sábado, junho 10

...na carne tumefacta e inaugural ...

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

(…)
e o vento consigo trazia a flor do cacto que mal nasce logo morre
na carne tumefacta e inaugural
e transportava aromas densos e procriadores ainda então
e os nossos bens na terra eram os olhos que regavam novos campos
quando as tardes eram notoriamente altas e as sulcavam
vozes de muitas raparigas que voltavam das fontes ou de minas com avencas
de bilhas muito esguias à cabeça bilhas que prolongavam o seu porte
o seu andar seguro e digno bilhas de mãos fincadas nas ilhargas
bilhas extremamente sabedoras desgastadas afinal pelo convívio
com os limos com os seixos muito brancos e moldados pela água
(…)

Ruy Belo
A Margem da Alegria [2]

(A Margem da Alegria é um longo poema. Vou transcrevê-lo, na íntegra, por fragmentos, organizados segundo o meu critério, ilustrados, cada um deles, por uma imagem também de minha inteira responsabilidade que corresponderá, naturalmente, ao meu estrito gosto pessoal. O primeiro verso de cada novo fragmento transcreve, em cor cinza, o derradeiro verso do último fragmento publicado. Numero cada um dos fragmentos para permitir ao leitor, em cada momento, a percepção do conjunto. Espero, no fim da tarefa, reunir os fragmentos e publicar o poema integral no Ir ao Fundo e Voltar (sem imagens), pois me parece que, na blogosfera portuguesa, não está disponível este poema na íntegra. Caso esteja agradeço que me avisem.)

2 comentários:

Zauberlehrling disse...

Bonito e triste

Saudações

Eduardo Graça disse...

Obrigado pelo incentivo. Entendi. Abraços