quinta-feira, abril 21

A Condição Humana


Charlotte Corday após o assassinato de Marat
[1860, óleo sobre tela, 2030 x 1540 mm, Musée des Beaux-Arts, Nantes, France- Quadro de Paul Baudry (1828-1886) representando o assassinato de Marat por Charlotte Corday no dia 13 de Julho de 1793, eliminando um dos mais importantes defensores da política de Terror instaurada pelos jacobinos em França em 10 de Março de 1793]. In O Portal da História

Em 5 de Julho de 2004, em “citações -8”, fiz o retrato do que haveria de ser a governação de Santana Lopes na continuidade, aliás, do governo de José Manuel Barroso.

É surpreende, para mim próprio, a nitidez com que antecipo os traços característicos da situação social originada pela governação de direita que, em Portugal, para espanto de toda a Europa civilizada, foi conduzida por um partido “social democrata” em aliança com a extrema direita.

Original não tanto pelas designações dos partidos de governo, em si, mas pelo vazio dos seus desígnios políticos salvo a submissão à estratégia da administração Bush que haveria de culminar com essa extraordinária operação de elevar ao mais alto cargo da União Europeia um “peão” dessa mesma administração americana.

Começam a vislumbrar-se, no horizonte, os sinais dessa estratégia que se destina a enfraquecer a UE senão mesmo a liquidá-la. Ver-se-á, a breve prazo, o que resultará de uma eventual vitória do “não” no referendo ao Tratado Constitucional que se realizará, no mês de Maio, em França.

Eis o que escrevi em 5 de Julho de 2004:

A vida quotidiana continua apesar da crise política. As famílias trabalham (as que têm trabalho), transportam-se, tratam da vida o melhor possível.

Os últimos dois anos levaram muitas famílias ao desespero. Quem, por dever de ofício, tem conhecimento das mágoas dos cidadãos, maltratados pelas injustiças das políticas desta maioria, terá uma palavra decisiva no pleito eleitoral.

Ver-se-á então quanta crueldade foi praticada nas políticas sociais; quanta incúria no respeito pelos mais fracos para favorecer os mais fortes; quanta desigualdade foi estimulada por acção ou omissão.

Nunca a tragédia desta política, que não foi mais do que um intervalo, será absolutamente assumida. Digo intervalo porque antevejo os argumentos do novo paladino da governação neo-liberal: antes de nós o dilúvio, depois de nós o inferno. A nós, afinal, "não nos deixam governar".

É a estratégia da vitimização. O Dr. Santana Lopes vai tentar fazer passar-se como vítima de uma "intentona" cujos contornos o oligarca da Madeira, à sua maneira boçal, já enunciou.

É um momento de tragicomédia em que a política pura, a que eleva acima da defesa dos interesses particulares o interesse geral, ameaça ser submersa pela pura traficância de interesses, arremesso de ódios e promessas populistas.Ver o episódio de hoje, na RTP-1, com a entrevista "oportuna" de Judite de Sousa a Pedro Santana Lopes.

A citação do dia: "São precisos holocaustos de sangue e séculos de história para provocar uma imperceptível modificação da condição humana. Tal é a lei. Durante anos tombam cabeças em série, reina o Terror, proclama-se a Revolução e consegue-se no fim substituir a monarquia legítima pela monarquia constitucional."

(Albert Camus, "Cadernos" - Caderno nº 5 - Setembro 1945/Abril de 1948 - Livros do Brasil)

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