Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, março 30
Faro - "Capital da Cultura 2005"
Faro, minha cidade natal, parece aturdida com a ingente tarefa de acolher e organizar a “Capital Nacional da Cultura” - 2005.
A cidade sempre foi arredia a essas coisas da cultura. Cidade natal de muitos artistas, só grandes poetas contemporâneos, assim de repente, me lembro de António Ramos Rosa, Gastão Cruz e Casimiro de Brito...
Mas a cidade não acolhe dos seus grandes artistas senão quase só a sua lembrança.
Não admira que a directoria do certame, com sede ali no “Clube Farense”, paredes meias com uma janela do quarto onde eu me sentava na minha adolescência estudando e lendo enquanto ouvia os sons da mesa da batota que se jogava do lado de lá, encontre o caminho eivado de escolhos.
Morei na Rua de Santo António, a rua principal da cidade, na casa que serviu de lançamento para o negócio no qual o meu irmão – em ambiente familiar - havia de prosperar até à sua recente e dolorosa morte.
Dormimos longos anos os dois no mesmo quarto exactamente à beira da tal janela. Ele era o irmão mais velho e foi-me interessando pelas coisas da cultura. A cidade provinciana olhava esses interesses culturais com desconfiança e julgo, em abono da verdade, que nada de essencial mudou, ao longo dos anos, no espírito da cidade.
A “Capital Nacional da Cultura” em Faro seria algo muito fácil de organizar se tivesse sido pensada antes de ser organizada. E se o tivesse sido teria havido um espírito de buscar o que de mais profundo, na cidade e na província, no que respeita à dita cultura (erudita e popular), existe para estudar, aprofundar e divulgar.
Não foi. Os que conhecem as raízes culturais do Algarve, desde a antiguidade até aos nossos dias, sabem muito bem do que falo. Um dia destes volto ao tema. Por agora fico-me pela recordação daquela janela através da qual me interroguei, vezes sem conta, acerca do porquê das vozes que falavam a linguagem da batota.
A mesma palavra, batota, de que se falo agora, no mesmo exacto lugar, a propósito de Faro "Capital da Cultura - 2005".
Imagem da rua de acesso ao Largo da Sé de Faro
Personalidade do ano - 2004
Tenho a maior estima pelo Ramon mas o Carlos Paredes não merecia um tal “embrulho”. O Carlos Paredes era um génio na sua arte. O maior virtuoso da guitarra portuguesa – pelo menos - das últimas décadas. Um artista comprometido com a defesa de ideias dos quais nunca abdicou. Foi comunista até ao fim.
O Dr. José Manuel Barroso, com todo o respeito e consideração, é o seu perfeito oposto. Colocar Carlos Paredes como uma pena no chapéu de José Manuel Barroso é, no mínimo, indecoroso.
segunda-feira, março 28
Areia
areia dorida,
areia beijada,
areia batida,
areia doirada,
areia estendida,
areia rolada,
rolada na vida.
Frescura abraçada
ao mar que se vai,
e os braços crispados
pregados num ai.
E a areia rolada
nos olhos profundos,
e as matas de sombra
ao fundo dos mundos…
E o paço de pedra
Erguido no espaço
e as capelas tristes,
que perco e abraço…
E o sonho do vento,
que gela e que deixa,
e a voz que ergo e calo
e é vida e é queixa…
Os degraus que subo
e são mais de cem,
e os cisnes vogando
nos lagos de além…
E as estradas brandas
onde correm fontes,
e as moças que sonham
sem verem os montes…
E os bancos abertos
aos corpos cansados,
e a chuva da tarde
nos parques molhados…
E os riscos de luz
que bordam o Céu,
e a cortina branca
que ao Sol me escondeu…
E os quartos alheios
que giram à roda,
e as vozes na estrada
que me tolhem toda…
E eu dentro de um sonho
suspensa e vibrante
- areia beijada num mar mais distante –
e rica e mais longa,
e presa e mais livre
- sem mal e sem vida…
Areia doirada,
areia estendida,
areia rolada,
rolada na vida!
Natércia Freire
In "Horizonte Fechado" - 1942
Dia Mundial do Teatro
Mas reparei que a modéstia das celebrações foi coberta pelo manto das explicações apressadas acerca da coincidência com o período pascal.
A verdade, nua e crua, é que o teatro não é uma prioridade dos governos de Portugal não tanto por penúria mas por falta de vontade política.
Os teatros nacionais, em geral, arrastam-se com programações sem chama, as companhias independentes, na sua maioria, são cada mais dependentes de subsídios públicos e o teatro amador – nas escolas, nas sociedades culturais e recreativas ou nos CCDs de empresa, é quase uma peça de museu. Mas há excepções.
A efeméride fica assinalada com esta notícia que descreve com argúcia a real situação do teatro em Portugal.
E aproveito para dar a conhecer o BLOGAMEMUNCHO.
Lenga-Lenga em Homenagem aos Ilustres Emigrantes
domingo, março 27
O Corvo
Edgar Allan Poe
1
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
"O Corvo", de Edgar Allan Poe, Tradução de Fernando Pessoa.
Versão integral no IRAOFUNDOEVOLTAR
A Direita Pensa Mas Pouco
No exercício do poder, em democracia, a direita esbarra na sua proverbial intolerância. A mistura de intolerância, populismo e promiscuidade entre interesse “público” e “privado” é explosiva. Denega a democracia.
O PP no governo foi um exemplo vivo dessa denegação como o episódio do retrato de Freitas do Amaral e dos negócios de última hora, “abençoados” por Bagão Félix, evidenciam.
São os próprios pensadores da direita que levantam a ponta do véu acerca da crise de identidade da direita em Portugal.
Mas, como assinala Vasco Pulido Valente, nem sequer se lembraram do papel da igreja católica.
sábado, março 26
Num mundo que já não crê no pecado, é o artista que está encarregado da pregação. Mas se as palavras do padre produziam efeito era porque o exemplo as alimentava. O artista esforça-se por se tornar num exemplo. Eis porque o fuzilam ou o deportam, com grande escândalo seu. E depois a virtude não se aprende tão depressa como o manejo da metralhadora. O combate é desigual.
Cito Camus a propósito da tragédia de Bobby Fischer
Fotografia de Hélder Gonçalves
ELEGIA DAS ÁGUAS NEGRAS
PARA CHE GUEVARA
Atado ao silêncio, o coração ainda
pesado de amor, jazes de perfil,
escutando, por assim dizer, as águas
negras da nossa aflição.
Pálidas vozes procuram-te na bruma;
de prado em prado procuram
um potro, a palmeira mais alta
sobre o lago, um barco talvez
ou o mel entornado da nossa alegria.
Olhos apertados pelo medo
aguardam na noite o sol onde cresces,
onde te confundes com os ramos
de sangue do verão ou o rumor
dos pés brancos da chuva nas areias.
A palavra, como tu dizias, chega
húmida dos bosques: temos que semeá-la;
chega húmida da terra: temos que defendê-la;
chega com as andorinhas
que a beberam sílaba a sílaba na tua boca.
Cada palavra tua é um homem de pé,
cada palavra tua faz do orvalho uma faca,
faz do ódio um vinho inocente
para bebermos, contigo
no coração, em redor do fogo.
Eugénio de Andrade
1971
sexta-feira, março 25
O "Público" Faz-se Pagar
É um modelo já adoptado, por exemplo, pelo “Expresso” e muito utilizado no acesso às publicações em papel de todos os países.
Por mim não vou assinar. Por vezes reproduzo as suas notícias mas, em boa verdade, não preciso do “Público” para nada. Eles também não precisam de mim. É o negócio deles e que lhes faça bom proveito.
É interessante a coincidência desta decisão com a entrada em funções do governo socialista. Nos tempos da Dra. Manuela Ferreira Leite não de lembraram da coisa.
Aproveito para divulgar o JORNALISMO E COMUNICAÇÃO onde catrapisquei esta notícia.
Breves Despedidas
Curiosamente, o antigo ministro resolveu condecorar o seu antigo (que bela palavra) ministro das Finanças, Bagão Félix (o que só lhe fica bem) e, surpresa das surpresas ou talvez não, deu mais uma medalha ao antigo (que belíssima palavra) embaixador americano em Portugal Frank Carlucci.
O que fez Frank Carlucci por Portugal nos últimos tempos que justifique esta medalha? Ou melhor, o que fez o Grupo Carlyle por Portugal nos últimos tempos que justifique esta medalha (a não ser tratar-nos como uma coutada)? Ou melhor, o que fez o Grupo Carlyle nos últimos tempos por Paulo Portas que justifique esta medalha (perguntar não ofende)?
Recorde-se que já Santana Lopes, a mando e em substituição do (defunto) Barroso, tinha aproveitado uma ida a Nova Iorque para, num intervalo discreto, condecorar o mesmo Frank Carlucci (isto foi há meses) com uma daquelas medalhas grandes e pesadas do Presidente da República, tendo o mesmo Presidente da República aceite a sugestão do (defunto) Barroso para condecorar Carlucci. Porquê agora?”
Extracto do artigo “Breves Despedidas”, de Clara Ferreira Alves, publicado, hoje, na “Única”, revista do Expresso.
Versão integral, que vale a pena, no IRAOFUNDOEVOLTAR.
O Dr. Bagão Ainda Governa (3)
O anterior governo fica “destapado”. O que se vai sabendo das suas acções é aterrador. Mais tarde se perceberá melhor o sentido da acção de alguns dos seus ministros.
Nicolau Santos, no “Expresso”, a propósito de “Um negócio demasiado nebuloso” escreve:
Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são, escreveu Natália Correia. E o mínimo que se pode dizer é que Daniel Sanches e Bagão Félix foram demasiado imprudentes ao assinar este contrato com a Sociedade Lusa de Negócios. Será que não se interrogaram porque os melhores fabricantes europeus, como a Nokia, EADS e Siemens, que levantaram o caderno de encargos, se recusaram a apresentar propostas? Será que não tiveram conhecimento que o mesmo sistema poderia ser fornecido por 200 milhões de euros?
Às vezes, há coisas tão nebulosas, que não só o novo Governo as deve deitar para o caixote de lixo e começar tudo de novo, como investigar as razões de quem decidiu.
Governo e Crítica
O pior erro que o PS poderia cometer seria o de abdicar de se afirmar como partido de causas assentes nos valores da esquerda que se podem sintetizar em duas palavras antigas para uma esquerda moderna: justiça e liberdade.
O governo pode “governar ao centro”, encontrar soluções de governação de natureza social-democrata na área social, adoptar posturas liberais de esquerda, na área da economia, concertar negócios e conceber benefícios que atraiam o investimento estrangeiro, assumir o primado de uma função reguladora e defensora dos consumidores e por aí fora, obtendo, momentaneamente, o apoio daqueles que ainda dias atrás fustigavam os socialistas com as críticas mais ferozes.
Mas o PS, sendo a base de apoio do governo, não pode deixar de ser um partido crítico do próprio governo.
Tudo o que agora são medidas reluzentes e sorrisos radiosos nas faces dos membros do governo se transformarão, a médio prazo, em penosas justificações de insucessos e atrasos e em faces crispadas no momento das respostas às perguntas implacáveis das oposições e da comunicação social.
Tudo o que na fase inicial da governação são despesas virtuosas se transformará, na fase seguinte, em desperdícios evitáveis na boca dos opositores da governação socialista.
Mais valia ao governo dispor de um PS que afirmasse a sua autonomia com uma postura de crítica construtiva desde o início. Vêm estas palavras a propósito da prestação de Jorge Coelho no programa “Quadratura do Círculo”, na SIC Notícias, da noite passada e de muitas outras atitudes de apoio entusiástico e voluntarista que têm surgido nestes primeiros dias da acção do governo.
Ao governo o que é do governo, ao partido do governo o que é do partido do governo. Ao governo cabe cumprir o seu programa, ao partido do governo compete, naturalmente, apoiá-lo sem descurar a vigilância crítica desde a primeira hora.
O ambiente político, nesta fase inicial, não tem apontado para esta dialéctica saudável o que, na minha opinião, pode pressagiar um enfraquecimento do governo a médio prazo. Mais valia começar desde já a preparar o terreno para as dificuldades da concretização de muitas das medidas anunciadas e de outras medidas difíceis que aí virão.
O país real, que dá pelo nome de Portugal, é exactamente o mesmo que no dia 19 de Fevereiro de 2005. Mudou o governo, o que já não é nada pouco, mas não mudaram as dificuldades, os constrangimentos e, como consequência, as condições objectivas da governação. Cuidado que a memória das gentes é curta, a gratidão morreu solteira e o pecúlio escasso.
“Diário do Governo” – 6
quinta-feira, março 24
O Dr. Bagão Ainda Governa (2)
"O GOVERNO vai apresentar em Maio um Orçamento Rectificativo, que contempla um conjunto de medidas fiscais destinadas a fazer face à «situação particularmente difícil» e ao «irrealismo» do Orçamento do Estado para 2005. O Ministério das Finanças não descarta que entre essas medidas esteja contemplada a subida de alguns impostos e o congelamento de despesas.
Os impostos que fazem entrar dinheiro imediatamente nos cofres públicos são essencialmente o IVA, imposto sobre combustíveis (ISP) e Imposto Automóvel (IA). Quanto aos cortes nas despesas serão detalhados no Programa Plurianual de Redução da Despesa Corrente (PPRDC), a apresentar pelo Governo dentro de seis meses e visando um horizonte de quatro anos.
Estas medidas visam responder ao défice implícito do Orçamento do Estado/2005, que está nos 7% devido a: crescimento económico 50% abaixo do previsto; preço do barril de petróleo acima dos 39 dólares; não contemplação dos encargos de 500 milhões de euros com as SCUT; 250 milhões de euros da dotação provisional para aumentos salariais; suborçamentação dos serviços, mais 1.700 milhões de euros; medidas extraordinárias de 2.300 milhões de euros; contas da Saúde."
O Dr. Bagão Ainda Governa
Um dia destes recebi uma citação das finanças com ameaça de penhora de bens. Como descrevi num post anterior fui a correr às finanças saber de que se tratava. Era uma quantia irrisória que resultou, conforme me foi dito, de um acerto provocado por questões informáticas. Não havia, de facto, dívida alguma. A quantia era pequena e para evitar o calvário das reclamações a que o contribuinte se sujeita paguei.
Mas, a partir de agora, olharei os funcionários das finanças como patrões com interesse directo nos resultados das cobranças. Como responsáveis directos pelos erros e omissões. Desconfiarei sempre da boa fé das suas contas. Não perdoarei as desatenções e as esperas. Nenhum erro se pode perdoar a quem dele pode beneficiar.
ENQUANTO HÁ FORÇA
Enquanto há força
No braço que vinga
Que venham ventos
Virar-nos as quilhas
Seremos muitos
Seremos alguém
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Cantai também
Levanta o braço
Faz dele uma barra
Que venha a brisa
Lavar-nos a cara
Seremos muitos
Seremos alguém
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Dançai também
José Afonso
quarta-feira, março 23
Gracias a la vida
Gracias a la vida (Mercedes Sosa)
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio dos luceros que cuando los abro
perfecto distingo lo negro del blanco
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abecedario
con él, las palabras que pienso y declaro
madre, amigo, hermano
y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos
playas y desiertos, montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano
cuando miro el bueno tan lejos del malo
cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida, gracias a la vida
(Agradecendo à Colombina)
terça-feira, março 22
Haverá quem ache estranho as minhas deambulações pelas memórias, pelos antepassados, pelos caminhos e lugares da infância.
Essa estranheza não me estranha. Mas nenhum percurso se faz sem passado, sem enlaçar outros percursos, sem comunicação, sem resposta mesmo quando nos julgamos imortais.
Alguém, além de nós, que nos compreenda e acredite é o maior anseio do homem.
Creio nos meus porque sei que me acompanham sempre mesmo quando parece que os não acompanho.
Poucos desses estão fora da família natural. Nela reside o segredo da minha crença no futuro do homem.
Fotografia de Hélder Gonçalves
No Cimo do Monte
Subi este fim-de-semana ao cimo do monte onde brilha a casa
dos meus avós maternos José Fernandes de Brito (7/11/1891- 12/10/1979)
e Rosa da Conceição Marques (1/1/1892 - 7/12/1984)
no sítio de Sinagoga, Santo Estêvão, Tavira. Do terraço,
ao alto, pintado de branco puro, avista-se a costa algarvia,
de lés a lés, desde Espanha às cercanias de Olhão.
Muita terra, arvoredos, céu azul, lugares camponeses,
aldeias piscatórios e as praias todas. No sentido do norte o
barrocal com a sua vegetação característica a que sempre ouvi
chamar de mato. Tomei o compromisso, para com a minha mãe,
de manter aquela casa, através das gerações, para que os vindouros
possam nela rever-se na vida dos seus antepassados camponeses.
Para que com essa memória se não perca o sentido do tempo e
da honra da pertença a uma família camponesa honrada e a um
povo e dela se possa imaginar até a vista das sandálias que a minha
mulher um dia fotografou abandonadas numa daquelas praias à
distância de um golpe de olhar à mistura com as copas das árvores.
segunda-feira, março 21
Viva o Retrocesso !
Passam para a opinião pública bastantes boas ideias. Retive algumas. Orçamento de estado plurianual a partir de 2006. Uma revolução. Podem crer! Se for para fazer.
Combate à pobreza a começar pelos idosos com 80 anos ou mais e a "deslizar", anualmente, até aos 65 anos. Boa ideia para medir sensatamente o impacto social e financeiro da medida.
Redução das férias judiciais de dois para um mês. E outras, muitas outras, no terreno da economia. Talvez tenham saltado para a opinião pública ideias demais. Mas se o governo não apresentasse ideias no princípio de vida ...
Assim o governo acredita-se desde que seja capaz de acompanhar os anúncios com as concretizações. Os representantes das corporações atacam.
Os representantes dos sindicatos resignam-se e esperam. Aliás são sempre os mesmos e já seria hora de mudarem de elenco! É o Carvalho e o Proença, o Proença e o Carvalho. Bolas!
Desta vez o representante dos farmacêuticos deu um ar da sua graça. Denunciou o "retrocesso" da venda de medicamentos fora das farmácias. Que falta de imaginação!
Os agentes da justiça atacam a redução das férias judiciais.
Não acreditam? Se as corporações estão contra as medidas anunciadas pelo governo é porque elas devem ser boas. É um critério um pouco grosseiro mas, infelizmente, com grandes hipóteses de ser justo.
"Diário do Governo" - 5
domingo, março 20
As terras a sul estão da mesma cor como sempre as conheci. Aqui e ali despontam uns tímidos tons de verde. Todos estão conformados ao castanho tisnado da descrença. Agora já não é a "pesada herança" mas o presságio futuro da desgraça. Mudam os tempos mas não mudam as vontades. Fotografia de Helder Gonçalves
Crise Lamentável
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.
Viver em casa como toda a gente,
Não ter juízo nos meus livros - mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.
Não ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas –
À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.
Ter força um dia para quebrar as roscas
Desta engrenagem que emperrando vai.
- Não mandar telegramas ao meu Pai,
- Não andar por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me e sair - não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.
- Pôr termo a isto de viver na lua,
- Perder a “frousse” das correntes de ar.
Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento -
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento.
Que tudo em mim é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
E sempre o Oiro em chumbo se derrete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...
Paris, Janeiro de 1916
Mário de Sá-Carneiro
O LIVRO - Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido. No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa salvar-se. Almada Negreiros In "A invenção do dia claro" - 1921
sábado, março 19
Seca
Hoje a Sul
Comprei 4 livros (em Faro compro sempre livros de poesia)
- João Lúcio – Poesias Completas - toda a gente se esqueceu deste poeta algarvio (1880/1918);
- Poesia de Vítor Matos de Sá (1926/1975)– Desconhecia a sua poesia belíssima;
- Natércia Freire -Obra poética –Vol I Poesias escolhidas 1942-52 ;
- Obra Poética Completa de Federico Garcia Lorca – edição brasileira da Martins Fontes (bilingue).
Deu-me prazer esta incursão pelas memórias e pelas compras.
sexta-feira, março 18
A Imigração no Programa de Governo do PS
Esta é a primeira frase do programa de governo do PS respeitante à imigração. O capítulo integral referente a este tema pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.
quinta-feira, março 17
Primavera
Imigração
Os imigrantes seriam malqueridos pelo povo português. O inquérito é de 2003. Será que existe alguma relação entre esta revelação e o facto de Portugal ter sido governado, até há dias atrás, por uma coligação de direita que integrava o PP?
Se o povo português é xenófobo porque razão não votou em massa no PP? Nenhum partido assumiu politicamente, de forma aberta, a xenofobia! Ou o povo português não é xenófobo? Os inquéritos são muito traiçoeiros! O Presidente da República ficou surpreendido? A legislação não é adequada? Não havia política para a imigração? E vai haver, no futuro, política para a imigração?
O partido socialista apresentou, no seu programa eleitoral, uma política muito bem estruturada para a imigração. O programa do governo socialista foi aprovado hoje. Todos os portugueses esperam que seja para cumprir. O programa não é xenófobo antes se fundamenta na integração social dos imigrantes e na aceitação da diversidade étnica e cultural.
"Diário do Governo" - 4
quarta-feira, março 16
Correio de Leitores
Estamos, regra geral, em pleno Outono e, mais dia menos dia, eis que eles surgem, com pompa e circunstância. A comunicação social não o faz por menos. Urge informar o cidadão em geral, os pais e os alunos sobre as “verdadeiras performances” das nossas escolas. Falo-vos dos Rankings, da seriação de escolas que os jornais (Público, Expresso, Diário de Notícias....) encomendam, nunca procurei saber a quem, e que tornam merecedor de notícia.
A forma como essa avaliação é concebida carece de uma panóplia de variáveis caracterizadoras da real identidade, diversidade e complexidade das nossas escolas, (e quanto a isto parece que estamos quase todos de acordo) mas isso parece ser de somenos importância.
Não sei se bem, mas resolvi considerar os rankings como uma espécie de vírus que apelidei de SIDACS (Síndroma de Imune Deficiência Adquirida Comunico-Social ). Pode entender-se como uma variante do SIDA, não tão fatal quanto este mas, se não lhe for dada atenção, pode, a prazo, provocar sérios danos em algumas das nossas escolas.
Um vírus, como o próprio nome indica, é sempre algo de mau e, por isso, melhor fora que não existisse. Mas o que é facto é que existe e quem lhe dá vida, e o torna público, exerce uma influência enorme ao nível da formação das opiniões públicas. Daí que escolas e comunidades educativas não lhe devem ser indiferentes, devem, isso sim, analisá-lo, desmontá-lo e começar a criar verdadeiras alternativas para a avaliação das escolas. Quem anda pelas nossas escolas percebe que se há coisa que não falta é massa pensante, capaz de dar um contributo importantíssimo a este nível. Eu diria que alguns já o estão a fazer por sua conta e risco, logo, importaria tornar esse trabalho igualmente merecedor de notícia. Aqui fica o desafio à nossa comunicação social.
A educação é uma realidade muito complexa devendo ser vista como um sistema global onde cada escola, enquanto subsistema, se insere numa relação de interacção e de singularidade.
Importa transformar mais esta adversidade numa potencialidade, geradora de reflexão, capaz de mobilizar as escolas para a realização de um verdadeiro diagnóstico numa colaboração estreita com os organismos do ME e das forças sociais, económicas e culturais que com a escola interagem.
SR
terça-feira, março 15
Freitas do Amaral - Um Pensamento Clarividente
Não posso estar mais de acordo. Transcrevo esse texto, na íntegra, no IRAOFUNDO EVOLTAR e aqui deixo um extracto. (O texto de Freitas do Amaral foi retirado do Insurgente. )
“Na verdade, entre a direita pró-americana que aplaude incondicionalmente a política externa e de segurança nacional do presidente Bush, e a esquerda antiamericana que condena irremediavelmente tudo quanto a América faz ou deixa de fazer, tenho-me situado numa linha intermédia (quiçá, centrista) que se caracteriza por dois elementos fundamentais:
– Um sentimento básico, estrutural, permanente, de amizade e admiração pelos EUA;
– Uma atitude crítica bastante forte, na conjuntura actual, contra a política externa e de segurança nacional do Presidente George W. Bush.
Com efeito, pode ser-se estruturalmente pró-americano e conjunturalmente anti-Bush. Pretender, como têm dito alguns dos meus críticos, que rejeitar a política externa e de segurança nacional de Bush é ser antiamericano é uma atitude mental muito próxima daqueles que, durante o Estado Novo, afirmavam que quem era anti-salazarista era necessariamente antipatriota ou mau português.
A verdade é que, em Democracia, pode ser-se, no plano interno, contra um Presidente ou contra um Governo sem se ser antipatriota; e, no plano das relações internacionais, pode discordar-se de certas políticas seguidas por determinados governos sem se ser inimigo ou mau amigo do respectivo país.
O direito à crítica, fruto da liberdade de opinião, e o direito à oposição, corolário da liberdade de posicionamento político, são direitos que não existem em ditadura, mas que fazem parte essencial das liberdades democráticas. É tão legítimo, numa democracia, ser a favor do Governo como ser a favor da oposição: ambas as atitudes são legítimas e contribuem para o bem comum. Ninguém exprime melhor essa filosofia do que os ingleses, que falam em Her Majesty’s Government e na Her Majesty’s Oposition. O que quer dizer que Governo e oposição, como elementos essenciais da democracia, são ambos acolhidos e legitimados como servidores da Coroa, expressão e símbolo da unidade nacional.
O mesmo se passa, mutatis mutandis, no plano internacional. Qualquer pessoa pode criticar a política externa do Presidente norte-americano sem que isso permita dizer, automaticamente, que essa pessoa é antiamericana; não é por se criticar, por hipótese, o liberalismo conservador do Governo francês que se é, necessariamente, antifrancês; nem é ser antigermânico criticar a política europeia do chanceler alemão.
Pode-se gostar muito de um país, do seu povo, da sua história, das suas instituições, dos seus êxitos e vitórias contra a adversidade, e no entanto discordar desta ou daquela política de um ou outro dos seus governos.”
segunda-feira, março 14
Alguns detalhes da discussão pública acerca da alusão de Sócrates à liberalização da venda de medicamentos - não sujeitos a prescrição médica - é de morrer a rir.
É um caso de desespero de uma corporação que resiste a aceitar as mais elementares regras do mercado (concorrência, transparência, acessibilidade, preço...) e tudo o mais que é banal nos países civilizados. E a coisa ainda agora começou...
Todos os problemas sérios que o assunto coloca - segurança, por exemplo - estão resolvidos a montante, ou seja, os medicamentos de venda livre estão embalados e certificados cumprindo regras de segurança pré definidas e fiscalizadas pela entidades competentes.
O Regresso à Normalidade
Não seria necessário justificar a decisão com a contenção de despesas. É simplesmente o regresso à normalidade. Ponto final.
“Diário do Governo” – 2
Reconhecimento à Loucura
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem nem resignação
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
se fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira para tudo?
Tu só loucura és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem t´as vier buscar
José de Almada Negreiros
Obras Completas – Vol. I – Poesia
Biblioteca de Autores Portugueses
domingo, março 13
Almada Negreiros
PANFLETO SOCIAL
Eh comunistas! Eh fascistas!
Eu sei, eu sei:
“Não há esconderijo senão nas massas”!
Assim mesmo necessitais de inimigos
Chamais construir: eliminar inimigos
Almada Negreiros
Einstein em Lisboa
A propósito da sua visita a Lisboa ressalta uma descrição, escrita pelo próprio, que ainda hoje, guardadas as distâncias, é bastante concludente assim como a proverbial capacidade dos portugueses para esquecerem ou "passarem ao lado" do que é verdadeiramente importante.
"Tinha o costume de escrever um diário em viagem, por isso conhecemos as impressões com que ficou de Lisboa. Einstein passou só um dia na capital, a 11 de Março de 1925, e comentou a incursão pela cidade:
"Dá uma impressão maltrapilha, mas simpática. A vida parece transcorrer confortável, bonacheirona, sem pressa ou mesmo objectivo ou consciência. Por toda a parte temos consciência da cultura antiga. Graciosa. Vendedora de peixes fotografada com uma bandeja de peixe na cabeça, gesto orgulhoso, maroto."
(...)
A passagem pelo Brasil não podia contrastar mais com a recepção em Lisboa. Tanto quanto se sabe, não foi recebido por ninguém, nem no dia da visita nem depois os jornais publicaram uma linha."
Mulheres (2)
Eu próprio seria capaz de formar um outro governo imaginário exclusivamente formado por mulheres técnica e politicamente competentes.
Mas não seria preciso ir tão longe. Para ser razoavelmente fiel à modernidade, de que Sócrates se reclama, num governo de 16 ministros e 35 secretários de estado, Sócrates só teria de ter assegurado, e seria ainda conservador, pelo menos, 25% de mulheres ministras (quatro em vez de duas) e paridade nas secretarias de estado (dezassete em vez de quatro).
A preocupação com a presença feminina no governo teria sido um exercício realmente estimulante.
sábado, março 12
Governo Novo
Anunciou até duas medidas emblemáticas. Uma boa prática nestes discursos de estado. Uma dela deu-me muito prazer. Acabar com o monopólio das farmácias na venda de medicamentos que não precisem de receita médica. Abre-se assim uma batalha na qual os portugueses vão apoiar o governo.
O Dr. Cordeiro, “boticário mor do reino”, vai tremer de raiva. Lembro a campanha que desencadeou contra Ferro Rodrigues nas anteriores eleições a propósito da proposta das farmácias sociais. Espero que este combate pela transparência e concorrência no mercado dos medicamentos não se fique por aqui.
A outra medida concreta anunciada é um desafio à capacidade das instituições do topo da hierarquia do estado para reformar o próprio modelo de actuação do estado. Fazer as eleições autárquicas e o referendo à constituição europeia no mesmo dia parece qualquer coisa fácil de aceitar e concretizar. Ganhamos todos com isso.
E afinal o governo PS não está a empurrar os referendos para 2006 como se queria fazer querer. Vamos ver como Sócrates conduzirá as medidas que forem sendo tomadas. Quais? Como? Em que sentido? Quais os beneficiários? Quais as metodologias?
Para começar não está nada mal. Haja esperança na capacidade dos homens para aprender com a realidade e os seus próprios erros.
Condecorai-vos uns aos outros
"Portas condecora Bagão, Adriano Moreira e Frank Carlucci
Paulo Portas condecorou esta sexta-feira, no seu último acto público como ministro da Defesa, o ministro das Finanças, Bagão Félix, o ex-presidente do CDS-PP Adriano Moreira e o antigo embaixador norte-americano em Portugal Frank Carlucci. No total, 12 pessoas foram distinguidas."
"Diário do Governo"
Vou seguir dia a dia a acção do governo – socialista – que hoje entra em funções. A maioria em que assenta este governo é muito cómoda e vai fazer, por si só, muitos estragos. O diário será constituído por comentários pessoais. Críticos. Curtos e incisivos. Com títulos adequados ao assunto abordado. Nalguns casos com links para notícias e postas de outros blogs. Cada alteração à composição do governo dará origem a um novo governo. Cada erro considerado fatal será também devidamente assinalado. Alguma interrupção forçada na apresentação deste diário será anunciada previamente ou resultará de força maior. Já há muita coisa para contar mas este primeiro dia, o da tomada de posse, será de "folga".
Fotografia de Helder Gonçalves
sexta-feira, março 11
Para não esquecer o Horror
dorsos despedaçados a chicote,
almas cegas avançando aos saltos
(espanhas a cavalo
de fome e sofrimento). E acreditei.
Creio na paz. Já vi
altas estrelas, recintos chamejantes
e amanhecentes, incendiando rios
fundos, caudal humano
para outra luz: vi e acreditei.
Creio em ti, pátria. Digo
o que já vi: relâmpagos
de raiva, amor em frio e uma faca
chiando, fazendo-se em pedaços
de pão: embora hoje só haja sombra, vi
e acreditei"
[Blas de Otero, Fidelidad, in Pido la Paz y la palavra, 1955, trad. José Bento (1985)]
No almocreve das Petas
quinta-feira, março 10
Freitas do Amaral - de novo
Afinal o PS de Ferro Rodrigues não era assim tão “esquerdista” nas suas opções de política externa. Ana Gomes é, no fim de contas, uma moderada. Somente diz aquilo que muitos pensam, mas calam. (Vide a propósito de outro assunto a sua tomada de posição acerca das mulheres no PS).
Alguns conspiradores profissionais devem estar a pensar que mais valia terem deixado Ferro Rodrigues em paz. Não é? Sempre se poupavam às dores de ter de suportar Freitas do Amaral no MNE.
E o Dr. Portas – chefe do partido que Freitas fundou - não necessitaria de explicar aos seus amigos da administração Bush que este Freitas já não é o mesmo que fundou o CDS, mas outro, sendo, na verdade o mesmo... As voltas da política tem destas curiosas ironias.
O Prof. Freitas do Amaral será um perigo para o prestígio de Portugal no mundo? Freitas do Amaral criticou duramente a administração Bush pela intervenção militar americana – unilateral – no Iraque. Muito bem. Não fez mais do que expressar a opinião da maioria do povo português. A maioria que deu a vitória ao PS. Nada me parece mais coerente.
Quanto à política externa de Portugal, segue dentro de momentos. E vai manter-se, no essencial, fiel ás alianças tradicionais de Portugal.
A diferença estará no tom da afirmação da identidade de Portugal no concerto das nações pela voz prestigiada e lúcida de Freitas do Amaral. É este o verdadeiro problema da direita. Mas este não será, verdadeiramente, um problema para a política externa de Portugal. Veremos.
Os meus avós paternos, Maria da Conceição Neto Graça e Dimas Eduardo Graça, com expressões firmes, serenas e determinadas, numa foto datada de 14 de Novembro de 1911, obtida em Santos, Brasil, por Joaquim Pereira, Rua 15 de Novembro, nº 8, Santos. Dimas se chamou meu pai, Dimas também meu irmão, Eduardo sou eu. Um tributo em memória de meu avô.
O Fim do Pesadelo (quase em forma de diatribe)
Não uso palavras pesadas demais. Tenho até a percepção de que são pesadas de menos. Tenho ouvido, visto e sentido, por toda a parte, gente abandonada e ressentida, à beira da ruína, da marginalidade e do desespero, com fome e sem trabalho, sem futuro e sem esperança. Não só no mundo do trabalho como também no mundo dos negócios.
O pesadelo resultou de muitos e variados factores mas, entre eles, avulta o facto de o governo ter sido “sequestrado” por um partido extremista minoritário que tem um nome, um chefe e um ideólogo. O nome: CDS/PP; o chefe: Paulo Portas; o ideólogo: Bagão Félix.
Aliás a natureza totalitária do CDS/PP, de Paulo Portas/Bagão Félix, ficou bem evidenciada pelo recente episódio do retrato de Freitas do Amaral. Só os partidos totalitários suprimem a figura dos seus pais fundadores. O episódio, aparentemente irrelevante, tem um significado profundo: mostra à evidência que Portugal tem sido governado por uma coligação que integra um partido com vocação totalitária. As consequências desse facto, para o país, foram desastrosas.
Texto integral em IRAOFUNDOEVOLTAR
quarta-feira, março 9
Os acasos da Guerra - Nova Actualização
Berlusconi pede colaboração dos EUA no inquérito à morte de Calipari
Devaneio
O comboio abranda, é o Cais do Sodré. Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão.”
“Livro do Desassossego” – Fernando Pessoa (Bernardo Soares)
terça-feira, março 8
Os acasos da Guerra - Actualização
segunda-feira, março 7
Colagens
Hoje Bagão Félix abençoa o futuro Ministro das Finanças.
Mais vale prevenir do que remediar…
Sampaio e a Educação
Apesar de todas as paixões e da identificação da prioridade para a educação os indicadores conhecidos de insucesso e abandono escolar, em Portugal, colocam-nos na cauda da Europa dos 25.
Convém, pois, assumir que este é um problema que vem de longe, sendo ainda uma sequela da transição do modelo elitista de escola, próprio da ditadura, para um modelo de escola próprio de uma democracia avançada.
O designado “choque tecnológico”, ou plano tecnológico, aplicado à “educação básica e secundária” é o caminho apontado pelo governo socialista. Como se vai aplicar? É essa a questão que está em aberto.
Sampaio (...) apontou ainda como "a única e decisiva prioridade" do país "o acesso universal à educação básica e secundária de qualidade".
Os acasos da guerra
“Itália garante que EUA sabiam da libertação de Giuliana Sgrena”
O desmentido da implicação das forças norte americanas no ataque à comitiva que resgatou a jornalista italiana do cativeiro é, em si mesmo, muito significativo.
Neste tipo de situações os acasos e acidentes são uma raridade. Pode parecer uma brutalidade mas é sempre tudo intencional. É difícil entender o desconhecimento dos militares americanos acerca de uma operação de libertação de uma jornalista refém natural de um dos principais países membros da coligação.
As patrulhas militares no Iraque não actuam por conta própria como vulgares bandos de salteadores. São forças de elite que obedecem a um comando sustentado numa forte hierarquia. Depois de premir o gatilho o mal está feito.
Se a guerra fosse feita de acasos e acidentes ainda um dia alguém poderia afirmar que, afinal, a guerra nunca existiu. A democracia vale todos os sacrifícios mas não desculpa nenhum crime que em seu nome seja cometido.
Adenda: a jornalista trabalha para “Il Manifesto” um jornal da esquerda comunista italiana. Com uma linha editorial, certamente, pouco recomendável para as políticas externas das administrações americana e italiana.
“EUA investigam disparos
Os EUA estão a investigar a actuação da patrulha norte-americana que na sexta-feira feriu a jornalista italiana Giuliana Sgrena, depois de ser libertada de sequestradores no Iraque. A viatura onde seguia, com elementos dos serviços secretos italianos, foi alvejada devido a «um acidente terrível», justificou a Casa Branca.”
“Expresso on line”
O Retrato de Freitas do Amaral
1- desprezo pela história e tradição;
2- incivilidade e falta de sentido de estado;
3- ausência de espírito democrático e “mau perder”;
4- radicalismo serôdio;
A gravidade deste gesto ainda é mais acentuada se nos lembrarmos que, até ao próximo sábado, o CDS-PP ainda é governo.
Que surpresas nos reservará ainda o CDS-PP para esta semana? E os seus ministros? Ou, excepto a devolução do retrato, todas as surpresas serão preparadas no recato dos gabinetes?
domingo, março 6
Turismo Sem Ministério
Eis o que defendi e continuo a defender:
“Sustento que, sendo o turismo uma actividade transversal e multidisciplinar, muito relevante na dinâmica do desenvolvimento integrado da sociedade portuguesa, deveria, no governo, integrar um Ministério que exercesse a tutela dos transportes e do ordenamento do território.
A minha preferência é a do modelo francês (aliás a França é a primeira potência turística mundial) no qual o turismo está integrado, ao nível de secretaria de estado, no “Ministério do Equipamento, Transportes, Ordenamento do Território, Turismo e Mar”. (que diferença em relação à estrutura do governo português actual!)
Aliás, além de Portugal, nos países da União Europeia, só em Malta existe um Ministério do Turismo, no caso, desde 2003, integrando também a cultura. Esse é o modelo adoptado nos países do Norte de África e nalguns outros do chamado “terceiro mundo”.
Não quer dizer que não possa ser uma originalidade bem sucedida no nosso país. Tudo depende do peso político que alcançar, da competência dos seus titulares e do tempo que durar. “
Naide Campeã
Falhei o meu prognóstico quando, nos Jogos Olímpicos, ela falhou a medalha no Hepatlo por ter fracassado no seu forte – o salto em comprimento.
Desta vez não falhou. Naide Gomes é campeã da Europa.
O incómodo da extrema direita
Só isso bastava para provar como a sua escolha para o governo é acertada. Freitas do Amaral não caminhou muito para a esquerda, o CDS/PP é que caminhou muito para a direita.
Freitas do Amaral não precisa do governo para nada, Portas precisa do governo para tudo.
Freitas do Amaral nunca perdeu o estatuto de homem de estado, Portas nunca conseguiu, apesar do esforço, ganhar esse estatuto.
Portugal não precisa de se ajoelhar perante os americanos para afirmar a sua vocação atlântica. Antes pelo contrário: para se afirmar como “um entre iguais”, em todas as alianças, carece, absolutamente, de ficar de pé.
Por isso Freitas é uma boa escolha para Ministro dos Negócios Estrangeiros.
sábado, março 5
Manuel Alegre acerca de Vítor Wengorovius
“Estavam lá todos, os de sempre, os que restam dos de sempre, da campanha de Humberto Delgado, do assalto ao quartel de Beja, dos movimentos estudantis de 62 e 69, dos católicos progressistas, da luta anticolonial, da resistência clandestina e não clandestina, da Capela do Rato, da CDE e da CEUD, de todas as prisões e todos os exílios, de todos os combates que desembocaram no 25 de Abril, de todas as causas e todos os sonhos que foram a vida de Vítor Wengorovius e que, dos anos sessenta até agora, são a história da esquerda portuguesa. Todos, de Jorge Sampaio e Mário Soares a Francisco Fanhais, que admiravelmente cantou a «Canção da Cidade Nova». Ouvimo-lo com um nó na garganta, recordando o Vítor, a sua generosidade, a sua entrega aos outros, a sua grandeza de alma. Naquele tempo em que quase todos se calavam, o Vítor pedia frequentemente a palavra. E quando começava era o cabo dos trabalhos para o convencer a parar. A esta hora já está com certeza no céu e S. Pedro nem sabe o que o espera quando o Vítor pedir a palavra. Ele nunca se calou. Ele nunca se calará.”
Freitas do Amaral e o Governo do PS
Guardo uma expectativa positiva acerca da acção deste governo. Os tempos são difíceis. A governação será, como todos esperam, difícil.
Freitas do Amaral é uma surpresa para quem não tenha estado atento ao seu percurso pessoal. Quando, em 2001, subiu à cena no Teatro da Trindade a peça "O Magnífico Reitor", de sua autoria, pelo menos eu e o Carlos Fragateiro percebemos a nova postura ideológica e política de Freitas do Amaral. Na estreia a sala estava cheia de dirigentes da direita - o governo era socialista - e raros dirigentes da esquerda. Era um risco tremendo. Mas fez-se e foi um sucesso de público e de bilheteira.
Nesse mesmo dia um jornalista do "Independente" - Pedro Guerra - "ameaçou" com a publicação de uma notícia - a partir de notícias anónimas - contra a minha gestão do INATEL. A notícia não saíu e no seu lugar foram publicadas duas páginas com fotos daquela estreia.
Esse jornalista havia de tomar um lugar de destaque no gabinete do Ministro da Defesa e lider do PP, Paulo Portas. A campanha contra a minha gestão do INATEL havia de seguir mais tarde pelas mãos de Bagão Félix dilecto colaborador de Portas. As coincidências não são um acaso.
Acerca da peça a polémica estalou e a direita torceu o nariz. Mas engoliu. A esquerda oficial também. Em 2002 subiu à cena no Trindade a segunda peça de Freitas - "Viriato" - com menos polémica mas igual sucesso de público.
Tive o privilégio, como presidente do INATEL, do qual o Teatro da Trindade depende, de apoiar Carlos Fragateiro no patrocínio às incursões de Freitas do Amaral pela dramaturgia e de tomar consciência da sua postura de sincera preocupação com a luta pela dignidade, justiça e liberdade do homem.
A entrada de Freitas do Amaral no governo socialista é o facto mais notável deste período da política portuguesa. Mas esse facto não me espantou, antes me deu a certeza de que estamos perante um homem que não tem medo de assumir desafios novos e que não foge perante as dificuldades.
Assim o PS, os socialistas e o seu governo sejam dignos do seu corajoso gesto.
O Sonho e a Acção
Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com a outra.”
“Livro do Desassossego” – Bernardo de Passos – (Fernando Pessoa)
sexta-feira, março 4
Sequência Infernal
"Liderança do PSD
Ferreira Leite na «reserva»
A ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite não será candidata à liderança do PSD por considerar que isso iria dividir o espaço da candidatura de Marques Mendes."
"Regresso previsto no dia 14
Santana volta à CML"
"Audiência aberta à comunicação social
Catalina Pestana vai ser ouvida
"Marques Mendes
Aposta no Texto da Europa"
"Luís Filipe Menezes
CDS não é «inimigo»"
quinta-feira, março 3
Revolta
Durante o mês de Março publicarei um conjunto de 10 posts, ilustrados com imagens, a partir de um texto original – “Fragmentos Autobiográficos” - inspirado nesta citação de Camus:
“Revolta: Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor...”
Fotografia de Helder Gonçalves
quarta-feira, março 2
"O Aprendiz de Feiticeiro"
Publico hoje o último post do meu livro artesanal construído a partir de excertos de “O Aprendiz de Feiticeiro”, de Carlos de Oliveira”. A obra, salvo erro, é de 1971 e a minha “edição” ocorreu em 1981, por mero acaso, em coincidência com a morte do autor.
Para quem quiser aqui tem uma edição recente.
"A Última Tília"
“ Tchekov, primeiro acto do “Tio Vânia”. Fala Astrov:
- O homem foi dotado de razão e força criadora para multiplicar o que lhe legaram, mas até hoje não criou, destruiu. Há cada vez menos florestas, os rios secam, a caça desaparece, o clima torna-se mais rude dia a dia, a terra mais pobre e mais feia. Vejo que me olhas ironicamente, tudo o que digo te parece que não é a sério e … e, talvez seja apenas mania minha, mas quando passo por uma floresta que salvei ou ouço o rumor da floresta ainda jovem que plantei com as próprias mãos, torno-me consciente de que o clima depende um pouco de mim e que se o homem dentro de mil anos tiver de ser feliz mo fica também a dever um pouco. Quando planto uma bétula nova e a vejo em seguida cobrir-se de folhas verdes, balançar ao vento, o meu coração enche-se de orgulho …
Pobre Astrov. Os operários derrubam a última tília e partem nos camiões pouco antes de se acenderem as lâmpadas da praça, que são (como os arboricidas gostam) flores de gás.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (6 de 6)
Fotografia de Helder Gonçalves
terça-feira, março 1
O Meu Irmão Dimas Morreu
O meu irmão Dimas era um “self-made-man”. Pertencia aquela rara plêiade de portugueses que triunfou na vida pelas suas próprias mãos. Com o seu trabalho. Sem golpes nem favorecimentos espúrios. Um artista de fina sensibilidade e operário na sua arte, perfeccionista, preocupado com os detalhes, homem de honra e de palavra.
Sofreu, certamente, em silêncio, os males do nosso tempo e a doença súbita que, em poucos dias, o ceifou para a vida. Eu fui um filho tardio. A sua adolescência coincidiu com a minha meninice. Sempre fui para ele “o meu menino”. O meu irmão Dimas raramente dizia palavras de circunstância. Nem era homem de grandes manifestações públicas de afecto. Mas eu sempre senti o halo da sua secreta afeição e solidariedade.
A imagem que dele guardo, para sempre, está neste retrato a preto e branco. A família completa posa para a Kodak de meu pai. No Jardim da Alameda, em Faro. Respira-se um ar de felicidade e o meu irmão, adolescente, deixa perceber a sua elegância. Eu empoleiro-me no banco na hora do disparo. A máquina, suspensa num tripé, accionada por meu pai, deixa passar aqueles segundos que ainda lhe permitem tomar o lugar no retrato.
Reparo nas roupas domingueiras que todos envergávamos. O meu olhar e o de minha mãe pousam, certeiros, na objectiva. Os olhares de meu pai e de meu irmão pousam em algo, ou alguém, ligeiramente ao lado. Simétricos dois a dois. Reparo na expressão feliz do seu rosto e na sua esguia mão.
Que dia terá sido aquele? Um aniversário? Um dia de festa? Um momento para todo o sempre.
Lusomundo - Negócio Fechado
Em palavras chãs a PT vendeu aos “Irmãos Oliveira” os órgãos de comunicação social que detinha. Daqui a algum tempo se verão as consequências.
(Afinal o PS já se pronunciou, concordando com a venda, e as "entidades reguladoras" que se amanhem. O problema é que o pronunciamento do PS tem o tom de "fim de festa". Mas qual festa? Ou de alívio! Mas de que dor?)
segunda-feira, fevereiro 28
"Aprendizes"
“Passamos duas vezes pela beira-rio, ao sair da cidade e no regresso já com o crepúsculo carregado de estrelas. Jornais. A guerra química. A desfolhagem instantânea das florestas no Vietnam ou, pior ainda, a incubação da doença, que o vento, as folhas caídas, a própria seiva, transmitem de árvore em árvore contaminando o chão, assassinando-o. Nenhuma raíz viverá ali nos próximos cinquenta anos, pelo menos. Afinal estes tipos com as suas serras mecânicas não passam de aprendizes.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (5 de 6)
Fotografia de Helder Gonçalves
domingo, fevereiro 27
Vítor Wengorovius
Fui hoje confrontado, longe de Lisboa, com a notícia da morte de Vítor Wengorovius. Aqui lhe deixo a minha homenagem. No percurso político comum que fizemos, em certo momento, constituiu-se um grupo que ficou conhecido como "O Grupo dos Cinco".
Hoje o Ferro Rodrigues lembrava-me que eu e ele somos os dois únicos sobreviventes desse grupo: os outros eram o Agostinho Roseta, o Afonso de Barros e o Vítor Wengorovius.
Reparo que os jornais publicam hoje nomes de dirigentes do MES que, em boa parte, não correspondem à realidade mas a uma imagem da realidade que se foi construindo, na comunicação social, ao longo dos anos.
Aqui deixo uma referência a Vítor Wengorovius num texto, elaborado a partir de um post publicado no absorto, que deverá integrar um livro, a editar em breve, no qual publicarei também a lista dos verdadeiros dirigentes (eleitos), fundadores do MES, da qual o Vítor faz parte:
"O mais vibrante activista do MES, oriundo do movimento católico progressista, foi o advogado Vítor Wengorovius.
Tendo desempenhado um papel determinante no movimento estudantil, aquando da crise de 1961/62, é um brilhante orador e conduziu-se, em todas as circunstâncias, como um hábil, infatigável e maduro negociador, capaz de gerar consensos e fazer pontes em todas as direcções.
Foi sempre prejudicado, nos planos pessoal e político, pelo seu excesso de talento para formular propostas e soluções de consenso e pelas manifestações do seu temperamento fulgurante.
A Nuno Teotónio Pereira e a Vítor Wengorovius devemos todos, os jovens quadros que se reuniram, desde os anos 60, até ao início da década de 80, em torno do MES, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e contagiante humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva."
Fotografia de Helder Gonçalves
sábado, fevereiro 26
Termas de Manteigas
Em Outubro serão as eleições autárquicas. Espero que ninguém tenha a tentação de destruir uma obra moderna e consolidada – As Termas e o Complexo Hoteleiro de Manteigas do INATEL – por um “elefante branco” do qual resultará, mais tarde ou mais cedo, mais despesa pública sem a correspondente contrapartida de serviço público e de impulso ao desenvolvimento regional.
"Covilhã, 25 Fev (Lusa) - A Câmara de Manteigas está a estudar com a iniciativa privada a construção de um complexo lúdico-termal na vila, revelou hoje à agência Lusa o presidente da autarquia, José Manuel Biscaia.
O autarca lamenta, no entanto, "problemas provocados pela burocracia".
Segundo o edil, o investimento previsto "pode ascender a três milhões de euros e está previsto para terrenos junto às termas de Caldas de Manteigas, propriedade do INATEL".
"Queremos construir um espaço com tudo o que está ligado à água, em plena montanha", descreve.
Além das piscinas, "haverá zonas de descanso e lazer em plena água, diferentes tipo de banhos e espaços de hidroterapia", refere o autarca.
A área será complementada com serviços de restauração, comércio e diversão.
"O objectivo é conseguir com as termas cativar mais público, de outras faixas etárias e que não tenha apenas necessidades terapêuticas, mas também de lazer", sublinha José Manuel Biscaia.
Segundo o próprio, a obra está ainda "em fase de anteprojecto", sendo os detalhes acertados com privados com os quais o estudo está a ser desenvolvido.
Apesar de ambicionar arrancar com obras ainda até ao final do ano, o presidente da Câmara de Manteigas queixa-se de excesso de burocracia, que diz estar a atrasar o processo.
"Há um problema burocrático com a identificação de terrenos do INATEL que está a provocar um impasse junto de um dos investidores", descreve.
"Do ponto de vista burocrático, este processo tem sido um rosário de amarguras", classifica.
A estância termal de Caldas de Manteigas, propriedade do INATEL, é alimentada pelas nascentes da Fonte Quente, com água a 42 graus, e da Fonte Santa, com água a 19 graus.
As águas sulfurosas, captadas a 60 metros de profundidade, são indicadas para o tratamento de reumatismo, dermatoses, doenças das vias respiratórias e musco- esqueléticas.
Em pleno Vale Glaciário do Zêzere, as instalações das termas estão situadas a três quilómetros da vila de Manteigas.
LFO.
Obrigado Irmão
Diz assim:
“Vem Apariço e Ordonho, moços de esporas, a buscar farelos, e diz logo:
Apa. Quem tem farelos?
Ord. Quien tiene farelos?
Apa. Ordonho, Ordonho, espera mi.
Ó fideputa ruim!
Sapatos tens amarelos,
Já não falas a ninguém.
(…)”
É a farsa “Quem tem farelos?” composta, por Gil Vicente, nos fins de 1508, princípios de 1509.
Ninguém se espante mas em Portugal não existe qualquer companhia teatral dedicada a estudar, divulgar e representar o teatro de Gil Vicente.
Obrigado irmão.
sexta-feira, fevereiro 25
Entardecer
"Dêem-me a terra, mesmo poluída."
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (4 de 6)
Cesário Verde
Cesário Verde (Aniversário)
Trabalho acerca do poeta no "Público".
O Livro de Cesário Verde (Primeira Edição)
O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL
(Fragmento)
I
AVE-MARIAS
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.
Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!
(Versão integral no ir ao fundo e voltar)
quinta-feira, fevereiro 24
A Dignidade Não Tem Preço
Não falo de números, mas de pessoas. Um país não é um “grande número” resultante do somatório de cifras, taxas, pessoas, grupos, empresas, corporações, comentadores, amigos, conhecidos e quejandos.
É uma comunidade integrada, com passado e tradição, cidadãos e famílias, iniciativa e trabalho, alegrias e dores, humores e aflições, necessidades e desejos.
A dignidade não tem preço e, em democracia, a comunidade não perdoa a indignidade de quem governa.
José Afonso - 3
Tinha sido um concerto em Serpa, em cuja organização devo ter participado, em que Luís Pastor acompanhou José Afonso.
Foi uma daquelas intervenções loucas dos tempos da revolução. José Afonso evocou-as, com orgulho, agora mesmo, no memorável concerto do Coliseu, de 1983, que a “RTP Memória” acaba de passar.
Que voz extraordinária também a de Luís Pastor felizmente, pelo que vejo, em plena actividade.
quarta-feira, fevereiro 23
"Contra a clorofila"
“A aridez desdobrada em cimento, pavimentos estéreis, fumegantes, como as avenidas novas que sobem da beira-rio para as estradas do norte e o aeroporto, cerros nus, talhados sobre as faixas de rodagem, a monstruosa ossatura das fábricas à mostra, quantidades colossais de gases num labirinto canalizado para o alto, e lá em cima a chama, a nuvem tóxica, que de quando em quando o vento espalha pela cidade. Vindo da lua, o cosmonauta diz que poluir o ar e as águas da terra é um crime inominável. Diz, depois de atravessar no seu escafandro o céu dum astro sem ar nem água: dêem-me a terra, é tudo o que desejo. E entretanto os empreiteiros, os lunificadores e os seus operários trabalham nesta praça, aplicadamente, contra a clorofila.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (3 de 6)
Foto de Helder Gonçalves
José Afonso
José Afonso é um dos pilares mais vigorosos na formação cívica, estética e política da geração que fez a revolução de Abril.
Um homem vertical. Um grande poeta. Um músico de talento. Um extraordinário interprete.
Honra à sua memória.
Cantigas Do Maio
(Eu Fui Ver A Minha Amada)
Eu fui ver a minha amada
lá prós lados dum jardim
dei-lhe uma rosa encarnada
para se lembrar de mim
Eu fui ver o meu benzinho
lá prós lados dum paçal
dei-lhe o meu lenço de linho
que é do mais fino bragal
Minha mãe quando eu morrera
ai chore por quem muito amargou
para então dizer ao mundo
ai Deus mo deu ai Deus mo levou
Eu fui ver uma donzela
numa barquinha a dormir
dei-lhe uma colcha de seda
para nela se cobrir
Eu fui ver uma solteira
numa salinha a fiar
dei-lhe uma rosa vermelha
para de mim se encantar
Minha mãe quando eu morrer ...
Eu fui ver a minha amada
lä nos campos eu fui ver
dei-lhe uma rosa encarnada
para de mim se prender
Verdes prados verdes campos
onde está minha paixão
as andorinhas não param
umas voltam outras não
Minha mãe quando eu morrer...