sexta-feira, agosto 25

A pessoa dividida ?

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Dos meus fragmentos de “Roland Barthes por Roland Barthes” publicados num livro artesanal vai para muitos anos. Ressonância de 25 de Agosto de 2004.

"Como é que você explica, como é que tolera essas contradições? Filosoficamente, parece ser materialista (se é que esta palavra não soa muito a velho); eticamente, você divide-se: quanto ao corpo, é edonista; quanto à violência, talvez seja antes budista ! Não gosta da fé mas sente uma certa nostalgia dos ritos, etc. Você é uma miscelânea de reacções: haverá em si alguma coisa primeira ?
Qualquer classificação que você leia dá-lhe logo vontade de se encaixar nela: onde é o seu lugar? Julga primeiro que o encontrou: mas pouco a pouco, como uma estátua que se desagrega, ou um relevo que se desgasta, se estira e perde a forma, ou melhor ainda, como Harpo Marx ao perder a barba postiça por acção da água que está beber, deixa de ser classificável, não por excesso de personalidade mas, pelo contrário, porque percorre todas as faixas do espectro: reúne em si traços pretensamente distintivos, que portanto já nada distinguem; descobre que é ao mesmo tempo (ou alternadamente) obsessivo, histérico, paranóico e além disso perverso (sem falar das psicoses amorosas), ou que adiciona todas as filosofias decadentes: o epicurismo, o eudemonismo, o asianismo, o maniqueísmo, o pirronismo.
"Tudo se fez em nós porque nós somos nós, sempre nós e nem por um minuto os mesmos" (Diderot, Refutação de Hevetius.)"

1 comentário:

Anónimo disse...

PORTO, 2006.08.25
Olá.
O texto é violento. Vou pegar na frase: -“"Tudo se fez em nós porque nós somos nós, sempre nós e nem por um minuto os mesmos" (Diderot, Refutação de Hevetius.)" para valorizar um pouco a minha época preferida em História, o Iluminismo e porque Deniz Diderot é um autor dessa época, que colaborou na Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, um documento extraordinário para a época, que contribuiu não só para a difusão das novas ideias sobre a sociedade e sobre o poder, mas também para um melhor conhecimento dos progressos técnicos e científicos dessa altura. Esta grande obra, editada em 28 volumes, 71 818 artigos e ainda 2 885 ilustrações e que contou com a contribuição de 130 especialistas nas diversas matérias (História, Filosofia e Poesia) constituiu para os escritores que nela colaboraram a destruição das superstições e do acesso ao conhecimento humano. A enciclopédia elogiava pensadores protestantes e desafiava os dogmas da Igreja Católica Romana . Curioso notar que Diderot talvez o primeiro intelectual a viver da literatura nunca foi considerado um filósofo, mas sim escritor, apesar da frase citada ser filosófica:- Concordo que não sejamos nem por um minuto os mesmos, porque percebo e entendo que o homem está numa evolução constante e é importante que esteja. Em poucas palavras é isto, porque a frase dá para escrever um livro.
Igualmente a prosa de Roland Barthes é difícil, onde “Você não gosta da fé mas sente uma certa nostalgia dos ritos” é um exemplo.
Difícil entrar aqui neste texto.
JS