La cogida y la muerte
A las cinco de la tarde.
Eran las cinco
en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la
tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo
demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.
El viento se
llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y
níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las
cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la
tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las
campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas
grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡ Y el toro solo corazón
arriba !
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue
llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a
las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de
la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la
tarde.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la
tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El
toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba
de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a
las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco
de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y
el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la
tarde.
¡ Ay qué terribles cinco de la tarde !
¡ Eran las cinco en todos
los relojes !
¡ Eran las cinco en sombra de la tarde !
Federico Garcia Lorca
[A poesia sempre esteve muito presente neste blogue pela simples razão do meu gosto por ela. Ainda mais a partir de outubro de 2001, após a morte de minha mãe, quando retomei eu próprio o exercício da escrita intencional de poesia e, ao mesmo tempo, da leitura da obra de poetas que conhecia menos bem. É o caso de Lorca. Este post é de março de 2004. ]
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, dezembro 2
sábado, dezembro 1
BOLO DE GILA
Para a Bel
No outro dia num pequeno café/restaurante aqui
para os lados de Campolide serviram-me um doce de sobremesa. Senti o sabor da
gila e da amêndoa, uma textura que me reenviou para o “bolo de gila” da minha mãe. Uma
especialidade. São os momentos em que nos reencontramos, de verdade, com a vida.
Lembrei-me de uma história que ela contava. Já tarde, decidiu tirar a carta de
condução. Fez o que tinha que fazer. Código, lições de condução, exames. Em
todos passou. Aprovada. Carta na mão. Alegria. Era mais um passo na afirmação da
sua autonomia. O examinador, segundo ela, era muito simpático. Vai daí minha
mãe, como sempre fazia, sem falsos pudores, preparou, com esmero, um bolo de
gila para lhe oferecer. Dirigiu-se a ele e o Eng.º não quis receber a prenda. A
minha mãe tomou-se de uma indignação sem limites. Insistiu. Voltou a insistir.
Não compreendia os problemas do homem que, finalmente, se deu por vencido e
aceitou o bolo. Cedência a uma manifestação de regozijo? Ou aceitação do
pagamento de um favor? O que a minha mãe queria era festejar!
[Post de novembro de 2009, dedicado à minha cunhada Bel. O bolo de gila era o favorito de minha mãe e, apropósito, uma pequena história revelando o seu caráter. Um dos postes mais lidos deste blogue desde que existe contagem e, além do mais, um dos mais felizes (para mim).]
sexta-feira, novembro 30
A POESIA ESTÁ NA RUA
“A Poesia Está Na Rua” na recta final. Descobri agora, no site de
Daniel Faria, a imagem que foi criada para o projecto da Associação de
Jornalistas e Homens de Letras do Porto e do INATEL, em 1999, pelo
25º Aniversário do 25 de Abril.
Por triste ironia do destino Daniel Faria havia de morrer pouco tempo depois da concretização deste projecto.
O exercício de juntar uma das 94 fotografias, que o Hélder Gonçalves me disponibilizou, a cada um dos poemas que constam daquela colecção, torna-se cada vez mais difícil.
A partir de hoje o ritmo de publicação vai passar a ser quase diário culminando, salvo qualquer imprevisto, no próprio dia 25 de Abril.
[Post de 9 de abril de 2007 lembrando uma iniciativa emblemática do INATEL, a partir de uma ideia da Manuela Espirito Santo (que viva!) e que muito prazer (e trabalho) nos deu! Repliquei os poemas todos deste projeto até ao dia 25 de abril de 2007.]
Por triste ironia do destino Daniel Faria havia de morrer pouco tempo depois da concretização deste projecto.
O exercício de juntar uma das 94 fotografias, que o Hélder Gonçalves me disponibilizou, a cada um dos poemas que constam daquela colecção, torna-se cada vez mais difícil.
A partir de hoje o ritmo de publicação vai passar a ser quase diário culminando, salvo qualquer imprevisto, no próprio dia 25 de Abril.
[Post de 9 de abril de 2007 lembrando uma iniciativa emblemática do INATEL, a partir de uma ideia da Manuela Espirito Santo (que viva!) e que muito prazer (e trabalho) nos deu! Repliquei os poemas todos deste projeto até ao dia 25 de abril de 2007.]
MARTÍN PALERMO - O HERÓI PROVÁVEL
No último jogo Argentina-Peru, Martín Palermo, de 35 anos, o
único futebolista do mundo que falhou três penáltis no mesmo jogo, foi o herói
provável. O encanto do futebol que hoje, pelas 19,45 horas, em Guimarães, não
gostaria de ver quebrado!
[Este post improvável de outubro de 2009 é dos que tem maior audiência. Vá saber-se porquê!]
[Este post improvável de outubro de 2009 é dos que tem maior audiência. Vá saber-se porquê!]
quinta-feira, novembro 29
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Igual - desigual
Eu desconfiava:
Todas as histórias em quadrinhos são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os "best-sellers" são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas, e rondóis são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais, iguais, iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.
Todas as histórias em quadrinhos são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os "best-sellers" são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas, e rondóis são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais, iguais, iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.
Carlos Drummond de Andrade
[Post de fevereiro de 2004 na busca de um registo para contribuir, modestamente, para a divulgação dos poetas do modernismo brasileiro, sabendo que Drummond de Andrade é um dos maiores. Drummond foi tardiamente divulgado na Europa como referiu, recentemente, na TV portuguesa (Câmara Clara), o escritor brasileiro António Torres.]
NUNO TEOTÓNIO PEREIRA - 90 ANOS
No dia do nonagésimo aniversário do Nuno Teotónio Pereira, em sua homenagem,
reproduzo uma peça que escrevi para o blogue Os Caminhos da Memória que melhor
não seria capaz de escrever neste preciso dia:
Nuno Teotónio Pereira foi, recentemente, evocado numa cerimónia comemorativa do 85º aniversário da Associação de Inquilinos Lisbonenses. Um dia, pelos idos de 2004, numa série de postas, fiz-lhe uma breve, e escassa, referência considerando que é uma das personalidades mais marcantes da história do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Fiquei com uma dívida por pagar.
O Arquitecto Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na qual se juntam um notável curriculum profissional e uma postura de intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele é, na verdade, um dos arquitectos portugueses contemporâneos que foi capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitectar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou co-autoria, que testemunham esta simbiose.
Nos tempos de brasa do 25 de Abril foi um dos mais proeminentes dirigentes do MES, posição que saiu reforçada aquando da ruptura do grupo de Jorge Sampaio, ocorrida no 1º Congresso de Dezembro de 1974. O MES, na sua curta existência, só participou, de parte inteira, nas duas primeiras eleições da nossa III República: as eleições para a Assembleia Constituinte, disputadas em 25 de Abril de 1975, e as primeiras eleições para a Assembleia da República disputadas em 25 de Abril de 1976.
As nossas esperanças iniciais eram muitas elevadas. A lista do MES, pelo círculo de Lisboa, às eleições para a Assembleia Constituinte, foi encabeçada pelo Afonso de Barros a que se seguiram o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus e o Luís Martins (padre, ainda a exercer…). A lista candidata às primeiras eleições legislativas, realizadas em 25 de Abril de 1976, foi encabeçada pelo Nuno Teotónio Pereira, seguido do subscritor destas linhas.
Poder-se-ia pensar que o MES havia encontrado o seu líder. Puro engano. Ao contrário dos restantes partidos, sem excepção, a personalidade que encabeçava a lista por Lisboa nunca foi, no caso do MES, o líder do partido pela simples razão de que no MES nunca existiu um líder. O que hoje penso é que, por incrível que pareça, sempre assumimos, do princípio ao fim, o que poderia designar-se como uma obsessão pelo colectivo.
Estávamos perante as primeiras eleições, verdadeiramente, livres e democráticas, após quase 50 anos de ditadura. Ainda hoje me interrogo como foi possível que tenhamos, no MES, encarado essas eleições, cuja transcendência política era inegável, como meros actos de pedagogia, mais do que actos destinados à disputa do poder. Ainda hoje me questiono acerca das raízes da concepção que permitiram à UDP (com o BE ainda tão longe!) ter obtido, nas eleições para a Assembleia Constituinte, menos votos do que o MES, a nível nacional, e feito eleger um deputado.
Existem muitas evidências dessa atitude de participação «não interesseira» do MES, desde o discurso anti-eleitoralista, que emanava de uma desconfiança, de raiz ideológica, acerca da verdadeira natureza da democracia representativa que, na verdade, aceitávamos como um mal menor, até à ausência de sinais de personalização nas campanhas eleitorais nas quais nunca foram utilizadas sequer fotografias dos cabeças de lista pelo círculo de Lisboa. A participação nas campanhas, embora tenha utilizado todos os meios, à época disponíveis, nunca cedeu um milímetro à personalização.
Após o fracasso da candidatura do MES à constituinte, ainda mais me parece estranho, à distância de 35 anos, a abdicação de personalizar na figura do Nuno Teotónio Pereira a campanha para as eleições destinadas a eleger a 1ª Assembleia da República. A sua participação como cabeça de lista pode ser interpretada, não me lembrando dos detalhes do processo decisório, como uma tentativa de credibilizar o MES jogando na refrega eleitoral a figura do seu mais proeminente dirigente.
Mas, ao contrário do que aconselharia a mais elementar lógica eleitoral, a campanha não valorizou a figura do Nuno Teotónio Pereira o que acabou por constituir o haraquiri político eleitoral do MES. Lembro-me de ter ocupado o segundo lugar nessa lista e do desconforto que senti quando, chegada a hora de votar, numa secção de Benfica, no meio da multidão, comovido até às lágrimas, sozinho, pressenti a derrota inevitável. E essa derrota foi ainda mais pesada do que aquela que averbámos nas eleições para a Assembleia Constituinte.
Se há uma personalidade que não merecia sair derrotada da aventura política do MES é o Nuno Teotónio Pereira a quem, como escrevi, em 2004 , devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva.
Que viva!
[O primeiro de uma série de postes que mereceram a maior audiência neste blogue desde que existe registo de audiência. Este é de janeiro de 2012 e reproduz um poste do blogue (já sem atividade) Os Caminhos da Memória para o qual escrevi uma série de postes acerca do MES que um dia republicarei, a ver onde e como.]
Nuno Teotónio Pereira foi, recentemente, evocado numa cerimónia comemorativa do 85º aniversário da Associação de Inquilinos Lisbonenses. Um dia, pelos idos de 2004, numa série de postas, fiz-lhe uma breve, e escassa, referência considerando que é uma das personalidades mais marcantes da história do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Fiquei com uma dívida por pagar.
O Arquitecto Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na qual se juntam um notável curriculum profissional e uma postura de intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele é, na verdade, um dos arquitectos portugueses contemporâneos que foi capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitectar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou co-autoria, que testemunham esta simbiose.
Nos tempos de brasa do 25 de Abril foi um dos mais proeminentes dirigentes do MES, posição que saiu reforçada aquando da ruptura do grupo de Jorge Sampaio, ocorrida no 1º Congresso de Dezembro de 1974. O MES, na sua curta existência, só participou, de parte inteira, nas duas primeiras eleições da nossa III República: as eleições para a Assembleia Constituinte, disputadas em 25 de Abril de 1975, e as primeiras eleições para a Assembleia da República disputadas em 25 de Abril de 1976.
As nossas esperanças iniciais eram muitas elevadas. A lista do MES, pelo círculo de Lisboa, às eleições para a Assembleia Constituinte, foi encabeçada pelo Afonso de Barros a que se seguiram o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus e o Luís Martins (padre, ainda a exercer…). A lista candidata às primeiras eleições legislativas, realizadas em 25 de Abril de 1976, foi encabeçada pelo Nuno Teotónio Pereira, seguido do subscritor destas linhas.
Poder-se-ia pensar que o MES havia encontrado o seu líder. Puro engano. Ao contrário dos restantes partidos, sem excepção, a personalidade que encabeçava a lista por Lisboa nunca foi, no caso do MES, o líder do partido pela simples razão de que no MES nunca existiu um líder. O que hoje penso é que, por incrível que pareça, sempre assumimos, do princípio ao fim, o que poderia designar-se como uma obsessão pelo colectivo.
Estávamos perante as primeiras eleições, verdadeiramente, livres e democráticas, após quase 50 anos de ditadura. Ainda hoje me interrogo como foi possível que tenhamos, no MES, encarado essas eleições, cuja transcendência política era inegável, como meros actos de pedagogia, mais do que actos destinados à disputa do poder. Ainda hoje me questiono acerca das raízes da concepção que permitiram à UDP (com o BE ainda tão longe!) ter obtido, nas eleições para a Assembleia Constituinte, menos votos do que o MES, a nível nacional, e feito eleger um deputado.
Existem muitas evidências dessa atitude de participação «não interesseira» do MES, desde o discurso anti-eleitoralista, que emanava de uma desconfiança, de raiz ideológica, acerca da verdadeira natureza da democracia representativa que, na verdade, aceitávamos como um mal menor, até à ausência de sinais de personalização nas campanhas eleitorais nas quais nunca foram utilizadas sequer fotografias dos cabeças de lista pelo círculo de Lisboa. A participação nas campanhas, embora tenha utilizado todos os meios, à época disponíveis, nunca cedeu um milímetro à personalização.
Após o fracasso da candidatura do MES à constituinte, ainda mais me parece estranho, à distância de 35 anos, a abdicação de personalizar na figura do Nuno Teotónio Pereira a campanha para as eleições destinadas a eleger a 1ª Assembleia da República. A sua participação como cabeça de lista pode ser interpretada, não me lembrando dos detalhes do processo decisório, como uma tentativa de credibilizar o MES jogando na refrega eleitoral a figura do seu mais proeminente dirigente.
Mas, ao contrário do que aconselharia a mais elementar lógica eleitoral, a campanha não valorizou a figura do Nuno Teotónio Pereira o que acabou por constituir o haraquiri político eleitoral do MES. Lembro-me de ter ocupado o segundo lugar nessa lista e do desconforto que senti quando, chegada a hora de votar, numa secção de Benfica, no meio da multidão, comovido até às lágrimas, sozinho, pressenti a derrota inevitável. E essa derrota foi ainda mais pesada do que aquela que averbámos nas eleições para a Assembleia Constituinte.
Se há uma personalidade que não merecia sair derrotada da aventura política do MES é o Nuno Teotónio Pereira a quem, como escrevi, em 2004 , devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva.
Que viva!
[O primeiro de uma série de postes que mereceram a maior audiência neste blogue desde que existe registo de audiência. Este é de janeiro de 2012 e reproduz um poste do blogue (já sem atividade) Os Caminhos da Memória para o qual escrevi uma série de postes acerca do MES que um dia republicarei, a ver onde e como.]
quarta-feira, novembro 28
A GRANDE MÚSICA. PRESENTE!
Para não esquecer a grande música retomo um poste de 3 de setembro de 2011. Concluí que já lido com a música viva neste blogue faz muito tempo.
NO DIA SEGUINTE
Jantar com os amigos
Fotografia de Hélder Gonçalves |
[O segundo poste deste blogue, no dia seguinte à sua criação, 20 de dezembro de 2003, refletindo a propósito de um jantar de amigos, acerca do próprio ato de criar um blogue.]
terça-feira, novembro 27
CAMUS - A PRIMEIRA CITAÇÃO
Citação
Camus
[Em 21 de dezembro de 2003 coloquei no absorto, inaugurado dois dias antes, a primeira citação de Albert Camus. Muitas outras se haviam de seguir.]
segunda-feira, novembro 26
FATAL
Poema
Os moços tão bonitos me doem,
impertinentes como limões novos.
Eu pareço uma atriz em decadência,
mas, como sei disso, o que sou
é uma mulher com um radar poderoso.
Por isso, quando eles não me vêem
como se dissessem: acomoda-te no teu galho
eu penso: bonitos como potros. Não me servem.
Vou esperar que ganhem indecisão. E espero.
Quando cuidam que não,
estão todos no meu bolso.
Adélia Prado
[No dia 23 de dezembro de 2003 pouco tempo após ter conhecido, tardiamente, a poesia da Adélia Prado, pela qual me apaixonei, coloquei o poema Fatal.]
domingo, novembro 25
O PRIMEIRO COMENTÁRIO
Comentário: ainda o jantar
É, é isso mesmo; os jantares são mesmo para isso. Eu acho que até podia não haver comida (hi!hi!hi!)...de contrário come-se imenso e assim podemos ter menos jantares. Isso se nos preocuparmos em manter a boa saúde física...A ideia das saladas da tua mulher é óptima, o pior é que para além das saladas comem-se muitas outras coisas ...Eu tinha anunciado que era um jantar soft! E fiz um esforço...mas...
Beijos
MM
[A 23 de dezembro de 2003 postei um comentário - um acontecimento raro nos primeiros dias do blogue - e que só poderia ter vindo de uma amiga a quem dera conhecimento pessoal da sua criação.]
AS INUNDAÇÕES DE NOVEMBRO DE 1967
Poste de 20 de novembro de 2007, que reponho hoje, lembrando a passagem de 45 anos sobre as trágicas inundações de 1967.
No contexto da descrição sucinta dos últimos dois anos de Salazar à frente do governo de Portugal, no livro “ a história da PIDE”, Irene Flunser Pimentel – Circulo de Leitores/Temas e Debates, descreve-se um acontecimento marcante sobre o qual passam, nos próximos dias, 40 anos:
“O dia 25 de Novembro de 1967 foi marcado por chuvas diluvianas, em Lisboa e arredores, que causaram centenas de mortos, não sendo divulgada na imprensa a magnitude do desastre nem o número de vítimas. Muitos estudantes de Lisboa mobilizaram-se para ajudar as populações, apercebendo-se, nesse contacto, das terríveis condições em que viviam muitos portugueses. Entretanto, tinha havido no seio do regime o caso dos ballets roses, conforme noticiou, em Dezembro, o jornal inglês Sunday Telegraph.”
Participei numa das brigadas de estudantes que acorreu em apoio às populações dos arredores de Lisboa. Coube-me, com partida do Instituto Superior Técnico, desembarcar, se não erro, em Alhandra no meio de um ambiente desolador de destruição e morte. Lembro a complexa operação logística e as pás a remover a lama que engolira ruas e casas. O regime surpreendido pelas dimensões do desastre e pela prontidão da acção politico/solidária dos estudantes não foi capaz de suster o movimento.
Foi, certamente, este um dos mais significativos actos simbólicos que assinalou o início do fim da ditadura. Pouco tempo depois, em Fevereiro de 1968, Mário Soares foi preso, deportado e sujeito a residência fixa em São Tomé e Principe. Em 7 de Setembro de 1968 Salazar foi operado a um hematoma, após a queda da cadeira e, “no dia 17, após convocar uma reunião do Conselho de Estado, o Presidente ra República anunciou que iria nomear novo presidente do Conselho de Ministros. Dez dias depois, informou que, “atormentado entre os seus sentimentos afectivos de gratidão”, decidira exonerar Salazar e nomear Marcelo Caetano” [pag. 184]
Confesso que tinha perdido a noção exacta da cronologia destes acontecimentos e fiquei surpreendido com a proximidade entre as grandes inundações de 25/26 de Novembro de 1967 e o mês de Setembro de 1968 que marca o fim político do ditador.
No contexto da descrição sucinta dos últimos dois anos de Salazar à frente do governo de Portugal, no livro “ a história da PIDE”, Irene Flunser Pimentel – Circulo de Leitores/Temas e Debates, descreve-se um acontecimento marcante sobre o qual passam, nos próximos dias, 40 anos:
“O dia 25 de Novembro de 1967 foi marcado por chuvas diluvianas, em Lisboa e arredores, que causaram centenas de mortos, não sendo divulgada na imprensa a magnitude do desastre nem o número de vítimas. Muitos estudantes de Lisboa mobilizaram-se para ajudar as populações, apercebendo-se, nesse contacto, das terríveis condições em que viviam muitos portugueses. Entretanto, tinha havido no seio do regime o caso dos ballets roses, conforme noticiou, em Dezembro, o jornal inglês Sunday Telegraph.”
Participei numa das brigadas de estudantes que acorreu em apoio às populações dos arredores de Lisboa. Coube-me, com partida do Instituto Superior Técnico, desembarcar, se não erro, em Alhandra no meio de um ambiente desolador de destruição e morte. Lembro a complexa operação logística e as pás a remover a lama que engolira ruas e casas. O regime surpreendido pelas dimensões do desastre e pela prontidão da acção politico/solidária dos estudantes não foi capaz de suster o movimento.
Foi, certamente, este um dos mais significativos actos simbólicos que assinalou o início do fim da ditadura. Pouco tempo depois, em Fevereiro de 1968, Mário Soares foi preso, deportado e sujeito a residência fixa em São Tomé e Principe. Em 7 de Setembro de 1968 Salazar foi operado a um hematoma, após a queda da cadeira e, “no dia 17, após convocar uma reunião do Conselho de Estado, o Presidente ra República anunciou que iria nomear novo presidente do Conselho de Ministros. Dez dias depois, informou que, “atormentado entre os seus sentimentos afectivos de gratidão”, decidira exonerar Salazar e nomear Marcelo Caetano” [pag. 184]
Confesso que tinha perdido a noção exacta da cronologia destes acontecimentos e fiquei surpreendido com a proximidade entre as grandes inundações de 25/26 de Novembro de 1967 e o mês de Setembro de 1968 que marca o fim político do ditador.
. Fotografia de Chip Forelli
sábado, novembro 24
POESIA E TURISMO
Coincidências
Cinza,
os sinos dobrados
já pela tarde fria.
Porque arde em mim ainda,
de mágoa e bronze,
o sol do dia?
(Poema VIII, In Turismo
Trabalho Poético - Circulo de Leitores)
TURISMO (2003)
Actividade de grande relevância na vida social e na economia portuguesa contemporânea mas que só ganhou expressão, como fenómeno de massas, a partir dos anos 60.
O Turismo tinha ganho, na Europa, uma nova natureza, a partir de 1936, com a institucionalização das “férias pagas”, conquista popular adoptada legalmente pelo Governo da Frente Popular, em França, logo seguida pela Bélgica. À época o título da obra de Carlos de Oliveira é, pois, de uma ousadia extraordinária.
Eis como um título une duas áreas tão distintas interessando à reflexão de tantas e diversificadas
pessoas. Eu sou uma delas. Por isso a poesia e o turismo vão surgir com frequência entre os temas a tratar na programação do Absorto.
[Anunciava neste poste de 23 de dezembro de 2003 que haveria de tratar, com freqência, no absorto, os temas do turismo e da poesia. Da poesia sim, do turismo, não!]
sexta-feira, novembro 23
A MÚSICA NA ESCOLA
Ideias Para o Futuro - 1
Muito interessante entrevista de Rui Vieira
Nery à revista “Pública” de 21 de Dezembro de 2003. O mais interessante, para
mim, resume-se à defesa do reforço do papel da música na escola. A ideia “da
massificação do ensino da música desde o início da escolaridade” não é original,
como refere, apontando o caso da Hungria, mas é uma ideia forte para o futuro. É
uma ideia a abordar e aprofundar no âmbito científico e político. Os argumentos
a favor da bondade da ideia são expostos de forma breve mas entende-se que se
estribam num vasto conjunto de boas e fundamentadas razões: a música favorece a
aprendizagem da matemática e, em geral, das ciências; é um potente veículo de
equilíbrio emocional; é uma arte potenciadora da sociabilização das crianças; é
um factor de formação ética e cívica e é uma “componente fundamental do
património cultural da Humanidade”. Também concordo que existem, hoje, em
Portugal, recursos humanos e técnicos que permitiriam forjar um projecto viável
para a generalização do ensino da música nas escolas.
[Poste de 23 de dezembro de 2003 acerca da música, um tema que me é tão caro. Tal inclinação é, aliás, demontrada pela predominância da música no absorto dos últimos tempos.]
quinta-feira, novembro 22
PRANTO PELO DIA DE HOJE
Citação 2
Nunca
choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas.
Sophia de Melo Breyner Andresen
In “Livro Sexto” – 1962
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas.
Sophia de Melo Breyner Andresen
In “Livro Sexto” – 1962
[No dia 28 de dezembro de 2003 recuperei um dos poemas mais marcantes de Sophia.]
quarta-feira, novembro 21
REGRESSO DAS FÉRIAS DE NATAL - 2003
De regresso de umas pequenas férias, voluntariamente, sem computador. Nestes
dias nada queria inscrever nestas páginas dedicadas às viagens na nossa terra a
propósito das tradicionais festas de família que a época convoca. Fazem-se
envios de votos de Natal Feliz. Tomam-se refeições demais (os que podem ter
aceso a elas) e escondem-se, o melhor possível, os dramas do quotidiano. Em Faro
uma mulher passa por mim na rua, a chorar, enquanto fala ao telemóvel: deixem-me
ficar só, só…e sente-se o frio da rua entrar dentro de nós. Nesta quadra
festiva, este ano, respira-se um ar mais pesado que é difícil de esconder.
[Um post de 28 de dezembro de 2003 que poderia ser escrito aquando do regresso das férias de Natal deste ano da graça de 2012 que deverão ser passadas na mesma cidade, como sempre, toda a vida, a minha cidade Natal.]
[Um post de 28 de dezembro de 2003 que poderia ser escrito aquando do regresso das férias de Natal deste ano da graça de 2012 que deverão ser passadas na mesma cidade, como sempre, toda a vida, a minha cidade Natal.]
terça-feira, novembro 20
A SOLIDARIEDADE
Ideias para o futuro-2
Uma ideia para o futuro em Portugal é a
criação, na estrutura do Governo de uma “Secretaria de Estado para as Pessoas
Idosas”.
O envelhecimento da população é um forte desafio que se coloca à sobrevivência das sociedades democráticas. Todos os indicadores apontam no sentido da população idosa se tornar, a médio prazo, maioritária nas sociedades ocidentais. Trata-se de um fenómeno que impõe a adopção de medidas inovadoras em diversas áreas cruciais da organização das nossas sociedades.
O modelo de financiamento da segurança social ocupa o centro dessas mudanças. Um dos grandes desafios das políticas sociais, que valorizem a dignidade do homem acima dos interesses financeiros da banca e das seguradoras, é a criação de um novo modelo de solidariedade intergeracional.
Este desafio exige que sejam repensadas questões tais como a idade de reforma, a duração da jornada de trabalho e sua flexibilização, assim como políticas de imigração, integradas, justas e aceitáveis por todos os cidadãos.
Muitos acontecimentos recentes – desde a persistência de João Paulo II, ostentando em público a sua velhice, até aos efeitos calamitosos das “vagas de incêndios e de calor” - colocaram em destaque a urgência da definição de políticas autónomas para os cidadãos idosos.
O combate à tragédia silenciosa da solidão e abandono dos idosos exige a serena coragem de mudanças em que o Estado, os empresários e as entidades de vocação social, estabeleçam pactos de solidariedade honrando a dignidade da vida, vivida até ao fim, por todos os cidadãos.
O Estado, em particular, tem de assumir plenamente a sua responsabilidade na criação de condições para o desenvolvimento de políticas activas de integração dos mais idosos numa sociedade em que o culto da juventude impera, cada vez mais competitiva, xenófoba, insensível às diferenças, hipócrita e hostil aos idosos.
O envelhecimento da população é um forte desafio que se coloca à sobrevivência das sociedades democráticas. Todos os indicadores apontam no sentido da população idosa se tornar, a médio prazo, maioritária nas sociedades ocidentais. Trata-se de um fenómeno que impõe a adopção de medidas inovadoras em diversas áreas cruciais da organização das nossas sociedades.
O modelo de financiamento da segurança social ocupa o centro dessas mudanças. Um dos grandes desafios das políticas sociais, que valorizem a dignidade do homem acima dos interesses financeiros da banca e das seguradoras, é a criação de um novo modelo de solidariedade intergeracional.
Este desafio exige que sejam repensadas questões tais como a idade de reforma, a duração da jornada de trabalho e sua flexibilização, assim como políticas de imigração, integradas, justas e aceitáveis por todos os cidadãos.
Muitos acontecimentos recentes – desde a persistência de João Paulo II, ostentando em público a sua velhice, até aos efeitos calamitosos das “vagas de incêndios e de calor” - colocaram em destaque a urgência da definição de políticas autónomas para os cidadãos idosos.
O combate à tragédia silenciosa da solidão e abandono dos idosos exige a serena coragem de mudanças em que o Estado, os empresários e as entidades de vocação social, estabeleçam pactos de solidariedade honrando a dignidade da vida, vivida até ao fim, por todos os cidadãos.
O Estado, em particular, tem de assumir plenamente a sua responsabilidade na criação de condições para o desenvolvimento de políticas activas de integração dos mais idosos numa sociedade em que o culto da juventude impera, cada vez mais competitiva, xenófoba, insensível às diferenças, hipócrita e hostil aos idosos.
[Poste de 29 de dezembro de 2003 abordando o envelhecimento demográfico, uma faceta da tão decantada questão da reforma do estado social, afinal, um tema recorrente e antigo.]
segunda-feira, novembro 19
domingo, novembro 18
OS PRIMEIROS POSTES EM VÉSPERAS DO NONO ANIVERSÁRIO
Fim do ano 2003
Como sempre, nos últimos anos, à vista do mar
nas proximidades do ponto mais ocidental da Europa. O oceano atlântico, em toda
a sua plenitude, à nossa vista. O cheiro intenso a maresia. O mar nestas costas
é forte quando batido pelo vento. Não havemos de olhar demasiado para trás.
Faltam alguns amigos mas juntaram-se outros novos. A vida é feita de mudança. E
a olhar o futuro o mundo avança. Eduardo Lourenço fala numa entrevista recente
que os portugueses se preocupam mais com parecer bem e menos com fazer obra. Têm
medo de tomar posição. Arriscar nas empreitadas do progresso. Esperam que a obra
surja feita. As palavras são minhas. Não tenho a entrevista na minha frente.
Lourenço não diz, mas digo eu, que fazer obra para os portugueses é algo
estranho e potencialmente perigoso. Pode por em causa o equilíbrio necessário ao
triunfo do espírito conservador. Esta filosofia de vida está devidamente
documentada pela nossa história ? salvo em raros períodos ? e pela pena dos
nossos maiores: Camões (Luís), Pessoa (Fernando), Sena (Jorge de) ? Os governos
querem-se modestos nos grandes desígnios e sem vistas largas não vá o
engrandecimento do País ferir as cordatas relações de poder com as grandes
famílias instaladas e fazer perigar as dependências face aos interesses
estrangeiros. Dizem os tecnocratas, mais cultos, que falta músculo ao capital e
massa crítica à inteligência. Dito do ponto de vista do humanismo o que falta,
em regra, é decência aos dirigentes, civismo, educação e cultura ao povo.
Certamente se encontrarão formas originais e renovadas de trilhar, no futuro, um
novo caminho de progresso. Mas este simples blog confirma, como tantas outras
formas de expressão, em finais de 2003, um princípio que convém preservar, a
todo o custo, que Camus sintetizou numa frase que nunca mais
esqueci:
?Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.
?Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.
[A um mês de fazer nove anos de vida, com atividade ininterrupta, revisito alguns dos postes mais antigos deste blogue e, mais próximo de 19 de dezembro, colocarei também os mais visitados.]
sexta-feira, novembro 16
quarta-feira, novembro 14
terça-feira, novembro 13
segunda-feira, novembro 12
domingo, novembro 11
sexta-feira, novembro 9
quinta-feira, novembro 8
quarta-feira, novembro 7
ALBERT CAMUS - 99º ANIVERSÁRIO
Havia uma porta embutida na parte argamassa na qual se podia
ler: “Cantina agrícola Mme. Jacques.” Filtrava-se luz pela frincha inferior. O
homem imobilizou o cavalo junto dela e, sem descer, bateu. Acto contínuo, uma
voz sonora e decidida inquiriu: “Quem é?” “Sou o novo gerente da propriedade do
Santo Apóstolo. A minha mulher vai dar à luz. Preciso de ajuda.” Ninguém
respondeu. Passado um momento, foram levantados ferrolhos e a porta
entreabriu-se. Descortinou-se a cabeça negra e ondulada de uma europeia de
faces cheias e nariz um pouco abaulado acima dos lábios grossos. “Chamo-me
Henri Carmery. Pode ir junto de minha mulher? Tenho de chamar o médico.” (…) O
médico olhou-o com curiosidade. “Não tenha medo, que tudo há-de correr bem.”
Cormery volveu para ele os olhos claros, fitou-o calmamente e declarou com uma
ponta de cordialidade: “Não tenho medo. Estou habituado aos golpes duros do
destino.” (…) A chuva tombava com mais intensidade no telhado antigo e velho. o
médico procedeu a um exame sob os cobertores. Em seguida, endireitou-se e
pareceu sacudir algo na sua frente. Soou um pequeno grito. “É um rapaz”,
anunciou. “E bem constituído.” “Começa bem”, disse a dona da cantina. “Com uma
mudança de casa.” A mulher árabe riu no canto e bateu as palmas duas vezes.
Albert Camus, in O Primeiro Homem
segunda-feira, novembro 5
ALBERT CAMUS - NAS VÉSPERAS DO 99º ANIVERSÁRIO DO SEU NASCIMENTO
“São raros aqueles que continuam a ser pródigos depois de
terem adquirido os seus meios. Esses são os reis da vida, que se devem saudar
com discrição.”
(…)
“ – a miséria é uma fortaleza sem ponte levadiça.”
(…)
“De resto, como fazer compreender que uma criança pobre pode
por vezes ter vergonha sem nunca invejar coisa alguma?”
(…)
“E, à noite, deitado, morto de cansaço, no silêncio do
quarto onde a mãe dormia levemente, ainda ouvia uivar dentro dele o tumulto e
furor do vento que amaria ao longo de toda a vida.”
(…)
“ … a criança morrera naquele adolescente magro e vigoroso,
de cabelos revoltos e olhar arrebatado, que trabalhara todo o Verão para levar um
salário para casa e acabava de ser nomeado guarda-redes titular da equipa do
liceu e, três dias antes, saboreara pela primeira vez, quase desfalecido, o
contacto com a boca de uma jovem.”
Albert Camus, in O Primeiro Homem
[Depois de amanhã, 7 de novembro, faz 99 anos que nasceu Camus. Está prestes a iniciar-se o ano do centenário do seu nascimento. Espero que, em Portugal, alguma coisa aconteça. A ver. ]
domingo, novembro 4
A MINHA TURMA DO 1º ANO
Tenho na minha frente a
fotografia da turma que frequentei nesse 1º ano em cujo verso a minha mãe
escreveu: "Recordação do 1º ano – Faro – 10-4-1959".
Naquela fotografia dos
professores que ilustra uma crónica de Lina Vedes pareceu-me, a
um primeiro olhar, reconhecer onze (11) professoras e professores que me
calharam em sorte. O tempo é traiçoeiro e a legenda, colocada posteriormente,
permitiu-me identificar mais professores do que aqueles 11 que, no primeiro
relance, tinha reconhecido.
O envio da fotografia da minha
turma do 1º ano, adornada com uma surpreendente legenda, que mão cuidada se deu
ao trabalho de fixar, permitiu-me mergulhar na memória de um convívio distante e
reconhecer muitos rostos que nunca mais vi.
Na verdade entrei para o 1º ano
do Liceu de Faro no ano lectivo de 1958/59. Um ano recheado de muitos, e
significativos, acontecimentos políticos dos quais destaco, por curiosidade, as
eleições presidenciais, às quais se candidatou Humberto Delgado (1958), e a
chamada “Revolta da Sé” (1959).
Hoje sou capaz de associar o meu
quotidiano juvenil, as ambiências familiares e escolares, com os acontecimentos
de um tempo político, do qual guardo viva recordação, e que marcam, com nitidez,
os antecedentes de um percurso pessoal que só a memória pode revelar de forma
tão coerente e fiel.
Vejo os meus professores de
liceu, entre os finais da década de 50 e inícios de 60, como uma mistura de
conservadorismo pardo e de progressismo ilustrado encontrando-se gente de ambos
os campos entre os "novos" e os "velhos" professores. A certa altura, no início
dos anos 60, no Liceu de Faro, esquecendo os pardos, juntaram-se, por exemplo,
no campo do progressismo ilustrado, os “velhos” Neves Júnior e Joaquim
Magalhães, com os “novos” Gastão Cruz e Luísa Neto Jorge.
Já entre os alunos, além das
marcas próprias da juventude de todas as épocas, é mais difícil vislumbrar, ou
adivinhar, o resultado, nas suas vidas, da mistura das influências de mestres e
funcionários, ilustrados ou pardos. O que é certo é que os jovens estudantes
retratados ostentam uma pose compenetrada e, não lhes sendo permitido o convívio
com as meninas, era-lhes imposta a “autoridade professoral” através de duas
mulheres/professoras.
A fotografia foi tirada no
Ginásio, onde todas eram tiradas, e no meio do grupo lá estão a Prof. ª Isabel
Madruga e a Prof. ª Maria José Santos, a primeira das quais, por boas razões,
nunca esquecerei. No Natal de 2007 ofereci uma cópia desta fotografia ao meu
amigo Bexiga (António) e era bem capaz de mandar fazer tantas cópias quantos os
personagens retratados, fazendo renascer em cada um de nós a memória de um tempo
feliz.
[Republicação.]
segunda-feira, outubro 29
“Homenagem ao Papagaio Verde e outros contos de Jorge de Sena”
(...)
“Um
dia, quando, arquejante da rua e das escadas, cheguei à varanda, o Papagaio
Verde estava inerte no canto da gaiola, com o bico pousado no chão. Peguei-lhe,
aspergi-o com água, sacudi-o, com a mão auscultei-o longamente. Não morrera
ainda. Levei-o para a sala, deitei-o nas almofadas, puxei a cadeira para junto
do piano, e, enquanto com os dedos da mão esquerda lhe apertava a pata, toquei
só com a direita a música de que ele gostava mais. As lágrimas embaciavam-me as
teclas, não me deixavam ver distintamente. Senti que os dedos dele apertavam os
meus. Ajoelhei-me junto da cadeira, debruçado sobre ele, e as unhas dele
cravaram-se-me no dedo. Mexeu a cabeça, abriu para mim um olho espantado,
resmoneou ciciadas algumas sílabas soltas. Depois, ficou imóvel, só com o peito
alteando-se numa respiração irregular e funda. Então abriu descaidamente as
asas e tentou voltar-se. Ajudei-o, e estendeu o bico para mim. Amparei-o
pousado no braço da cadeira, onde as patas não tinham força de agarrar-se. Quis
endireitar-se, não pôde, nem mesmo apoiado nas minhas mãos. Voltei a deitá-lo
nas almofadas, apertou-me com força o dedo na sua pata, e disse numa voz clara
e nítida, dos seus bons tempos de chamar os vendedores que passavam na rua: -
Filhos da puta! – Eu afaguei-o suavemente, chorando, e senti que a pata
esmorecia no meu dedo. Foi a primeira pessoa que eu vi morrer.”
Jorge de Sena
domingo, outubro 28
Em homenagem a minha mãe
Em homenagem a minha mãe pelo 11º aniversário de sua morte.
Era o tempo da natureza esplendorosa, a seiva assomando por
todos os poros da vida. A terra e o mar beijavam-se num longo beijo sem fim sob
o céu azul. A terra dava frutos que me pareciam divindades na perfeição da sua casca.
As melancias fascinavam-me pela sua grandeza esférica e pela névoa dos seus
açúcares. Era o vermelho do prazer contra o sangue, vermelho da dor.
[20/1/2008]
sexta-feira, outubro 26
quarta-feira, outubro 24
terça-feira, outubro 23
segunda-feira, outubro 22
domingo, outubro 21
POPULISMO À SOLTA
Jogos, como sempre, muitos jogos de sombras, em todos os tabuleiros. Na vida pública, ou política, em sentido amplo, na vivência de todos os dias, individual ou coletiva, na família, no trabalho, nas relações de amigas e amigos, conhecidas (os) e reconhecidas (os), em todas as plataformas e quadrantes de sensibilidade e ideologia, o mais dificil é sempre, ou quase, esconjurar o medo. E quanto maior o estado de carência mais o medo se intromete e condiciona a liberdade. Uma sociedade povoada pelo medo é presa fácil de toda a sorte de populismos, intolerâncias, violências e, no fim do caminho, do totalitarismo que sempre se reinventa em cada época, ressurgindo com novas vestes. Hoje de manhã, na mesa ao meu lado no café da esquina, um homem vociferava para a mulher, (não convencida), que qualquer político devia ser insultado em todo o lugar público que frequentasse: "Eles devem sentir na pele como fazem o povo sofrer." Os sentimentos de repulsa pela política, e pelos políticos, sempre existiram mas, neste tempo que é o nosso, tendem a tornar-se dominantes. Atenção que os políticos que hoje estão na mira desta pulsão populista foram eleitos pelos mesmos que hoje os hostilizam. O jogo de sombras começa a tornar-se perigoso para a própria democracia.
sábado, outubro 20
sexta-feira, outubro 19
quarta-feira, outubro 17
terça-feira, outubro 16
domingo, outubro 14
ELEIÇÕES NOS AÇORES
As eleições legislativas nos Açores (Região Autónoma), realizadas hoje, deram uma nova maioria absoluta ao Partido Socialista. Nas circunstâncias presentes poderá parecer um resultado normal. Mas é preciso lembrar que o PS está no governo dos Açores faz 16 anos, ousou mudar a liderança, passando-a para as mãos de um jovem politico - Vasco Cordeiro -, correndo riscos. A interpretação detalhada do resultado não interessa para aqui mas tão só assinalar a continuidade de uma maioria politica que estará em melhores condições para enfrentar as dificuldades da atual situação de crise. Berta Cabral, candidada e lider do PSD, é uma mulher corajosa, digna, decente e forte. A sua derrota é o resultado da conjugação de um conjunto de circunstâncias adversas que lhe tornaram impossível a tarefa, em particular, nos últimos tempos. Os Açores são demasiadamente importantes para a afirmação de Portugal no mundo para que se não valorize o resultado destas eleições. Este resultado é, no presente contexto político, um sinal para o futuro e uma garantia de uma gestão política equilibrada da autonomia regional o que não é de somenos.
sábado, outubro 13
Anna Caterina Antonacci
Eu já sei que Portugal está ser apoiado - ou assistido - através de um empréstimo tendo subscrito um acordo com um consórcio de estimáveis organizações internacionais que é conhecido pelo nome de troika. O programa de apoio financeiro é conhecido por uma sigla dificil de pronunciar. Uma das entidades que integra o consórcio em apreço é o FMI.
Recentemente, faz pouco (falo de tempo), o MFI, perdão, FMI, liderado por uma estimável senhora - antes liderado por um ex estimável senhor - reconheceu erros inimagináveis na aplicação dos seus modelos econométricos - também estudei pois é a minha formação de base - e ontem a estimável senhora francesa veio reconhecer que, afinal, as politicas de austeridade são "uma chatice", digo eu, e hoje o senhor PR veio lançar um aviso à navegação, leia-se ao governo, acerca da dimensão e profundidade da aplicação das tarapêuticas da dita austeridade.
Quem nunca tenha cometido erros que lançe a primeira pedra, quem nunca não se tenha amedrontado que se vanglorie, mas não se admirem das manifestações nem apontem o dedo aos seus mentores pois elas são, cada uma à sua medida e gosto, o minimo denominador comum de um descontentamento geral e democrático que aliás é, paradoxalmente, partilhado pelos próprios mentores e executores das medidas de austeridade. A situação é crítica pois de outra maneira não se explicaria que todos tenham dúvidas, todos se enganem e todos tenham razão. Puxa!
sexta-feira, outubro 12
LUZES DE ALERTA
O que sabemos dos outros, da comunidade, do mundo é sempre pouco. Menos ainda sabemos dos seus sentimentos, vontades, gostos, além da superfície das conveniências de momento. Os portugueses, nós portugueses, estamos a passar um momento em que única certeza é a incerteza. O discurso público, a todos os níveis de responsabilidade, é vacilante, pessimista ou mesmo tremendista (salvo raras exceções). Há razões para temer uma confrontação social se não forem tomadas decisões politicas inovadoras. Os ares do tempo parecem-se com os periodos mais negros da nossa história. Será assim em todos os países do sul e nalguns países de leste. O populismo incendeia a opinião pública e se vencer a comiseração geral com a deriva populista não tarda teremos perseguições aos hereges, ou seja, a todos os que, em cada lugar e circunstância, tenham uma opinião diferente. Será de toda a conveniência, a quem de direito, e a todos nós, acender as luzes de alerta!
quinta-feira, outubro 11
quarta-feira, outubro 10
terça-feira, outubro 9
sábado, outubro 6
sexta-feira, outubro 5
quarta-feira, outubro 3
Jean Sibelius - Valse Triste
A minha sentida homenagem ao Robin Fior cujas cerimónias fúnebres decorreram hoje no cemitério inglês de Lisboa. A urna desceu à terra à maneira tradicional como há muito não via. Somente aqueles que, como eu próprio, partilharam alguns momentos únicos da sua vida de criador entenderão o que senti. Honra à sua memória.
terça-feira, outubro 2
ROBIN FIOR
segunda-feira, outubro 1
domingo, setembro 30
MORREU ROBIN FIOR
Robin Fior morreu. Fica por concretizar um livro que havia acertado organizar com ele no qual se reunissem os trabalhos gráficos que realizou para o MES nos tempos de brasa do 25 de abril. Robin era um designer de grande craveira que se juntou ao MES e com ele colaborou ativamente. Honra à sua memória.
Imagem do número um do “Esquerda
Socialista” jornal do
Movimento de Esquerda Socialista, disponível na Hemeroteca Digital da Câmara
Municipal de Lisboa. Pode ser folheado aqui.
O jornal foi dado à estampa tardiamente – 16 de Outubro de 1974 – e o seu design gráfico, tal como o símbolo do MES, são de autoria do Robin Fior. O seu primeiro director foi o César de Oliveira. Antes, pela passagem do 1º aniversário do golpe militar que derrubou Allende, no Chile, 11 de Setembro, já tinha saído o nº0 com uma tiragem de loucura! Aí uns 100 000 exemplares, ou estou enganado? [Post corrigido.]
ALBERT CAMUS - não existencialista
Como já antes escrevi algures, aquando da minha última
estadia em Faro de férias, por sinal, curtas demais, o alfarrabista que faz
venda na esquina da rua que frequento, trouxe-me um conjunto de livros de Camus
em português. Sempre aparece uma surpresa. Desta vez fiquei a saber que existe
mais um livro de autor português acerca de Camus: “Do Absurdo à Solidariedade –
a visão do mundo de albert camus”, de Hélder Ribeiro.
O livro é muito interessante, pelo menos para mim, e estou a
finalizar a sua leitura. Foi dele que repesquei a citação seguinte que tem o
interesse de, para surpresa de muitos, reforçar a ideia de que Camus não se
considerava um autor existencialista o que muitos estudiosos da sua obra têm
assinalado de forma abundante. Qual o interesse da questão? Que mais não seja a
citação evidencia como os autores são desapropriados do seu papel e do lugar da
sua obra na história e se toma por verdade adquirida uma mentira vulgar. Eis a citação de Camus cujas fontes, referenciadas no livro em apreço, aqui se omitem:
Começo a estar ligeiramente (muito ligeiramente) incomodado pela confusão contínua que me confunde com o existencialismo. Enquanto o mal-entendido passa nos jornais, a coisa não é tão grave. Mas ao chegar às revistas, prova bastante a falta de informação em que se encontra a crítica. Uma vez que Troyat escreve que toda a peça de A. Camus não é senão uma ilustração dos princípios existencialistas de J.-P. Sartre, sinto-me na obrigação de precisar três pontos:
1 – Calígula foi escrito em 1938. Nessa época, o
existencialismo francês não existia na sua versão actual, ateia. Nesse tempo,
ainda Sartre não tinha publicado as obras onde devia dar forma a essa
filosofia.
2 – O único livro de ideias que eu escrevi – Le Mythe de
Sisyphe – foi dirigido precisamente contra as ideias existencialistas. Uma
parte dessa crítica aplica-se ainda, no seu espirito, à filosofia de Sartre.3 – Não é pelo facto de dizermos que o mundo é absurdo que se aceita a filosofia existencialista. Nesse caso, 80% dos passageiros do metro, a acreditarmos nas conversas que aí ouvimos, são existencialistas. E não posso acreditar nisso. O existencialismo é uma doutrina completa, uma visão do mundo, que supõe uma metafísica e uma moral.
Embora me aperceba da importância histórica desse movimento,
não tenho suficiente confiança na razão para entrar num sistema. Não nutro
muito gosto pela demasiado célebre filosofia existencial e, para dizer tudo,
creio que as suas conclusões são falsas. Mas ela representa, pelo menos, uma
grande aventura do pensamento. Sartre e eu não acreditamos em Deus, é verdade. E
também não acreditamos no racionalismo absoluto. Não, não sou existencialista. Sartre
e eu ficamos admirados de ver os nossos nomes sempre associados.
Pensamos mesmo um dia publicar um pequeno anúncio onde
assinaremos não ter nada em comum e nos recusaremos a responder ao que cada um
deve ao outro. Porque, enfim, é uma brincadeira. Sartre e eu publicámos todos
os nossos livros antes de nos conhecermos. E quando nos conhecemos foi para
constatar as nossas diferenças. Sartre é existencialista e o único livro de ideias
que eu publiquei era dirigido contra as filosofias ditas existencialistas. sábado, setembro 29
quinta-feira, setembro 27
quarta-feira, setembro 26
terça-feira, setembro 25
segunda-feira, setembro 24
domingo, setembro 23
sábado, setembro 22
sexta-feira, setembro 21
quinta-feira, setembro 20
terça-feira, setembro 18
segunda-feira, setembro 17
domingo, setembro 16
sexta-feira, setembro 14
terça-feira, setembro 11
SALVADOR ALLENDE - QUE VIVA!
Seguramente ésta será la última oportunidad en que pueda dirigirme a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de Radio Postales y Radio Corporación. Mis palabras no tienen amargura sino decepción Que sean ellas el castigo moral para los que han traicionado el juramento que hicieron: soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino, que se ha autodesignado comandante de la Armada, más el señor Mendoza, general rastrero que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al Gobierno, y que también se ha autodenominado Director General de carabineros. Ante estos hechos sólo me cabe decir a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar! Colocado en un tránsito histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que hemos entregado a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente. Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.
Trabajadores de mi Patria: quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley, y así lo hizo. En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes, quiero que aprovechen la lección: el capital foráneo, el imperialismo, unidos a la reacción, creó el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara el general Schneider y reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.
Me dirijo, sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros, a la abuela que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la Patria, a los profesionales patriotas que siguieron trabajando contra la sedición auspiciada por los colegios profesionales, colegios de clases para defender también las ventajas de una sociedad capitalista de unos pocos.
Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron y entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos, porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente; en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando las vías férreas, destruyendo lo oleoductos y los gaseoductos, frente al silencio de quienes tenían la obligación de proceder. Estaban comprometidos. La historia los juzgará.
Seguramente Radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz ya no llegará a ustedes. No importa. La seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal con la Patria.
El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.
Trabajadores de mi Patria, tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo en el que la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.
¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!
Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano, tengo la certeza de que, por lo menos, será una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.
Trabajadores de mi Patria: quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley, y así lo hizo. En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes, quiero que aprovechen la lección: el capital foráneo, el imperialismo, unidos a la reacción, creó el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara el general Schneider y reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.
Me dirijo, sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros, a la abuela que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la Patria, a los profesionales patriotas que siguieron trabajando contra la sedición auspiciada por los colegios profesionales, colegios de clases para defender también las ventajas de una sociedad capitalista de unos pocos.
Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron y entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos, porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente; en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando las vías férreas, destruyendo lo oleoductos y los gaseoductos, frente al silencio de quienes tenían la obligación de proceder. Estaban comprometidos. La historia los juzgará.
Seguramente Radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz ya no llegará a ustedes. No importa. La seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal con la Patria.
El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.
Trabajadores de mi Patria, tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo en el que la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.
¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!
Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano, tengo la certeza de que, por lo menos, será una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.
domingo, setembro 9
sexta-feira, setembro 7
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segunda-feira, agosto 20
domingo, agosto 19
sábado, agosto 18
sexta-feira, agosto 17
quinta-feira, agosto 16
A Música, segundo Camus
A Música é a mais perfeita das artes. (…) A Música, que não
tem que dominar a matéria, e sobretudo porque a sua origem é inteiramente espiritual,
um substrato matemático, alcançou a perfeição e fez da harmonia a sua própria essência.
Albert Camus, “Tentativa de Definição” in “escritos de
juventude” (para que se entenda melhor a razão da mistura, neste blogue, da Música
com Camus.)
quarta-feira, agosto 15
A pobreza segundo Camus
A pobreza nunca foi para mim uma infelicidade – a luz do Sol
vertia nela as suas riquezas. O magnífico calor que reinava na minha infância
não me deixou o mínimo ressentimento. Vivia na incomodidade, mas, ao mesmo
tempo, numa espécie de gozo da alma.
Albert Camus, citação do prefácio a O Avesso e o Direito, edição de 1957, no ensaio de Paul Viallaneix aos “escritos de juventude”.
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