terça-feira, agosto 15

Günter Grass

Posted by Picasa Günter Grass

Na sua biografia, até uns dias atrás, estavam rasuradas duas letras fatídicas: SS.

Como tenho andado a ler, e a reler, Camus, Nobel da literatura, tal como Grass, sou capaz de compreender a declaração de arrependimento público deste último.

Pode estalar, contra Grass, o verniz do mundo bem pensante, ser ostentada a maior das animosidades, emergir o ódio em belas palavras de efeito fácil.

Podem os democratas, anti fascistas e amantes da liberdade (pelos vistos, hoje, todos são democratas, anti fascistas e amantes da liberdade!), aproveitar a oportunidade para mostrar as suas comendas e o seu nojo pelas monstruosidades do nazi-fascismo, mas se Grass revelou a verdade – e tudo indica que sim – assumiu um gesto de honradez. Ponto final.

2 comentários:

Carminda Pinho disse...

Nem mais.
Basta de hipocrisias.

Anónimo disse...

PORTO, 2006.08.16
Viva.
Grass arrependeu-se da sua participação nas tropas de elite nazis SS e disse"Este segredo sempre me atormentou". O autor de "O Tambor de Lata", em que a personagem principal, Oskar Mathzeratt, se recusa a crescer e a integrar o mundo intolerante dos adultos que marcou os auspícios do nazismo, adiantou ainda que foi incorporado aos 17 anos, e que o seu silêncio durante todos este tempo "foi um dos motivos" para escrever o livro em questão. O escritor alemão disse ainda que se inscreveu no exército nazi como voluntário, "mas não para as SS, e sim para a tripulação dos submarinos, o que era uma loucura idêntica".
No entanto, como na marinha já não admitiam mais ninguém para os submarinos, foi integrado nas SS, "que nos últimos anos da guerra recebia já toda a gente que quisesse ir para lá", disse Grass.
O conceituado autor adiantou ainda que, na altura, as SS para ele "não eram nada de terrível, mas apenas uma unidade de élite", sublinhando que só mais tarde foi atormentado por sentimentos de culpa.
"A questão para mim foi sempre se deveria ou não ter reconhecido, naquela altura, o que se estava a passar comigo", admitiu Grass na conversa com o Frankfurter Allgemeine.
O escritor disse ainda que sempre pensou que um dia teria de revelar esta faceta do seu passado, embora não saiba se, entretanto, desperdiçou o momento oportuno.
"Não sei, certamente que acreditava que o que fiz como escritor era suficiente, fiz o meu processo de aprendizagem e tirei as devidas ilações, mas na verdade ficou sempre esse resquício de uma nódoa".
Menos escaldantes do que as revelações agora feitas ao Frankfurter Allgemeine foi o encontro de Grass num campo de prisioneiros de guerra dos aliados, após a II Guerra Mundial, com um jovem chamado Joseph, que era Joseph Ratzinger, o actual Papa Bento XVI. "Ele tornou-se meu amigo e meu parceiro do jogo de dados, porque eu tinha um copo para os lançar que levei para o campo", gracejou o escritor.
"Queria ser artista, ele queria fazer carreira na Igreja, parecia-me um pouco inibido, mas era um tipo simpático", disse ainda.
De facto, Joseph Ratzinger esteve internado no campo de prisioneiros de guerra em Bad Aibling, e ainda não se sabe se o Vaticano vai tomar sobre as recordações de Günter Grass. (retirado da net)


O meu comentário é.

“Dessa pesquisa que fiz resulta que o escritor deu a cara. Às vezes, em entrevistas via TV que ouço, entrevistadores há que dizem aos políticos o seguinte: O senhor há dez anos sobre o mesmo assunto disse ao contrário do que está dizendo agora, como é?... E este aspecto é quase considerado como crime. Eu, pessoalmente, acho que a coerência sobre determinado assunto pode não aguentar dez anos. Porque aceito uma mudança de opinião mais tarde. Não sei o que vale Grass como escritor mas parece-me que no campo dos valores e como homem teve coragem e carácter. Concordo com o EG quando diz que Grass assumiu um gesto de honradez.
JS