sexta-feira, abril 13

ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Posted by PicasaAntónio Lobo Antunes

Pelo menos duas vezes vi o António Lobo Antunes num pequeno café/restaurante de telheiras a almoçar há pouco tempo.

Enquanto comia ditava sem parar e a acompanhante escrevia, por vezes interrogava e, aparentemente distraído, prosseguia como se o fio da sequência se pudesse quebrar.

Li o artigo que hoje ele publicou na “Visão”. É pungente anunciar o que é mais difícil de anunciar: “Suceda o que suceder, uma coisa tenho por certa: isto alterou, de cabo a rabo, a minha vida. Ignoro em que sentido, ignoro como. Sei que alterou. Santa Maria. O que farei daqui para a frente, se existir daqui para a frente?” (…)

“Estão sempre a dar-me prémios e claro que tenho prazer nisso, não sou mentiroso nem hipócrita. Toda a gente foi muito simpática.
e sem que eles sonhassem
(sonhava eu)
o cancro
ratando ratando, injusto, teimoso, cego. Mói e mata. Mata. Mata. Mata. Mata. Levou-me tantas das pessoas que mais queria. E eu, já agora, quero-me? Sim. Não. Sim. Não – sim. Por enquanto meço o meu espanto, à medida que nas árvores da cerca uns pardais fazem ninho. A primavera mal começou e eles truca, ninho. Obrigado, Senhor, por haver futuro para alguém.”

Da última vez que o vi, talvez em Fevereiro, achei-o quebrado, mas quantos de nós, tanta vez, não surgimos, aos olhos dos outros, como virtualmente mortos. A vida reserva-nos surpresas tristes mas a sombra não é mais do que um recorte da luz e a esperança o sol que nunca abandona as nossas vidas.

Até os comentários à auto notícia da doença de António Lobo Antunes são, ao contrário do costume, decentes e encorajadores. Por mim associo-me às vozes da esperança.

3 comentários:

hfm disse...

Sabes, Eduardo, quando ontem soube da notícia foi mais uma pancada, esperemos que os milagres aconteçam.

Escrever uma crónica daquelas é ser-se maior.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

A última vez que vi o Lobo Antunes também foi num café: há cerca de 2 anos, na esplanada do Principe Real. E guardo uma recordação feliz e divertida. Ele conversava animadamente com uma senhora. e eu juraria que estava a seduzi-la. Acho que vou guardar bem esta memória. O ALA confiante! :)

Aldina Duarte disse...

Claro que sim!!! Os milagres são imprevistos mas lá que existem existem!

Até sempre