segunda-feira, agosto 21

BUSH LEITOR

Posted by Picasa G. W. Bush

Ainda a propósito das leituras de Bush, assunto que jamais pensei abordar, uma mão atenta e amiga, fez-me chegar a crónica de João Pereira Coutinho publicada na última edição do “Expresso”.

Estou, neste caso, de acordo com o cronista com o qual quase sempre discordava quando lia, religiosamente, o Expresso vício do qual me curei para bem da minha economia doméstica e bem-estar espiritual.

O que diz Coutinho que me fez regozijar, por uma vez, com as suas reflexões acerca do interesse de Bush pela leitura de "O Estrangeiro"? Pondo de lado a afirmação da preferência do cronista por Machado de Assis, no cotejo com Camus, o que não espanta, Coutinho, no fundo, manifesta a sua perplexidade:

“Estranha escolha…” “Será que Bush partilha com Mersault o mesmo ódio cego pelo árabe errante? Ou, pelo contrário, estará antes Bush interessado em compreender o niilismo da personagem, e a forma como ela procura a redenção através da violência – uma bela metáfora sobre a ameaça terrorista corrente? Águas profundas.”

Pelo meu lado encontro uma explicação menos rebuscada que, em traços largos, se resume numa palavra: propaganda para passar na Europa ou, como hfm referiu num comentário a um post anterior, cosmética. Voltarei, de novo, ao assunto que tem suscitado as mais variadas reacções.

Como, entretanto, tal como Bush, tenho andado a ler, e a reler, Camus o que, no meu caso, não suscitará espanto, aqui vos deixo um fragmento de “A Queda” (1956) – que acabei de reler, dias atrás, aconselhando-vos a imaginar a pergunta dirigida ao próprio Bush:

“É verdade, o senhor conhece aquela cela de masmorra a que na Idade Média chamavam o “desconforto”? Em geral, esqueciam-nos aí para o resto da vida. Esta cela distinguia-se das outras por engenhosas dimensões. Não era suficientemente alta para se poder estar de pé, nem suficientemente larga para se poder estar deitado. Tinha-se adoptado o género tolhido, viver em diagonal; o sono era uma queda, a vigília um acocoramento. (…) Que a inocência seja forçada a viver corcunda, recuso-me a considerar por um único segundo esta hipótese. De resto, nós não podemos afirmar a inocência de ninguém, ao passo que podemos afirmar com segurança a culpabilidade de todos.”

3 comentários:

hfm disse...

Creio que não, Eduardo, o cansaço já é muito e nem os óculos ajudam ;)

Anónimo disse...

O texto do EG “about Bush” deve ser pertinente, porque o EG escreve bem e sabe o que escreve. Eu digo deve ser porque não percebi lá muito bem o conteúdo do mesmo. O Bush anda na crista da onda desde o segundo mandato, pelo menos. Vejo que de uma maneira geral toda a esquerda em Portugal é anti Bush. Eu, que me considero de esquerda não vejo nele a tal fera. Mas que há qualquer coisa há. Ainda aqui há dias, em entrevista dada ao Expresso o actor Joaquim de Almeida disse que era cidadão americano com muito gosto, porque, entre outros aspectos favoráveis, podia ainda votar contra o Bush. É sintomático; o homem talvez tenha metido a pata na possa. Bush não gosta dos árabes? Parece evidente... sobretudo do Irão, por causa da bomba atómica, dizem. E do Iraque... gosta? Não... esses também tinham armas não sei quantas que depois se veio a verificar que não tinham. O EG diz que continua a ler Camus e eu ando a dar umas voltas à História de Portugal, naquela zona do Liberalismo, Regeneração e Geração de 70 e concluí que o mundo já esteve melhor do que agora. Se calhar também por causa do Bush, sabe-se lá. Vamos atacá-lo a sério? Com ironia apenas, é curto. Quem dá aí o primeiro passo. MB

Anónimo disse...

PORTO,2006.08.22
Viva.
Ora vamos lá atacar o Bush. O problema, na minha opinião, não será de atacar o Bush propriamente, mas sim recordar como a força dos poderosos ainda é perfeitamente visível. O senhor Bush actua numa condição clara de quero posso e mando, não respeitando nem a vida das pessoas, nem a liberdade dos povos, nem a religião dos ditos, nem, admita-se, a pretensa felicidade dos mesmos. Mesmo não se percebendo os xiitas que se autoflagelam, propiciando um espectáculo horrível e ... vamos lá, incoerente, temos de os respeitar. E seria fácil, ao senhor Bush, se se recordasse da História do seu próprio país, nomeadamente da Declaração do Congresso de Filadélfia de 4 de Julho de 1776 (ou declaração da Independência), onde consta que: todos os homens nascem iguais; todos são dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis; entre estes direitos contam-se a vida, a liberdade e a felicidade. Os Governos são estabelecidos pelos homens para garantirem esses direitos e o seu justo poder emana do consentimento dos governados. Todas as vezes que um governo se torne contrário a esses objectivos, o povo tem o direito de o mudar ou de o abolir ou de estabelecer um novo governo...
Para começar, será que o conteúdo da Declaração da Independência estará a ser posto em prática? JS