Fim do ano 2003
Como sempre, nos últimos anos, à vista do mar
nas proximidades do ponto mais ocidental da Europa. O oceano atlântico, em toda
a sua plenitude, à nossa vista. O cheiro intenso a maresia. O mar nestas costas
é forte quando batido pelo vento. Não havemos de olhar demasiado para trás.
Faltam alguns amigos mas juntaram-se outros novos. A vida é feita de mudança. E
a olhar o futuro o mundo avança. Eduardo Lourenço fala numa entrevista recente
que os portugueses se preocupam mais com parecer bem e menos com fazer obra. Têm
medo de tomar posição. Arriscar nas empreitadas do progresso. Esperam que a obra
surja feita. As palavras são minhas. Não tenho a entrevista na minha frente.
Lourenço não diz, mas digo eu, que fazer obra para os portugueses é algo
estranho e potencialmente perigoso. Pode por em causa o equilíbrio necessário ao
triunfo do espírito conservador. Esta filosofia de vida está devidamente
documentada pela nossa história ? salvo em raros períodos ? e pela pena dos
nossos maiores: Camões (Luís), Pessoa (Fernando), Sena (Jorge de) ? Os governos
querem-se modestos nos grandes desígnios e sem vistas largas não vá o
engrandecimento do País ferir as cordatas relações de poder com as grandes
famílias instaladas e fazer perigar as dependências face aos interesses
estrangeiros. Dizem os tecnocratas, mais cultos, que falta músculo ao capital e
massa crítica à inteligência. Dito do ponto de vista do humanismo o que falta,
em regra, é decência aos dirigentes, civismo, educação e cultura ao povo.
Certamente se encontrarão formas originais e renovadas de trilhar, no futuro, um
novo caminho de progresso. Mas este simples blog confirma, como tantas outras
formas de expressão, em finais de 2003, um princípio que convém preservar, a
todo o custo, que Camus sintetizou numa frase que nunca mais
esqueci:
?Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.
?Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.
[A um mês de fazer nove anos de vida, com atividade ininterrupta, revisito alguns dos postes mais antigos deste blogue e, mais próximo de 19 de dezembro, colocarei também os mais visitados.]