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e variegados tons ostentam os seus rostos
sob os ramos mais derramados dos chorões
mas prontas a romper em pranto ao simples canto
de uma ave talvez oculta numa umbrosa laranjeira de dezembro
quando flores inominadas de repente começavam a dilacerar-se
na íntima penumbra dos palácios populosos
e doentes doridos indefesos ante os dados dos sentidos
tinham toda a sensibilidade de quem tem a curto prazo a duração ameaçada
e sabiam que a tinham talvez devido às palavras cegas
de algum profeta industriado na indústria de viver
com os pés postos em arroz selvagem e a cabeça vizinha de sinceiros
quando algumas pessoas decidiam sacudir a solidão
e vagabundear por corações alheios sugando-lhes o sangue
embora nos antigos sacrifícios nunca ninguém bebesse o sangue
das vítimas não tivesse também de lhes beber as almas
quando nas casas a confiança da infância ainda não esmorecera
e havia gente interessada no ressurgimento da cartilha da emoção
e já se pressentia a delicada dinastia
das coisas transmitidas de uma geração pra outra geração
(…)
Ruy Belo
A Margem da Alegria [7]
1 comentário:
Eduardo, os 4 últimos versos chegam a doer.
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