos alguns passos.

"Os imigrantes contribuíram em um quinto para o aumento da população em Portugal, mas para que se conseguisse travar o envelhecimento do país teriam de entrar a cada ano mais 161 mil estrangeiros.

O mesmo se aplica à manutenção do número de pessoas em idade activa por pessoa em idade idosa. Para que o número de pessoas em idade activa por pessoa idosa mantivesse níveis idênticos aos observados em 2001, seria necessário (...), de 2001 a 2021, um saldo migratório anual em Portugal de mais 188 mil efectivos", conclui também a autora.

... na última década (a imigração) contribuiu "para que houvesse um movimento de reequilíbrio dos dois sexos". Porque "sem as populações estrangeiras, o predomínio das mulheres teria aumentado em Portugal, ao invés de diminuir".

Impacto também no reforço do volume de efectivos nas idades activas (em especial as mais jovens), atenuando os níveis de envelhecimento (em especial no topo) da população.

Os imigrantes contribuíram igualmente para atenuar os desequilíbrios de povoamento, porque se inicialmente optaram por residir nas regiões da Grande Lisboa e Península de Setúbal, mais recentemente, principalmente os do leste europeu e do Brasil, dispersaram-se pelo país todo.

Ao estarem na sua maioria em idades férteis, contribuíram também para o aumento de nados-vivos, e pelo mesmo motivo apresentaram uma inferior contribuição no aumento de mortalidade.

Em síntese, resume a professora, embora as populações de nacionalidade estrangeira sejam demograficamente diversas e ainda representem uma magra fatia da população residente em Portugal (2,2 por cento, segundo o Censo de 2001), as suas interferências no sistema demográfico português já assumem alguma importância.
Sem elas os níveis de envelhecimento seriam mais significativos, os níveis de natalidade mais baixos e o volume da população inferior.

Esta questão, diz também o livro, é comum a toda a Europa. O continente poderá perder na primeira metade deste século importância demográfica, o que aliás já está a acontecer, passando de 22 por cento em 1950 para 12 por cento em 2000. Em 2050 poderá chegar aos sete por cento.

Perante esta realidade a imigração para os países da União Europeia é "uma componente essencial do crescimento demográfico", sendo que na segunda metade da década passada se observaram saldos migratórios positivos em todos os Estados-membros. Segundo o Eurostat este saldo foi, aliás, responsável por cerca de três quartos do crescimento da população da UE após 1999."

EUROPA-jogos perigosos


"UE
Bruxelas aconselha Lisboa a gastar mais nas pessoas e menos em auto-estradas

Portugal vai ter de reorientar os fundos estruturais comunitários de apoio ao seu desenvolvimento para o reforço da qualificação dos recursos humanos, investigação científica e inovação, de modo a diminuir o peso das estradas e auto-estradas nos financiamentos da União Europeia (UE)." Público

Portugal tem, à partida, assegurado um volume razoável de fundos comunitários para o período 2007/2013. A negociação vai ser longa e decorre até 2006. O resultado final permitirá ao governo, em véspera das eleições legislativas, se forem no prazo previsto, "cantar vitória". A lógica da aplicação dos fundos vai ter de mudar. Ironicamente trata-se da aplicação da chamada "Agenda de Lisboa", do tempo do anterior governo, o tal da "pesada herança". O financiamento comunitário cresce 212% para as chamadas "prioridades de Lisboa", ou seja, "Competitividade para o crescimento e emprego" abarcando: investigação, rede transeuropeia de transportes, educação e diálogo social). Estranhos termos! Desta forma Portugal vai beneficiar da "pesada herança" do anterior governo.

O resultado final das negociações permitirá que Portugal, entre os 15, continue a beneficiar do Fundo de Coesão, ao contrário da Espanha e da Irlanda, e que sejam criadas condições para que diversas regiões europeias, como Lisboa e Vale do Tejo, ainda beneficiem de apoios financeiros através da criação de um novo estatuto, enquanto os 10+2 novos países aderentes receberão metade dos recursos financeiros disponíveis totais.

O que não se compreende é o facto do governo de Portugal subscrever declarações políticas de fidelidade ao PEC, contrariando posições recentes, conjuntamente com dirigentes conservadores dos países do sul (Itália, Espanha e Portugal) +Polónia+Holanda+Estónia, num claro afrontamento ao núcleo duro da EU. Qual a vantagem, em concreto, de hostilizar a França? Trata-se de apoiar Aznar, em plena pré-campanha eleitoral, sendo que a Espanha corre o risco de perder o Fundo de Coesão? Trata-se de fazer a política dos EUA, fragilizando a EU, através da "ameaça" do isolamento da França? Não esqueçamos que a França é um dos pilares centrais da EU e corre o risco de perder muito no quadro comunitário de apoio 2007/2013...assim como os outros países contribuintes líquidos…

A hostilização e o isolamento político da França, ou de qualquer outro país central na EU, só pode reverter contra aqueles que agora jogam esses jogos perigosos ou, se forem longe demais, na criação de um cenário de crise explosiva na EU...e depois?

segunda-feira, fevereiro 16

A notícia mais importante do dia

"Pessimismo em Portugal está deslocado e sem fundamento, diz Constâncio


O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, afirmou esta segunda-feira que o pessimismo que se vive em Portugal "está deslocado e sem fundamento".
O economista, que intervinha num almoço com associados das câmaras de comércio Portugal-Holanda e Luso-Francesa, afastou a pertinência dos receios sobre a capacidade de crescimento e concorrência da economia portuguesa, particularmente acentuados após a entrada desta em tendência recessiva.
Argumentou, inclusive, que já estivera em "momentos bastante mais difíceis do que os actuais" ao longo da sua carreira pública.
Constâncio entende que se está a viver apenas a correcção "necessária e inevitável" de um crescimento forte da economia, alimentado por um endividamento igualmente forte.
Tendência que chegou ao seu limite e começou a proceder, de forma espontânea, à sua auto-correcção, acentuou, sublinhando estar convicto de que a retoma da economia portuguesa já começou." Lusa
Bem podem os responsáveis ao mais nível, como o Dr. Constâncio, puxar pela ideia de que a retoma da economia está aí a chegar! Que a crise actual é um simples processo de reajustamento! O pessimismo, o optimismo, o conformismo, o estado de espírito... resultam de uma gestão das expectativas. O governo anda há quase dois anos a fazer uma desastrosa gestão das expectativas. Tudo começou e continua com a política da "pesada herança". Depois temos o Dr. Cadilhe, o Dr. Santana Lopes, o Dr. Jardim, o Dr. Portas, a Dra. Celeste Cardona...O governo entrou naquela fase em que tudo parece complicar-se ao contrário da propaganda. Além disso não é capaz de se libertar da tentação de invocar a "pesada herança" à qual o Dr. Constâncio, por acaso, também pertence. O pessimismo, infelizmente, está muito bem colocado e tem fundamentos. Até um dia...

IMIGRAÇÃO-alguns indicadores


A imigração não é uma questão de opção ideológica, de modelo económico ou de estratégia política. É uma realidade objectiva que resulta do envelhecimento demográfico. O que não quer dizer que acerca desta realidade não se perfilem diversas opções ideológicas, económicas ou políticas. Este é um assunto, aliás, onde se exercitam as tendências populistas dos partidos ultraconservadores.

O EUROSTAT aponta para Portugal, em estimativa, uma população, em Janeiro de 2004, de 10.840.000, comparável com 10.408.000, em Janeiro de 2003. Observa-se um saldo demográfico positivo mas que se fica a dever à imigração.

Esse saldo é o resultado da relação entre o crescimento natural em 2003 (diferença entre o n.º de nascimento e o n.º de mortes) que foi de 0,9 p/ mil habitantes e a migração líquida (diferença entre o n.º de imigrantes e o n.º de emigrantes) que foi de 6,1 p/ mil habitantes.

É interessante assinalar que, em 2003, a média do crescimento total da população, na EU, foi de 3,4 p/mil habitantes. A Irlanda é o país que apresenta o crescimento da população mais elevado, com 15,3 p/ mil habitantes, seguido da Espanha (7,2) e de Portugal (6,9).

Os saldos demográficos positivos ficam a dever-se, em todos estes países, à imigração. A posição destacada da Irlanda explica-se pelo facto deste país apresentar um indicador de "crescimento natural" muito elevado (8,3 p/ mil habitantes) ao contrário de Portugal (0,9) e de Espanha (1,7).

A Irlanda é, aliás, o país da EU que apresenta indicadores de crescimento da população mais encorajadores para uma estratégia de desenvolvimento sustentada adoptando, ao mesmo tempo, políticas de imigração menos restritivas.

domingo, fevereiro 15

A notícia mais importante do dia


Operadoras têm de revelar dados


"A ministra da Justiça, Celeste Cardona, anunciou hoje que os operadores de comunicações vão ser obrigados a facultar às autoridades policiais informações transmitidas através da Internet que sejam "úteis para a perseguição de criminosos".

"Com este projecto de diploma, que o Ministério da Justiça já tem pronto, vai ser possível aceder, com todo o respeito pelos direitos, liberdades e garantias, às informações transmitidas através da Internet, através de suporte electrónico, e que sejam úteis para a perseguição de criminosos", disse hoje Celeste Cardona."

Compreendem-se os cuidados postos no anúncio. Mas ainda muito haverá por esclarecer acerca desta medida que surge num contexto em que os governantes estimam como populares as opções securitárias. A Comissão de Base de Dados já se pronunciou, se bem entendi, contra o princípio geral do fornecimento das comunicações transmitidas, via Internet, salvo no caso de tal fornecimento ser determinado por mandato judicial.

Ontem, em entrevista a Teresa de Sousa, publicada no Público Manuel Castells afirma "…os governos odeiam a Internet…Porque a Internet rompe o monopólio da comunicação e da informação sobre o qual esteve assente o poder ao longo da História….A Internet facilita o terrorismo, há que controlar o terrorismo, por conseguinte, há que controlar a Internet. É esta a imagem que querem fazer passar. …o fenómeno do terrorismo é muito importante mas é muito mais séria e mais grave a reacção histérica e interessada do Governo dos EUA e de outros governos, como o espanhol, ao problema. Os conservadores do mundo acreditam que encontraram uma forma de governar para sempre assustando a gente: a política do medo".

Concordo com Castells. O poder dos governos é posto em causa pela Internet. Mas é mais provável que a Internet vença os governos do que o contrário. Quanto aos criminosos é preciso persegui-los cumprindo a lei. Para isso basta que haja vontade política e leis justas que não ponham em causa a liberdade de comunicação e informação, essenciais ao funcionamento dos Estados Democráticos. Parece ser um pouco complicado técnicamente "abrir todas as cartas" que circulam no tempo da sociedade da informação. E haja quem nos assegure que os criminosos não tenham capacidade para manipular as decisões dos governos ou dos parlamentos. Basta ler os clássicos… Maquiavel, entre outros. Mais vale correr os riscos da liberdade do que usufruir dos "benefícios da segurança", sem liberdade. As tiranias não nascem "por obra e graça do espírito santo" mas pela acção de homens determinados e providenciais...


O QUE A MUSA ETERNA CANTA


Cesse de uma vez meu vão desejo
de que o poema sirva a todas as fomes.
Um jogador de futebol chegou mesmo a declarar:
"Tenho birra de que me chamem de intelectual,
sou um homem como todos os outros."
Ah, que sabedoria, como todos os outros,
a quem bastou descobrir:
letras eu quero é pra pedir emprego,
agradecer favores,
escrever meu nome completo.
O mais são as mal-traçadas linhas.

Adélia Prado

sábado, fevereiro 14

Cadernos de Camus - 8



O Caderno n.º 6, integrado, na edição portuguesa, no volume Cadernos III, respeita ao período que decorre entre Abril de 1948 e Março de 1951.
Os sublinhados desde caderno n.º 6 serão divididos em duas partes para efeitos de inserção nos Cadernos de Camus. Eis a primeira parte dos mesmos:

"Arte moderna. Encontram o objecto porque ignoram a natureza. Refazem a natureza e não lhes resta outro recurso porque a esqueceram. Quando esse trabalho estiver concluído, começarão os grandes anos."

""Sem uma liberdade ilimitada de imprensa, sem uma liberdade absoluta de reunião e de associação, o domínio de largas massas populares é inconcebível" (Rosa Luxemburgo - A Revolução Russa).""

""Salvador de Madariaga: "A Europa só recobrará os seus sentidos quando a palavra revolução evocar vergonha e não orgulho. Um país que se ufana da sua gloriosa revolução é tão fátuo e absurdo como um homem que se ufanasse da sua gloriosa apendicite."
Verdade num certo sentido, mas discutível.""

"Segundo Richelieu, os rebeldes, sendo em tudo iguais, são sempre menos fortes do que os defensores do sistema oficial. Por causa da má consciência."

""G. Greene: ...
Id. "Para quem não crê em Deus, se as pessoas não forem tratadas segundo os seus méritos, o mundo é um caos, é-se levado ao desespero""
(Sublinhado parcial de um conjunto de citações de G. Green. No final escrevi: "Atenção")

"Peça. O Orgulho. O orgulho nasce no meio das trevas"

"Os artistas querem ser santos, não artistas. Eu não sou um santo. Queremos o consentimento universal e não o teremos. Então?"
(Escrevi "Poema José Gomes Ferreira" cuja Poesia I, de 1948, deveria andar a ler)

""Título da peça. A inquisição em Cádis. Epígrafe: "A Inquisição e a Sociedade são os dois grandes flagelos da verdade." Pascal""

"Dilaceração por ter aumentado a injustiça julgando-se servir a justiça. Reconhecê-lo pelo menos e descobrir então essa dilaceração maior: reconhecer que a justiça total não existe. Ao cabo da mais terrível revolta, reconhecer que não se é nada, isso é que é trágico."

"Gobineau: Não descendemos do macaco, mas aproximamo-nos dele a toda a velocidade."

Extractos, in "Cadernos" (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).










sexta-feira, fevereiro 13

POEMA ERÓTICO


Vai ter início, por estes dias, o festival de poesia erótica de Veneza. Aqui fica um modesto contributo. Uma palavra de saudação ao meu amigo VR, que tão bem as declama e tão vasto reportório apresenta, "em família", deste género de poesia a que se dedicaram grandes poetas universais, também portugueses e brasileiros, como é o caso de Carlos Drummond de Andrade.


NÃO QUERO SER O ÚLTIMO A COMER-TE


Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.

Carlos Drummond de Andrade

Em O Amor Natural
Editora Record


A NOTÍCIA MAIS IMPORTANTE DO DIA


"Governo agrava combustíveis


O preço dos combustíveis volta a aumentar a partir de segunda-feira. Esta subida resulta de um novo agravamento do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP) estabelecido numa portaria conjunta dos ministérios das Finanças e Economia, ontem publicada Diário da República, apenas dois meses após a última revisão, em 31 de Dezembro.

De acordo com aquela portaria, a carga fiscal sobre o gasóleo será agravada em 0,85 cêntimos, mais IVA, o que significa, na prática, uma subida de um cêntimo por litro. Já nas gasolinas o imposto sobe 0,60 cêntimos, ou sejam 12 tostões por litro.

As três maiores distribuidoras do mercado português - Galp, BP e Shell - já admitiram que estão a ponderar um aumento dos preços para os próximos dias, uma vez que esse é, dizem, o caminho lógico.

Os revendedores é que não conseguem encontrar lógica numa liberalização que resulta num sistemático aumento de preços. Em declarações ao DN, o presidente da Associação Nacional dos Revendedores de Combustíveis (Anarec) lembra que, desde 31 de Dezembro, o preço da gasolina já aumentou três escudos e vinte centavos por litro(...)" Diário de Notícias

O mercado, o sacrosanto mercado, em Portugal, não funciona como vem nos manuais de economia. Pensavam que isto é a América, ou quê? O mercado, por cá, é assim uma espécie de elevador que só tem um sentido - sobe, sobe...e não desce...Estranho é que se não ouça bulir uma voz do lado dos vários operadores de transportes, em tempos idos, tão buliçosos...

Uma boa notícia do dia 13


SONDAGEM
"Kerry derrotava Bush se as eleições fossem hoje
O candidato favorito à corrida democrata para as presidenciais norte-americanas, John Kerry, venceria o actual presidente, George W.Bush, se o escrutínio de Novembro próximo se realizasse hoje, segundo uma sondagem hoje divulgada."

E as eleições não podem ser já hoje?




quinta-feira, fevereiro 12

KANT - um chumbo humilhante!


Honra seja feita ao PÚBLICO pelo destaque dado ao bicentenário da morte de KANT. A Universidade de Bonn disponibilizou, em língua alemã, na Internet o maior banco de dados mundial sobre o filósofo. Além da importância da obra de Kant o destaque dado ao filósofo alemão é um verdadeiro gesto de coragem do Público acima do populismo reinante e da "apagada e vil tristeza" que imperam na comunicação social nacional.

Em diversos blogs como o causa nossa traçam-se as grandes linhas do pensamento de Kant: "o filósofo dos direitos humanos". Não vou enfileirar por esse caminho mas simplesmente contar uma "pequena história" pessoal na qual Kant tem o lugar de protagonista.

Foi uma das maiores humilhações da minha vida. Explico em duas palavras. No meu 7º ano de liceu, à época, ano terminal do secundário, faziam-se exames finais em algumas disciplinas incluindo filosofia. A nota da prova escrita necessária para dispensar da oral era 16. Obtive, na escrita, 15. Estranho! Na realidade ninguém obtinha, na escrita, 15. Ou se obtinha 14 ou então 16. Fui, assim, "condenado" a ir à oral com 15.

Na oral fui confrontado com a primeira (e única) pergunta: fale-me do "imperativo categórico" de Kant. Iniciei uma dissertação acerca do tema! A examinadora considerou a resposta insuficiente. Insistiu no tema. Eu titubeie. Não era (nem sou) um especialista em Kant mas - que diabo - tinha estudado a matéria. Mas a examinadora é que não mudava de tema! Fale-me do "imperativo categórico" de Kant! Se bem me lembro tentei de novo satisfazer a exigência. Em vão! Percebi, então, que nada iria resultar. Estava condenado a chumbar fosse qual fosse o meu desempenho!

Levantei-me e saí da sala perante o espanto dos meus colegas que assistiam à cena. Desci a avenida e fui tomar um café na esplanada da Gardy, que ainda lá está apesar dos factos se terem passado à quase 40 anos, na baixa de Faro. O chumbo era certo! Não valia a pena ir ver a pauta. Eu era um pouco irreverente (talvez mesmo bastante irreverente) é verdade! Não dominava de cor as matérias todas! É verdade! Mas na segunda época de exames obtive na escrita a nota de 18 na mesmíssima disciplina de filosofia! Assunto arrumado.

A professora que me sujeitou aquela humilhação oral já faleceu. Nunca cheguei a saber, nem saberei, das verdadeiras razões daquele inusitado chumbo! Mas hoje ao ler o trabalho, limpo e clarividente, do Público, acerca de Kant, a minha memória retomou o caminho da explicação para o chumbo: "Com o seu "Imperativo Categórico" Kant estabeleceu um novo princípio ético: introduziu a ideia de que a moral é algo inerente à estrutura da razão, não decorrendo portanto, por exemplo, de imperativos religiosos. Segundo ele, cada homem deverá actuar de forma a que cada um dos seus actos possa ser tomado como princípio universal. Cada um desses gestos é um objectivo e um fim em si mesmo, não um meio para um outro fim (como o "Bem" praticado na religião católica que surge como uma forma de atingir a salvação). Para Kant, o gesto imoral acontece quando alguém tenta estabelecer para os outros um padrão de comportamento diferente daquele que ele próprio adopta."

Hoje estou convicto (não me atrevo a dizer: estou certo!) que a razão do chumbo naquela oral está sintetizado neste texto, de Vanessa Rato, no Público, acerca do "imperativo categórico". Hoje, como ontem, o mundo está repleto de "gestos imorais", ou seja, de gente que julga o comportamento do outros por critérios que se dispensam de aplicar a si próprios.


A notícia mais importante do dia


Título do "Público":
"Bactéria multi-resistente congela admissões no Hospital de Pombal"

Entrou para o governo?

quarta-feira, fevereiro 11

Oportunismo Amorfo ou o (Des)Envolvimento


O Parapente em Linhares vai acabar?

Fui supreendido com algo que chegou à minha caixa de correio e em que não queria acreditar. Fiquei perplexo, para não dizer coisa pior. Então não é que começaram a cobrar 3 euros a cada praticante de parapente que põe os pés na aldeia serrana de Linhares da Beira, mais concretamente, na aterragem oficial da capital do voo livre Portuguesa?? Inacreditável !!

Recentemente foi ganha uma dura batalha contra interesses privados de instalação de um parque eólico, precisamente por se defender um modelo de desenvolvimento para o local (e região envolvente) que passa pelo aproveitamento das (excelentes) condições geomorfológicas e de aerologia para a prática daquela modalidade, que atrai inumeros visitantes ao longo do ano. Um dos poucos locais que possui recursos endógenos para a sua dinamização económica, social e turística.

Ao ler um texto do Vitor Baía, pioneiro da modalidade no local e durante muitos anos responsável pela Escola de Parapente do INATEL em Linhares (que deixou recentemente), publicado no Forum dos Parapentistas Portugueses (só este fórum tem 380 praticantes), relembro o tortuoso percurso de afirmação daquela modalidade e daquele local como referência nacional e internacional, e concluo que na situação a que se assiste, mesmo sabendo de que se trata de propriedade privada, se torna óbvio o oportunismo e a tentativa de lucro fácil por parte de quem, em desespero de causa, mais nada consegue ou sabe fazer. Só que este tipo de pessoas não se apercebe que será o fim do parapente em Linhares...

E assim se perderá todo o investimento financeiro e humano de mais de uma década (apoiado por dinheiros públicos nacionais e europeus).

É nestas situações que as entidades públicas podem e devem fazer a diferença, tomando atitudes que permitam continuar estratégias de desenvolvimento sustentáveis. Não quer isto dizer pactuar com chantagens ou oportunismos mas sim encontrar soluções alternativas que os impeçam. Haveria que encontrar uma alternativa viável áquele terreno de aterragem, e rápido. É triste ver o INATEL por um lado e os parapentistas por outro, a voltar as costas a Linhares da Beira e perceber que a aldeia e seus habitantes serão quem vai perder mais no meio disto tudo. Será que nem a Câmara Municipal, nem ninguém com responsabilidades, vêem isto ou fazem alguma coisa? Enfim…uma impressionante falta de visão, uma atitude amorfa de quem parece querer compactuar com a situação. Será este o fim de um dos projectos de desenvolvimento local de referência, como era o da aldeia histórica de Linhares da Beira? Espero que não.

Pedro Brilhante Pedrosa

terça-feira, fevereiro 10

Estranhas notícias


"Portugueses preocupados com economia são os menos satisfeitos da UE

Os portugueses são a população da União Europeia (UE) menos satisfeita com a sua vida, sentimento negativo que poderá estar relacionado, em parte, com a situação económica de Portugal, conclui o último Eurobarómetro, divulgado esta terça-feira.
Segundo o documento, "56% dos portugueses sentem-se satisfeitos com a sua vida, a percentagem mais baixa obtida por este indicador desde 1989 e consideravelmente inferior à média da UE, que é de 79%".
O Eurobarómetro - instrumento de medida da opinião pública utilizado regularmente pela Comissão Europeia - indica que os gregos são o segundo povo da UE menos satisfeito com a vida que leva, seguidos pelos alemães e os franceses.
Os países nórdicos - Dinamarca, Suécia, Finlândia e Países Baixos - destacam-se dos restantes estados-membros por registarem as percentagens de satisfação com a vida mais elevadas." Lusa
É curioso que ainda ontem foi divulgada uma sondagem na qual se pretendeu fazer passar a ideia de que os portugueses estavam muito contentes com as medidas tomadas pelo Governo nas áreas económica e financeira

" David Kay considera inútil procurar armas de destruição maciça no Iraque

O ex-chefe do grupo de peritos encarregues de encontrar armas de destruição em massa (ADM) no Iraque David Kay afirmou terça-feira ser inútil continuar a procurar estas armas naquele país, porque elas "não existem".
Contrariamente ao que afirmou o secretário da Defesa norte- americano, Donald Rumsfeld, tentar encontrar estas armas no Iraque "é provavelmente a pior aproximação, a pior estratégia", declarou Kay em conferência de imprensa.
"O Iraque é maior do que a Califórnia e Bagdad é maior que Los Angeles", acrescentou Kay.
"Estou certo de que em 20 anos, ou mesmo em 50 anos, as pessoas continuarão a escavar" para tentar encontrar alguma coisa, disse David Kay, reafirmando que "não existem realmente" ADM no Iraque." Lusa
É inútil continuar a afirmar que é inútil procurar as armas de destruição maçica no Iraque pois a administração americana (e inglesa, espanhola, polaca, portuguesa..., até às eleições respectivas, vão continuar a campanha militar e sempre se descobrem...uns documentos, enfim, isto vai durar ainda uns tempos largos. Mas o petróleo continua no local.







A mais importante notícia do dia


"COMISSÃO EUROPEIA

Fundos comunitários mudam de prioridades
A União Europeia inicia, esta terça-feira, o debate do pacote financeiro de 2007/2013. Em vez de se apostar no betão, os fundos comunitários viram-se agora para a formação e tecnologia. Portugal não deverá sofrer cortes significativos."


A notícia pretende ser optimista. Compreendo. As eleições europeias estão próximas. Compreendo. Hoje saíram muitas notícias acerca do eventual cabeça de lista do PS: Sousa Franco. Compreendo. Portugal não vai perder, no futuro quadro comunitário de apoio, fundos...mas pode perder fundos...Não compreendo. É preciso dar ânimo ao país. Compreendo. Mas que diabo de confusão...a uma observação mais detalhada não se entende nada. Deu para fazer uma manchete. As regiões mais "ricas", parte da região de Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Madeira, não vão perder fundos… mas vão perder fundos. Os fundos não vão mais apoiar o betão (inclui-se o exemplo das estradas e pavilhões gimnodesportivos), vai ser dado privilégio á educação, formação e novas tecnologias...Mas já ouvi esta história outras vezes, em qualquer lado. Bom o melhor é apresentarem dados estatísticos comparativos. Mostrar a cara dos nossos negociadores. Algo de concreto. Para que todos nós não fiquemos como quando ouvimos as "conversas em família" do Prof. Marcelo: com a sensação de que ele fala sempre verdade excepto nos assuntos que conhecemos a fundo...em que é tudo mentira. Era um grande favor que todos os portugueses e instituições (governo, oposição, comunicação social, parceiros sociais...) tratassem este tema, de verdadeiro alcance estratégico nacional, a sério. Obrigado.

50 Anos


Duas amigais - dois jantares de celebração de 50 anos. Duas mulheres interessantes nos planos pessoal e profissional. Ambas mantêm excelentes formas (e belezas) física e intelectual. MM e MAB levaram os amigos - muitos - a jantar em dois belos lugares de Lisboa. MM levou-nos ao Museu da Água, magnífico espaço, do tipo industrial, muito bem cuidado, mas pouco conhecido, ali na zona da Calçada dos Barbadinhos, perto de Santa Apolónia. Tudo o que é bom, no nosso país, parece que tem de ser esconjurado ou escondido... MAB optou por um pequeno Restaurante na Rua da Esperança. Neste caso uma zona que me é familiar. Percebi que os "Caracóis da Esperança" fecharam. Na minha juventude fiz, vezes sem conta, os caminhos daquele Bairro a pé. A deambulação nocturna, da noite passada, fez-me regressar à Rua das Trinas - levando-me à porta de uma casa que frequentei durante meses e onde alberguei, no meu quarto, um amigo desertor que se me apresentou sem aviso prévio - levou-me a passear pelas transversais, estreitas e silenciosas, com estendais carregados de roupas (e carros estacionados a eito) e levou-me a revisitar a Rua do Quelhas. Muitos anos da minha vida - dos melhores - passaram, naqueles minutos, em flash, pela minha cabeça e ouvi, na distância de tantos anos, a esperança dos meus passos que julguei servirem para a salvação do mundo… obrigado às duas.

Soneto

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.

Carlos de Oliveira

In "Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa"
de Eugénio de andrade


segunda-feira, fevereiro 9

Cadernos de Camus - 7


Estes são os últimos sublinhados do Caderno nº5 para os Cadernos de Camus. Neste conjunto de excertos acrescentei um único texto não sublinhado na minha leitura de juventude. É exactamente o que encerra o Caderno n.º5. Acrescento uma remissão para LUKÁCS, referido no conjunto anterior, para quem estiver interessado em o conhecer ou revisitar.

""O que existe na Rússia é uma liberdade colectiva "total" e não pessoal. Mas que é uma liberdade total? É-se livre de alguma coisa - em relação a. Visivelmente, o limite é a liberdade em relação a Deus. Vê-se então claramente que essa liberdade significa a sujeição ao homem.""

"Peça Dora: Se tu não amas ninguém, isso não pode vir a acabar bem."
(Mais uma vez a peça "Os Justos", assim como nalguns excertos que surgirão a seguir.)

""Quantos eram os membros da "Vontade do povo"? 500. E o Império Russo? Mais de cem milhões.""
(Sublinhei somente "500")

""Vera Figner: "Eu devia viver, viver para ser julgada, pois o processo coroa a actividade do revolucionário.""

""Peça. Dora ou outra: "Condenados, condenados a serem heróis e santos. Heróis à força. Por isso não nos interessa, compreendem, não nos interessam nada os sórdidos negócios deste mundo envenenado e estúpido que se pega a nós como visco. - Confessai, confessai-o, que o que vos interessa são os seres e o seu rosto... E que, pretendendo procurar uma verdade, não esperais no fim de contas senão amor.""

"É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos."

"Formas e revolta. Dar uma forma aquilo que é informe, é o fim de toda a obra. Não há apenas criação, mas correcção (ver mais acima). Daí a importância da forma. Daí a necessidade de um estilo para cada assunto, não de todo diferente porque a língua do autor é sempre sua. E é justamente esta que fará quebrar não a unidade deste ou daquele livro mas a da obra inteira."

"Retirei-me do mundo não porque tivesse inimigos, mas porque tinha amigos. Não que eles não me fossem prestáveis como é habitual, mas julgavam-me melhor do que sou. É uma mentira que eu não posso suportar"

"Para os cristãos, a Revelação está no início da história. Para os marxistas, está no fim. Duas religiões."
(Coloquei ? no fim da frase)

"Pequena baía antes de Tenés, na base de uma cadeia de montanhas. Semicírculo perfeito. Ao cair da noite uma plenitude angustiada plana sobre as águas silenciosas. Compreende-se então porque é que os Gregos formaram a ideia do desespero e da tragédia sempre através da beleza e do que nela há de opressivo. É uma tragédia que culmina. Ao passo que o espírito moderno produz o seu desespero a partir da fealdade e do medíocre.
É o que Char quer dizer talvez. Para os Gregos, a beleza é o ponto de partida. Para um europeu, é um fim, raramente atingido. Não sou moderno."

"Verdade deste século: À força de vivermos grandes experiências, tornamo-nos mentirosos. Acabar com tudo o mais e dizer o que tenho de mais profundo."

Extractos, in "Cadernos" (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº5 (Setembro de 1945/ Abril de 1948).





(Dos mentirosos)


"E não há nada onde a força de um cavalo melhor se conheça do que ao fazer uma paragem súbita."
Camus, ainda a propósito das justificações para a guerra no Iraque.

sexta-feira, fevereiro 6

Igual - desigual

Eu desconfiava:
Todas as histórias em quadrinhos são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os "best-sellers" são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas, e rondóis são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais, iguais, iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.

Carlos Drummond de Andrade


A mais importante notícia do dia

CIA Nunca Considerou o Iraque Uma "Ameaça Iminente"

O Público dá notícia que George Tenet, o director da CIA, afirmou ontem que os analistas da agência "nunca disseram que havia uma ameaça iminente" no Iraque antes da guerra, defendeu o trabalho e as conclusões dos serviços secretos mas, ao mesmo tempo, ilibou a Administração Bush de pressões para que fosse exagerada a ameaça colocada pelo arsenal de Saddam Hussein.
Já toda a gente percebeu...uns mais cedo, outros mais tarde, que os argumentos invocados para justificar a guerra contra o Iraque eram falsos, mas o petróleo permanece no local, não é?

Os favoritos de um iniciado...

Os meus favoritos resultam de uma escolha que, por sua vez, resulta da vontade, do acaso, da tradição, do preconceito, do conhecimento prévio, do tempo disponível e do facto, determinante, da minha capacidade de conhecimento ser limitada. Quando dou uma volta pela imensidão da internet - blogosfera incluída - fico estarrecido com a pequenez do nosso contributo individual no caudal de informação que deveria aplacar a ignorância e parece adensá-la quanto mais informação se liberta. Sem falar, claro, da contra-informação. A nossa ignorância é um mar imenso no qual emergem poucas ilhas paradisíacas de conhecimento e sabedoria. Quando, por exemplo, passo a limpo os sublinhados dos "Cadernos de Camus" buscando, através da net, informações actualizadas, acerca dos escritores, pensadores e filósofos citados, fico surpreendido. O manancial de informação, acerca de cada um deles, pela sua extensão e detalhe, é quase irreal. Ainda bem, dirão os investigadores devotos da net, e eu estou de acordo. Nesta coisa da informação mais vale o mais do que o menos. Mais vale a liberdade, com erros, do que a correcção, com omissões impostas pela censura, seja qual for a sua natureza. Mas afinal só queria dar-vos a conhecer os favoritos de um iniciado no universo dos blogs. Quais são os meus favoritos no dia de hoje? O Abrupto (uma referência intelectual livre, crítica de si mesma) os Cadernos de Camus (um projecto interessante, no qual participo) a Causa Nossa (uma referência política não dogmática, crítica do maioria) o BlogDaMiuda (uma referência individual, crítica do quotidiano) o Turing-Machine (referência inicial do absorto, uma amizade solidária). Nos últimos dias fiquei fiel de outros dois: o Noparapeito e o recém-nascido EscritanaMesa. Espero que os editores respectivos escrevam mais que os conheço e sei que a escrever são águias... E basta…

quinta-feira, fevereiro 5

"Vivam, apenas"


Vivam, apenas.
Sejam bons como o sol.
Livres como o vento.
Naturais como as fontes.
Imitem as árvores dos caminhos
que dão flores e frutos
sem complicações.
Mas não queiram convencer os cardos
a transformar os espinhos
em rosas e canções.
E principalmente não pensem na Morte.
Não sofram por causa dos cadáveres
que só são belos
quando se desenham na terra em flores.
Vivam, apenas.
A Morte é para os mortos!

José Gomes Ferreira
Poesia I (1948)

A mais importante notícia do dia - Entre os Rios

(...)"Os familiares das vítimas da queda da ponte de Entre-os- Rios estão satisfeitos com um relatório, divulgado esta quinta-feira, que atribui a culpa do incidente à extracção de areias no rio Douro, mas os areeiros rejeitam responsabilidades.
O relatório pericial sobre as causas da queda da ponte de Entre-os-Rios solicitado pelo Tribunal de Castelo de Paiva, revelado pelo Jornal de Notícias, indica que a extracção de areias contribuiu em 80% para o rebaixamento do leito do rio e foi a causa principal do incidente.
O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas da Queda da Ponte de Entre-os-Rios, Horácio Moreira, referiu que a organização "está satisfeita" com o novo relatório, porque o processo tem sido bastante moroso, mas "nota-se agora que a justiça funciona", após três anos.
Diferente é a interpretação de quem defende os areeiros, como é o caso do advogado Nelson Correia, para quem a erosão do Rio Douro pode ter como causa a extracção de areias, sem que isso signifique a responsabilidade dos areeiros pela queda da Ponte de Entre-os-Rios." (LUSA)
Um caso exemplar de "desenvolvimento in-sustentável". Quando começou o processo de extracção das areias? Quem autorizou? Quem beneficiou?












quarta-feira, fevereiro 4

Jacques Delors


Este é um político experiente ao qual, pelo seu passado de acção política em prol da construção europeia, se deve dar muita atenção.

"É sempre preciso partir de um consenso dinâmico."

"A Europa tem uma escolha entre a marginalização ou a sobrevivência, o declínio ou a sobrevivência. Porque o mundo anda depressa. No plano tecnológico, económico, das relações geopolíticas."

"...três finalidades da construção europeia: a paz, a modernização económica e a existência política. É preciso acrescentar um outro: a coesão económica e social."

"O que digo é que é preciso praticar a linguagem da verdade perante os cidadãos. Dizer-lhes o que pensamos e respeitá-los, mas é também fazer apelo à sua inteligência e à sua razão."

"Se tivéssemos esperado que os quinze estivessem de acordo ainda hoje não teríamos o euro. É tão simples como isto. Não é a Europa a duas velocidades. Mas hoje o clima é de tal ordem que não deixa passar nenhuma ideia positiva."

"Depois da queda do muro, o medo era grande. Dizia-se que ia haver confrontos, milhares de mortos. Nada disso aconteceu. Um pouco por sorte, mas também graças á sabedoria de muitos homens e mulheres que eram responsáveis na altura.(...) Isso serve para dizer aos jovens que a política nem sequer é desencorajadora, que há momentos de grandeza, que não estamos condenados à regressão, ao crime, às guerras, ao ódio."

(Excertos da entrevista ao Público de 4 de Fevereiro de 2004)



Para a Rita com amor



A Rita descobriu o absorto e eu descobri a Rita. Aqui está o programa do absorto que a Rita destacou hoje, 4 de Fevereiro, um dia especial para mim. É um texto do género prosa poética que estabelece a coluna vertebral desta intervenção pública.

Deixar uma marca

Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado,
sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez
no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão
olhando o mundo e tomando a medida exacta
da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus,
usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós
porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra,
a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino
e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar,
mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte
ou á lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular
ou da espingarda apontada á fronte
do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador
que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação
e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente á terra atapetada de flores de amendoeira
em silêncio e paz.


A mais importante notícia do dia


O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, reconheceu quarta-feira perante a Câmara dos Comuns que, ao contrário do que esperava, o Grupo de Inspecções no Iraque (ISG) "não encontrou armas prontas para serem imediatamente utilizadas".
"Admito que o ISG não encontrou o que eu e muitas outras pessoas, como David Kay (ex-chefe do ISG), esperavam que encontrasse, isto é, armas prontas para serem imediatamente utilizadas", declarou Tony Blair, num debate consagrado ao relatório Hutton sobre o suicídio do especialista em armamento David Kelly, em Julho passado.
(Notícia da LUSA)
Sem comentários...