segunda-feira, agosto 14

Da escrita à obra

Posted by Picasa Roland Barthes

Ressonância de 14 de Agosto de 2004. Nesse dia publiquei o fragmento 25 do meu livro artesanal resultante de uma antiga leitura de "Roland Barthes por Roland Barthes":

"Mas na nossa sociedade mercantil tem de se chegar a ter uma "obra": é preciso construir, ou seja terminar, uma mercadoria. Enquanto escrevo, a escrita é assim constantemente achatada, banalizada, culpabilizada pela obra para a qual se torna forçoso concorrer. Como escrever por entre todas as armadilhas que me são postas pela imagem colectiva da obra? - Pois bem, cegamente. A cada momento do trabalho, perdido, aflito e pressionado, apenas consigo dizer para comigo a palavra com que Sartre termina o Huis Clos: continuemos.
A escrita é esse jogo através do qual eu me viro como num espaço estreito: estou entalado, estrebucho entre a histeria necessária para escrever e o imaginário que vigia, enaltece, purifica, banaliza, codifica, corrige, impõe a visada (e a visão) duma comunicação social. Por um lado quero que me desejem e, por outro, que não me desejem: histérico e obsessivo ao mesmo tempo."

2 comentários:

Anónimo disse...

Porto, 2006.08.14
Viva a cultura.
Barthes 1915.11.12/1980.03.23 foi um escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês que nunca tinha ouvido falar. E fiquei envergonhado quando o descobri na net com tamanho potencial. É da escola estruturalista e foi crítico dos conceitos teóricos complexos que circularam dentro dos centros educativos franceses nos anos 50 entre outras coisas. Uma frase sua que achei gira:- Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum". Não sabia que os semiólogos também tinham disto!... JS

Joaquim Diabinho disse...

Permita-me, caro Eduardo Graça,reforçar as suas palavras com palavras de R.Barthes que, atrevo-me dizê-lo, encaixam na perfeição.Abraço, JD:
“Ecrire c’est ébranler le sens du monde, y disposer une interrogation indirecte, à laquelle l’écrivain, par un dernier suspens, s’abstient de répondre. La réponse c’est chacun de nous qui la donne, y apportant son histoire, son langage, sa liberté; mais comme histoire, langage et liberté changent infiniment, la réponse du monde à l’écrivain est infinie: on ne cesse jamais de répondre à ce qui a été écrit hors de toute réponse: affirmés, puis mis en rivalité, puis remplacés, les sens passent, la question demeure.” (Sur Racine, 1963, Points, Seuil, p. 7.)