sábado, janeiro 17

Cavafy


O abrupto publica um poema de Cavafy (poeta grego, nascido em Alexandria, no Egipto, a 17 de Abril de 1863; morreu em Atenas, em 1933). O que não entendi foi a necessidade de JPP justificar a publicação do original em grego. Aqui se publicam o mesmo poema na tradução (melhor no meu ponto de vista) de Jorge de Sena, a nota que o acompanha e o poema que se lhe segue:

O mar pela manhã


Deixem-me estar aqui. Que também eu contemple,
um pouco, a natureza - o mar, nesta manhã,
o céu azul sem nuvens, de um e de outro a luz
onde se alonga amarelada praia.

Deixem-me estar aqui. Que eu pense que isto vejo
(não é que o vi um instante, quando aqui parei?)
Tudo isto só - e não, também aqui, visões,
memórias, e os espectros do prazer antigo.

(1915)

Eis a nota de Jorge de Sena escreveu, a propósito deste poema, inserta na edição "90 e mais quatro poemas", Edições ASA:

"Este poema de 1915, que Cafavy fez preceder imediatamente o seu primeiro poema explicitamente erótico, é, por isso e pelo que diz, extremamente interessante, para lá da beleza excepcional que é a sua. O mar e as praias de Alexandria reaparecerão, indirectamente, noutro dos poemas pessoais, no fim da vida, o nº 153. Mas o importante é a declaração, que a obra confirma, de quanto a Natureza, em si, não interessa a Cavafy (logo as suas visões se interpõem); e também o modo como o poeta se refere às aventuras do seu passado, tratando-as de "espectros", pois que é precisamente da realidade que vai dar a esses espectros, que a sua poesia pessoal erótica se vai imediatamente construir."

Já agora o poema erótico a que se refere a nota:

À porta do café


Algo que ouvi junto de mim desviou-
-me a atenção para a porta do café.
E vi o corpo esplêndido que parecia
como se o próprio Eros o fizera com perícia extrema -
modelando-lhe com prazer a simetria dos membros,
erguendo ao alto a estátua do seu torso,
modelando o rosto dele com afecto,
e do toque deixando dos seus próprios dedos
um jeito na testa, nos olhos, e nos lábios.

(1915)


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