segunda-feira, janeiro 23

CAVACO AGUENTOU A INVESTIDA DAS URNAS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Cavaco aguentou a investida das urnas. Merece a ilustração acima. Ganhou com cerca de 64.000 votos de diferença face à soma dos votos obtidos pelos restantes candidatos. Bastava um só voto mas é, em qualquer caso, uma vitória escassa face às expectativas da direita. Mas em democracia por um voto se ganha, por um voto se perde.

Soares fez uma declaração de derrota à altura dos seus pergaminhos de democrata. Fiquei, apesar de tudo, confortado. Saber perder é uma grande virtude nas sociedades civilizadas. Honra seja feita. Não ouvi a declaração de Cavaco, pois tenho (temos) muito tempo para o ouvir (10 anos?).

Conclusões breves:

1) A divisão da esquerda pode ter favorecido a vitória de Cavaco, mas um candidato único, apoiado pelo PS, seria sempre vítima do efeito do “voto de punição” face às políticas do governo; a divisão da esquerda é, além do mais, uma consequência inevitável das suas diferenças cuja exposição captou votos que uma candidatura unitária de esquerda afastaria;

2) Com a presente configuração dos resultados a eleição de Cavaco à primeira volta é menos penalizadora para o PS, e para o governo, pois o PS teria enormes dificuldades em manter-se unido no apoio a uma candidatura de Alegre na 2ª volta;

3) Cavaco precisa de tempo para iniciar o processo de reagrupamento do centro direita em torno do PSD enquanto espera recolher os frutos das políticas reformistas do governo PS;

4) A acção presidencial de desgaste do governo PS está limitada pela presidência portuguesa da UE, no segundo semestre de 2007, pelo que a instabilidade política far-se-á sentir, a sério, somente a partir de inícios de 2008, considerando que a legislatura termina em Outubro de 2009;

5) Cavaco corre o risco, no entanto, de desagradar, a breve prazo, ao eleitorado de centro esquerda que nele votou na expectativa de sua acção moderadora face às inevitável medidas impopulares resultantes da acção reformista do governo;

6) A liderança de Sócrates não ficará substancialmente fragilizada face ao desaire eleitoral se souber assimilar internamente as consequências políticas do resultado de Alegre;

7) Pode ter vencido, nesta eleição, a “solução cínica” que vaticinei em 8 de Fevereiro de 2005, num post intitulado “A Hora das Grandes Decisões”, face a uma notícia que atribuía a maioria absoluta ao PS nas legislativas de 20 de Fevereiro desse mês, mas mantenho a ideia chave que a vitória de Cavaco é, no essencial, a médio prazo, um factor de instabilidade política.

4 comentários:

Anónimo disse...

Proponho as seguintes conclusões destas eleições:
1) Em abstracto, é positivo para a democracia que a direita também possa aspirar a eleger o PR. Vamos ver se Cavaco cumpre as suas promessas... ou se vai ser tão intrometido como Soares foi. Ou um PR intrometido só é bom quando é de esquerda?
2) A escolha de MS como candidato do PS simboliza a incapacidade dos políticos para perceberem o seu tempo e as exigências mínimas do bom senso. O povo não aprecia que gozem com ele. A figura do "velho gaiteiro" é uma das mais ridicularizadas pelo "Portugal profundo". As batalhas do futuro não se travam com as glórias passadas.
3)A escassa vitória de CS mostra que se o PS tivesse feito o seu dever, escolher um bom candidato, podia ter ganho mais uma vez.
4)A votação importante em MA mostra que continua a existir em Portugal um grande espaço de populismo de esquerda. O Alegre soarista de sempre conseguiu passar por alternativa a Soares. O Alegre de 30 anos de aparelho partidário conseguiu ser o herói da antipartidocracia - e esse discurso passa. Se Alegre tivesse conseguido o que queria, ser candidato do PS, como faria este discurso anti-partidos? O mais mal preparado dos candidatos (aquele que sabe menos sobre o país) veio à frente no voto da esquerda. O espaço do caudilhismo de esquerda, que recusa o raciocínio da necessidade racional, está vivo.
5) Para mim, estas eleições confirmam o que sempre disse, também no que toca à governação: é preciso modernizar, mas também é preciso mostrar aos eleitores de esquerda porque é que esta política é diferente da de direita, porque é que este reformismo é de esquerda (como penso que é).
Parabéns pela tua militância, em todo o caso.
Um abraço do Turing Machine

hfm disse...

Permita-me que acrescente que estas eleições vieram, felizmente, mostrar que os cidadãos têm muita força quando se unem em volta duma causa, longe dos aparelhos partidários, dos vícios políticos e das questíunculas mesquinhas.
Manuel Alegre não ganhou mas deu-nos esperança.

Anónimo disse...

Só uma perguntinha: disseram-me que em 30 anos como deputado na Assembleia da Republica Manuel Alegre nunca terá apresentado nenhuma proposta. É verdade?

Anónimo disse...

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