domingo, junho 6

6 de Junho de 1944

Neste dia, 60 anos atrás, os aliados desembarcaram nas praias da Normandia. É o princípio do fim da ocupação nazi da Europa. Morrem, em poucos dias, muitos milhares de soldados das forças libertadores e das forças ocupantes. Os relatos hoje retomados, em toda a sua dimensão heróica e trágica, engrandecem os vencedores e os valores da liberdade.

Camus por estes dias escreveu no seu Caderno:

"Criação corrigida.
O carro de assalto que se volta e se debate como uma centopeia.
Bob nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.
Cf. Relatório da comissão inglesa no Times sobre atrocidades.
O jornalista espanhol de Suzy (pedir o texto) (crianças mostravam-lhe os cadáveres, rindo).
Duche frio no coração durante uma hora.
Fala-se durante o dia da possibilidade de comer uma sopa de leite à noite porque isto faz urinar várias vezes durante a noite. Que os W.C. ficam a cem metros do prédio, que faz frio, etc.
- Ao entrarem na Suíça, as mulheres deportadas dão gargalhadas ao verem um enterro:
- "É assim que tratam os mortos, aqui!"
- Jacqueline.
- Os dois rapazes polacos a quem obrigam a queimar, aos catorze anos, a sua casa, estando os pais lá dentro. Dos catorze aos dezassete anos, Buchenwald.
- A porteira da Gestapo instalada em dois andares de um prédio da rua Pompe. De manhã, trata da casa no meio dos torturados. "Nunca me ocupo do que fazem os meus inquilinos."
- Jacqueline no regresso de Koenisberg a Ravensbruck - 100 quilómetros a pé. Numa grande tenda dividida em quatro. São tantas as mulheres, que não podem deitar-se no chão, a não ser encaixando-se umas nas outras. A disenteria. Os W.C. a cem metros. Mas é preciso passar por cima dos corpos e até pisá-los. Faz-se ali mesmo.
- Aspecto mundial no diálogo entre a política e a moral. Perante esse aglomerado de forças gigantescas: Sintes (…).
- X. deportada, libertada com uma tatuagem sobre a pele: serviu durante um ano no campo dos S.S. de …"


In "Cadernos II" (Caderno nº 4 - Janeiro 1942 - Setembro 1945), Albert Camus, Edições Livros do Brasil


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