Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, agosto 26
CAMÕES - SETE SONETOS
"Croce del Sud" - opera di Jorge Colaço (1922)
Uma ressonância de 26 de Agosto de 2004. Nesse dia publiquei o último de sete sonetos de Camões, segundo a “Edição de Lobo Soropita de 1595”, por sinal um dos menos conhecidos:
Oh! Como se me alonga de ano em ano
Uma ressonância de 26 de Agosto de 2004. Nesse dia publiquei o último de sete sonetos de Camões, segundo a “Edição de Lobo Soropita de 1595”, por sinal um dos menos conhecidos:
Oh! Como se me alonga de ano em ano
A peregrinação cansada minha!
Como se encurta e como ao fim caminha
Este meu breve e vão discurso humano!
Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
Perde-se-me um remédio que inda tinha;
Se por experiência se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano.
Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece;
Mil vezes caio e perco a confiança.
Quando ele foge, eu tardo; e na tardança,
Se os olhos ergo, a ver se inda parece
Da vista se me perde e da esperança.
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Ou restantes seis podem ser lidos clicando em baixo no respectivo primeiro verso:
Sete anos de pastor Jacob servia
Tanto de meu estado me acho incerto,
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Busque Amor novas artes, novo engenho
Aquela triste e leda madrugada,
Alma minha gentil, que te partiste
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Ou restantes seis podem ser lidos clicando em baixo no respectivo primeiro verso:
Sete anos de pastor Jacob servia
Tanto de meu estado me acho incerto,
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Busque Amor novas artes, novo engenho
Aquela triste e leda madrugada,
Alma minha gentil, que te partiste
sexta-feira, agosto 25
MES - UM CARTAZ DA REVOLUÇÃO
Clicar no cartaz para aumentar
Cartaz do MES – Lisboa, Ano: 1975, Arquivo: BN
Uma imagem mais impressiva da deriva leninista do MES, breve mas pungente, como antes a defini, e que atingiu o auge nas vésperas do 25 do Novembro.
Não sei o que levou a que se tivessem produzido dois cartazes para um mesmo evento. O primeiro mantém uma contida sobriedade em torno da exploração das virtualidades gráficas do símbolo e este dá livre curso ao imaginário da esquerda revolucionária associado, à época, ao chamado “movimento popular de massas”.
Ambos bastante depurados, no que respeita ao design, estes cartazes reflectem, se bem me lembro, a influência do MIR chileno após o golpe militar que, em 11 de Setembro de 1973, derrubou Salvador Allende acontecimento que exerceu um forte impacto político e emocional em todos os sectores da esquerda.
Sou dos que pensam que as imagens e os factos não se podem apagar a não ser quando os protagonistas se querem fazer passar por outrem, que não eles próprios, rasurando a sua biografia em benefício das glórias do presente. Há muitos casos desses, como comprovam alguns acontecimentos recentes.
Por mim defendo, com respeito pela intimidade e o bom senso, chamar o passado ao presente, assumir os riscos de uma reflexão, individual ou colectiva, mesmo que despertando fantasmas que, ao contrário do que muitos possam pensar, não estão enterrados. Tenho mesmo como certo que ainda hoje, na política, e não só, se continuam a perpetrar vinganças póstumas tomando como referência antigas paixões e fidelidades.
O que nos pode salvar de todas as tentações é a defesa da Liberdade palavra que escolhi para titular, em 2004, um post, publicado no dia do meu aniversário, último de uma série que dediquei ao MES. (E ao 25 de Abril, ouviram falar?)
A pessoa dividida ?
Fotografia de Philippe Pache
Dos meus fragmentos de “Roland Barthes por Roland Barthes” publicados num livro artesanal vai para muitos anos. Ressonância de 25 de Agosto de 2004.
"Como é que você explica, como é que tolera essas contradições? Filosoficamente, parece ser materialista (se é que esta palavra não soa muito a velho); eticamente, você divide-se: quanto ao corpo, é edonista; quanto à violência, talvez seja antes budista ! Não gosta da fé mas sente uma certa nostalgia dos ritos, etc. Você é uma miscelânea de reacções: haverá em si alguma coisa primeira ?
Dos meus fragmentos de “Roland Barthes por Roland Barthes” publicados num livro artesanal vai para muitos anos. Ressonância de 25 de Agosto de 2004.
"Como é que você explica, como é que tolera essas contradições? Filosoficamente, parece ser materialista (se é que esta palavra não soa muito a velho); eticamente, você divide-se: quanto ao corpo, é edonista; quanto à violência, talvez seja antes budista ! Não gosta da fé mas sente uma certa nostalgia dos ritos, etc. Você é uma miscelânea de reacções: haverá em si alguma coisa primeira ?
Qualquer classificação que você leia dá-lhe logo vontade de se encaixar nela: onde é o seu lugar? Julga primeiro que o encontrou: mas pouco a pouco, como uma estátua que se desagrega, ou um relevo que se desgasta, se estira e perde a forma, ou melhor ainda, como Harpo Marx ao perder a barba postiça por acção da água que está beber, deixa de ser classificável, não por excesso de personalidade mas, pelo contrário, porque percorre todas as faixas do espectro: reúne em si traços pretensamente distintivos, que portanto já nada distinguem; descobre que é ao mesmo tempo (ou alternadamente) obsessivo, histérico, paranóico e além disso perverso (sem falar das psicoses amorosas), ou que adiciona todas as filosofias decadentes: o epicurismo, o eudemonismo, o asianismo, o maniqueísmo, o pirronismo.
"Tudo se fez em nós porque nós somos nós, sempre nós e nem por um minuto os mesmos" (Diderot, Refutação de Hevetius.)"
quinta-feira, agosto 24
CAMUS - OLHARES E SUBLINHADOS
Fotografia de Angèle
O Eugénio Alves enviou-me um artigo, muito interessante, de MANUEL VICENT publicado no “El País”, do passado dia 6 de Agosto, que pode ser lido, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR. Trata-se de uma estimulante, e sintética, introdução à obra e personalidade de Camus. Os espanhóis sempre atentos!
Deixo aqui, a propósito, a minha sexta colaboração nos “Cadernos de Camus” que consiste na reprodução dos sublinhados da primeira leitura, pelos meus vinte anos, dos “Carnets”.
Tal como assinala Manuel Vicent: "Al principio fue sólo una emoción estética por su forma de estar en el mundo lo que me atrajo de este escritor, pero llegó un momento en que, en medio del naufragio de todas las ideas, lo elegí como un buen guía frente a mis propias dudas y contra toda clase de infortunio."
O Eugénio Alves enviou-me um artigo, muito interessante, de MANUEL VICENT publicado no “El País”, do passado dia 6 de Agosto, que pode ser lido, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR. Trata-se de uma estimulante, e sintética, introdução à obra e personalidade de Camus. Os espanhóis sempre atentos!
Deixo aqui, a propósito, a minha sexta colaboração nos “Cadernos de Camus” que consiste na reprodução dos sublinhados da primeira leitura, pelos meus vinte anos, dos “Carnets”.
Tal como assinala Manuel Vicent: "Al principio fue sólo una emoción estética por su forma de estar en el mundo lo que me atrajo de este escritor, pero llegó un momento en que, en medio del naufragio de todas las ideas, lo elegí como un buen guía frente a mis propias dudas y contra toda clase de infortunio."
"ESQUERDA SOCIALISTA"
Cartaz do MES – Lisboa, Ano: 1975, Arquivo: BN
Nas vésperas do 25 de Novembro de 1975. Os últimos estertores da deriva leninista do MES – curta mas pungente – foram, ainda assim, sempre acompanhados pelo símbolo que assinalou o acto fundador do Movimento.
Lembro-me muito bem do pano de fundo do I Congresso, realizado em Dezembro de 1974, na Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa [desse é que precisava de uma fotografia!], a bola vermelha, a estrela de cinco pontas e a sigla. A mancha de fundo foi desenhada com os pés – literalmente – e visto de longe o símbolo ostentava aquele jeito de ter sido esculpido pelos nossos corpos que seríamos capazes de sacrificar por uma causa nobre. (Seríamos?)
Não tenho qualquer receio em dar público testemunho desse tempo e das circunstâncias que o envolveram mostrando mesmo – se for o caso – as entranhas de um processo que foi marcado por muitas situações típicas dos “amanhãs que cantam”.
Ainda agora o “Didas” me enviou uma crónica, “em memória do Zé Trigo que faria 50 anos este ano”, e que morreu a 27 de Novembro de 1981, na qual descreve com bastante detalhe o percurso, ideológico e vivencial, dessa geração a que ele pertence – a do “Todo o Poder aos Cursos” – que seria um dos esteios da própria criação do MES.
Mas o que eu queria dizer verdadeiramente, aqui e agora, é que – mesmo hoje – me espanta a qualidade gráfica e a perenidade do símbolo, resistente a todas as derivas, marca de uma alternativa política utópica que é conhecida, por toda a parte, pela designação de “esquerda socialista” (conhecem?).
quarta-feira, agosto 23
LULA NA FRENTE
Fotografia daqui
O “Estados Gerais” apresentou uma sondagem acerca dos resultados das próximas eleições presidenciais no Brasil que originou uma interessante corrente de comentários, em particular, com origem no Brasil.
Incrédulos, com os resultados das sondagens, os adversários de Lula desvalorizam-nas mas a realidade é que o conjunto de todas as sondagens – mesmo as mais actuais - aponta no mesmo sentido – uma vitória de Lula – como podem verificar no “Margens de Erro”.
Sondagens são sondagens mas não vale a pena pensar que os mais credíveis institutos de sondagens estão todos enganados, ao mesmo tempo, ou que estão todos enganando os eleitores, ao mesmo tempo, ou que as eleições ainda estão longe… pois, na verdade, estão muito perto.
O que é um facto é que mesmo com concorrência em crescendo, à esquerda, Lula mais do que se aguenta …Caso não aconteça uma hecatombe nas próximas semanas, Lula ganha mesmo …! Além do mais, julgo que ninguém deve esquecer que, hoje, na América do Sul, surpresa das surpresas, Lula é um Presidente moderado!
O “Estados Gerais” apresentou uma sondagem acerca dos resultados das próximas eleições presidenciais no Brasil que originou uma interessante corrente de comentários, em particular, com origem no Brasil.
Incrédulos, com os resultados das sondagens, os adversários de Lula desvalorizam-nas mas a realidade é que o conjunto de todas as sondagens – mesmo as mais actuais - aponta no mesmo sentido – uma vitória de Lula – como podem verificar no “Margens de Erro”.
Sondagens são sondagens mas não vale a pena pensar que os mais credíveis institutos de sondagens estão todos enganados, ao mesmo tempo, ou que estão todos enganando os eleitores, ao mesmo tempo, ou que as eleições ainda estão longe… pois, na verdade, estão muito perto.
O que é um facto é que mesmo com concorrência em crescendo, à esquerda, Lula mais do que se aguenta …Caso não aconteça uma hecatombe nas próximas semanas, Lula ganha mesmo …! Além do mais, julgo que ninguém deve esquecer que, hoje, na América do Sul, surpresa das surpresas, Lula é um Presidente moderado!
FALAR/BEIJAR
Imagem daqui
Ressonância de 23 de Agosto de 2004. Do meu livro artesanal dos fragmentos de leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”:
“Segundo uma hipótese de Leroi-Gourhan, terá sido depois de libertar os seus membros anteriores da marcha (e portanto a boca da predação) que o homem terá podido falar. Eu acrescento: e beijar. Pois o aparelho fonador é também o aparelho oscular. Ao passar à posição de pé, o homem ficou livre para inventar a linguagem e o amor: talvez tenha sido o nascimento antropológico duma dupla perversão concomitante: a palavra e o beijo. De acordo com isso, quanto mais os homens se sentiram livres (pela boca) tanto mais falaram e beijaram; e, logicamente, quando, através do progresso, os homens ficarem libertos de todas as tarefas manuais, não farão outra coisa senão discorrer e beijar-se.
Ressonância de 23 de Agosto de 2004. Do meu livro artesanal dos fragmentos de leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”:
“Segundo uma hipótese de Leroi-Gourhan, terá sido depois de libertar os seus membros anteriores da marcha (e portanto a boca da predação) que o homem terá podido falar. Eu acrescento: e beijar. Pois o aparelho fonador é também o aparelho oscular. Ao passar à posição de pé, o homem ficou livre para inventar a linguagem e o amor: talvez tenha sido o nascimento antropológico duma dupla perversão concomitante: a palavra e o beijo. De acordo com isso, quanto mais os homens se sentiram livres (pela boca) tanto mais falaram e beijaram; e, logicamente, quando, através do progresso, os homens ficarem libertos de todas as tarefas manuais, não farão outra coisa senão discorrer e beijar-se.
Imaginemos para esta dupla função, localizada no mesmo sítio, uma transgressão única, que nasceria duma utilização simultânea da palavra e do beijo: falar beijando, beijar falando. Teremos de acreditar que esta volúpia existe uma vez que os amantes não param de "beber as palavras nos lábios amados". Aquilo que assim experimentam é, na luta amorosa, o jogo do sentido que irrompe e se interrompe: a função que se perturba, numa palavra: o corpo balbuciante."
terça-feira, agosto 22
FELIPÃO - RENOVAÇÃO
Fotografia daqui
Uma incursão pelo futebol na hora que antecede o jogo no qual o Benfica decide se vai voar alto (na “Liga dos Campeões”) ou baixinho (por aí …). [Decidiu voar alto!]
Para referir que a primeira convocatória de Felipão, na era pós mundial da Alemanha, mostra toda a sua sabedoria. Assinalo que 12 dos 22 jogadores convocados jogam em Portugal – penso que há muito tempo tal não acontecia – que a média de idades dos convocados deve ter baixado bastante – não fiz as contas – e que, no fundo, promovendo a renovação, Felipão pode manter uma equipa base com a mesma estrutura da anterior.
Com diferenças substanciais que se podem imaginar pensando que, no mesmo onze, podem jogar Cristiano Ronaldo, Quaresma, Carlos Martins e Hugo Almeida … mais um pouco de tudo – técnica, força, juventude e altura – apesar da menor experiência – sem Figo e Pauleta.
A convocatória é inatacável e julgo que também beneficia do facto de os treinadores das três principais equipas portuguesas – Porto, Sporting e Benfica – serem portugueses… A ver os próximos capítulos, até 2008, ou mesmo até ao mundial de 2010. A selecção de Portugal vai continuar a ser muito forte, não só a nível europeu, como mundial … É um facto importante para o país?
Convocados:
Guarda-redes: Quim (Benfica) e Ricardo (Sporting).
Uma incursão pelo futebol na hora que antecede o jogo no qual o Benfica decide se vai voar alto (na “Liga dos Campeões”) ou baixinho (por aí …). [Decidiu voar alto!]
Para referir que a primeira convocatória de Felipão, na era pós mundial da Alemanha, mostra toda a sua sabedoria. Assinalo que 12 dos 22 jogadores convocados jogam em Portugal – penso que há muito tempo tal não acontecia – que a média de idades dos convocados deve ter baixado bastante – não fiz as contas – e que, no fundo, promovendo a renovação, Felipão pode manter uma equipa base com a mesma estrutura da anterior.
Com diferenças substanciais que se podem imaginar pensando que, no mesmo onze, podem jogar Cristiano Ronaldo, Quaresma, Carlos Martins e Hugo Almeida … mais um pouco de tudo – técnica, força, juventude e altura – apesar da menor experiência – sem Figo e Pauleta.
A convocatória é inatacável e julgo que também beneficia do facto de os treinadores das três principais equipas portuguesas – Porto, Sporting e Benfica – serem portugueses… A ver os próximos capítulos, até 2008, ou mesmo até ao mundial de 2010. A selecção de Portugal vai continuar a ser muito forte, não só a nível europeu, como mundial … É um facto importante para o país?
Convocados:
Guarda-redes: Quim (Benfica) e Ricardo (Sporting).
Defesas: Fernando Meira (Estugarda, Ale), Caneira (Sporting), Nuno Valente (Everton, Ing), Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho (Chelsea, Ing), Ricardo Costa (FC Porto) e Ricardo Rocha (Benfica).
Médios: Deco (FC Barcelona, Esp), Petit (Benfica), Carlos Martins e João Moutinho (Sporting), Costinha (Atlético de Madrid, Esp) e Tiago (Lyon, Fra).
Avançados: Cristiano Ronaldo (Manchester United, Ing), Ricardo Quaresma e Hélder Postiga (FC Porto), Hugo Almeida (Werder Bremen, Ale), Boa Morte (Fulham, Ing) e Simão e Nuno Gomes (Benfica).
Nuestra familia ha perdido la guerra
Fotografia de Angèle
Um extraordinário testemunho de DAVID GROSSMAN a propósito da morte de seu filho, Uri, em 12 de Agosto de 2006, na guerra do Líbano. Deixo aqui alguns excertos. O artigo, na íntegra, pode ser lido na edição de ontem do “El País” e no IR AO FUNDO E VOLTAR.
El escritor israelí David Grossman recuerda en este artículo a su hijo Uri, muerto el sábado 12 de agosto en el sur de Líbano cuando el carro de combate en el que avanzaba fue alcanzado por un misil antitanque de Hezbolá. Días antes, David Grossman, junto con los escritores Amos Oz y A. B. Yehoshua, había formulado un llamamiento al Gobierno israelí para que finalizara sus operaciones militares en Líbano.
Um extraordinário testemunho de DAVID GROSSMAN a propósito da morte de seu filho, Uri, em 12 de Agosto de 2006, na guerra do Líbano. Deixo aqui alguns excertos. O artigo, na íntegra, pode ser lido na edição de ontem do “El País” e no IR AO FUNDO E VOLTAR.
El escritor israelí David Grossman recuerda en este artículo a su hijo Uri, muerto el sábado 12 de agosto en el sur de Líbano cuando el carro de combate en el que avanzaba fue alcanzado por un misil antitanque de Hezbolá. Días antes, David Grossman, junto con los escritores Amos Oz y A. B. Yehoshua, había formulado un llamamiento al Gobierno israelí para que finalizara sus operaciones militares en Líbano.
(…)
En estos momentos no quiero decir nada de la guerra en la que has muerto. Nosotros, nuestra familia, ya la hemos perdido. Israel hará su examen de conciencia, y nosotros nos encerraremos en nuestro dolor, rodeado de nuestros buenos amigos, arropados en el amor inmenso de tanta gente a la que, en su mayoría, no conocemos, y a la que agradezco su apoyo ilimitado.
Me gustaría mucho que también supiéramos darnos unos a otros este amor y esta solidaridad en otros momentos. Ése es quizá nuestro recurso nacional más especial. Nuestra mayor riqueza natural. Me gustaría que pudiéramos mostrarnos más sensibles unos con otros. Que pudiéramos liberarnos de la violencia y la enemistad que se han infiltrado tan profundamente en todos los aspectos de nuestra vida. Que supiéramos cambiar de opinión y salvarnos ahora, justo en el último instante, porque nos aguardan tiempos muy duros.
(…)
Era un chico que tenía unos valores, ese término tan vilipendiado y ridiculizado en los últimos años. Porque en nuestro mundo loco, cruel y cínico, no es cool tener valores. O ser humanista. O sensible al malestar de los otros, aunque esos otros fueran el enemigo en el campo de batalla.
(…)
segunda-feira, agosto 21
BUSH LEITOR
G. W. Bush
Ainda a propósito das leituras de Bush, assunto que jamais pensei abordar, uma mão atenta e amiga, fez-me chegar a crónica de João Pereira Coutinho publicada na última edição do “Expresso”.
Estou, neste caso, de acordo com o cronista com o qual quase sempre discordava quando lia, religiosamente, o Expresso vício do qual me curei para bem da minha economia doméstica e bem-estar espiritual.
O que diz Coutinho que me fez regozijar, por uma vez, com as suas reflexões acerca do interesse de Bush pela leitura de "O Estrangeiro"? Pondo de lado a afirmação da preferência do cronista por Machado de Assis, no cotejo com Camus, o que não espanta, Coutinho, no fundo, manifesta a sua perplexidade:
“Estranha escolha…” “Será que Bush partilha com Mersault o mesmo ódio cego pelo árabe errante? Ou, pelo contrário, estará antes Bush interessado em compreender o niilismo da personagem, e a forma como ela procura a redenção através da violência – uma bela metáfora sobre a ameaça terrorista corrente? Águas profundas.”
Pelo meu lado encontro uma explicação menos rebuscada que, em traços largos, se resume numa palavra: propaganda para passar na Europa ou, como hfm referiu num comentário a um post anterior, cosmética. Voltarei, de novo, ao assunto que tem suscitado as mais variadas reacções.
Como, entretanto, tal como Bush, tenho andado a ler, e a reler, Camus o que, no meu caso, não suscitará espanto, aqui vos deixo um fragmento de “A Queda” (1956) – que acabei de reler, dias atrás, aconselhando-vos a imaginar a pergunta dirigida ao próprio Bush:
“É verdade, o senhor conhece aquela cela de masmorra a que na Idade Média chamavam o “desconforto”? Em geral, esqueciam-nos aí para o resto da vida. Esta cela distinguia-se das outras por engenhosas dimensões. Não era suficientemente alta para se poder estar de pé, nem suficientemente larga para se poder estar deitado. Tinha-se adoptado o género tolhido, viver em diagonal; o sono era uma queda, a vigília um acocoramento. (…) Que a inocência seja forçada a viver corcunda, recuso-me a considerar por um único segundo esta hipótese. De resto, nós não podemos afirmar a inocência de ninguém, ao passo que podemos afirmar com segurança a culpabilidade de todos.”
Ainda a propósito das leituras de Bush, assunto que jamais pensei abordar, uma mão atenta e amiga, fez-me chegar a crónica de João Pereira Coutinho publicada na última edição do “Expresso”.
Estou, neste caso, de acordo com o cronista com o qual quase sempre discordava quando lia, religiosamente, o Expresso vício do qual me curei para bem da minha economia doméstica e bem-estar espiritual.
O que diz Coutinho que me fez regozijar, por uma vez, com as suas reflexões acerca do interesse de Bush pela leitura de "O Estrangeiro"? Pondo de lado a afirmação da preferência do cronista por Machado de Assis, no cotejo com Camus, o que não espanta, Coutinho, no fundo, manifesta a sua perplexidade:
“Estranha escolha…” “Será que Bush partilha com Mersault o mesmo ódio cego pelo árabe errante? Ou, pelo contrário, estará antes Bush interessado em compreender o niilismo da personagem, e a forma como ela procura a redenção através da violência – uma bela metáfora sobre a ameaça terrorista corrente? Águas profundas.”
Pelo meu lado encontro uma explicação menos rebuscada que, em traços largos, se resume numa palavra: propaganda para passar na Europa ou, como hfm referiu num comentário a um post anterior, cosmética. Voltarei, de novo, ao assunto que tem suscitado as mais variadas reacções.
Como, entretanto, tal como Bush, tenho andado a ler, e a reler, Camus o que, no meu caso, não suscitará espanto, aqui vos deixo um fragmento de “A Queda” (1956) – que acabei de reler, dias atrás, aconselhando-vos a imaginar a pergunta dirigida ao próprio Bush:
“É verdade, o senhor conhece aquela cela de masmorra a que na Idade Média chamavam o “desconforto”? Em geral, esqueciam-nos aí para o resto da vida. Esta cela distinguia-se das outras por engenhosas dimensões. Não era suficientemente alta para se poder estar de pé, nem suficientemente larga para se poder estar deitado. Tinha-se adoptado o género tolhido, viver em diagonal; o sono era uma queda, a vigília um acocoramento. (…) Que a inocência seja forçada a viver corcunda, recuso-me a considerar por um único segundo esta hipótese. De resto, nós não podemos afirmar a inocência de ninguém, ao passo que podemos afirmar com segurança a culpabilidade de todos.”
domingo, agosto 20
Carlos Drummond de Andrade
Hipótese
E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.
[In Terra Temperamental – uma referência minha.]
sexta-feira, agosto 18
LORCA ASSASSINADO - 70 ANOS
Federico Garcia Lorca
No “El País” de hoje, Luís Garcia Montero, assinala o 70º aniversário do assassinato de Federico Garcia Lorca. Reproduzo aqui o título, e sub-título, do artigo evocativo e a sua parte final. Também disponível, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR.
Setenta años de un crimen
En una Granada sangrienta, Federico García Lorca fue ejecutado junto a un maestro de escuela y dos banderilleros.
El poeta fue conducido al Gobierno Civil. Luis Rosales intentó liberar a su amigo, pero en el régimen militar que él y sus hermanos estaban ayudando a imponer no había lugar para ciudadanos como Federico García Lorca. Angelina Cordobilla, una mujer que trabajaba para la familia Lorca, llevó comida al detenido las mañanas del 17 y 18 de agosto. Cuando se presentó en el Gobierno la mañana del 19, le dijeron que el poeta no estaba allí. En efecto, durante la noche del 18 al 19 fue conducido a La Colonia, una cárcel improvisada en una villa de recreo, a las afueras de Víznar.
No “El País” de hoje, Luís Garcia Montero, assinala o 70º aniversário do assassinato de Federico Garcia Lorca. Reproduzo aqui o título, e sub-título, do artigo evocativo e a sua parte final. Também disponível, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR.
Setenta años de un crimen
En una Granada sangrienta, Federico García Lorca fue ejecutado junto a un maestro de escuela y dos banderilleros.
El poeta fue conducido al Gobierno Civil. Luis Rosales intentó liberar a su amigo, pero en el régimen militar que él y sus hermanos estaban ayudando a imponer no había lugar para ciudadanos como Federico García Lorca. Angelina Cordobilla, una mujer que trabajaba para la familia Lorca, llevó comida al detenido las mañanas del 17 y 18 de agosto. Cuando se presentó en el Gobierno la mañana del 19, le dijeron que el poeta no estaba allí. En efecto, durante la noche del 18 al 19 fue conducido a La Colonia, una cárcel improvisada en una villa de recreo, a las afueras de Víznar.
Al amanecer, como escribió Antonio Machado, se le vio caminar entre fusiles, en Granada, en su Granada. Fue ejecutado junto al maestro Dióscoro Galindo y los banderilleros Francisco Galadí y Joaquín Arcollas. Un enterrador de La Colonia acompañó hace años al escritor Ian Gibson a la fosa donde fueron sepultados los cuerpos. Durante muchos años, el barranco de Víznar ha sido el territorio sagrado de los demócratas granadinos, el lugar en el que hemos rendido culto a nuestros muertos. La democracia urbanizó aquel espacio simbólico que había formado la historia bárbara de España, construyendo allí un parque en recuerdo de las víctimas de la Guerra Civil.
quinta-feira, agosto 17
BUSH E CAMUS
Esta imagem vem a propósito de uma curiosa notícia inserta no “Público” de ontem: Bush terá lido, nas férias, “O Estrangeiro”, de Camus, e terá gostado do que leu. O que mais me pode acontecer!
A minha leitura perversa da coisa é a seguinte: um conselheiro de Bush, mais versado na leitura dos clássicos, conhecendo a obra e a biografia de Camus, face à necessidade urgente de lançar sinais de aproximação com a Europa – Grã-Bretanha à parte – lembrou-se da obra de um autor que não pudesse ser incomodado pela razão simples de estar morto.
Tendo o dito conselheiro lido, na sua juventude, “O Estrangeiro” – obra consagrada, de autor nascido num país árabe, título sugestivo e tema oportuno, no contexto político actual - dela fez uma breve resenha que, na melhor das hipóteses, leu a Bush.
O conselheiro deve saber que Camus era um pacifista, que nunca defenderia as políticas de Bush, nem da actual liderança de Israel, nem do Hezbollah; que se colocaria, inevitavelmente, numa posição “impossível” de conciliação entre as partes em conflito; que sempre defenderia a coexistência pacífica de todas as raças e religiões sob o império da tolerância e da liberdade.
Como acabei de reler “A Queda” aconselharia ao tal conselheiro a preparação de uma resenha desta obra, a apresentar a Bush, na qual colocaria em destaque a seguinte passagem: "Quando se meditou muito sobre o homem, por ofício ou vocação, acontece-nos sentirmos nostalgia dos primatas. Esses ao menos não têm segundas intenções."
PENTIMENTO
Adélia Prado
Pelos favores do alfabeto tenho a honra de ser o blogue cabeça nos links do pentimento.
Vem esta referência a propósito de um excerto da reportagem que Marcelo dá à estampa no post “Balanço da Flip” focando a participação de uma poeta da minha predilecção: Adélia Prado.
Pelos favores do alfabeto tenho a honra de ser o blogue cabeça nos links do pentimento.
Vem esta referência a propósito de um excerto da reportagem que Marcelo dá à estampa no post “Balanço da Flip” focando a participação de uma poeta da minha predilecção: Adélia Prado.
Aqui o transcrevo: (…) Mas não deixei de acordar para assistir à Adélia Prado. E a apresentação dela foi o fecho de ouro da Flip 2006. Vencendo a timidez com simpatia e simplicidade, Adélia fez um pronunciamento contundente sobre a perda do simbólico, chegando a criticar (com meu aplauso) as enganações rasteiras de parte da arte contemporânea, personificadas principalmente com as chamadas "instalações". "Quando tudo é arte, nada é arte", sentenciou a poeta.
Em sua fala, Adélia enfatizou que a arte tem poder semelhante ao da religião, já que também possibilita uma "religação" com o transcendente. Como seu próprio trabalho demonstra, ela entende que tal "religação" – que eu chamaria de epifania – acontece cotidianamente, o que foi ilustrado no momento da palestra com leitura do belo Casamento ("Há mulheres que dizem: / Meu marido, se quiser pescar, pesque, / mas que limpe os peixes...").
Adélia chegou e levou quase todo mundo às lágrimas quando, visivelmente emocionada, engasgou com os versos de um poema em que lembrava do pai. Era a arte, que ela mencionara há pouco, novamente transcendendo, em meio a uma tenda lotada de corações aflitos e subitamente felizes. E assim terminou a minha Flip. (…)
quarta-feira, agosto 16
NA VÉSPERA DAS ELEIÇÕES PARA A CONSTITUINTE - 1975
Clicar no cartaz para aumentar
Cartaz do MES – Lisboa, Ano: 1975, Arquivo: CDBMP
Este é um cartaz com a linha gráfica adoptada em 1975 que, ao que me lembro, já não é de autoria de Robin Fior. Neste caso estávamos nas vésperas das eleições para a Assembleia Constituinte, as primeiras eleições livres, realizadas depois de 1926, precisamente no dia 25 de Abril de 1975 e anunciava o maior comício que deve ter sido realizado pelo MES em toda a sua existência.
O símbolo do MES, criado por Robin Fior, perdurou e, regra geral, assumia, em todos os materiais de propaganda, importância central na mensagem que se pretendia transmitir. Curiosamente, como já tenho dito, trata-se do único símbolo, de todos os partidos políticos portugueses, com uma feição marcadamente feminil.
A propaganda do MES apresentou uma outra característica singular: não foi, em momento algum, personificada por qualquer líder. De facto, no MES, nunca existiu a figura estatutária – ou mesmo simbólica – de um secretário-geral, ou presidente, tendo sempre sido dirigido de forma colegial.
O símbolo surgia nos cartazes, e noutros materiais de propaganda, com grande destaque acompanhado de palavras de ordem ou informações objectivas conclamando para comícios ou outras manifestações públicas.
Este é um cartaz com a linha gráfica adoptada em 1975 que, ao que me lembro, já não é de autoria de Robin Fior. Neste caso estávamos nas vésperas das eleições para a Assembleia Constituinte, as primeiras eleições livres, realizadas depois de 1926, precisamente no dia 25 de Abril de 1975 e anunciava o maior comício que deve ter sido realizado pelo MES em toda a sua existência.
O símbolo do MES, criado por Robin Fior, perdurou e, regra geral, assumia, em todos os materiais de propaganda, importância central na mensagem que se pretendia transmitir. Curiosamente, como já tenho dito, trata-se do único símbolo, de todos os partidos políticos portugueses, com uma feição marcadamente feminil.
A propaganda do MES apresentou uma outra característica singular: não foi, em momento algum, personificada por qualquer líder. De facto, no MES, nunca existiu a figura estatutária – ou mesmo simbólica – de um secretário-geral, ou presidente, tendo sempre sido dirigido de forma colegial.
O símbolo surgia nos cartazes, e noutros materiais de propaganda, com grande destaque acompanhado de palavras de ordem ou informações objectivas conclamando para comícios ou outras manifestações públicas.
Cronologia da II Grande Guerra
Imagem dos derrotados
Ressonância do dia 16 de Agosto de 2004 no qual publiquei uma cronologia dos acontecimentos mais relevantes do último capítulo da II Guerra Mundial. Em Agosto de 1944 o nazi-fascimo agonizava perante a ofensiva das forças aliadas. Não esquecer que durante a II Guerra Mundial morreram milhões de cidadãos do mundo. Além dos judeus, vítimas privilegiadas do nazi-fascimo, morreram milhões de civis e militares muitos destes combatendo fora das fronteiras do seu país. Entre estes avultam milhões de soviéticos e norte americanos que combateram em território europeu.
O mês de agosto de 1944 foi decisivo na ofensiva das forças aliadas na Europa.
Ressonância do dia 16 de Agosto de 2004 no qual publiquei uma cronologia dos acontecimentos mais relevantes do último capítulo da II Guerra Mundial. Em Agosto de 1944 o nazi-fascimo agonizava perante a ofensiva das forças aliadas. Não esquecer que durante a II Guerra Mundial morreram milhões de cidadãos do mundo. Além dos judeus, vítimas privilegiadas do nazi-fascimo, morreram milhões de civis e militares muitos destes combatendo fora das fronteiras do seu país. Entre estes avultam milhões de soviéticos e norte americanos que combateram em território europeu.
O mês de agosto de 1944 foi decisivo na ofensiva das forças aliadas na Europa.
terça-feira, agosto 15
Günter Grass
Günter Grass
Na sua biografia, até uns dias atrás, estavam rasuradas duas letras fatídicas: SS.
Como tenho andado a ler, e a reler, Camus, Nobel da literatura, tal como Grass, sou capaz de compreender a declaração de arrependimento público deste último.
Pode estalar, contra Grass, o verniz do mundo bem pensante, ser ostentada a maior das animosidades, emergir o ódio em belas palavras de efeito fácil.
Podem os democratas, anti fascistas e amantes da liberdade (pelos vistos, hoje, todos são democratas, anti fascistas e amantes da liberdade!), aproveitar a oportunidade para mostrar as suas comendas e o seu nojo pelas monstruosidades do nazi-fascismo, mas se Grass revelou a verdade – e tudo indica que sim – assumiu um gesto de honradez. Ponto final.
Na sua biografia, até uns dias atrás, estavam rasuradas duas letras fatídicas: SS.
Como tenho andado a ler, e a reler, Camus, Nobel da literatura, tal como Grass, sou capaz de compreender a declaração de arrependimento público deste último.
Pode estalar, contra Grass, o verniz do mundo bem pensante, ser ostentada a maior das animosidades, emergir o ódio em belas palavras de efeito fácil.
Podem os democratas, anti fascistas e amantes da liberdade (pelos vistos, hoje, todos são democratas, anti fascistas e amantes da liberdade!), aproveitar a oportunidade para mostrar as suas comendas e o seu nojo pelas monstruosidades do nazi-fascismo, mas se Grass revelou a verdade – e tudo indica que sim – assumiu um gesto de honradez. Ponto final.
segunda-feira, agosto 14
MES - CARTAZES
Imagem cedida por Margarida Boto
Clicar no cartaz para aumentar
Cartaz do MES – Almada, Ano: 1975, Arquivo: CNE
Clicar no cartaz para aumentar
Cartaz do MES – Almada, Ano: 1975, Arquivo: CNE
Recentemente fui contactado pela Margarida Boto que, no âmbito de um trabalho académico, aborda a questão do grafismo dos cartazes poíltico-partidários, abarcando o período 1969/80. Eu próprio gostaria de possuir mais informação acerca da génese dos cartazes do MES. Aqueles que Margarida Boto recolheu e que me disponibilizou, em suporte digital, são do período posterior à colaboração de Robin Fior. O cartaz que agora se publica é, como um outro desta série, de concepção e produção local e apresenta um grafismo singular no universo dos cartazes do MES.
Alguns cartazes do MES [Movimento de Esquerda Socialista] estão também disponíveis no site do Centro de Documentação 25 de Abril que mostra um conjunto, com uma marcada concepção artesanal, certamente, de iniciativa das estruturas de base, com excepção do último que é, se não erro, o primeiro verdadeiro cartaz do MES. Este mostra um desenvolvimento da linha gráfica concebida por Robin Fior que foi o autor do símbolo do MES e da sua linha gráfica inaugural, em particular, a partir da concepção do seu órgão de imprensa: “Esquerda Socialista”.
Com os meus agradecimentos à Margarida Boto, não vou alongar-me em comentários, na expectativa de que me possam ser enviadas mais informações acerca de cada um dos exemplares desta série cuja publicação agora inicio.
Da escrita à obra
Roland Barthes
Ressonância de 14 de Agosto de 2004. Nesse dia publiquei o fragmento 25 do meu livro artesanal resultante de uma antiga leitura de "Roland Barthes por Roland Barthes":
Ressonância de 14 de Agosto de 2004. Nesse dia publiquei o fragmento 25 do meu livro artesanal resultante de uma antiga leitura de "Roland Barthes por Roland Barthes":
"Mas na nossa sociedade mercantil tem de se chegar a ter uma "obra": é preciso construir, ou seja terminar, uma mercadoria. Enquanto escrevo, a escrita é assim constantemente achatada, banalizada, culpabilizada pela obra para a qual se torna forçoso concorrer. Como escrever por entre todas as armadilhas que me são postas pela imagem colectiva da obra? - Pois bem, cegamente. A cada momento do trabalho, perdido, aflito e pressionado, apenas consigo dizer para comigo a palavra com que Sartre termina o Huis Clos: continuemos.
A escrita é esse jogo através do qual eu me viro como num espaço estreito: estou entalado, estrebucho entre a histeria necessária para escrever e o imaginário que vigia, enaltece, purifica, banaliza, codifica, corrige, impõe a visada (e a visão) duma comunicação social. Por um lado quero que me desejem e, por outro, que não me desejem: histérico e obsessivo ao mesmo tempo."
domingo, agosto 13
NAIDE
Fotografia daqui
Naide Gomes é uma preciosidade como atleta em diversas disciplinas técnicas nas quais Portugal, por tradição, não alcançava grandes resultados.
Este europeu de atletismo mostrou que, ao contrário do passado, o país já não se afirma nas corridas de fundo mas nas disciplinas técnicas. É um sinal de progresso.
Naide, por vezes, falha nos momentos decisivos. Nestes europeus de atletismo esteve ao seu melhor nível. Bem haja.
Naide Gomes é uma preciosidade como atleta em diversas disciplinas técnicas nas quais Portugal, por tradição, não alcançava grandes resultados.
Este europeu de atletismo mostrou que, ao contrário do passado, o país já não se afirma nas corridas de fundo mas nas disciplinas técnicas. É um sinal de progresso.
Naide, por vezes, falha nos momentos decisivos. Nestes europeus de atletismo esteve ao seu melhor nível. Bem haja.
sexta-feira, agosto 11
A terra
Sem título – Desenho de meu filho Manuel, Fevereiro de 2000, pelos seus nove anos.
A terra
na guerra
é nossa
- do povo.
Na paz
a terra é vossa.
E o povo?
Na terra jaz,
nas grades
do ovo –
sem guerra,
nem paz
nem renovo.
[A propósito do que li no Alicerces. Este é o poema 24 de “Jardins de Guerra”, de Casimiro de Brito, cujos primeiros versos sublinhei a lápis. Foi a minha iniciação à poesia nos idos de Março de 1967.]
A terra
na guerra
é nossa
- do povo.
Na paz
a terra é vossa.
E o povo?
Na terra jaz,
nas grades
do ovo –
sem guerra,
nem paz
nem renovo.
[A propósito do que li no Alicerces. Este é o poema 24 de “Jardins de Guerra”, de Casimiro de Brito, cujos primeiros versos sublinhei a lápis. Foi a minha iniciação à poesia nos idos de Março de 1967.]
Francis Obikwelu
Francis Obikwelu
Fiz tudo para assistir à final de 200 metros do europeu de atletismo. Apesar do jantar, a convite de amigos, num cenário de sonho, ali para os lados do Penedo – Sintra – a sorte protegeu-me pois o anfitrião compartilhava as mesmas expectativas.
Queria assistir aquela final pois nela se reuniam um conjunto de circunstâncias muito interessantes: o atleta/campeão é originário da Nigéria, foi campeão júnior nuns campeonatos mundiais realizados, em 1994, em Portugal; sonhava com a Europa e deixou-se ficar por cá; apesar do seu elevado potencial atlético foi desprezado por todos os clubes aos quais se ofereceu; caiu na miséria, passou fome, trabalhou na construção civil e foi acarinhado, no Algarve, por uma professora inglesa.
Finalmente um treinador de atletismo do Belenenses, a pedido dessa professora, aceitou recebê-lo, assim como uma família que lhe dedicou especial afecto. Depois de passar pelo Sporting, e de um conjunto de feitos atléticos assinaláveis, foi-lhe atribuída a nacionalidade portuguesa.
Hoje, sendo natural da Nigéria, é naturalizado português, vive em Espanha, é treinado por uma espanhola e dá voltas de honra com a bandeira portuguesa. Não sei se repararam que a televisão sueca deu mais destaque ao sueco que alcançou o 2º lugar do que ao verdadeiro campeão.
Em qualquer caso este campeão – Francis Obikwelu – é o mais valioso trunfo português – e europeu – na luta contra o racismo e a xenofobia. Aproveite quem está em condições de aproveitar este trunfo … a começar pelo estado português! Como? É fácil desde que haja vontade política.
Fiz tudo para assistir à final de 200 metros do europeu de atletismo. Apesar do jantar, a convite de amigos, num cenário de sonho, ali para os lados do Penedo – Sintra – a sorte protegeu-me pois o anfitrião compartilhava as mesmas expectativas.
Queria assistir aquela final pois nela se reuniam um conjunto de circunstâncias muito interessantes: o atleta/campeão é originário da Nigéria, foi campeão júnior nuns campeonatos mundiais realizados, em 1994, em Portugal; sonhava com a Europa e deixou-se ficar por cá; apesar do seu elevado potencial atlético foi desprezado por todos os clubes aos quais se ofereceu; caiu na miséria, passou fome, trabalhou na construção civil e foi acarinhado, no Algarve, por uma professora inglesa.
Finalmente um treinador de atletismo do Belenenses, a pedido dessa professora, aceitou recebê-lo, assim como uma família que lhe dedicou especial afecto. Depois de passar pelo Sporting, e de um conjunto de feitos atléticos assinaláveis, foi-lhe atribuída a nacionalidade portuguesa.
Hoje, sendo natural da Nigéria, é naturalizado português, vive em Espanha, é treinado por uma espanhola e dá voltas de honra com a bandeira portuguesa. Não sei se repararam que a televisão sueca deu mais destaque ao sueco que alcançou o 2º lugar do que ao verdadeiro campeão.
Em qualquer caso este campeão – Francis Obikwelu – é o mais valioso trunfo português – e europeu – na luta contra o racismo e a xenofobia. Aproveite quem está em condições de aproveitar este trunfo … a começar pelo estado português! Como? É fácil desde que haja vontade política.
quinta-feira, agosto 10
CAMUS - BIOGRAFIA
Albert Camus – Paris 1953
Depois de retomada finalizei hoje a leitura de uma biografia – muito bem documentada – de Camus. [Olivier Todd – Albert Camus - Una vida, versão em espanhol, da TusQuets Editores].
Não é o momento para tecer comentários a uma tão volumosa torrente de informações acerca do homem e da sua obra. [900 paginas].
Deixo uma nota – das últimas que escreveu - e que , em poucas palavras, exprime uma faceta do seu espirito, inserida nos anexos da sua última obra “Le premier homme”, editada em 1994, 34 anos após a sua morte:
«Ce qu´on appelle le scepticisme des nouvelles générations – mensonge.
Depuis quand l´honnête homme qui refuse de croire le menteur est-il le sceptique?»
(In «Le premier homme» (Notes et plans)
Depois de retomada finalizei hoje a leitura de uma biografia – muito bem documentada – de Camus. [Olivier Todd – Albert Camus - Una vida, versão em espanhol, da TusQuets Editores].
Não é o momento para tecer comentários a uma tão volumosa torrente de informações acerca do homem e da sua obra. [900 paginas].
Deixo uma nota – das últimas que escreveu - e que , em poucas palavras, exprime uma faceta do seu espirito, inserida nos anexos da sua última obra “Le premier homme”, editada em 1994, 34 anos após a sua morte:
«Ce qu´on appelle le scepticisme des nouvelles générations – mensonge.
Depuis quand l´honnête homme qui refuse de croire le menteur est-il le sceptique?»
(In «Le premier homme» (Notes et plans)
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