Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, setembro 4
SUAS EXCELÊNCIAS OS CTT's
Imagem daqui
Este é o relato de um caso real de como em Portugal os “serviços de excelência” encobrem a captura de vantagens ilegítimas ao arrepio do interesse público. Ou de como os serviços postais prestados pelos CTT’s encobrem uma actividade financeira de porte duvidoso.
Como anteriormente já disse um dia destes no intervalo de uma venturosa ida a um centro de saúde com o meu filho a propósito da qual tive oportunidade de falar bem do dito o que acresce muito prazer ao meu quotidianos pois ser bem tratado é no fundo o nosso maior desejo fui aos CTT’s levantar uma encomenda à cobrança.
Ou seja para resgatar a mercadoria eu teria de pagar o preço da dita cujo fornecedor por sua vez já tinha pago o preço do serviço postal. Tudo bem. Normal. Regular. O acontecimento reporta ao venturoso dia 24 de Agosto do presente.
Para minha surpresa e diga-se profundo escândalo foi-me revelado no acto do levantamento da coisa que os CTT’s salvo na estação dos restauradores em Lisboa não dispõem dessa banalidade dos nossos dias que é um terminal Multibanco. Pagas a dinheiro ou em cheque e vais com sorte. É o progresso das novas tecnologias a todo o vapor empurradas pela estimável modernidade do Dr. Nazaré e dos seus antecessores.
Fui então cordialmente empurrado pela cordial funcionária porta fora para me dirigir à caixa Multibanco mais próxima enxofrado e ainda por cima zurzido pelas diatribes do meu filho que queria à viva força que eu exercesse o direito de protesto no livro de reclamações. Formou-se uma espécie de caravana – com outros infelizes clientes daquela modelar instituição – a caminho da dita caixa Multibanco da qual retirei os 200 euros para pagar em nota batida a dita mercadoria que importava em 195.
Ora no dia de hoje passados sete (7) dias úteis e 11 (onze) “corridos” tive de fazer um contacto telefónico com o fornecedor que curiosamente me informou que tinha acabado de receber a nota de pagamento dos CTT’s o que lhe permitia efectuar o depósito no seu banco e que na melhor das hipóteses demoraria quatro (4) dias a ver a cor do dinheirinho após o chamado processo da compensação.
O pícaro da questão está no facto extraordinário de só passados onze dias (11) após eu ter batido com a nota no dito balcão dos CTT’s o fornecedor ter recebido o documento que lhe permite realizar o depósito o que elevará para quinze dias (15) no mínimo o tempo durante o qual os CTT’s e o sistema financeiro estiveram na posse do dinheirinho destes seus incautos clientes.
Então dá para entender em toda a plenitude a esperteza saloia da administração dos ditos no que respeita à gestão das tecnologias nos processos de pagamento e fluxos financeiros. O negócio dos CTT’s já não é o de levar a “carta a Garcia” mas o do onzeneiro que se entrega a beneficiar de forma ilegítima do alheio resguardando-se certamente na lei e na boa vontade dos cidadãos clientes que assim são obrigados a financiar uma instituição que não sei por que carga de água agregou o prestígio que ostenta.
Ora os meus 195 euros aplicados pelo intermediário espertalhão durante x dias multiplicados por milhares de outras operações do género é um verdadeiro negócio da China. Os CTT’s dizem há muito que vão criar um banco postal. Cuidado! Devia o governo e o Banco de Portugal não largar de mão o assunto e já agora que Deus me perdoe! … Se for possível que se privatizem os CTT’s mas de forma a criar serviços postais em concorrência verdadeira.
Este é o relato de um caso real de como em Portugal os “serviços de excelência” encobrem a captura de vantagens ilegítimas ao arrepio do interesse público. Ou de como os serviços postais prestados pelos CTT’s encobrem uma actividade financeira de porte duvidoso.
Como anteriormente já disse um dia destes no intervalo de uma venturosa ida a um centro de saúde com o meu filho a propósito da qual tive oportunidade de falar bem do dito o que acresce muito prazer ao meu quotidianos pois ser bem tratado é no fundo o nosso maior desejo fui aos CTT’s levantar uma encomenda à cobrança.
Ou seja para resgatar a mercadoria eu teria de pagar o preço da dita cujo fornecedor por sua vez já tinha pago o preço do serviço postal. Tudo bem. Normal. Regular. O acontecimento reporta ao venturoso dia 24 de Agosto do presente.
Para minha surpresa e diga-se profundo escândalo foi-me revelado no acto do levantamento da coisa que os CTT’s salvo na estação dos restauradores em Lisboa não dispõem dessa banalidade dos nossos dias que é um terminal Multibanco. Pagas a dinheiro ou em cheque e vais com sorte. É o progresso das novas tecnologias a todo o vapor empurradas pela estimável modernidade do Dr. Nazaré e dos seus antecessores.
Fui então cordialmente empurrado pela cordial funcionária porta fora para me dirigir à caixa Multibanco mais próxima enxofrado e ainda por cima zurzido pelas diatribes do meu filho que queria à viva força que eu exercesse o direito de protesto no livro de reclamações. Formou-se uma espécie de caravana – com outros infelizes clientes daquela modelar instituição – a caminho da dita caixa Multibanco da qual retirei os 200 euros para pagar em nota batida a dita mercadoria que importava em 195.
Ora no dia de hoje passados sete (7) dias úteis e 11 (onze) “corridos” tive de fazer um contacto telefónico com o fornecedor que curiosamente me informou que tinha acabado de receber a nota de pagamento dos CTT’s o que lhe permitia efectuar o depósito no seu banco e que na melhor das hipóteses demoraria quatro (4) dias a ver a cor do dinheirinho após o chamado processo da compensação.
O pícaro da questão está no facto extraordinário de só passados onze dias (11) após eu ter batido com a nota no dito balcão dos CTT’s o fornecedor ter recebido o documento que lhe permite realizar o depósito o que elevará para quinze dias (15) no mínimo o tempo durante o qual os CTT’s e o sistema financeiro estiveram na posse do dinheirinho destes seus incautos clientes.
Então dá para entender em toda a plenitude a esperteza saloia da administração dos ditos no que respeita à gestão das tecnologias nos processos de pagamento e fluxos financeiros. O negócio dos CTT’s já não é o de levar a “carta a Garcia” mas o do onzeneiro que se entrega a beneficiar de forma ilegítima do alheio resguardando-se certamente na lei e na boa vontade dos cidadãos clientes que assim são obrigados a financiar uma instituição que não sei por que carga de água agregou o prestígio que ostenta.
Ora os meus 195 euros aplicados pelo intermediário espertalhão durante x dias multiplicados por milhares de outras operações do género é um verdadeiro negócio da China. Os CTT’s dizem há muito que vão criar um banco postal. Cuidado! Devia o governo e o Banco de Portugal não largar de mão o assunto e já agora que Deus me perdoe! … Se for possível que se privatizem os CTT’s mas de forma a criar serviços postais em concorrência verdadeira.
domingo, setembro 3
ATENTADO
Atentado contra D. José – 3 de Setembro de 1758
Vieira Lusitano
O início do ano político em 1758 foi duro. Um pequeno contributo para lembrar um fragmento trágico da história política portuguesa.
Vieira Lusitano
O início do ano político em 1758 foi duro. Um pequeno contributo para lembrar um fragmento trágico da história política portuguesa.
ROBERT CAPA
Robert Capa – Mort d'un milicien
Depois de amanhã passam 70 anos sobre o dia exacto em que Robert Capa [1913-1954] fez, na cobertura da Guerra Civil de Espanha, a fotografia mais conhecida da sua extraordinária obra de fotógrafo.
Depois de amanhã passam 70 anos sobre o dia exacto em que Robert Capa [1913-1954] fez, na cobertura da Guerra Civil de Espanha, a fotografia mais conhecida da sua extraordinária obra de fotógrafo.
sábado, setembro 2
ABRANGENTE
Fotografia de Angèle
Nesta época de despedida de férias o Abrangente honra-me com uma referência de primeira linha. Obrigado. É interessante que os favores do abecedário também colocam o absorto no topo dos seus links. Hoje, de facto, não deu Albert Camus mas pedi a minha mulher, que parte amanhã para Paris, para me trazer os dois primeiros volumes da edição recente das suas Obras Completas.
Nesta época de despedida de férias o Abrangente honra-me com uma referência de primeira linha. Obrigado. É interessante que os favores do abecedário também colocam o absorto no topo dos seus links. Hoje, de facto, não deu Albert Camus mas pedi a minha mulher, que parte amanhã para Paris, para me trazer os dois primeiros volumes da edição recente das suas Obras Completas.
RESSONÂNCIA POLÍTICA
Marilyn Monroe
Ressonância, em tom de reflexão política, de 2 de Setembro de 2004 nas vésperas do Congresso do PS. As notícias do presente, ironicamente, parecem sublinhar esta reflexão passada. É interessante como na política a abdicação pode ser uma ideia forte. Não se diga o mesmo da vida.
Ressonância, em tom de reflexão política, de 2 de Setembro de 2004 nas vésperas do Congresso do PS. As notícias do presente, ironicamente, parecem sublinhar esta reflexão passada. É interessante como na política a abdicação pode ser uma ideia forte. Não se diga o mesmo da vida.
Hoje Alegre abdica de um combate futuro em nome de uma “vitória” passada. Mário Soares vem a publico revelar que não abdicou de um combate passado porque o não deixaram abdicar. Mas toda a gente entende que, quer um quer outro, já abdicaram, de facto, da política activa deixando livre o palco para Sócrates. The show must go on …
“A fraqueza de Sócrates é a sua força: não tem passado para esquecer, nem futuro para temer.”
“A fraqueza de Sócrates é a sua força: não tem passado para esquecer, nem futuro para temer.”
sexta-feira, setembro 1
EL ZARPAZO DE DIOS
Diego Valverde Villena
De un zarpazo Dios te muestra el mundo.
Él lo hace así, como jugando,
y te inocula el veneno de la percepción.
Ya toda la belleza se ofrece ante tus ojos
y el amor posible
y la fe necesaria para que hagas milagros.
Tu piel muta y también tus colmillos
y la caza menor te deja insatisfecho.
Dios con su zarpazo te ha hecho de los suyos
y estás absoluta, tremendamente solo.
--------------------------------------------------------
DIEGO VALVERDE VILLENA (Lima, 1967)
Licenciado en Filología Hispánica, Filología Inglesa y Filología Alemana. Ha realizado estudios de especialización en Lengua y Literatura en las universidades de Edimburgo, Dublín, Wroclaw y Salamanca, y estudios de Doctorado en Literatura Medieval en las universidades de Oxford, Heidelberg, Tubinga, Chicago y Complutense de Madrid.
Ha sido profesor de literatura en diversas universidades de Europa y América. Colabora habitualmente con numerosas revistas literarias españolas e hispanoamericanas, y también con instituciones como el Instituto Cervantes, la Agencia Española de Cooperación Internacional, la Casa de América y la Residencia de Estudiantes.
Ha traducido, entre otros, a Arthur Conan Doyle, Rudyard Kipling, George Herbert, Nuno Judice y Paul Éluard, y ha llevado a cabo ediciones críticas de la poesía de Álvaro Mutis y de Luis Alberto de Cuenca.
Ha publicado los poemarios El difícil ejercicio del olvido (1997), Chicago West Barry 628 (2000), No olvides mi rostro (2001), Infierno del enamorado (2002) y El espejo que lleva mi nombre escrito (2006), y han aparecido poemas suyos en antologías y revistas de Europa, América y Asia. En su vertiente de ensayista ha prestado especial atención a Borges, Álvaro Mutis, la literatura medieval y la literatura comparada.
De un zarpazo Dios te muestra el mundo.
Él lo hace así, como jugando,
y te inocula el veneno de la percepción.
Ya toda la belleza se ofrece ante tus ojos
y el amor posible
y la fe necesaria para que hagas milagros.
Tu piel muta y también tus colmillos
y la caza menor te deja insatisfecho.
Dios con su zarpazo te ha hecho de los suyos
y estás absoluta, tremendamente solo.
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DIEGO VALVERDE VILLENA (Lima, 1967)
Licenciado en Filología Hispánica, Filología Inglesa y Filología Alemana. Ha realizado estudios de especialización en Lengua y Literatura en las universidades de Edimburgo, Dublín, Wroclaw y Salamanca, y estudios de Doctorado en Literatura Medieval en las universidades de Oxford, Heidelberg, Tubinga, Chicago y Complutense de Madrid.
Ha sido profesor de literatura en diversas universidades de Europa y América. Colabora habitualmente con numerosas revistas literarias españolas e hispanoamericanas, y también con instituciones como el Instituto Cervantes, la Agencia Española de Cooperación Internacional, la Casa de América y la Residencia de Estudiantes.
Ha traducido, entre otros, a Arthur Conan Doyle, Rudyard Kipling, George Herbert, Nuno Judice y Paul Éluard, y ha llevado a cabo ediciones críticas de la poesía de Álvaro Mutis y de Luis Alberto de Cuenca.
Ha publicado los poemarios El difícil ejercicio del olvido (1997), Chicago West Barry 628 (2000), No olvides mi rostro (2001), Infierno del enamorado (2002) y El espejo que lleva mi nombre escrito (2006), y han aparecido poemas suyos en antologías y revistas de Europa, América y Asia. En su vertiente de ensayista ha prestado especial atención a Borges, Álvaro Mutis, la literatura medieval y la literatura comparada.
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[Quase dois anos passados sobre a publicação do poema Libros, Diego Valverde Villena acaba de me enviar um poema inédito que publico com uma pequena biografia do autor. A colaboração, que muito me honra, realiza-se a meu pedido e o atraso na correspondência é de minha responsabilidade. Os meus agradecimentos.]
quinta-feira, agosto 31
"BLOG DAY"
O “Catatau” incluiu o absorto na sua lista de preferidos a propósito do “dia do blog” – “blog day”, que se cumpriu hoje. Obrigado. Ao interagir conhecemo-nos mesmo sem nunca nos termos ”conhecido”. A blogosfera é uma comunidade com as suas regras próprias. Uma rede com virtualidades comunicacionais aparentemente ilimitadas. É o futuro que nos ultrapassa a cada momento. É o confronto brutal com a realidade da nossa própria ignorância. É o utensílio de trabalho. É a carta com a palavra. A grafonola com a música. O telegrama com a frase. A TV com a imagem. O filme com o enredo. Tudo isso, e muito mais, numa fusão de meios e de sinais que já mudaram a vida da comunidade mesmo quando o fogo da mudança arde e não se sente.
quarta-feira, agosto 30
CAMUS E A GUERRA CIVIL DE ESPANHA
Guernica (1937)
“…porquê a Espanha? Confesso que sinto uma certa vergonha da fazer tal pergunta em seu lugar. Porquê Guernica, Gabriel Marcel? Porquê este ponto de encontro onde, pela primeira vez, face a um mundo ainda adormecido no seu conforto e na sua moral miserável, Hitler Mussolini e Franco demonstraram a umas crianças o que era a técnica totalitária? Sim, porquê esse encontro que nos dizia respeito também a nós? Era a primeira vez que os homens da minha idade viam a injustiça triunfar na História. O sangue da inocência corria então no meio de um imenso palavreado farisaico que, de facto, ainda hoje continua. Porquê a Espanha? Porque poucos são os que não têm que lavar esse sangue das mãos. Sejam quais forem as razões do anticomunismo, e eu conheço algumas boas razões, nunca nós o poderemos aceitar se ele vai ao ponto de esquecer essa injustiça, que se perpetua com a cumplicidade dos nossos governos. Já declarei o mais alto possível a ideia que tenho dos campos de concentração russos. Mas não é isso que me fará esquecer Dachau, Buchenwald e a inominável agonia de milhões de homens, nem a hedionda repressão que dizimou a República Espanhola. Sim, apesar da comiseração dos nossos grandes políticos, tudo isso terá de ser denunciado em conjunto. E não perdoarei esta peste horrível ao Ocidente, só porque ela lavra no Leste em mais ampla extensão. Escreveu você que, para quem estiver bem informado, não é da Espanha que neste momento chegam as notícias mais capazes de desesperar os que prezam a dignidade humana. Está mal informado, Gabriel Marcel. Ainda ontem cinco opositores políticos foram, em Espanha, condenados à morte. Você, porém, cultivando o esquecimento, já se preparava para estar mal informado. Esquece-se que as primeiras armas da guerra totalitária foram ensopadas no sangue espanhol. Esquece-se de que, em 1936, um general rebelde sublevou, em nome de Cristo, um exército de Mouros, que lançou contra o governo legal da República Espanhola, fez triunfar uma causa injusta, depois de inexplicáveis massacres, e deu início a uma repressão atroz que durou dez anos e ainda não acabou. De facto, é verdade. Porquê a Espanha? Porque você e muitos outros perderam a memória.”
Albert Camus: “Porquê a Espanha” – Resposta a Gabriel Marcel, in “Combat”, Dezembro de 1948. – “Actualidades” – Contexto. (A propósito de duas passagens de um artigo de G M, publicado em “Les Nouvelles Littéraires”, criticando o facto da acção de “O Estado de Sítio” se situar em Espanha.)
A guerra civil de Espanha (1936/39) teve início no mês de Julho de 1936. Passam agora setenta anos. Este fragmento de “Porquê a Espanha?” é muito elucidativo das posições políticas de Camus. É também por isso que o escolhi sendo conhecida a sua militância, desde a juventude, em prol dos republicanos e a sua oposição, de toda a vida, à ditadura de Franco.
Foi o que o Joaquim Diabinho quis acentuar quando me enviou este link. Retribuo, pela minha parte, com este que contém muita matéria cinéfila.
“…porquê a Espanha? Confesso que sinto uma certa vergonha da fazer tal pergunta em seu lugar. Porquê Guernica, Gabriel Marcel? Porquê este ponto de encontro onde, pela primeira vez, face a um mundo ainda adormecido no seu conforto e na sua moral miserável, Hitler Mussolini e Franco demonstraram a umas crianças o que era a técnica totalitária? Sim, porquê esse encontro que nos dizia respeito também a nós? Era a primeira vez que os homens da minha idade viam a injustiça triunfar na História. O sangue da inocência corria então no meio de um imenso palavreado farisaico que, de facto, ainda hoje continua. Porquê a Espanha? Porque poucos são os que não têm que lavar esse sangue das mãos. Sejam quais forem as razões do anticomunismo, e eu conheço algumas boas razões, nunca nós o poderemos aceitar se ele vai ao ponto de esquecer essa injustiça, que se perpetua com a cumplicidade dos nossos governos. Já declarei o mais alto possível a ideia que tenho dos campos de concentração russos. Mas não é isso que me fará esquecer Dachau, Buchenwald e a inominável agonia de milhões de homens, nem a hedionda repressão que dizimou a República Espanhola. Sim, apesar da comiseração dos nossos grandes políticos, tudo isso terá de ser denunciado em conjunto. E não perdoarei esta peste horrível ao Ocidente, só porque ela lavra no Leste em mais ampla extensão. Escreveu você que, para quem estiver bem informado, não é da Espanha que neste momento chegam as notícias mais capazes de desesperar os que prezam a dignidade humana. Está mal informado, Gabriel Marcel. Ainda ontem cinco opositores políticos foram, em Espanha, condenados à morte. Você, porém, cultivando o esquecimento, já se preparava para estar mal informado. Esquece-se que as primeiras armas da guerra totalitária foram ensopadas no sangue espanhol. Esquece-se de que, em 1936, um general rebelde sublevou, em nome de Cristo, um exército de Mouros, que lançou contra o governo legal da República Espanhola, fez triunfar uma causa injusta, depois de inexplicáveis massacres, e deu início a uma repressão atroz que durou dez anos e ainda não acabou. De facto, é verdade. Porquê a Espanha? Porque você e muitos outros perderam a memória.”
Albert Camus: “Porquê a Espanha” – Resposta a Gabriel Marcel, in “Combat”, Dezembro de 1948. – “Actualidades” – Contexto. (A propósito de duas passagens de um artigo de G M, publicado em “Les Nouvelles Littéraires”, criticando o facto da acção de “O Estado de Sítio” se situar em Espanha.)
A guerra civil de Espanha (1936/39) teve início no mês de Julho de 1936. Passam agora setenta anos. Este fragmento de “Porquê a Espanha?” é muito elucidativo das posições políticas de Camus. É também por isso que o escolhi sendo conhecida a sua militância, desde a juventude, em prol dos republicanos e a sua oposição, de toda a vida, à ditadura de Franco.
Foi o que o Joaquim Diabinho quis acentuar quando me enviou este link. Retribuo, pela minha parte, com este que contém muita matéria cinéfila.
IDENTIDADE
Fernando Pessoa com treze anos
Hoje foi o dia da renovação do BI (Bilhete de Identidade). O meu filho tinha-o perdido uns tempinhos atrás numa festa popular nas Azenhas do Mar. Fiz a respectiva participação mas ele não voltou a aparecer (o BI). Lá ficou também o cartão do Sporting esse sim verdadeiramente importante para ele. Aprendizagens da vida. E esta é a época de estágio para o início do ano lectivo. Treina-se a aterragem suave dos prazeres do ócio para a dura realidade do trabalho. Nestes dias de final de Agosto Lisboa tresanda de calor. Ontem pela hora de almoço o termómetro marcava 36º. O episódio presente está bem de ver não tem a emoção dos anteriores. O arquivo de identificação ali para o areeiro é um espaço conhecido e frequentado por todos ao contrário de uma esquadra de polícia ou mesmo de um SAP. Vou sempre lá quando se trata de assuntos de BI’s. A loja do cidadão tem as suas virtualidades mas neste caso sempre me mereceu mais confiança a sede do serviço. Crenças! O espaço é antigo mas tem sido remodelado ao longo do tempo. Amplo e organizado. A secção das renovações estava sobrecarregada. Senha 549! Qualquer sociológico encontraria ali as delícias para o seu mister. É uma quase perfeita representação social do país em busca da uma senha individual que torne cada um dos nós formalmente reconhecível perante cada um dos outros, as autoridades, o estado. Já sabia que é possível obter um BI no próprio dia desde que se apresente uma explicação plausível. No caso em apreço sem urgência demora uma semana. O modelo ainda é o antigo. Sem novidade ao contrário do passaporte. As fotografias tipo passe banalizaram-se. Fernando Pessoa fotografado com treze anos um pouco mais novo que meu filho ilustra uma verdadeira fotografia que tinha como um dos destinos o BI de outros tempos. Não sabia que em caso de roubo ou extravio para efeitos de renovação é necessário apresentar a certidão de nascimento. Erro meu que me devia ter previamente informado. Mas foi possível rapidamente resgatar a dita. Não sabia que o meu filho já mede mais de 1,70 cm. Não sabia que esta é uma época de ponta na procura deste serviço. Mas apesar da forte pressão do público o serviço funcionava com bastante fluência e eficácia. Ainda não foi desta que me foi dado o pretexto para falar mal de um serviço público. Próximo …!
Hoje foi o dia da renovação do BI (Bilhete de Identidade). O meu filho tinha-o perdido uns tempinhos atrás numa festa popular nas Azenhas do Mar. Fiz a respectiva participação mas ele não voltou a aparecer (o BI). Lá ficou também o cartão do Sporting esse sim verdadeiramente importante para ele. Aprendizagens da vida. E esta é a época de estágio para o início do ano lectivo. Treina-se a aterragem suave dos prazeres do ócio para a dura realidade do trabalho. Nestes dias de final de Agosto Lisboa tresanda de calor. Ontem pela hora de almoço o termómetro marcava 36º. O episódio presente está bem de ver não tem a emoção dos anteriores. O arquivo de identificação ali para o areeiro é um espaço conhecido e frequentado por todos ao contrário de uma esquadra de polícia ou mesmo de um SAP. Vou sempre lá quando se trata de assuntos de BI’s. A loja do cidadão tem as suas virtualidades mas neste caso sempre me mereceu mais confiança a sede do serviço. Crenças! O espaço é antigo mas tem sido remodelado ao longo do tempo. Amplo e organizado. A secção das renovações estava sobrecarregada. Senha 549! Qualquer sociológico encontraria ali as delícias para o seu mister. É uma quase perfeita representação social do país em busca da uma senha individual que torne cada um dos nós formalmente reconhecível perante cada um dos outros, as autoridades, o estado. Já sabia que é possível obter um BI no próprio dia desde que se apresente uma explicação plausível. No caso em apreço sem urgência demora uma semana. O modelo ainda é o antigo. Sem novidade ao contrário do passaporte. As fotografias tipo passe banalizaram-se. Fernando Pessoa fotografado com treze anos um pouco mais novo que meu filho ilustra uma verdadeira fotografia que tinha como um dos destinos o BI de outros tempos. Não sabia que em caso de roubo ou extravio para efeitos de renovação é necessário apresentar a certidão de nascimento. Erro meu que me devia ter previamente informado. Mas foi possível rapidamente resgatar a dita. Não sabia que o meu filho já mede mais de 1,70 cm. Não sabia que esta é uma época de ponta na procura deste serviço. Mas apesar da forte pressão do público o serviço funcionava com bastante fluência e eficácia. Ainda não foi desta que me foi dado o pretexto para falar mal de um serviço público. Próximo …!
terça-feira, agosto 29
ESQUADRA DE POLÍCIA
Fotografia de Angèle
Ao início da tarde um telefonema do meu filho: havia sido assaltado no polidesportivo à porta de casa. O telemóvel foi à vida. Buscava conselho se havia de telefonar para o 112. Que sim. Mais uma peripécia do quotidiano envolvendo uma entidade de serviço público. O carro patrulha surgiu pouco depois mas o alerta tinha sido tardio. Seguiu-se, já com a minha presença, a apresentação da respectiva queixa na esquadra da PSP. Atendimento correcto e eficiente. Os agentes são jovens e demonstram agilidade a lidar com a informação, a informática e as pessoas. Uma diferença abissal em relação a um passado não muito longínquo. Não adianto mais detalhes que não interessam para aqui. Mas tal como no serviço público de saúde mostramos ser uma família de sortudos. Também neste caso os reparos possíveis são amplamente compensados pelos aspectos positivos.
……
Ao início da tarde um telefonema do meu filho: havia sido assaltado no polidesportivo à porta de casa. O telemóvel foi à vida. Buscava conselho se havia de telefonar para o 112. Que sim. Mais uma peripécia do quotidiano envolvendo uma entidade de serviço público. O carro patrulha surgiu pouco depois mas o alerta tinha sido tardio. Seguiu-se, já com a minha presença, a apresentação da respectiva queixa na esquadra da PSP. Atendimento correcto e eficiente. Os agentes são jovens e demonstram agilidade a lidar com a informação, a informática e as pessoas. Uma diferença abissal em relação a um passado não muito longínquo. Não adianto mais detalhes que não interessam para aqui. Mas tal como no serviço público de saúde mostramos ser uma família de sortudos. Também neste caso os reparos possíveis são amplamente compensados pelos aspectos positivos.
……
Mais tarde já noite o meu filho desceu para se reunir com os amigos e estar de olho vivo à envolvente. Os agentes tinham-nos dito que eles voltariam de novo ao local. Tinha acabado de escrever a primeira parte deste post quando tocou a campainha. Um jovem pelo inter comunicador pedia-me para descer. Dois polícias precisavam de falar comigo. Desci. Os agentes que à tarde tinham tomado conta da ocorrência acabavam de prender os presumíveis ladrões. Acontecera que uma jovem tinha avistado nas redondezas do prédio o que lhe pareceu ser um dos assaltantes da tarde que, uns dias atrás, a tinha assaltado a ela. Especialidade: telemóveis. Idade: dezasseis anos. Tez da pela: branca. O meu filho ligou rápido do telemóvel de um amigo para o 112 e os agentes em poucos minutos “voaram” da esquadra e lançaram-lhes a mão. Eram mesmo eles como se veio a comprovar pelas diligências seguintes que não vou descrever. Os dois telemóveis foram recuperados. O do meu filho poucas horas após o furto.
…….
Suponho que estas situações positivas na relação com os serviços públicos só me acontecem a mim e à minha família. Os factos são reais e acabaram de ocorrer tal qual um episódio de uma célebre série americana. Mais uma vez o serviço público neste caso de polícia funcionou como deve. Os jovens que foram os protagonistas dos factos de um lado e de outro vão reter na memória uma polícia que já não é a mesma de outros tempos. Não relato mais detalhes que dariam para uma longa e interessante conversa. Há dias de sorte! Durou umas horas e desta vez não paguei taxa.
segunda-feira, agosto 28
O texto político
Frank Grisdale
Ressonância de 28 de Agosto de 2004 dos meus fragmentos de leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”, vertidos para um livro artesanal que, desta vez, incorpora uma frase da minha lavra que, aparentemente, nada tem a ver com o texto. É, pelo menos, surpreendente até para mim próprio.
“O político é, subjectivamente, uma fonte permanente de aborrecimento e/ou de prazer; é, além disso e de facto (isto é, a despeito das arrogâncias do sujeito político), um espaço obtinadamente polissémico, a sede privilegiada duma interpretação perpétua (uma interpretação, se for suficientemente sistemática nunca será desmentida, até ao infinito). Poderíamos concluir a partir destas duas constatações que o Político é textual puro: uma forma exorbitante, exasperada, do Texto, uma forma inaudita que, pelos seus extravasamentos e pelas suas máscaras, talvez ultrapasse a nossa compreensão actual do Texto. E, tendo Sade produzido o mais puro dos textos, julgo compreender que o Político me agrada como texto sadiano e me desagrada como texto sádico."
Ressonância de 28 de Agosto de 2004 dos meus fragmentos de leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”, vertidos para um livro artesanal que, desta vez, incorpora uma frase da minha lavra que, aparentemente, nada tem a ver com o texto. É, pelo menos, surpreendente até para mim próprio.
“O político é, subjectivamente, uma fonte permanente de aborrecimento e/ou de prazer; é, além disso e de facto (isto é, a despeito das arrogâncias do sujeito político), um espaço obtinadamente polissémico, a sede privilegiada duma interpretação perpétua (uma interpretação, se for suficientemente sistemática nunca será desmentida, até ao infinito). Poderíamos concluir a partir destas duas constatações que o Político é textual puro: uma forma exorbitante, exasperada, do Texto, uma forma inaudita que, pelos seus extravasamentos e pelas suas máscaras, talvez ultrapasse a nossa compreensão actual do Texto. E, tendo Sade produzido o mais puro dos textos, julgo compreender que o Político me agrada como texto sadiano e me desagrada como texto sádico."
Escrevi nesta pagina: "visitam-se lugares e acontecimentos mas, de facto, visitamo-nos a nós próprios apertando os contactos entre os "viajantes". Quando assim não sucede a viagem reduz-se à excursão."
domingo, agosto 27
A FOLHAGEM DA PALMEIRA E OS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE
Fotografia do Dias com árvores
Um mês atrás o meu filho caiu à noite aqui perto de casa em cima da folhagem de uma palmeira. Apareceu-me à porta com um amigo que vinha com cara de caso. Depois entendi que ficou preso à folhagem e imaginem que o amigo de correria levava consigo uma tesoura e libertou-o da prisão. Mas uma farpa tinha-se atravessado de lado a lado no seu dorso. Uma vizinha brasileira que se apercebeu do caso imaginem que tinha em casa um spray anestesiante. Ela própria retirou a farpa sem dor nem sequelas. Uma pequena cirurgia doméstica perfeita. Era sábado. No domingo pela manhã meu filho verificou que tinha um braço ferido havendo sinais de outra farpa que o podia ter trespassado. Resolvi socorrer-me do Centro de Saúde mais perto a que antigamente se chamava SAP (Serviço de Atendimento Permanente). Ouvi dizer que o Correia de Campos (que para quem não saiba é o Ministro da Saúde) teria dito um dia destes que no SAP nunca ninguém o apanharia. Eu não ouvi nem li nada a esse respeito! E lá fui. Era domingo. No Centro de Saúde encontrei um serviço de urgências a funcionar. Primeiro andar. Apresentei a situação a quem recebia. Simpatia. É urgência? Sim senhor! Espere na sala pelo senhor doutor. Esperamos. Surpresa das surpresas demorou pouco o atendimento. A médica era jovem loura bonita e eslava. Talvez russa. A enfermeira sisuda pela fala espanhola. O diagnóstico foi fácil e se sentir alguma dor volte cá se faz favor. Passados uns dias o meu filho insistiu em ser visto pois o braço apresentava como que um traço em relevo com forma de farpa. Telefonei para o SAP. A consulta ficou marcada para meados de Setembro. Achei cedo para o serviço mas tarde para a necessidade. Pelo sim pelo não pusemo-nos a caminho mesmo sem consulta marcada. A médica de família é no quinto andar. Esperem um pouco que ela deve estar a chegar. Inscrição. São dois euros e cinco cêntimos. Ela atende de certeza. E atendeu mesmo. Diagnosticou a olho nu que a farpa estava lá. Um momento veja se há vaga na cirurgia. Havia. No intervalo da próxima consulta passo a requisição. A consulta demorou. Ser médica e confessora é muito exigente. A doente já não era vista há muito tempo e as vidas são pesadas. No meio uma senhora já de idade nervosa insistia na consulta marcada. Tinha sido para ontem. Um homem jovem e negro insistia que morria se não fosse visto na hora e ria. No fim resignado aceitou e saiu com ar gozado. A médica de família é uma simpatia. O dossier do meu filho entre centenas estava arrumado e foi destacado à primeira. Já tinha sido visto tempos atrás. Requisição passada. Cirurgia no Quarto andar. Havia que esperar pela hora e sobrava tempo. Fomos almoçar. De caminho à estação dos CTT’s levantar uma encomenda à cobrança. Os óculos novos que se lhe cansou a vista. Surpresa. Nos balcões dos CTT’s serviço com fama de público apreço não chegou ainda o terminal Multibanco. Em Lisboa só nos Restauradores. Fiquei com a boca ao lado e a menina coitada também com o que me veio à cabeça dizer-lhe com simpatia. Agora compreendo a fama de todos os seus presidentes. Deixar passar o tempo e saltar para outro lugar… Saí e fui fazer o levantamento. Missão cumprida. Lá fomos de novo a caminho da cirurgia. Quarto andar o médico estava mesmo a chegar. Dois euros e cinco cêntimos. Só não entendo os cinco cêntimos. Chegou e sem demora mandou-nos entrar. A intrusão da farpa foi confirmada. Devia ter ido logo à urgência hospitalar aqui não posso operar isso pode inflamar todos os cuidados são poucos... Vou passar uma requisição para o Pulido Valente. A recepção trata do resto. Depois telefonamos para confirmar a consulta hospitalar. Surpresa das surpresas no dia seguinte a consulta foi confirmada. Dia seis de Setembro a horas tantas. Será o Agosto? Parece uma história inventada mas é real e mostra que ao contrário do que é voz popular pode o ministro descansar. Pela minha experiência o serviço de atendimento permanente é de excelência.
Um mês atrás o meu filho caiu à noite aqui perto de casa em cima da folhagem de uma palmeira. Apareceu-me à porta com um amigo que vinha com cara de caso. Depois entendi que ficou preso à folhagem e imaginem que o amigo de correria levava consigo uma tesoura e libertou-o da prisão. Mas uma farpa tinha-se atravessado de lado a lado no seu dorso. Uma vizinha brasileira que se apercebeu do caso imaginem que tinha em casa um spray anestesiante. Ela própria retirou a farpa sem dor nem sequelas. Uma pequena cirurgia doméstica perfeita. Era sábado. No domingo pela manhã meu filho verificou que tinha um braço ferido havendo sinais de outra farpa que o podia ter trespassado. Resolvi socorrer-me do Centro de Saúde mais perto a que antigamente se chamava SAP (Serviço de Atendimento Permanente). Ouvi dizer que o Correia de Campos (que para quem não saiba é o Ministro da Saúde) teria dito um dia destes que no SAP nunca ninguém o apanharia. Eu não ouvi nem li nada a esse respeito! E lá fui. Era domingo. No Centro de Saúde encontrei um serviço de urgências a funcionar. Primeiro andar. Apresentei a situação a quem recebia. Simpatia. É urgência? Sim senhor! Espere na sala pelo senhor doutor. Esperamos. Surpresa das surpresas demorou pouco o atendimento. A médica era jovem loura bonita e eslava. Talvez russa. A enfermeira sisuda pela fala espanhola. O diagnóstico foi fácil e se sentir alguma dor volte cá se faz favor. Passados uns dias o meu filho insistiu em ser visto pois o braço apresentava como que um traço em relevo com forma de farpa. Telefonei para o SAP. A consulta ficou marcada para meados de Setembro. Achei cedo para o serviço mas tarde para a necessidade. Pelo sim pelo não pusemo-nos a caminho mesmo sem consulta marcada. A médica de família é no quinto andar. Esperem um pouco que ela deve estar a chegar. Inscrição. São dois euros e cinco cêntimos. Ela atende de certeza. E atendeu mesmo. Diagnosticou a olho nu que a farpa estava lá. Um momento veja se há vaga na cirurgia. Havia. No intervalo da próxima consulta passo a requisição. A consulta demorou. Ser médica e confessora é muito exigente. A doente já não era vista há muito tempo e as vidas são pesadas. No meio uma senhora já de idade nervosa insistia na consulta marcada. Tinha sido para ontem. Um homem jovem e negro insistia que morria se não fosse visto na hora e ria. No fim resignado aceitou e saiu com ar gozado. A médica de família é uma simpatia. O dossier do meu filho entre centenas estava arrumado e foi destacado à primeira. Já tinha sido visto tempos atrás. Requisição passada. Cirurgia no Quarto andar. Havia que esperar pela hora e sobrava tempo. Fomos almoçar. De caminho à estação dos CTT’s levantar uma encomenda à cobrança. Os óculos novos que se lhe cansou a vista. Surpresa. Nos balcões dos CTT’s serviço com fama de público apreço não chegou ainda o terminal Multibanco. Em Lisboa só nos Restauradores. Fiquei com a boca ao lado e a menina coitada também com o que me veio à cabeça dizer-lhe com simpatia. Agora compreendo a fama de todos os seus presidentes. Deixar passar o tempo e saltar para outro lugar… Saí e fui fazer o levantamento. Missão cumprida. Lá fomos de novo a caminho da cirurgia. Quarto andar o médico estava mesmo a chegar. Dois euros e cinco cêntimos. Só não entendo os cinco cêntimos. Chegou e sem demora mandou-nos entrar. A intrusão da farpa foi confirmada. Devia ter ido logo à urgência hospitalar aqui não posso operar isso pode inflamar todos os cuidados são poucos... Vou passar uma requisição para o Pulido Valente. A recepção trata do resto. Depois telefonamos para confirmar a consulta hospitalar. Surpresa das surpresas no dia seguinte a consulta foi confirmada. Dia seis de Setembro a horas tantas. Será o Agosto? Parece uma história inventada mas é real e mostra que ao contrário do que é voz popular pode o ministro descansar. Pela minha experiência o serviço de atendimento permanente é de excelência.
sábado, agosto 26
CAMÕES - SETE SONETOS
"Croce del Sud" - opera di Jorge Colaço (1922)
Uma ressonância de 26 de Agosto de 2004. Nesse dia publiquei o último de sete sonetos de Camões, segundo a “Edição de Lobo Soropita de 1595”, por sinal um dos menos conhecidos:
Oh! Como se me alonga de ano em ano
Uma ressonância de 26 de Agosto de 2004. Nesse dia publiquei o último de sete sonetos de Camões, segundo a “Edição de Lobo Soropita de 1595”, por sinal um dos menos conhecidos:
Oh! Como se me alonga de ano em ano
A peregrinação cansada minha!
Como se encurta e como ao fim caminha
Este meu breve e vão discurso humano!
Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
Perde-se-me um remédio que inda tinha;
Se por experiência se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano.
Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece;
Mil vezes caio e perco a confiança.
Quando ele foge, eu tardo; e na tardança,
Se os olhos ergo, a ver se inda parece
Da vista se me perde e da esperança.
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Ou restantes seis podem ser lidos clicando em baixo no respectivo primeiro verso:
Sete anos de pastor Jacob servia
Tanto de meu estado me acho incerto,
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Busque Amor novas artes, novo engenho
Aquela triste e leda madrugada,
Alma minha gentil, que te partiste
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Ou restantes seis podem ser lidos clicando em baixo no respectivo primeiro verso:
Sete anos de pastor Jacob servia
Tanto de meu estado me acho incerto,
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Busque Amor novas artes, novo engenho
Aquela triste e leda madrugada,
Alma minha gentil, que te partiste
sexta-feira, agosto 25
MES - UM CARTAZ DA REVOLUÇÃO
Clicar no cartaz para aumentar
Cartaz do MES – Lisboa, Ano: 1975, Arquivo: BN
Uma imagem mais impressiva da deriva leninista do MES, breve mas pungente, como antes a defini, e que atingiu o auge nas vésperas do 25 do Novembro.
Não sei o que levou a que se tivessem produzido dois cartazes para um mesmo evento. O primeiro mantém uma contida sobriedade em torno da exploração das virtualidades gráficas do símbolo e este dá livre curso ao imaginário da esquerda revolucionária associado, à época, ao chamado “movimento popular de massas”.
Ambos bastante depurados, no que respeita ao design, estes cartazes reflectem, se bem me lembro, a influência do MIR chileno após o golpe militar que, em 11 de Setembro de 1973, derrubou Salvador Allende acontecimento que exerceu um forte impacto político e emocional em todos os sectores da esquerda.
Sou dos que pensam que as imagens e os factos não se podem apagar a não ser quando os protagonistas se querem fazer passar por outrem, que não eles próprios, rasurando a sua biografia em benefício das glórias do presente. Há muitos casos desses, como comprovam alguns acontecimentos recentes.
Por mim defendo, com respeito pela intimidade e o bom senso, chamar o passado ao presente, assumir os riscos de uma reflexão, individual ou colectiva, mesmo que despertando fantasmas que, ao contrário do que muitos possam pensar, não estão enterrados. Tenho mesmo como certo que ainda hoje, na política, e não só, se continuam a perpetrar vinganças póstumas tomando como referência antigas paixões e fidelidades.
O que nos pode salvar de todas as tentações é a defesa da Liberdade palavra que escolhi para titular, em 2004, um post, publicado no dia do meu aniversário, último de uma série que dediquei ao MES. (E ao 25 de Abril, ouviram falar?)
A pessoa dividida ?
Fotografia de Philippe Pache
Dos meus fragmentos de “Roland Barthes por Roland Barthes” publicados num livro artesanal vai para muitos anos. Ressonância de 25 de Agosto de 2004.
"Como é que você explica, como é que tolera essas contradições? Filosoficamente, parece ser materialista (se é que esta palavra não soa muito a velho); eticamente, você divide-se: quanto ao corpo, é edonista; quanto à violência, talvez seja antes budista ! Não gosta da fé mas sente uma certa nostalgia dos ritos, etc. Você é uma miscelânea de reacções: haverá em si alguma coisa primeira ?
Dos meus fragmentos de “Roland Barthes por Roland Barthes” publicados num livro artesanal vai para muitos anos. Ressonância de 25 de Agosto de 2004.
"Como é que você explica, como é que tolera essas contradições? Filosoficamente, parece ser materialista (se é que esta palavra não soa muito a velho); eticamente, você divide-se: quanto ao corpo, é edonista; quanto à violência, talvez seja antes budista ! Não gosta da fé mas sente uma certa nostalgia dos ritos, etc. Você é uma miscelânea de reacções: haverá em si alguma coisa primeira ?
Qualquer classificação que você leia dá-lhe logo vontade de se encaixar nela: onde é o seu lugar? Julga primeiro que o encontrou: mas pouco a pouco, como uma estátua que se desagrega, ou um relevo que se desgasta, se estira e perde a forma, ou melhor ainda, como Harpo Marx ao perder a barba postiça por acção da água que está beber, deixa de ser classificável, não por excesso de personalidade mas, pelo contrário, porque percorre todas as faixas do espectro: reúne em si traços pretensamente distintivos, que portanto já nada distinguem; descobre que é ao mesmo tempo (ou alternadamente) obsessivo, histérico, paranóico e além disso perverso (sem falar das psicoses amorosas), ou que adiciona todas as filosofias decadentes: o epicurismo, o eudemonismo, o asianismo, o maniqueísmo, o pirronismo.
"Tudo se fez em nós porque nós somos nós, sempre nós e nem por um minuto os mesmos" (Diderot, Refutação de Hevetius.)"
quinta-feira, agosto 24
CAMUS - OLHARES E SUBLINHADOS
Fotografia de Angèle
O Eugénio Alves enviou-me um artigo, muito interessante, de MANUEL VICENT publicado no “El País”, do passado dia 6 de Agosto, que pode ser lido, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR. Trata-se de uma estimulante, e sintética, introdução à obra e personalidade de Camus. Os espanhóis sempre atentos!
Deixo aqui, a propósito, a minha sexta colaboração nos “Cadernos de Camus” que consiste na reprodução dos sublinhados da primeira leitura, pelos meus vinte anos, dos “Carnets”.
Tal como assinala Manuel Vicent: "Al principio fue sólo una emoción estética por su forma de estar en el mundo lo que me atrajo de este escritor, pero llegó un momento en que, en medio del naufragio de todas las ideas, lo elegí como un buen guía frente a mis propias dudas y contra toda clase de infortunio."
O Eugénio Alves enviou-me um artigo, muito interessante, de MANUEL VICENT publicado no “El País”, do passado dia 6 de Agosto, que pode ser lido, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR. Trata-se de uma estimulante, e sintética, introdução à obra e personalidade de Camus. Os espanhóis sempre atentos!
Deixo aqui, a propósito, a minha sexta colaboração nos “Cadernos de Camus” que consiste na reprodução dos sublinhados da primeira leitura, pelos meus vinte anos, dos “Carnets”.
Tal como assinala Manuel Vicent: "Al principio fue sólo una emoción estética por su forma de estar en el mundo lo que me atrajo de este escritor, pero llegó un momento en que, en medio del naufragio de todas las ideas, lo elegí como un buen guía frente a mis propias dudas y contra toda clase de infortunio."
"ESQUERDA SOCIALISTA"
Cartaz do MES – Lisboa, Ano: 1975, Arquivo: BN
Nas vésperas do 25 de Novembro de 1975. Os últimos estertores da deriva leninista do MES – curta mas pungente – foram, ainda assim, sempre acompanhados pelo símbolo que assinalou o acto fundador do Movimento.
Lembro-me muito bem do pano de fundo do I Congresso, realizado em Dezembro de 1974, na Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa [desse é que precisava de uma fotografia!], a bola vermelha, a estrela de cinco pontas e a sigla. A mancha de fundo foi desenhada com os pés – literalmente – e visto de longe o símbolo ostentava aquele jeito de ter sido esculpido pelos nossos corpos que seríamos capazes de sacrificar por uma causa nobre. (Seríamos?)
Não tenho qualquer receio em dar público testemunho desse tempo e das circunstâncias que o envolveram mostrando mesmo – se for o caso – as entranhas de um processo que foi marcado por muitas situações típicas dos “amanhãs que cantam”.
Ainda agora o “Didas” me enviou uma crónica, “em memória do Zé Trigo que faria 50 anos este ano”, e que morreu a 27 de Novembro de 1981, na qual descreve com bastante detalhe o percurso, ideológico e vivencial, dessa geração a que ele pertence – a do “Todo o Poder aos Cursos” – que seria um dos esteios da própria criação do MES.
Mas o que eu queria dizer verdadeiramente, aqui e agora, é que – mesmo hoje – me espanta a qualidade gráfica e a perenidade do símbolo, resistente a todas as derivas, marca de uma alternativa política utópica que é conhecida, por toda a parte, pela designação de “esquerda socialista” (conhecem?).
quarta-feira, agosto 23
LULA NA FRENTE
Fotografia daqui
O “Estados Gerais” apresentou uma sondagem acerca dos resultados das próximas eleições presidenciais no Brasil que originou uma interessante corrente de comentários, em particular, com origem no Brasil.
Incrédulos, com os resultados das sondagens, os adversários de Lula desvalorizam-nas mas a realidade é que o conjunto de todas as sondagens – mesmo as mais actuais - aponta no mesmo sentido – uma vitória de Lula – como podem verificar no “Margens de Erro”.
Sondagens são sondagens mas não vale a pena pensar que os mais credíveis institutos de sondagens estão todos enganados, ao mesmo tempo, ou que estão todos enganando os eleitores, ao mesmo tempo, ou que as eleições ainda estão longe… pois, na verdade, estão muito perto.
O que é um facto é que mesmo com concorrência em crescendo, à esquerda, Lula mais do que se aguenta …Caso não aconteça uma hecatombe nas próximas semanas, Lula ganha mesmo …! Além do mais, julgo que ninguém deve esquecer que, hoje, na América do Sul, surpresa das surpresas, Lula é um Presidente moderado!
O “Estados Gerais” apresentou uma sondagem acerca dos resultados das próximas eleições presidenciais no Brasil que originou uma interessante corrente de comentários, em particular, com origem no Brasil.
Incrédulos, com os resultados das sondagens, os adversários de Lula desvalorizam-nas mas a realidade é que o conjunto de todas as sondagens – mesmo as mais actuais - aponta no mesmo sentido – uma vitória de Lula – como podem verificar no “Margens de Erro”.
Sondagens são sondagens mas não vale a pena pensar que os mais credíveis institutos de sondagens estão todos enganados, ao mesmo tempo, ou que estão todos enganando os eleitores, ao mesmo tempo, ou que as eleições ainda estão longe… pois, na verdade, estão muito perto.
O que é um facto é que mesmo com concorrência em crescendo, à esquerda, Lula mais do que se aguenta …Caso não aconteça uma hecatombe nas próximas semanas, Lula ganha mesmo …! Além do mais, julgo que ninguém deve esquecer que, hoje, na América do Sul, surpresa das surpresas, Lula é um Presidente moderado!
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