quinta-feira, maio 20

CV - 5

SORVETE - "Eu não: quero é uma realidade inventada"

Esta ideia de dar a conhecer blogs do Brasil e depois de outras paragens, nunca se sabe, tem um fascínio muito especial. Colocar ao alcance de um clice realidades que estão do lado de fora do nosso quotidiano é algo que (me) nos reconcilia com o mundo.

A mim, pelo menos, diverte-me. Para gerar comunicação, por via da blogosfera, na qual sou um novato, temos, de alguma forma, de fracturar a linguagem oficial do blog. Sem nos darmos conta, ao gerir a realidade de um blog, criamos um estatuto formal (ia dizer oficial) de nós mesmos.

Nada de mais aborrecido, por vezes, mesmo desmotivador. A maior parte dos blogs - ou todos - não conseguem fugir a esta verdadeira fatalidade. É para contrariar este risco iminente, em cada palavra e imagem que se projecta, que sou levado a publicar, por exemplo, "textos antigos" como os de Roland Barthes e Albert Camus. Além da poesia que radica noutras motivações que não vêm ao caso.

Claro que os textos dos autores "clássicos" que publico me interessam e fascinam, em si mesmos, mas a sua linguagem não segue as regras da minha própria linguagem. É outra a linguagem deles pela via dos talentos autorais e/ou do tempo em que foram escritos.

Há naturalmente diversos processos que permitem perturbar o discurso dominante de um blog. Vou experimenta-los com o tempo. Se o tempo, claro, estiver de acordo com a minha vontade e me der tempo.

E em consequência aqui vai outro blog do Brasil. Este mais antigo e, talvez, mais convencional mas, a meu ver, interessante. É o sorvete. Ora vejam.


quarta-feira, maio 19

Imigração

100% de acordo.

Francisco Sarsfield Cabral escreve acerca dos imigrantes. Outro dia fiz-lhe uma crítica. Outros também escreveram mostrando desagrado pelo uso despropositado da palavra "poeta" que FSC utilizou numa crónica.

Mas FSC é um dos "10 grandes educadores da opinião pública portuguesa" que toda a gente respeita. Nessa mesma coluna do Diário de Nptícias, hoje, FSC anota que o Alentejo está a ser repovoado pelos imigrantes.

Afirma sem rodeios que a imigração é um factor de desenvolvimento do país. Tenho sustentado este ponto de vista. Estou 100% de acordo com o que diz FSC acerca deste tema. Afinal ele também tem alma de poeta.


Justiça - Uma Galeria de Horrores

Somos um país de gente medrosa, diz o Bastonário da Ordem dos Advogados. A Justiça é uma galeria de horrores.

Hoje tirei o dia para concordar. Estou 200% de acordo.

5 MESES DE ABSORTO

Neste dia em que o absorto faz 5 meses de vida aqui deixo o tributo ao grande poeta português Fernando Pessoa reproduzindo o poema "Tabacaria" do seu heterónimo Álvaro de Campos. Logo nos primeiros versos Pessoa se aproxima de uma reflexão intemporal que, paradoxalmente, ou talvez não, tem tudo a ver com a realidade do ser solitário face ao desconhecimento de nós próprios. "Tabacaria" é um exercício poético que tem muito a ver com a ideia de criação do "absorto". A edição que trago comigo é de bolso, modelo popular, da ITAU, foi-me oferecida e tem uma dedicatória: "23 de Maio 81 (Feira do Livro) Um beijão do bus."

TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
...

15-01-1928

A versão integral de "Tabacaria" pode ser lida aqui


CV - 4

Pentimento

Continuando a digressão prometida, com ajuda da colombina, aqui está outro blog do Brasil: Pentimento - Segredos de liquidificador... Sem texto de entrada como o absorto. Para meu gosto, muito bom.

terça-feira, maio 18

O CORPO EXPEDICIONÁRIO PORTUGUÊS

Logo após a edição do meu post "A fé na propaganda" no abébia vadia, como se fora uma ilustração, está disponível a publicação "IMAGENS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL".

Na 1ª Grande Guerra (1914/18), de facto, Portugal enviou para a Flandes 38.000 soldados e 1.551 oficiais. Dois mil mortos, cinco mil feridos e 6.000 prisioneiros. O horror da guerra fora de portas. O fotógrafo Arnaldo Rodrigues Garcez estava lá.

Fragmentos de Leituras

"Uma sociedade de emissores

Vivo numa sociedade de emissores (sendo eu um deles): cada pessoa que encontro, ou que me escreve, envia-me um livro, um texto, um apanhado, um prospecto, um convite para um espectáculo, para uma exposição, etc. O prazer de escrever, de produzir, aperta por todos os lados; mas, uma vez que o circuito é comercial, a produção livre permanece asfixiada, aflita e como desvairada: na maior parte das vezes, os textos, os espectáculos vão para onde não são solicitados; encontram, por seu mal, "relações", e não amigos e ainda menos parceiros; o que faz que essa espécie de ejaculação colectiva da escrita, na qual poderia ver-se a cena utópica duma sociedade livre (em que o prazer circulasse sem passar pelo dinheiro), tenda hoje para o apocalipse."

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 10
(Fragmento 1 de 2, pag. 6)

Edição portuguesa: "Edições 70"

CV (3)

SONHO

O texto de apresentação deste blog de Ernesto Diniz é assim: "O que é sonho? Tudo que você pode tocar, cheirar, sentir, apenas e simplesmente parte de você e do (seu) mundo, está logo abaixo dos seus dedos e entre suas pernas, um pouco no coração, na alma, brincando de fazer difícil ou acontecer. É a ponta da lança, é o coração."

Vejam aqui Sonho um blog muito bem apresentado, e melhor escrito, da série que anunciei. Um passeio guiado por blogs do Brasil, com a ajuda de Colombina.

segunda-feira, maio 17

Vistas de Rua (3)

Lisboa, 9 da manhã. Na sexta-feira passada fiz um percurso singular. Tomei o Metro em Telheiras. Percorri toda a "linha verde" até ao Cais do Sodré. Tudo bem, sem demoras nem enchentes, apesar de ser "hora de ponta". Saí e caminhei a pé na direcção de Alcântara. Não é a primeira vez que faço este percurso.

Mas hoje reparei que a Avenida 24 de Julho é um corredor de transportes puro. Dispõe de uma via rodoviária com 4 "faixas de rodagem", duas em cada sentido, uma via para eléctricos e autocarros, uma em cada sentido, uma via para comboios, uma em cada sentido, uma outra via rodoviária, no interior, junto à ferrovia, duas em cada sentido (com variantes).

No percurso a pé de cerca de 20 minutos, não encontrei uma só pessoa a não ser mesmo no início, junto à estação do Cais do Sodré e, no fim, próximo do cruzamento com a Infante Santo. Um deserto de pessoas, de árvores dignas desse nome, de sombras, de vistas sobre o Tejo que corre ali tão perto .

Apesar de todas as iniciativas para "recuperar" o rio para a cidade a Avenida continua a ser um muro (quase) intransponível no acesso ao rio. No entanto à noite a avenida ressuscita. O rio indiferente continua, majestoso, a correr na direcção da foz.

Sequência Infernal

Era esta a sequência das notícias no Correio da Manhã online cerca do meio dia e meia de hoje:

"Assassinado dirigente político iraquiano"
"Greve na Maternidade Alfredo da Costa"
"Concordata Assinada" (na minha primeira leitura até li "assassinada"!)
"Greve Judicial Atrasa Julgamentos"
"Assassinada por Iraquiano" (manchete de primeira página na edição em papel)
"Benfiquista Baleado"
"Soldados matam Palestinianos" ...

Não há por onde escolher... a imprensa em geral, e os tablóides em particular, tem sede de sangue...sangue.... muito sangue. O populismo a galope...

C.V. s (2)

Ora vejam aqui a apresentação de um blog com uma notável qualidade literária e humana para o qual faço um link.

Você não perguntou, mas...

"Colombina por opção, comunicadora por vocação, comunicativa de berço. 24 anos muito bem vividos, solteira, louca por vodca e sushi. Cinema. Chuva e pipoca. Sol e cerveja. Anéis e brincos de prata. Um piercing. Sete tatuagens. Não me basto, preciso do mundo. Olhos nos olhos. Beijos lentos. Sensível. Sem frescura. Ruiva de alma. Orquídeas. Preto e vermelho. Chico Buarque, Los Hermanos, Jorge Ben, Fernanda Young e Clarice Lispector na veia. Sempre."CV

domingo, maio 16

Equilíbrios

Vamos fazer um mini balanço, a meus olhos e sentimentos, da época futebolística que acaba de terminar, salvo o Euro que aí vem. O Farense desceu para a III Divisão, lembro-me muito bem de outras épocas em que tal aconteceu. Fiquei triste, mas outros tempos virão. O Olhanense, eterno rival do Farense, subiu para a II Liga de Honra. Um caminhou para baixo o outro caminhou em sentido contrário.

O Benfica acaba de ganhar a Taça, após 8 anos sem ganhar qualquer título, dividindo os títulos nacionais mais importantes com o FCP. Era desnecessário Mourinho ter feito declarações injustas e deselegantes na hora de derrota. O seu mau perder vai dar-lhe muitos desgostos em Inglaterra. Além do mais o FCP pode ganhar, espero que ganhe, o mais importante troféu das competições de clubes na Europa - a Taça dos Campeões.

Em tudo há um equilíbrio. Uns ganham e outros perdem. Uns descem e outros sobem. No desporto como na vida não se pode ganhar sempre, nem sempre se perde.

Vistas de Rua (2)

A minha rua é a Prof. Simões Raposo, fundador do IPO (Instituto Português de Oncologia), em Telheiras. Poucos sabem quem é? O esquecimento é mais habitual do que devia.

Na minha rua faltava construir um lote. Estaleiro à porta. Para durar. A coisa é grande. Uns poucos anos atrás ainda passeávamos nesta antiga quinta a ver as vacas pastar. Agora os camiões alinham-se em fila e retiram os entulhos do fundo do buraco que se afunda. O verde do prado sumiu. É o progresso.

A minha rua vai deixar de ter paisagem. Só vultos revolvendo-se no interior dos apartamentos - à frente, ao lado, por todos os lados. A minha rua está cheia de carros, ora parados, ora em movimento.

É preciso ter cuidado para não ser atropelado. É assim a minha rua dez anos passados. A minha rua é um estaleiro. E a obra só agora começou. Não me queixo. Observo.

Fragmentos de Leituras

"Para que serve a utopia
..., mas já depois veio a lume, ainda que imprecisa e cheia de dificuldades, uma filosofia pluralista: hostil à massificação, voltada para a diferença, em suma fourierista; a utopia (sempre mantida) consiste então em imaginar uma sociedade infinitamente parcelada, cuja divisão já não seria social e que, portanto, deixaria de ser conflitual."

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 10
(Fragmento 3 de 3, pag. 5)

Edição portuguesa: "Edições 70"

sexta-feira, maio 14

C.V. s (1)

Este é o texto de apresentação de um blog brasileiro. É o primeiro de uma série. Quem quiser que os procure. Não respondo pela sua idoneidade ideológica, nem me interessa.

GAROTA CAFEÍNA é uma moça de fino trato; made in the 80´s; blogueira incompetente; amiga dedicada; solteira-enrolada; ariana atípica; ruiva tingida; pseudo-intelectual; tímida-sociável; corintiana medíocre; roqueira enrustida; chocólatra convicta; ouvinte paciente; baladeira esporádica; internacionalista por formação; estudante indisciplinada; workholic assumida; são-bernardense orgulhosa; nada metódica; bastante impulsiva; tolerante ao extremo; pouco tradicionalista; quase racionalista; sempre perfumada; viciada em cafeína; louca por jogos de tabuleiro; frustrada por não ter um piercing na língua; nunca plantou uma árvore(só pezinhos de feijão); não é muito de contestar; não tem a menor pretensão de mudar o mundo, só seguir seu próprio caminho.
.

TAP/95 - UMA PEÇA NOTÁVEL

Se fosse preciso reinventar a corrente artística que ficou conhecida como "teatro do absurdo" esta notícia podia servir como fonte de inspiração. Conclusão da notícia: na TAP, em 1995, houve corrupção, corruptores e corrompidos. Mas, está bem de ver, não houve corrupção, corruptores e corrompidos!

Mas faltam detalhes à notícia. Situá-la no tempo político! Caracterizar as personagens e as suas relações! Esta peça está muito mal contada. Surge no dia em que Santana Lopes é apresentado como desistente do "sonho presidencial". Terá esta peça algo a ver com as próximas eleições presidenciais?

quinta-feira, maio 13

Previsões pessimistas

A OCDE prevê que Portugal apresente, em 2004, a mais baixa taxa de crescimento dos países da OCDE. O déficit público poderá atingir os 3,8%, cerca de 1% acima da previsão do governo português.

A previsão de crescimento económico, para Portugal, em 2004, é revista de 1,5% para 0,8%, abaixo dos países que apresentam as mais baixas taxas de crescimento (Países Baixos e Itália, com 0,9%). A taxa de desemprego crescerá de 6,4, em 2003, para 6,6 este ano. A inflação descerá de 3,3% para 2%.

A OCDE recomenda o lançamento de "outras reformas", em particular, do regime de aposentações e recomenda uma política de moderação salarial. Salvo a evolução da inflação, como factor positivo, não são nada encorajadoras estas previsões da OCDE. A retoma é condicionada fortemente pela evolução da economia europeia. A retoma em Portugal depende da procura externa (exportações) já que a procura interna ficou fortemente abalada pelo enfraquecimento da confiança dos agentes económicos e, em geral, dos consumidores portugueses.

A este quadro devem acrescentar-se os sinais, dos últimos dias, da evolução do preço do petróleo (em alta) e de instabilidade política resultante do conflito no Iraque e, em geral, no Médio Oriente.

Hoje é 13 de Maio, dia do milagre de Fátima. Oremos para que não venham dias ainda piores.

Opiniões de Leitores

Caro Eduardo Graça:
O senhor espicaça-nos a curiosidade com um poema que Xanana Gusmão escreveu, a seu pedido na prisão sobre o 25 de Abril e depois não o publica?
Faço-lhe o desafio e peço-lhe que o publique.
Cumprimentos
JR

Um dia destes publico o poema que Xanana Gusmão escreveu, em 1999, para o projecto "A poesia está na Rua", uma parceria entre o INATEL e a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto que se deveu à iniciativa e entusiasmo da Manuela Espírito Santo. É uma questão de o encontrar que está desencaminhado do dossier respectivo. Mas publico um outro, para o mesmo projecto, de Eugénio de Andrade:

APENAS ISSO

Dai-me ainda outro verão,
um verão do sul, redondo
lento maduro; um verão
de rolas frementes de cio,
de porosa alegria, de luz varrida
pela cal; dai-me
mais um verão rente à sombra
do pátio onde um rumor
cativo do poço sobe aos ramos;
um verão
limpo como o céu da boca;
mais dentro, mais fundo.

Ou por fim o silêncio.
Caindo a prumo.

Foz do Douro, 8/1/99

quarta-feira, maio 12

Vistas de Rua

Hoje as ruas de Lisboa estavam quase desertas de autocarros. Trabalhadores da Carris em greve. Viam-se poucos "alternativos". Na rua das Janelas Verdes, pela manhã, um carro "artilhado" da Brigada de Trânsito estaciona, bem à vista de todos, em cima do passeio e da passadeira de peões mesmo defronte do portão da sede da brigada.

Pelo início da tarde na Estação de "Santa Apolónia" o táxi que tomei arranca da paragem respectiva e é obrigado, para aceder à via principal, a fazer uma estranha manobra por cima de um passeio, atendendo a umas obras não sinalizadas.

O taxista diz-me que quando é obrigado a passar junto dos buracos do "Túnel do Marquez", se transporta turistas, lhes diz que se trata de uma importante descoberta arqueológica. O resultado é bom e prestigiante para a cidade de Lisboa


Fragmentos de Leituras

"A borboleteante

É espantoso o poder de diversão dum homem que se sente aborrecido, intimidado ou atrapalhado pelo seu trabalho: ao trabalhar no campo (em quê? A reler-se, ai de mim!), eis a lista de diversões que suscito de cinco em cinco minutos: vaporizar uma mosca, cortar as unhas, comer uma ameixa, ir mijar, verificar se a água da torneira continua a sair barrenta (hoje faltou a água), ir à farmácia, ir ao jardim para ver quantos abrunhos amadureceram já na árvore, ver o telejornal, confeccionar um dispositivo para segurar as minhas papeladas, etc. Deambulo. (A deambulação relaciona-se com essa paixão a que Fourier chamava a Variante, a Alternante, a Borboleteante.)"

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 9
(Fragmento 2 de 3, pag. 5)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Fuga para o centro

O Primeiro Ministro diz que não é de direita nem nunca foi. Supõe-se que também não é de esquerda. Estes casos costumam ser resolvidos com o recurso ao "centro".

Mas, na verdade, o centro não existe. Costuma dar-se o exemplo de Freitas do Amaral que seria um bom candidato a Presidente da República caso não fosse do centro. Rigorosamente do centro. Ninguém votaria nele. O centro é uma terra de ninguém.

O primeiro ministro precisa de dar entrevistas. Dizer coisas. Os seus estrategos dizem-lhe que precisa de aparecer. Não se pode apagar. O país precisa de estímulo. De confiança. Afinal a direita, em Portugal, não tem primeiro ministro que a represente. A direita que manda no Governo tem um nome:PP.

O Primeiro Ministro encetou uma fuga. Trata-se de uma fuga para o centro...que não existe...é o vazio...lê-se nos seus olhos...estão a ver onde isto vai levar...

terça-feira, maio 11

Imigração, Desemprego e Envelhecimento Activo

O artigo com o título em epígrafe pode ser lido aqui, clice em Semanário Económico

XANANA GUSMÃO

Ana Sousa Dias entrevistou Xanana Gusmão . Um Chefe de Estado que enverga as vestes de um cidadão. Uma autêntica lição de vida, bom senso e autenticidade.

Um dia, a propósito das celebrações do 25ª aniversário do 25 de Abril (1999), pedi a Xanana, através de Pascoela Barreto, um poema. Pascoela Barreto é a Embaixadora de Timor em Portugal tendo integrado a "Comissão para o Acolhimento e Integração Social da Comunidade Timorenses em Portugal", à qual presidi, a título gracioso, durante vários anos. O poema destinava-se ao projecto "A Poesia Está na Rua". Ele foi rápido na resposta e o poema original foi integrado na colectânea então organizada.

A humanidade e espírito de tolerância é a característica marcante da personalidade de Xanana Gusmão. Isso mesmo transpareceu ao longo de toda a entrevista. Relembrou a questão que se pôs a si próprio nos meandros da condução da luta de guerrilha: "Serei um assassino?". Uma questão difícil que raros homens de Estado seriam capazes de colocar em público.

Assim como as questões da conciliação do exercício do poder e da humanidade nas relações com os guerrilheiros e as populações: "Chorar ou não chorar". Como ganhar frieza para enfrentar a dizimação de uma força de milhares de homens reduzida a um punhado de 700.

Ficar isolado e esquecer o medo de morrer sem perder o medo de morrer. Entregar-se ao inimigo para salvar a luta de libertação de um povo. Deixar fluir a capacidade de entender todos os lados mesmo aqueles que, aparentemente, estão do outro lado.

Um exercício plenamente assumido de tolerância. Uma arte de ser humano sem perder a autoridade.


Comentários de Leitores

Caro Eduardo Graça:
Apreciei o seu post intitulado:Atrocidades. Pouco tenho a acrescentar ao que nos diz. Lamento, no entanto que não tenha dado um sublinhado maior ao seu último parágrafo sobre a dívida de honra que aquele galarote empertigado (que nunca foi à tropa mas que é hoje ministro de Estado e da Defesa) tem para com o Sr. Ramsfeld.
Permita-me fazer aqui uma pequena chamada de atenção para a declaração, sempre empertigada (claro está) do dito senhor que no dia do funeral do Sr. Champalimau. Dizia ele, que deviam haver 100 homens como Champalimaud em Portugal. Ao ouvi-lo lembrei-me, com ironia, que não me parece que moleques sem carácter e de jeitos amaneirados fossem do gosto do defunto e que Deus tenha a sua alma em descanso
Cumprimentos
MGGR

segunda-feira, maio 10

ATROCIDADES

"Fotos de sevícias a prisioneiros mostradas 2ªfeira a Bush no Pentágono

O presidente norte-americano, George W. Bush, viu segunda- feira uma selecção de fotos que mostram sevícias infligidas a prisioneiros iraquianos, durante a sua reunião no Pentágono com o secretário da Defesa Donald Rumsfeld, indicou um alto responsável da Defesa.

"O secretário (da Defesa) mostrou-lhe uma selecção bastante representativa", declarou este responsável. "Ele (Donald Rumsfeld) mostrou-lhe vários exemplos de actos" que eram cometidos, com fotos a cor de grande formato.

As fotos são descritas por este alto funcionário como "inquietantes" e estão entre aquelas que não foram ainda divulgadas ao público.

As fotos mostram humilhação de prisioneiros e "comportamento impróprio" de natureza sexual, disse a fonte.

Bush e outros altos responsáveis da administração tiveram segunda-feira no Pentágono uma reunião de informação sobre a situação no Iraque, que durou mais de uma hora.

O porta-voz do Pentágono, Larry DiRita, explicou que estavam em curso discussões entre o Pentágono e o Congresso norte-americano sobre a forma de tratar essas fotos e sobre a sua difusão ou não junto do público." - Lusa

As guerras são o horror institucionalizado. As guerras têm os seus heróis, muitas vezes, criminosos legitimados pela necessidade de sobreviver. Todos sabemos isso. Das revoluções se pode dizer o mesmo.

E em cada um dos campos em confronto, ao nível da propaganda, adoptam-se dispositivos para justificar as atrocidades. Quando se chega ao ponto de reconhecer as atrocidades é porque se não conseguiu escondê-las. Esse reconhecimento, ao contrário do que proclamam os "ex-liberais de esquerda", rendidos ao conservadorismo rastejante, que dominam a comunicação social portuguesa, não é uma vantagem das democracias.

Os chefes políticos, sejam democratas ou autocratas, das mais poderosas potências e dos mais poderosos exércitos consideram, em privado, uma tragédia ter de lidar com a verdade cruel das imagens que não conseguem esconder. Preferem assim usar a táctica do "contra-fogo". É trazer o horror para dentro da própria casa, de forma controlada, para limitar os danos da sua difusão descontrolada.

Bush tenta salvar-se salvando Rumsfeld e mostrando as imagens das atrocidades do seu exército que escolher mostrar. Esta operação de salvamento, em desespero de causa, fez-me lembrar que o nosso Ministro da Defesa recebeu uma visita, de alguns minutos, do seu homólogo Rumsfeld, por acaso, na véspera de ser ouvido como testemunha no "Caso Moderna". Agora é Rumsfeld que passa por uma hora difícil. Espera-se que, a qualquer momento, o nosso Ministro retribua com uma visita breve ao seu amigo americano dando-lhe o conforto de uma palavra de ânimo.

Assim ficariam quites. Mas têm de se "despachar" caso contrário pode ser tarde demais para ambos.

Fragmentos de Leituras

"Ao piano, a dedilhação...

...Ora eu toco mal - além da ausência de velocidade, que é um puro problema muscular - é porque nunca respeito a dedilhação indicada: improviso, em cada nova execução, como posso, o lugar dos meus dados, e por isso não consigo tocar nada sem erros. A razão disto reside evidentemente no facto de eu desejar um prazer sonoro imediato e recusar a massada da amestragem, pois o treino impede o prazer - ainda que, dizem, com vista a um maior prazer ulterior (tal como os Deuses a Orfeu, diz-se ao pianista: não se volte prematuramente para os efeitos da sua execução). A peça, na perfeição sonora que para ela imaginamos sem nunca a atingir realmente, age então como uma ponta de fantasma: submeto-me alegremente à palavra de ordem do fantasma: "imediatamente", ainda que seja à custa duma perda considerável de realidade."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -8
(Fragmento 1 de 3, pag. 5)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Na página cinco deste "livro artesanal" surge o meu primeiro comentário com interesse: "o prazer de comunicar uma leitura (difícil) mas apaixonadamente atraente." Fica, assim, explicada a razão de ser da empresa a que me dediquei.


(Este post é a versão correcta do que surge a seguir que será apagado quando conseguir resolver um inopinado problema técnico)

JOAQUIM AGOSTINHO

Passam hoje vinte anos desde o dia da morte de Joaquim Agostinho. O Diário de Notícias não esqueceu a data. Ainda bem. Uma lenda do desporto português do século XX. O maior ciclista português de sempre.

A sua morte foi um acontecimento traumático para a sociedade portuguesa. Eu senti a sua morte como uma profunda injustiça. Como a pior traição que uma sociedade egoísta de um país atrasado pode perpetrar contra um dos seus melhores filhos.

Esse país tem o nome de Portugal e não mudou assim tanto ao longo destes 20 anos. Hoje abro uma excepção em memória de Joaquim Agostinho. Publico um texto que escrevi no dia da sua morte e que integra o meu livro de estreia.

Homenagem a Joaquim Agostinho no dia da sua morte

De repente damo-nos conta de que país é este, pequeno pobre e triste país. O sul fica a milhares de kilómetros do centro, o norte toca no pólo, as fronteiras alargam-se de ponta a ponta do universo. Um deserto com gente de sentimentos, esquimós e ursos, um requinte de civilização universal, modelo último que todos procuram seguir. Gente atenta e versátil olhando a comunidade e honrando as responsabilidades e os deveres. Para quê tarefas e lugares definidos? A todos a sua opinião! Para quê iniciativas e esforços abnegados? Todos temos projectos sem fim, grandiosos e bem sucedidos! Tudo marcha à medida da nossa grandeza! Para quê heróis e mitos ou gerações triunfantes? Todos somos candidatos a heróis e todas as gerações tiveram os seus dias de glória! Preservar as riquezas para quê? Só há um tipo de riqueza: a nossa própria. Um só tipo de liberdade: a de lhe fazermos o que nos apetecer de preferência não a gozar nem deixar que o país dela goze. Empresários somos dos nossos próprios detritos. Libertadores somos das nossas responsabilidades. Deixemos morrer os heróis às suas mãos! O país morrerá com eles na incúria dos seus gestos envergonhados que se crispam de espanto a cada nova perda. Um país que morre em paz. Um coma profundo de que poucos se dão conta. Um horizonte de desesperança sem fim. Deixem-no morrer em paz. Ele se fez a si próprio. Atravessou gerações sempre no topo. Conquistou admirações em todo o lugar que regou com o seu suor. Fez-nos sonhar e nada lhe podemos dar agora. Oito horas são muito tempo. De quem é a culpa? De todos e de ninguém!

(In "Ir pela sua mão" - Editora Ausência)

Despromoções e Sucessos

A minha escassa informação desportiva deste fim-de-semana deu para perceber que o F.C. Porto fez a festa de campeão, o Benfica arrancou um segundo lugar, o Sporting foi o grande derrotado da época e o Belenenses não desceu. Parabéns ao Ludgero. Esta foi, certamente, a mais importante notícia do dia para ele. Do Farense não sei nada mas o destino deve estar traçado: 3ª Divisão.

Mas verdadeiramente importante foi a classificação para os Jogos Olímpicos de Atenas da Naide Gomes que vai ser uma fonte de alegrias para os portugueses nos próximos anos. Espera-se, é claro, ter alguma informação acerca dos seus sucessos sempre "tapados" pelas notícias vorazes do futebol.

Aniversário

Hoje (9 de Maio) é o dia de aniversário da Guida. Juntando outro compromisso familiar fizemos, no fim-de-semana, uma viagem "cá dentro". A comemoração foi cumprida como ela queria. Sem festejos, assumidos como tal, mas num ambiente de viagem. Aqui ficam os meus parabéns (versão publica). Pois sabem que ela não tem um blog mas foi a principal responsável pelo título do Abébia (depois vadia).

O passeio foi descontraído e ameno. De feição (es)cultural na designação de meu filho MM. De comboio e com a chuva a ameaçar de princípio. Mas com o passar do tempo o sol facilitou as deambulações. O comboio é um amigo do viajante e os táxis cumprem quando se tem sorte e foi o caso. Converso com os taxistas. Compreende-se, nessas conversas, o Estado da Nação. É mau. Está confirmado. O estado da "família alargada" é, pelo contrário, razoável, senão mesmo bom.

Até encontrei, como já sabia que ia encontrar, a "Miúda" que edita um blog estupendo. Conversamos pouco. Fica para a próxima. As prendas foram compradas no destino e ofertadas na hora. Não falhamos os objectivos traçados. No balanço comprei, para mim, o último livro editado do Gastão Cruz:"Repercussão". É um poeta universal mas natural da minha terra, que é a terra da Guida, Faro. Ele foi até meu explicador, julgo que de Francês, certamente, no meu atribulado 4º ano do liceu.

Na viagem de regresso li-o. Tem muitas ressonâncias que eu próprio identifico com os lugares que adivinho conhecer e os ambientes que foram aqueles em que vivi a infância e adolescência. Aqui fica um poema, curto, desse livro:

ENTÃO A VOZ

Então a voz passou por cima
do oceano
e era som de vagas

o mesmo som ouvido nos verões
quando a luz sobre a pele
se transformava em água


quinta-feira, maio 6

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

É surpreendente a capacidade para descobrir o já descoberto. As notícias da presidência aberta acerca do "estado da educação" são pontuadas, aqui e ali, por uma ignorância profunda dos jornalistas que asseguram a cobertura. A realidade resiste a ser descoberta desde que não esteja no terreno do interdito, ou seja, do socialmente escandaloso.

O estereótipo das antigas "escolas técnicas" substitui no imaginário colectivo a realidade do presente ensino profissional. Não há já em lado nenhum o antigo "ensino técnico". Deixou marcas mas morreu. Não se recomenda. Era fruto de uma cultura elitista. Eu fiz exame de admissão, como os jovens da minha geração que concluíam a 4ª classe, ao liceu e à "escola técnica". Passei nos dois. Fui para o liceu!

Havia uma profunda diferenciação social e de expectativas de futuro entre uma e outra opção. O acesso à escola massificou-se, ao longo dos anos 60, explodindo depois do 25 de Abril.

Hoje existe, em Portugal, ensino tecnológico e profissional, frequentado por 30% dos alunos do Ensino Secundário. No ano lectivo de 2003/2004 frequentavam o Ensino Secundário Regular 277.883 alunos, sendo que destes 83.469 frequentaram o ensino tecnológico e profissional. Destes, 31.702 frequentam 264 Escolas Profissionais. (Os números são referentes a Portugal Continental).

Em 1989 o número de alunos que frequentavam o Ensino profissional era próximo de zero. Estamos afastados da meta dos 50% mas em 14 anos atingir os 30% é obra. Não sejamos masoquistas. A questão do abandono escolar é outro assunto. Mas o ensino profissional á uma boa ajuda também para esse combate. A sociedade portuguesa vive na expectativa de acolher jovens quadros técnicos formados no ensino tecnológico e profissional. Aí completam o ensino secundário, ou seja, o 12º ano.

Conheço essa realidade. Estive associado, de 1989 até 1993, à criação das Escolas Profissionais. Não são uma alternativa menor. São sim uma alternativa maior. Este projecto já está descoberto e no terreno há muitos anos. É preciso é que lhe seja dada a devida importância política e apoio institucional para que possa crescer e desenvolver-se no interesse nacional e prosseguindo os objectivos definidos pela chamada estratégia de Lisboa da U.E..

Fragmentos de Leituras

A relação privilegiada


Ele não procurava a relação exclusiva (possessão, ciúme, cenas); também não procurava a relação generalizada, comunitária; o que ele queria era, de todas as vezes, uma relação privilegiada, assinalada por uma diferença sensível, remetida ao estado de uma espécie de inflexão afectiva absolutamente singular, como a de uma voz de timbre incomparável; e, coisa paradoxal, ele não via qualquer obstáculo a que essa relação privilegiada fosse multiplicada: nada senão privilégios, em suma; a esfera da amizade era assim povoada por relações dualistas (donde uma grande perda de tempo: era preciso estar com os amigos um por um: resistência ao grupo, ao bando, ao magote). O que era procurado era um plural sem igualdade, sem in-diferença.

Como diz Freud (Moisés), um pouco de diferença leva ao racismo. Mas muitas diferenças afastam dele, irremediavelmente. Igualar, democratizar, massificar, todos estes esforços não conseguem expulsar "a mais pequena diferença", gérmen da intolerância racial. O que era preciso era pluralizar, subtilizar desenfreadamente."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -7
(Fragmento 2 de 2, pag. 4)

Edição portuguesa: "Edições 70"

As sevícias

Homem nú com trela: A notícia é perturbadora.

Dar lições de civilização ao mundo árabe é algo que se está a mostrar uma tarefa complexa para os EUA e seus aliados. Aliás as civilizações são algo muito complexo.

Não sei se os altos responsáveis dos EUA percebem algo da matéria. Mas devem dispor de conselheiros e especialistas. Acontece que existem diversas civilizações, diversas religiões, diversas tradições, línguas, ou famílias de línguas, em suma, diversidade.

A diversidade carece de ser reconhecida e certamente que os altos responsáveis de todas as partes em conflito a reconhecem. Mas falta a capacidade de aceitação das diferenças. Aí está a fronteira entre o fanatismo e a tolerância.

É esta capacidade de aceitação que está em deficit nos conflitos no Iraque e, em geral, no Médio Oriente. Ninguém, de boa fé, acredita que a paz se alcance, neste caso, com a guerra. Não se trata de combater uma ideologia totalitária, expansionista e alucinada, como no caso do nazismo, mas uma tendência, ou uma corrente, radical do Islão. A religião estabelece toda a diferença.

Combatem-se os extremistas e os fanáticos isolando-os dos povos de que são originários e não dando razões aos povos para apoiar os extremistas e os fanáticos. As notícias de violência sobre prisioneiros e, em particular, as sevícias são mais uma acha para a fogueira do fanatismo.




quarta-feira, maio 5

ABANDONO ESCOLAR

A propósito deste importante tema, abordado pelo Presidente da República na "presidência aberta" em curso, podem ler o artigo que publiquei no dia 2 de Abril passado clicando em Semanário Económico

Trabalhar faz mal à saúde

Manchete do Expresso online refrente aos dados de um estudo do Eurostat acerca da "segurança e saúde no trabalho" nos países da UE ainda a 15.

Este é um exemplo de "manchete enganosa" que vai ao encontro de um sentimento comum que em nada abona o jornalismo nem estimula as boas práticas sociais.

VEJA A NOTÍCIA AQUI

Fragmentos de Leituras

"Os amigos


Por vezes, na antiga literatura, encontramos esta expressão aparentemente estúpida: a religião da amizade (fidelidade, heroísmo, ausência de sexualidade). Mas, uma vez que da religião apenas subsiste ainda o fascínio do rito, ele gostava de conservar os pequenos ritos da amizade: festejar com um amigo a conclusão dum trabalho, o afastamento de uma preocupação; a celebração reforça o acontecimento, acrescenta-lhe um suplemento inútil, um prazer perverso. Assim, por magia, este fragmento foi escrito em último lugar, após todos os outros, como que à maneira de dedicatória (3 de Setembro de 1974).

É preciso fazer esforço para falar da amizade como de uma pura tópica: isso liberta-me do campo da afectividade - que não poderia ser referida sem embaraço, já que é da ordem do imaginário (ou melhor, reconheço pelo meu embaraço que o imaginário está muito perto: estou a escaldar)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -6
(Fragmento 1 de 2, pag. 4)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Abandono escolar: o Presidente tem Razão

Hoje na Escola Profissional de Idanha-a-Nova o Presidente disse aquilo que tem de ser dito acerca do abandono escolar. O abandono escolar é uma tragédia nacional.

Divulguei no absorto e no Semanário Económico, tempos atrás, os dados desta tragédia. Dando um forte sinal público da gravidade da situação o Presidente da República cumpre a preceito a sua função.

A mim, em particular, muito me apraz que o tenha feito numa escola profissional pois fui, desde 1989, coordenador da equipa de projecto que no Ministério da Educação dinamizou a criação das escolas profissionais no nosso país.

O desenvolvimento e crescimento da oferta de ensino profissional é uma das respostas mais eficazes para combater o abandono precoce da escola.

BELENENSES

Tenho o mesmo problema!!! Sou do Belenenses e os meus amigos do Sporting, Benfica ou do FCP não acreditam que alguém possa ser de um clube que nunca será Campeão Nacional. Porquê??? Pela mesma razão dos que acham que não se deve votar num partido que não poderá ganhar eleições.

"É o único clube que me faz sofrer." Discordo desta tua frase. O Belenenses é o clube que mais me faz sofrer: tenho andado angustiado sempre que penso no jogo decisivo que ocorrerá no próximo domingo com o Braga. Só ganhando teremos a certeza de não baixar de divisão!!! Mas discordo do único porque tenho sofrido muito com os jogos do FCP na Liga dos Campeões.

De resto, estou de acordo contigo. Temos amigos comuns que pensam de outra forma!!! Teremos de continuar a ter paciência com eles...

(Texto enviado pelo meu amigo Ludgero Pinto Basto comentando o post FCP)


FCP

Hoje não podia deixar passar em claro o FCP. Quando digo que sou do Farense todos pensam que pretendo esconder um secreto fervor benfiquista. Não é verdade. Sou mesmo do Farense. Desde a mais tenra idade. É o único clube que me faz sofrer. É, ao que suponho, pelo sofrimento que se mede a temperatura do fulgor clubista.

Mas é bom que exista em Portugal, hoje e agora, o FCP. O FCP em campo é tudo ao contrário do espírito da época que se vive em Portugal. Organização e estratégia, crença na vitória e espírito de luta, optimismo e realismo, trabalho e risco…uma imagem de um grupo sem fama universal que ganha mesmo e parece crescer em determinação com a adversidade.

Haverá quem não sinta orgulho ou mesmo que se corroa de inveja com os êxitos do FCP. Mas esses são os mesmos que tornam Portugal mais pequeno, mais triste e mais pobre. É deixá-los morrer desde que não queiram levar consigo para o fundo o melhor de nós e do nosso Portugal.

terça-feira, maio 4

Fragmentos de Leituras

"Decompor/destruir


Admitamos que a tarefa histórica do intelectual (ou do escritor) seja hoje em dia acentuar a decomposição da consciência burguesa. Será então necessário conservar na imagem toda a sua precisão; isto quer dizer que fingimos voluntariamente permanecer no interior dessa consciência e que vamos a seguir corroê-la, rebaixá-la, fazê-la ruir, no próprio local, como faríamos com um bocado de açúcar ao embebê-lo em água.

A decomposição opõe-se portanto aqui à destruição: para destruir a consciência burguesa é preciso estar ausente dela, e essa exterioridade só é possível numa situação revolucionária: na China, hoje em dia, a consciência de classe está em vias de destruição, não de decomposição; mas noutros lados (aqui e agora) destruir não seria afinal senão reconstruir uma ligação de palavra cujo carácter exclusivo seria a exterioridade: exterior e imóvel, assim é a linguagem dogmática.

Para destruir é preciso, em suma, poder saltar. Mas saltar para onde? Para que linguagem? Para que centro da boa-consciência e da má-fé? Ao passo que, decompondo, aceito acompanhar essa decomposição, decompondo-me a mim mesmo a par e passo: escorrego, agarro-me e arrasto."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -5
(Fragmento 3 de 3, pag. 3)

Edição portuguesa das "Edições 70"

AMIGOS

O Eurico que me enviou o texto abaixo publicado é o melhor amigo da minha primeira juventude vivida em Faro. Ele e o Assis. Os três, anos a fio, fomos companheiros inseparáveis. Na escola, na rua e na praia que frequentamos na nossa cidade de Faro.

Lembro as aulas de piano da D. Simone, mãe do Eurico, na sua casa, à Pontinha. Ao contrário dele, exímio pianista, nunca cheguei verdadeiramente a aprender. Mas fiz o gosto a minha própria mãe. Partilhamos um longo percurso de vida repleta das discussões, estudos, descobertas e perplexidades próprias da juventude.

No dia em que me desloquei a Lisboa para fazer o exame de admissão a Económicas foi acolhido em casa de seu pai. Nunca deixou de me dar todas as atenções. Não esqueço. Descobri depois que divergimos nas opções ideológicas e políticas. Coisa de somenos. Mas não divergimos na estima recíproca e na difícil disciplina da verdadeira amizade.

Obesidade mental

Foi em 2001 que o Prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro Mental Obesity, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.

"Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses."

Segundo o autor, "a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna fast-food intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação."


O problema central está na família e na escola. "Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma "alimentação intelectual" tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada."


Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado Os abutres, afirma: "O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."

O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. "Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais." Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. "O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto."

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. "Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma "idade das trevas" ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental."

(Texto enviado pelo meu amigo Eurico Pimenta de Brito)


segunda-feira, maio 3

"Antes de Começar"

A peça de teatro que foi dada a estudar a meu filho na escola é de autoria de Almada Negreiros. Fiquei surpreendido. Não pela escolha da leitura de uma peça de teatro, que é uma boa opção pedagógica, mas pela escolha do autor.

Um grande autor português pouco dado a conhecer na nossa actualidade. É uma peça em um acto, representada no Teatro Nacional D. Maria II, em 8 de Junho de 1956, pelo "Teatro Universitário de Lisboa", sob a direcção de Fernando Amado. A peça é "Antes de Começar" e tem dois protagonistas: A Boneca e o Boneco. Mais não digo acerca da mesma.

Assinalo sim o facto de ter sido representada, naquele Teatro Nacional, por uma companhia universitária. Não tenho saudades do passado cultural do Estado Novo mas era bom que pudesse ser possível ver representadas naquele Teatro Nacional, com regularidade, peças de autores clássicos, nacionais e estrangeiros. Uma programação de qualidade, estruturada e atraente, própria de um Teatro Nacional de um país da UE. Pois, isso mesmo...Uma dinâmica…uma dinâmica qualquer…

Quem quiser saber, de um olhar, algo acerca de Almada Negreiros AQUI FICA.


Fragmentos de Leituras

"Pares de palavras-valores


Do mesmo modo, mais particularmente, não é o erótico mas sim a erotização que representa um bom valor. A erotização é uma produção do erótico. Leve, difusa, mercurial; algo que circula sem se deter: um flirt múltiplo e móvel liga o sujeito àquilo que passa, finge deter-se e depois larga-se a favor de outra coisa (e depois, por vezes, esta paisagem cambiante é cortada, seccionada por uma brusca imobilidade: o amor)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -4
(Fragmento 2 de 3, pag. 3)

Edição portuguesa das "Edições 70"

Vítimas ou carrascos

"Detidos em Abu Gharaib foram sujeitos a "abusos criminosos, sádicos e gratuitos"
Abusos a presos iraquianos eram "encorajados" pelos responsáveis dos interrogatórios" - Público

Estas notícias só são surpreendentes para quem não tenha entendido que estamos confrontados, no Iraque e não só, com uma guerra de seitas dirigidas por gente iluminada pela fé que encobre os mais lucrativos negócios.

Essa gente está de ambos os lados da barricada nos mais altos cargos. Claro que ninguém pode, em boa verdade, dispensar a fé e os negócios. Não somos ingénuos. Mas a civilização ocidental que apregoa, todos os dias, os seus pergaminhos de defensora dos direitos humanos e de prosseguir a senda do progresso, a passos gigantescos, deveria ser capaz de banir os assassinos das suas fileiras.

Ou a acção dos assassinos faz parte integrante de uma filosofia e de um programa de legitimação universal da política dos dirigentes no poder nos EUA e em Israel? Há um terrorismo "bom" e outro "mau"? Os direitos humanos são defendidos pelo terrorismo "bom" executado por "bons" assassinos? Ou são todos igualmente desprezíveis mesmo que a retórica de uns e de outros os procure desculpar e justificar à sua maneira?

É possivel que tenhamos atingido o ponto em que esta frase, desencantada, de Camus assume, novamente, actualidade: "Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos - e nada mais".


ABÉBIA VADIA

A criação de um blog colectivo, concebido e construído a várias vozes, é um desafio à criatividade e responsabilidade cívica e política dos seus autores.

A ABÉBIA VADIA tem uma semana de vida mas começou a ganhar balanço. É uma forma de intervenção que não pretende exorcizar os fantasmas dos seus editores. É mesmo um instrumento de intervenção cívica e política cujo sucesso depende da qualidade intrínseca das suas mensagens e da capacidade para ganhar uma vasta adesão em audiência.

Se ainda não visitaram a ABEBIA VADIA vão lá ver porque vale a pena

sábado, maio 1

Fragmentos de Leituras

"O corpo plural

"Que corpo? Temos vários." …Tenho um corpo digestivo, um corpo nauseável, um terceiro susceptível de enxaquecas, e assim por diante: sensual, muscular (a mão do escritor), secretivo e, principalmente, emotivo: que é emocionado, movido, ou calcado ou exaltado, ou atemorizado sem que isso se note. Por outro lado, sinto-me cativado até ao fascínio pelo corpo socializado, o corpo mitológico, o corpo artificial (o dos "travestis" japoneses) e o corpo prostituído (do actor). E além desses corpos públicos (literários, escritos) tenho, se assim poderei dizer, dois corpos locais: um corpo parisiense (desperto, cansado) e um corpo campesino (repousado, pesado)."
(Fragmento 1 de 3, pag. 3)

"Roland Barthes por Roland Barthes" -3
Edição portuguesa das "Edições 70"

sexta-feira, abril 30

Não sejam hipócritas

Não chorem "lágrimas de crocodilo" para salvar a vossa consciência suja por decisões políticas injustas, interesseiras e desproporcionadas.

Não queiram ganhar votos, nos vossos países, à custa de falso arrependimento. De uma falsa descoberta da verdade propalada com a surpresa dos vencedores envergonhados.

Os soldados da coligação cometeram crimes sem o conhecimento dos generais? Não tem novidade!

Maio

"Recordo-me ainda daquela crise de desespero que se apoderou de mim quando minha mãe me anunciou que "eu agora já era muito crescido e passaria a receber presentes úteis no dia de Ano Novo". Ainda hoje não posso evitar uma secreta crispação quando recebo presentes desta categoria.

E eu com certeza sabia que na altura era o amor que falava, mas por que motivo o amor tem por vezes uma linguagem tão absurda?"

Maio de 38

Albert Camus

ANIVERSÁRIO

A propósito do meu aniversário que, sem outra razão senão a do próprio jogo, aqui dei a conhecer no próprio dia, sempre quero assinalar um facto invulgar. Tendo decidido, em família, que a celebração seria um jantar numa pisaria muito do nosso apreço, junto ao rio, lá fomos cedo.

Éramos quatro e pretendíamos alcançar o objectivo, prosaico, de uma mesa de vistas largas. Largamos MM e B ainda antes de aparcar para cravar uma bandeira no sítio desejado.

Surpresa das surpresas lá estava já sentada, no desejado sítio, uma comitiva familiar de três amigos que me tinham acabado de presentear com os telefonemas da praxe mas que, de todo, desconheciam o nosso objectivo. É o que se chama a alquimia do sítio.

Assim se fez, então, uma celebração informal não a quatro mas a oito, ou seja, quase a festa que se não desejava. Por isso mesmo com mais sabor. Tal situação me fez lembrar uma frase de Sena, no prefácio da primeira edição de Poesia-I: "Na peregrinação que é a nossa vida, muito mais somos visitados do que visitamos."

Fragmentos de Leituras


"Roland Barthes por Roland Barthes" -2

"O à-vontade

Edonista (pois pensa sê-lo), aspira a um estado que é, em suma, o conforto; mas esse conforto é mais complicado do que o conforto doméstico, cujos elementos são fixados pela nossa sociedade: trata-se de um conforto que ele vai conseguindo, que ele vai construindo para si próprio (como o meu avô B., que tinha arranjado, no fim da vida, um pequeno estrado junto da janela para poder ver melhor o jardim ao mesmo tempo que trabalhava).

Poder-se-ia chamar, a esse conforto pessoal, o à-vontade. Ao à-vontade é conferido uma dignidade teórica. ("Não temos nada que nos pôr à distância do formalismo mas, simplesmente, à-vontade", 1971, I*) e igualmente uma forma ética: é a perda completa de todo e qualquer heroísmo, mesmo em pleno gozo."
* referência a um texto do autor de 1971: "Digressions"

(Fragmento 2 de 3, pag. 2)

Edição portuguesa das "Edições 70"


quinta-feira, abril 29

DÉFICIT

Uma notícia muito interessante acerca dos progressos da política do governo português na área de contenção da despesa pública.

"Défice público em 2003 foi de 5,3% do PIB sem medidas extraordinárias

O Banco de Portugal situa o défice orçamental português em 2003 no equivalente a 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB), após a dedução das medidas extraordinárias a que o Governo recorreu.

No artigo de abertura do boletim económico de Março de 2004, divulgado esta quinta-feira, a instituição quantifica em 2,5% as medidas extraordinárias tomadas pelo Executivo do lado das receitas." Lusa

POPULISMO

Julgo não errar se considerar o Dr. Santana Lopes como o 2º mais alto responsável na hierarquia do PSD. Julgo não errar se considerar o PSD como o partido maioritário do Governo de Portugal.

Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes se declarou, explicitamente, como putativo candidato á Presidência da República. Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes apostou o prestígio político do seu desempenho, como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em duas obras emblemáticas: o "Túnel do Marquês" e o "Casino no Parque Mayer".

Julgo não errar se disser que o casino já não vai ser no Parque Mayer. Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes afirmou ou, pelo menos, insinuou que a decisão judicial que obrigou à suspensão das obras do "Túnel do Marquês" só foi possível por ele próprio ter sido induzido em erro pelo Governo que lhe mostrou a desnecessidade da realização de um "Estudo de Impacto Ambiental". De facto não é obrigatório, mas mostrava-se necessário e conveniente.

Enfim é verdade que foram publicados anúncios nos jornais a convocar para hoje uma "manif" de apoio ao Dr. Santana Lopes. Que a mesma convocatória não de sabe de quem é. Que essa manifestação foi desautorizada pelo primeiro-ministro através de notícias hoje mesmo postas a circular.

Enfim, uma trapalhada.

O populismo do Dr. Santana Lopes está a ficar às escancaras. Ao ponto de dois dos mais insignes "grandes educadores da opinião pública portuguesa",
José Manuel Fernandes, director do Público, insuspeito de ser crítico da maioria, e o arquitecto director do EXPRESSO o reconhecerem com as letras todas.

Fragmentos de Leituras


"Roland Barthes por Roland Barthes" -1

Com a anterior publicação dos meus sublinhados de juventude dos "Cadernos" de Albert Camus iniciei uma série que poderia intitular de Fragmentos de Leituras. Dou agora continuidade a essa série com as leituras do livro autobiográfico de Roland Barthes: "Roland Barthes por Roland Barthes".

Neste caso não se tratam de sublinhados mas de uma compilação de excertos que assumiram a forma de um livro artesanal anotado em cada uma de 18 das suas 23 páginas no tamanho A4. Este trabalho deverá ter sido realizado em 1981/82 e é um testemunho do prazer que a leitura daquele livro me propiciou.

Deixo, com esta série de excertos,um registo perdurável no tempo e, ao mesmo tempo, a partilha de uma leitura, por vezes difícil mas apaixonante, com aqueles que me quiserem acompanhar.

"O adjectivo
Ele suporta mal qualquer imagem de si próprio, sofre ao ser citado. Considera que a perfeição duma relação humana depende dessa ausência da imagem: abolir entre si, de um para o outro, os adjectivos; uma relação que é adjectivada está do lado da imagem, do lado da dominação, da morte.

(Era visível que em Marrocos não tinham de mim qualquer imagem: o esforço que eu fazia, como bom ocidental, para ser isto ou aquilo, ficava sem resposta: nem isto nem aquilo me eram devolvidos sob a forma dum belo adjectivo; não lhes passava pela cabeça comentar-me, antes se recusavam, sem dar conta, a alimentar e afagar o meu imaginário. Num primeiro momento, esse tom mate da relação humana tinha algo de esgotante; mas surgia, pouco a pouco, como um bem de civilização ou como a forma realmente dialéctica do convívio amoroso.) "

(Fragmento 1 de 3, pag. 2)

Edição portuguesa das "Edições 70"



quarta-feira, abril 28

28 DE ABRIL

Este dia é um dia muito especial para mim. É o dia do meu aniversário. Desde criança que neste dia ouvia na rádio, logo pela manhã, uma notícia do seguinte tipo: "Hoje é o dia de aniversário de sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho, Dr. António de Oliveira Salazar…"

Até à morte do ditador esta noticia era um estranho eco que anunciava o meu próprio aniversário. Mas não era mais do que uma mera coincidência que em nada contribuia para a lembrança da data. Minha mãe jamais esqueceria o dia do meu aniversário, assim como dos seus mais próximos, que gostava de festejar.

Tanto valorizava estas datas que morreu no dia do aniversário do seu neto mais novo, no caso o meu próprio filho, após o respectivo e alegre festejo.

25 de Abril - notas pessoais

A liberdade

Nos momentos de ruptura é necessário fazer escolhas. No período pós 25 de Abril as nossas escolhas resultaram, algumas vezes, de erros de avaliação resultantes de apressadas opções ideológicas e intelectuais.

Nunca duvidei, pessoalmente, da primazia que a liberdade deve tomar no confronto com a justiça. Mas, em todos os tempos, em épocas de crise, em períodos pós guerra ou pós revolução, se suscita a questão da relação entre a justiça e a liberdade.

Camus escreveu, no período pós 2ª guerra mundial, algo que sintetiza, com clareza, o alcance deste dilema: "Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso? (...) Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade..."

Foi este, em síntese, também o nosso dilema. A nossa escolha, neste dilema histórico, foi a liberdade. Hoje não me interessam tanto as pessoas com as quais partilhei os acontecimentos do passado. Interessam-me mais aquelas com as quais possa partilhar os acontecimentos do futuro.

Mas não esqueço as marcas gravadas a fogo na minha memória pelo 25 de Abril de 1974 nem as pessoas admiráveis com as quais vivi esse sonho inigualável que foi a reconquista da liberdade. Se a nossa consciência de homens livres tem algum valor preservemos a capacidade de não nos deixarmos aprisionar pelo esquecimento e pelo medo. Para que nunca se cumpra o receio que Jorge de Sena, um dia, expressou nos seus versos: "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam."

terça-feira, abril 27

25 de Abril - notas pessoais

Amanhã termino a edição dos 32 posts com os quais prestei a minha homenagem ao 25 de Abril.

Aquelas notas não poderiam abranger todos os detalhes dos acontecimentos em que participei. Muito longe disso. Ao longo destes dias fui-me, no entanto, deparando com documentos que julgava estarem perdidos ou com memórias que pensava ter, definitivamente, esquecido.

Talvez seja viável pensar numa publicação em que reúna estes escritos que foram destinados ao absorto aos quais poderei juntar outros desenvolvimentos e precisões. Além de algumas resenhas de documentos incluindo trabalhos gráficos. É uma questão a ponderar no futuro próximo.

Nestas notas não surgiram, por exemplo, referências a mulheres e elas tiveram um papel importante no MES apesar de não terem ocupado lugares de relevância nos órgãos dirigentes. A seu tempo, com ou sem publicação, repararei essa omissão.

XANANA GUSMÃO E O PETRÓLEO DE TIMOR

Xanana Gusmão denuncia, com as letras todas, a política da Austrália a propósito de Timor.

O apoio tardio da Austrália ao processo de independência teve sempre em vista, exclusivamente, o petróleo de Timor. Uma boa oportunidade para Portugal mostrar a coerência da sua política face a Timor.

O Presidente da República e o Governo de Portugal que mostrem à Austrália uma posição firme de apoio a Timor cuja independência carece dos proventos do petróleo que lhe pertence.

Tudo o que fizerem terá o apoio entusiástico do povo português. Ao contrário da política de apoio à invasão do Iraque. Mas, porventura, terão que se demarcar, ou mesmo hostilizar, o aliado australiano e, porventura, americano.

Mas a causa de Timor vale a pena. Tem uma história por detrás. E pode também inserir-se numa política coerente de cooperação.

Ficamos à espera.

25 de Abril - notas pessoais


Mário Viegas


O oficial miliciano mais fascinante do meu Quartel era o Mário Viegas. O seu estatuto no serviço militar era apropriado ao seu talento de actor.

Vivemos em comum aqueles momentos inesquecíveis em que a liberdade foi devolvida aos portugueses. Tinha por ele um natural fascínio que sempre me retribuiu até à sua morte prematura.

No dia 1 de Maio de 1974, se não erro, no Quartel do Campo Grande, assisti ao acontecimento mais extraordinário de toda a minha vida. Havia que festejar o que agora comemoramos com nostalgia. O refeitório foi transformado numa sala de espectáculos. Nele se reuniu toda a gente..

Imaginem o elenco daquela festa improvisada: Carlos Paredes, Zeca Afonso e Mário Viegas. Todos mestres geniais na sua arte. A certa altura o Mário Viegas subiu para o tampo de uma mesa e a poesia brotou, em palavras ditas, como se diante de nós se revelasse um novo mundo ou tivéssemos da vida renascido.

(31de 32 continua)


segunda-feira, abril 26

EXIGÊNCIAS ABSURDAS

A situação no Iraque, como seria de prever, atinge os píncaros do absurdo. As forças da coligação ocupante (é uma designação, apesar de tudo, simpática) sofrem ataques da resistência e somam baixas diárias.

A administração Bush manobra para encontrar uma saída airosa a tempo das eleições de Novembro. As petrolíferas, de todos os países, incluindo os críticos da intervenção militar, distribuem o saque.

O povo iraquiano, como sempre acontece nestas situações, sofre no meio do fogo cruzado dos extremismos. Os raptores de italianos, finalmente, põem como condição para poupar a vida dos reféns, que o povo italiano se manifeste nas ruas contra a guerra.

É o cúmulo da loucura! Uma vez mais a pergunta que se põe é: quem põe fim ao absurdo desta situação? Resta aos homens de boa vontade rezar! É isso?

Jorge de Sena - 1968

Folheando a Antologia da Revista "O Tempo e o Modo" dou com uma entrevista concedida por Jorge de Sena editada no número 59, de Abril de 1968, dedicado a Sena, fazem exactamente 36 anos.

À pergunta 5. "Há quem o acuse de susceptível e agressivo. Concorda que o é?", Sena responde:

"Realmente? Julgava eu que esse mito já havia passado, por se ter revelado inoperante para neutralizar-me e destruir-me. Mas, se acaso sou susceptível, tenho a susceptibilidade dos exigentes e dos afáveis, honestamente afáveis. E, se sou agressivo, é só a agressividade do muito amor. Eu não perdoo a ninguém a mediocridade, a estupidez, a vileza, a malignidade, a incultura, a suficiência, a intolerância, o espírito de compromisso, a cobardia moral, etc. Será que estas coisas ainda existem em tão grande escala em Portugal, que eu pareça necessariamente agressivo e susceptível?..."

Eis uma pergunta que mantém toda a actualidade no Portugal contemporâneo. É triste mas é verdade.

LIBERDADE NA MADEIRA

A liberdade serve para concordar e discordar. A liberdade estimula a formação da opinião e permite que a opinião se possa expressar.

O Dr. Alberto João tem opiniões que podemos considerar ofensivas da liberdade mas nem por isso o regime da liberdade lhe vai, à força, cortar o pio. É uma grande vantagem da liberdade. É tolerante até aos limites do tolerável. É magnânima.

Vejamos um exemplo: o representante do PS na sessão evocativa (e não solene, que essa fica para a celebração da autonomia) do 25 de Abril, no Parlamento da Madeira, deixou um cravo na tribuna. O representante do PSD, que se lhe seguiu no uso da palavra, jogou o cravo ao chão.

A liberdade na Madeira prova a sua força. Aguenta tudo. Até a grosseria mais boçal e a mal criação mais grosseira dos eleitos do PSD.

No Governo! Aqui e lá! Haja Deus!

25 de Abril - notas pessoais

O passo em frente


Os dias que se seguiram ao 25 de Abril foram de ansiedade e expectativa. Nas ruas a euforia disfarçava o nervosismo mas nos quartéis o ambiente não era de certezas definitivas. O Oficial que assumiu o Comando da minha unidade, certamente o Major Azevedo, mandou reunir os oficiais milicianos.

Formamos um semi-círculo e o comandante perguntou se alguém estava contra, ou tinha reservas, face ao Movimento das Forças Armadas. Quem estivesse contra daria um passo em frente. Silêncio e passividade total.

Eis senão quando o Graça, o de Moçambique, deu um passo em frente. Ficamos sem saber o que pensar. Mas ele explicou. Não tinha a certeza se os militares levariam até ao fim o processo de libertação do povo português e a descolonização.

Ficamos mais descansados e destroçamos com sorrisos. Na prática todos os oficiais milicianos do quartel estavam com o MFA.

(30 de 32 continua)

domingo, abril 25

CANTIGA DE MAIO


Da prisão negra em que estavas
a porta abriu-se p´ra rua.
Já sem algemas escravas,
igual à cor que sonhavas,
vais vestida de estar nua.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na rua passas cantando,
e o povo canta contigo.
Por onde tu vais passando
mais gente se vai juntando,
porque o povo é teu amigo.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Entre o povo que te aclama,
contente de poder ver-te,
há gente que por ti chama
para arrastar-te na lama
em que outros irão prender-te.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Muitos correndo apressados
querem ter-te só p´ra si;
e gritam tão de esganados
só por tachos cobiçados,
e não por amor de ti.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na sombra dos seus salões
de mandar em companhias,
poderosos figurões
afiam já os facões
com que matar alegrias.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

E além do mar oceano
o maligno grão poder
já se apresta p´ra teu dano,
todo violência e engano,
para deitar-te a perder.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Com desordens, falsidades,
economia desfeita;
com calculada maldade,
Promessas de felicidade
e a miséria mais estreita.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Que muito povo se assuste,
julgando que és tu culpada,
eis o terrível embuste
por qualquer preço que custe
com que te armam a cilada.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Tens de saber que o inimigo
quer matar-te à falsa fé.
Ah tem cuidado contigo;
quem te respeita é um amigo,
quem não respeita não é.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Santa Bárbara, 4/6/74

Jorge de Sena

In Poemas "Políticos e Afins" (1972-1977)
"40 Anos de Servidão"







ABÉBIA VADIA


A partir de hoje, 25 de Abril de 2004, vai surgir um novo blog baptizado de ABÉBIA VADIA de que serei co-autor. Está disponível no endereço www.abebia.weblog.com.pt No princípio seremos titubeantes nalgumas formulações de conteúdo e de forma. Escrever num espaço público com regularidade, mesmo diariamente, comporta o risco do erro e da vulgaridade. Seremos, certamente, vigilantes e exigentes.

Este blog surgiu das relações de amizade entre os seus editores e, convenhamos, de uma necessidade de intervenção cívica, sentida por todos, numa época de profundo desânimo e pessimismo na sociedade portuguesa. Julgo que todos assumimos a convicção de que esta onda de descrença não nos tornou menos capazes como cidadãos do que antes.

Somos, por outro lado, amigos mas não somos prisioneiros de qualquer compromisso político comum definido à partida. Julgo que a nossa vontade é a de contribuir para a animação do debate em torno de temas que interessam a todos os cidadãos de boa vontade.

Talvez fazer denúncias e gritar por liberdade e justiça naquele sentido que Jorge de Sena define, magistralmente, no final do seu "Poema de 28 de Maio ao contrário": "...a Justiça é a Liberdade que pensa mais nos outros que em si mesma". Se isto define uma atitude de esquerda então seremos de esquerda. Se isto define uma atitude de progresso então seremos progressistas.

Manterei o Absorto conjuntamente com a minha participação neste blog colectivo. No Absorto tomará mais importância uma faceta autobiográfica e de diário pessoal na minha intervenção no espaço da blogosfera. O Absorto é, de facto, um estímulo para a auto-disciplina na atenção crítica à realidade social que me envolve e, ao mesmo tempo, uma exigência diária de escrita.

A minha posição de princípio é a de haverei de chegar a um modelo de participação a partir do exercício dessa mesma participação. E como todos nós somos muito persistentes estou convicto que estas não são experiências de ocasião mas um sério compromisso de participação cidadã.

A net é o futuro. Não tenho dúvida alguma acerca do seu papel no desenvolvimento das sociedades contemporâneas. Não é uma moda. É um fenómeno estruturante na formação das opiniões públicas e, em consequência, das opções políticas dos governos a todos os níveis. Este papel será, certamente, cada vez mais decisivo assumindo novas formas nas sofisticadas relações entre a comunicação e as instituições tradicionais do poder político e mediático.

A internet é mais importante do que muitos, ainda hoje, pensam. Tenha essa consciência assim como os editores do ABÉBIA VADIA. Por isso aceitamos este desafio e esta aventura. Somos homens e mulheres. De todas as idades, diversas profissões, variados interesses intelectuais e afazeres profissionais.

Pela parte que me toca participo, livremente, neste projecto porque acredito no futuro.

sábado, abril 24

25 de Abril - notas pessoais

A rendição de um PIDE


Entramos, ia alta a noite, no Quartel e desde essa madrugada de 24 de Abril até ao 1º de Maio de 1974, inclusivé, não saí do quartel senão uma única vez. Não vivi na rua a verdadeira festa do 25 de Abril após a consumação da vitória da revolução.

Não assisti à enxurrada de manifestações populares nem participei, com muita pena minha, na manifestção do 1º de Maio. Os soldados ficaram horas a fio alinhados nas casernas, por detrás das janelas que davam para a rua, de armas apontadas para o que desse e viesse. Alguém tinha que cuidar desses detalhes da "cozinha" de qualquer revolução.

Muitos de nós, salvo as pacatas manifestções domésticas e aquelas que tinham lugar na rua, defronte do quartel, tiveram de se dar por satisfeitos com as imagens, a preto e branco, que passavam na televisão.

Num desses dias, estava de oficial-de-dia o António Dias, quando foi procurado por alguém que da rua pretendia falar. Era um agente da PIDE que se queria entregar. Foi recebido com deferência. Identificou-se e fez a entrega da arma. Uma bela pistola que me suscitou cobiça e nunca mais esqueci.

De seguida coube-me a tarefa de o escoltar a caminho da Ajuda onde o entreguei em "Cavalaria 7" ou "Lanceiros 2". Foi a minha única saída do quartel em todos aqueles dias de brasa.

No percurso, realizado em jeep, nem uma palavra se trocou. Lembro-me de ter cumprido a missão, com rapidez, respeitando e defendendo, do primeiro ao último momento, a dignidade de um homem aterrorizado que tinha passado, de um dia para o outro, de agente do poder a prisioneiro do poder.

(29 de 32 continua)

sexta-feira, abril 23

Entardecer

Aqui perto do sítio de onde escrevo situa-se a Praia da Maçãs perto do ponto mais ocidental do continente europeu. Hoje ao fim da tarde o pôr do sol que se avistava de uma esplanada sobre a praia foi verdadeiramente espectacular. Uma grande bola de um vermelho indiscritível parecia rolar na linha do horizonte sobre o vasto mar tranquilo. O sol escondeu-se em cerca de quatro minutos no mar. Não havia sinais de violência. As águas não estavam tintas de sangue. As crianças brincavam tranquilamente á beira mar. As guerras andam, aparentemente, longe de nós....

FURTOS

A notícia obteve pouca expressão pública. O "Semanário Económico" também abordou o furto dos computadores nos serviços de execuções fiscais da Administração Fiscal, em Lisboa. Como se fosse um vulgar caso de roubo de hardware.

Quais serão os resultados da investigação policial?

O ESTRANGEIRO

Chegou-me ás mãos uma edição do "O Estrangeiro", de Camus, trazida pelo meu filho da Escola Alemã. A biblioteca da Escola, de vez em quando, coloca fora das suas estantes alguns livros que põe à disposição dos alunos que os queiram, a título definitivo, levar para casa.

Ora sabendo o meu filho da minha paixão por Camus e tendo visto este titulo, que lhe é familiar, deu-mo de presente. É uma edição didáctica, em formato de bolso, muito interessante, em francês, com notas em rodapé em alemão, traduzindo algumas expressões ou palavras do texto original.

Agora vou esperar pacientemente que seja ele a ler a edição que me ofereceu. Está feita à medida das necessidades da sua educação mas numa língua que não conhece. É uma questão de esperar que amadureça e seja capaz de aprender o francês. São muitas línguas para quem, além do português, tem de ser fluente no alemão, condição e razão de ser da frequência de uma escola alemã, e aprender o inglês.

São muitas as dificuldades a vencer para os seus 13 anos. Mas haverá de vencê-las.

25 de Abril - notas pessoais

Salgueiro Maia


Afinal o Capitão Salgueiro Maia era um homem de coragem. No confronto decisivo da Rua do Arsenal foi o sangue frio de Salgueiro Maia que tornou vitoriosa a revolução.

A sua impassividade e serenidade face à força inimiga obrigou a que o soldado atirador, sob ordens de um subordinado do brigadeiro, não fosse capaz de premir o gatilho.

A serenidade do Capitão Salgueiro Maia sabendo que tinha a sua cabeça na mira do atirador congelou a situação.

Acredito pelo que presenciei que só a conjugação da coragem do Comandante da força revoltosa de Santarém, o embaraço do comandante da força do regime e a recusa do soldado em disparar permitiram o desenlace feliz daquela situação que, no plano militar, era absolutamente desfavorável aos revoltosos.

Assim se decidiu o destino da revolução. Entretanto tínhamos prosseguido o nosso caminho e entramos pacificamente no 2º GCAM.

(28 de 32 continua)

PALESTINA

Imagens impressionantes de jovens palestinianos, nas encostas ressequidas e poeirentas da sua terra, apedrejando os grandes e inexpugnáveis carros de guerra israelitas. Eles avançam e recuam perante os disparos numa dança macabra mas, ao mesmo tempo, bela.

São quase todos jovens e os seus vultos não deixam esconder o seu desespero, ou fanatismo, conforme os pontos de vista. A beleza da guerra é uma blasfémia. A heroicidade um estímulo para a criação. Os repórteres do canal da televisão francesa (?) relatam os mortos palestinianos desta guerra sem fim à vista.

Os ultras conservadores no poder, em Israel e nos EUA, parecem dispostos a rasgar todos os acordos antigos e recentes acerca da divisão territorial naquela região colocando os palestinianos no inferno de uma pátria acossada e sem território. O mesmo que sucedeu ao povo judeu noutro tempo e noutra circunstância histórica. Tudo é diferente nas diversas versões dos acontecimentos. Mas os povos sofrem no concreto das suas vidas. Os cronistas somente relatam e comentam no conforto das suas convicções limpas de sangue.

O sangue escorre da carne dos povos que sofrem e morrem sem, a mais das vezes, saberem das verdadeiras razões das guerras. As imagens e as notícias, que as nossas televisões quase não mostram, são demasiado cruéis e injustas para os povos israelita e palestiniano. Algo tem que acontecer para por fim à tragédia.

quinta-feira, abril 22

CHOMSKY CRIOU BLOG

"Turning the tide" - "Mudar a maré" é o blog de Chomsky que se integra numa onda para afastar BUSH da presidência dos EUA nas próximas eleições presidenciais de Novembro.


POETAS

Não esperava por esta do Francisco Sarsfield Cabral. Sinceramente não esperava por esta. Um dos "10 grandes educadores da opinião pública portuguesa", no caso, pertencente à minoria decente dos mesmos, resolveu falar, no DN, acerca do 25 de Abril.

Tudo bem. Eis senão quando me deparo com esta frase: "A ilusão do império colonial desvaneceu-se de maneira trágica para africanos e europeus, sobretudo em Angola. E os portugueses continuam a ser o que sempre foram: incultos, desorganizados, pobres, complexados e poetas" ...

Os poetas são metidos no mesmo monte infecto da gente espúria, incapaz, nociva, enfim, lixo...Se o prestígio de Portugal no Mundo estivesse entregue aos poetas Portugal era um grande país: Camões, Pessoa, Sena, Sofia, …tantos, tantos…

Ao ponto a que chegou o nacional-comentarismo.