Fotografia de Philippe Pache
Tive todo o dia esperança –
Melhor direi: esperanças.
Até agora as tenho embora as não sinta
E estou só, embora quase todo o tempo
Alguém me assistisse e talvez me percebesse.
Mas algo de perdeu e, húmidos os olhos,
Ainda sinto o que é esperar;
Mas “esperança”: não tenho
Nem sei se inda pode haver milagre –
O de esquecer o dia que se esgota
Como a corda a roçar numa rocha agreste
E me tem na ponta livre a balouçar
E está por fios, que já nem vejo,
Prestes a largar-me no vazio da noite.
É noite, sim!
Há muito é noite já em mim
Mas qualquer luz ainda me alumia
O dia é longo, longo, não acaba …
É hoje ainda.
É dia …é dia …
O dia é longo, longo, não acaba …
Agora – desde quando? – é doutra forma …
O dia é longo, longo, não acaba
E eu já não gosto dela “mesmo assim”
- Não “gosto dela mesmo assim”. –
Quando mudei?
O dia é longo, longo, não acaba …
12.2.61
José Blanc de Portugal
Tive todo o dia esperança –
Melhor direi: esperanças.
Até agora as tenho embora as não sinta
E estou só, embora quase todo o tempo
Alguém me assistisse e talvez me percebesse.
Mas algo de perdeu e, húmidos os olhos,
Ainda sinto o que é esperar;
Mas “esperança”: não tenho
Nem sei se inda pode haver milagre –
O de esquecer o dia que se esgota
Como a corda a roçar numa rocha agreste
E me tem na ponta livre a balouçar
E está por fios, que já nem vejo,
Prestes a largar-me no vazio da noite.
É noite, sim!
Há muito é noite já em mim
Mas qualquer luz ainda me alumia
O dia é longo, longo, não acaba …
É hoje ainda.
É dia …é dia …
O dia é longo, longo, não acaba …
Agora – desde quando? – é doutra forma …
O dia é longo, longo, não acaba
E eu já não gosto dela “mesmo assim”
- Não “gosto dela mesmo assim”. –
Quando mudei?
O dia é longo, longo, não acaba …
12.2.61
José Blanc de Portugal
ENÉADAS - 9 Novenas
Imprensa Nacional – Casa da Moeda
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