domingo, agosto 27

A FOLHAGEM DA PALMEIRA E OS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE

Posted by Picasa Fotografia do Dias com árvores

Um mês atrás o meu filho caiu à noite aqui perto de casa em cima da folhagem de uma palmeira. Apareceu-me à porta com um amigo que vinha com cara de caso. Depois entendi que ficou preso à folhagem e imaginem que o amigo de correria levava consigo uma tesoura e libertou-o da prisão. Mas uma farpa tinha-se atravessado de lado a lado no seu dorso. Uma vizinha brasileira que se apercebeu do caso imaginem que tinha em casa um spray anestesiante. Ela própria retirou a farpa sem dor nem sequelas. Uma pequena cirurgia doméstica perfeita. Era sábado. No domingo pela manhã meu filho verificou que tinha um braço ferido havendo sinais de outra farpa que o podia ter trespassado. Resolvi socorrer-me do Centro de Saúde mais perto a que antigamente se chamava SAP (Serviço de Atendimento Permanente). Ouvi dizer que o Correia de Campos (que para quem não saiba é o Ministro da Saúde) teria dito um dia destes que no SAP nunca ninguém o apanharia. Eu não ouvi nem li nada a esse respeito! E lá fui. Era domingo. No Centro de Saúde encontrei um serviço de urgências a funcionar. Primeiro andar. Apresentei a situação a quem recebia. Simpatia. É urgência? Sim senhor! Espere na sala pelo senhor doutor. Esperamos. Surpresa das surpresas demorou pouco o atendimento. A médica era jovem loura bonita e eslava. Talvez russa. A enfermeira sisuda pela fala espanhola. O diagnóstico foi fácil e se sentir alguma dor volte cá se faz favor. Passados uns dias o meu filho insistiu em ser visto pois o braço apresentava como que um traço em relevo com forma de farpa. Telefonei para o SAP. A consulta ficou marcada para meados de Setembro. Achei cedo para o serviço mas tarde para a necessidade. Pelo sim pelo não pusemo-nos a caminho mesmo sem consulta marcada. A médica de família é no quinto andar. Esperem um pouco que ela deve estar a chegar. Inscrição. São dois euros e cinco cêntimos. Ela atende de certeza. E atendeu mesmo. Diagnosticou a olho nu que a farpa estava lá. Um momento veja se há vaga na cirurgia. Havia. No intervalo da próxima consulta passo a requisição. A consulta demorou. Ser médica e confessora é muito exigente. A doente já não era vista há muito tempo e as vidas são pesadas. No meio uma senhora já de idade nervosa insistia na consulta marcada. Tinha sido para ontem. Um homem jovem e negro insistia que morria se não fosse visto na hora e ria. No fim resignado aceitou e saiu com ar gozado. A médica de família é uma simpatia. O dossier do meu filho entre centenas estava arrumado e foi destacado à primeira. Já tinha sido visto tempos atrás. Requisição passada. Cirurgia no Quarto andar. Havia que esperar pela hora e sobrava tempo. Fomos almoçar. De caminho à estação dos CTT’s levantar uma encomenda à cobrança. Os óculos novos que se lhe cansou a vista. Surpresa. Nos balcões dos CTT’s serviço com fama de público apreço não chegou ainda o terminal Multibanco. Em Lisboa só nos Restauradores. Fiquei com a boca ao lado e a menina coitada também com o que me veio à cabeça dizer-lhe com simpatia. Agora compreendo a fama de todos os seus presidentes. Deixar passar o tempo e saltar para outro lugar… Saí e fui fazer o levantamento. Missão cumprida. Lá fomos de novo a caminho da cirurgia. Quarto andar o médico estava mesmo a chegar. Dois euros e cinco cêntimos. Só não entendo os cinco cêntimos. Chegou e sem demora mandou-nos entrar. A intrusão da farpa foi confirmada. Devia ter ido logo à urgência hospitalar aqui não posso operar isso pode inflamar todos os cuidados são poucos... Vou passar uma requisição para o Pulido Valente. A recepção trata do resto. Depois telefonamos para confirmar a consulta hospitalar. Surpresa das surpresas no dia seguinte a consulta foi confirmada. Dia seis de Setembro a horas tantas. Será o Agosto? Parece uma história inventada mas é real e mostra que ao contrário do que é voz popular pode o ministro descansar. Pela minha experiência o serviço de atendimento permanente é de excelência.

7 comentários:

Eduardo Graça disse...

Já agora, a propósito deste comentário, experimentem a fazer uma revisão acerca das idas a consultas privadas - bem pagas - e do tempo que esperaram para serem atendidos. Salvo com os médicos amigos, ou algum caso excepcional, espera-se, desespera-se e paga-se bem ...

Anónimo disse...

PORTO, 2006.08.26
Olá.
O texto do Ed sobre a farpa que acometeu o filho revela claramente o estado da saúde em Portugal. Como diz no final, até parece mentira o episódio relatado, mais parecendo até um excerto retirado da obra “As Farpas” da parceria Ramalho/Eça. Para dar uma ideia mais concreta do estado da saúde em Portugal, direi que utilizei em tempos esses serviços do SAP, e, por não ter médico de família (parece que há aí uns milhares mais que também não têm...) fui remetido para a urgência e, uma vez aí, o médico de serviço zangou-se comigo... que eu não tinha nada que lá ir. Mas sendo de espantar que o estado da saúde no País chegou a este caos, o que mais me preocupa é o ministro dizer, e cito “teria dito um dia destes que no SAP nunca ninguém o apanharia....”. Apesar de não ouvir dizer tal nem ler, não me espanta que o tivesse dito, derivado das polémicas acontecidas na sua vigência de Ministro. Agora, o choque frontal aconteceu quando dei de caras com o curricullum do Ministro, 16 dias mais velho do que eu. O Dr. António Fernando de tantos títulos académicos que quase o impossibilitariam de fazer coisas mal feitas. Um homem com 1 Licenciatura, com 1 Mestrado, com 2 Cátedras, com 4 Presidências, Especialista em vários assuntos, Director disto e daquilo e mais não sei quantas coisas deveria ser infalível. E parece que, politicamente, é um desastre.... polémico pelo menos tem sido. O que pensarão do mau desempenho do Ministro quem lhe deu a Licenciatura, o Mestrado e as Cátedras?...
Aí vai o curriculum (retirado da net):

António Fernando Correia de Campos
Nascido em 14 de Dezembro de 1942, natural de Torredeita, Viseu
-Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra
-Administrador Hospitalar pela École de Rennes, França
-Mestre em Saúde Pública pela Universidade de Johns Hopkins, EUA
-Professor Auxiliar, Associado e -Catedrático pela Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa
-Professor Catedrático da Escola Nacional de Saúde, Pública (ENSP)
-Presidente do Conselho Científico da ENSP (desde Junho 2002)
-Presidente do Instituto Nacional de Administração (Janeiro 1997 a Junho 2001)
-Presidente do Conselho Científico do Instituto Europeu de -Administração Pública, de Maastricht (2000 a 2001)
-Presidente da Comissão do Livro Branco da Segurança Social (1996-1998)
-Especialista Senior do Banco Mundial sobre Administração de Saúde (1992 a 1995)
-Director de Programas da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (1986 a 1989)
-Dirigente da Administração Pública (entre 1970 e 1980)
-Deputado à AR (em 1991 e 1992)
Especialista em economia da saúde, cuidados de saúde a idosos, política de saúde e equidade, segurança social e administração pública, sendo, nestas áreas único autor de 5 livros e editor de outros três e autor de cerca de cem artigos científicos em revistas nacionais e estrangeiras

Funções governamentais exercidas
·Desde 2005-03-12
Ministro da Saúde do XVII Governo Constitucional
·De 2001-07-03 até 2002-04-06
Ministro da Saúde do XIV Governo Constitucional
·De 1979-08-23 até 1979-12-27
Secretário de Estado da Saúde do V Governo Constitucional
·De 1975-08-20 até 1975-09-12
Secretário de Estado do Abastecimento do V Governo Provisório

JS

Eduardo Graça disse...

Já sabia que este post iria suscitar os comentários da praxe acerca dos serviços públicos de saúde. Mas já agora acrescento um outro exemplo de sentido contrário. A minha mulher tendo sentido uma dor forte na culuna foi aconselhada nos serviços dos bombeiros de Álmoçageme (excelentes)a socorrer-se da urgência de um hospital público o que veio a acontecer ontem (estamos, pois, a falar da actualidade). O atendimento foi rápido, eficiente e simpático incluindo consulta e meios complementares de diagnóstico. Revelou-se que não é nada de grave e voltou a verificar-se -pelo menos na minha família - um caso de bom desempenho dos serviços públicos de saúde de que este Ministro é responsável. Repare-se que em todos os episódios - e tenho outros mais antigos para contar - os utentes não eram conhecidos nem entraram com os encómios de ninguém. Julgo, com todo o respeito, que um dos principais problemas do sistema público de saúde, além das suas lacunas e disfunções, deve ser o facto de uma boa parte dos utentes entrarem nos serviços com o preconceito de que vão encontrar o inferno no pressuposto de que vivem o seu quotidiano no paraíso. Já agora também gostava de me indicassem o caminho desse paraíso! Mais tarde talvez ataque o tema mais a sério que vale a pena.

Anónimo disse...

Porto, 2006.08.27
Viva.
Caro Ed, paraíso em Portugal é difícil encontrar. Na França pós- 2ª G.G. os paraísos surgiram naturalmente. Mas a minha indignação não vai na direcção do paraíso porque dispomos de poucos recursos e somos um bocado tesos....( o n/salário mínimo é de 383 euros salvo erro e na França é 1250 euros mais ou menos). O meu espanto situa-se no pouco senso evidenciado pelo senhor Ministro, um cavalheiro carregado de experiência académica e profissional que decide ao contrário do interesse das populações. Por exemplo, fechar a maternidade de Barcelos bem equipada por não efectuar 150 partos/ano mas sim 130 não me convence. E a uma jovem mãe de BARCELOS também não. São coisas simples deste calibre que o Ministro não atina e onde o povo me parece mais sábio.

Já agora veja-se a posição da Ordem dos Médicos sobre uma entrevista que o Ministro deu no Norte do Pais e onde disse que nunca ia a um SAP,

“O ministro da Saúde concedeu uma entrevista a um jornal Diário do Norte que já mereceu duras críticas por parte do Conselho Nacional da Ordem dos Médicos (OM), que adjectivou as suas declarações de «infelizes, ignorantes, incultas, despesistas, distraídas e ofensivas para profissionais da saúde e doentes». A base da polémica está no facto de António Correia de Campos ter afirmado: «Nunca vou a um SAP, nem nunca irei».

Reagindo a esta situação, o Conselho Nacional Executivo da OM, em comunicado, diz que as declarações são «ignorantes» porque o ministro «ignora que há SAPs que funcionam como verdadeiras urgências hospitalares, com recursos para efectuar alguns exames complementares essenciais» e com dois médicos e outros profissionais em «presença física permanente».

Classifica também de «infelizes» as palavras de Correia de Campos, porque «incentivam o sistema hospitalocêntrico de Portugal, quando devia ser exactamente o contrário». «Incultas», porque o ministro «não tem a mínima noção de que um médico até sem estetoscópio pode salvar uma vida, que o simples acto de colocar um soro pode evitar um choque hipovolémico irreversível num politraumatizado», pois «numa verdadeira urgência, demorar mais meia hora até ser assistido por um médico pode significar, inexoravelmente, a morte».

As declarações do responsável pela pasta da Saúde, na opinião da OM, são também «despesistas», porque traduzem que «um doente nunca deve acreditar num médico que não lhe faça uma bateria de exames complementares». E que, portanto, segundo a tutela, «os doentes devem passar a exigir todos os mais sofisticados exames complementares quando apresentam um qualquer transtorno de saúde, mais ou menos agudo, por mais simples que seja».

Texto retirado da net /Fábrica de Conteúdos.

O que me espanta, é o Ministro, aparentemente tão bem preparado para o cargo, ser apelidado de ignorante pelos profissionais da área.

JS

Eduardo Graça disse...

Até agora limitei-me a relatar situações que posso testemunhar em favor dos serviços públicos de saúde e, já agora, dos seus profissionais. As opiniões das Ordens e de algumas organizações representativas dos trabalhadores são um capítulo que não me interessa particularmente pois me parece que a defesa do serviço público de saúde tem essa faceta perversa de alguns dos seus arautos serem, ao mesmo tempo, os seus principais inimigos. Umas vezes cegueira política, outras interesses obcuros ... Mas a propósito relato uma outra situação: uns tempos atrás fui alertado, já noite, que um familiar de minha mulher vinha de ambulância do algarve a caminho de Lisboa (Urgência do S. José)após um acidente de viação. Dirigi-me para lá tentando chegar a tempo de acompanhar, ao menos, a sua entrada nas urgências. Quando cheguei já tinha, de facto, entrado. Informei-me da situação e fiquei, tanto quanto possível, descansado. Mas o que me impressionou foi ter verificado com os meus olhos que a urgência do S.José não correspondia à imagem que dela fazia. No lugar do caos que, à época, repetidas reportagens das televisões nos forneciam, o espaço estava organizado e transparecia uma qualidade de atendimento, pelo menos no que pude observar a olho nu, muito acima da minha expectativa. Se fosse um maldizente poderia dizer que fiqei desiludido! Ao que suponho, e do que tenho visto e ouvido, nunca mais foram divulgadas reportagens catastróficas acerca das urgências do hospital de S. José. Será que ainda estão a prestar serviço público?

Anónimo disse...

PORTO, 2006.08.28
Viva.
Nada de maledicências. Não me revejo aí. Tenho este raio de feitio de, quando não concordo, dizer claramente não, é só. Este espaço é de respeito. Quanto à tua crónica, claro que há coisas bem feitas na saúde, apesar daqueles corredores cheios de macas com doentes em cima me incomodem. Eu passei na ponte Oliveira Salazar na altura precisa que alguém lhe estavam a retirar o nome para lá colocar o nome de Ponte 25 de Abril e nunca concordei com isto, porque nem tudo era mau no passado e o mesmo se passará na saúde; Haverá coisas boas.. Mas e o Ministro, que no plano teórico tem tudo para ser brilhante e, aparentemente não é.... Vejamos esta cena de Penacova:- “Velório assinalou encerramento do SAP. Utentes do Centro de Saúde de Penacova encomendaram as almas? do ministro da Saúde em mais uma manifestação contra o encerramento do SAP, que ontem se concretizou.... (Julho, 16.2006 )
O pessoal de Penacova foi prejudicado e a política do Ministério deveria ir no sentido
de apoiar as populações e não vai. E são coisas simples...resolvidas ao contrário. A propósito, o teu familiar está melhor? Espero que sim. Cumprimenta-te o
JS

Carminda Pinho disse...

Que sorte que teve o seu filho,
digo isto não porque ache que os médicos dos Centros de saúde sejam imcompetentes mas porque a gestão dos mesmos às vezes deixa muito a desejar.
E são os médicos que gerem os Sap!