segunda-feira, abril 18

"apesar de tudo"


O general De Gaulle a discursar aos microfones da B.B.C. em 18 de Junho de 1940. Fotografia, Junho de 1940 - Portal da História Nesse dia o general De Gaulle, secretário de estado da Guerra no governo de Paul Reynaud, proclamou em Londres que não aceitava o Armistício, pedido pelo marechal Pétain ao governo alemão de Hitler, tornando-se assim o chefe dos franceses livres.

No primeiro dia de Julho de 2004, em “Citações-5”, retomo o tema da importância dos protagonistas na luta política. Tinha-se tornado, para mim, definitivamente claro que a mudança da chefia do governo de José Manuel Barroso para Santana Lopes, sem a realização de eleições legislativas, constituiria um desastre. Eis o que escrevi nesse dia:

Os comentários na imprensa acerca da crise política enfatizam, quase sempre, a questão das ideias (ou a falta delas) dos candidatos a "chefes". Mas o verdadeiro debate está centrado na sua personalidade propriamente dita.

Discutem-se as pessoas não se discutem as ideias e os programas. Não é por acaso. É que a política é, antes de tudo, uma escolha de pessoas. De nada serve um bom programa interpretado por um "chefe" imbecil. Mas um "chefe" honrado e competente pode partir de um programa mediano e chegar a um "bom governo".

Reparem como foi conduzida uma campanha sórdida, mas bem organizada, para liquidar Ferro Rodrigues. É um caso emblemático da importância dos "chefes". Ora Ferro Rodrigues obteve, nas eleições de 2002, um resultado excepcional, levando o PS perto da vitória em condições desvantajosas. Nas eleições seguintes, as europeias, o PS obteve a maior vitória eleitoral de sempre e, no entanto, Ferro Rodrigues é apresentado, por muitos analistas e, mesmo, por alguns dirigentes socialistas como um perdedor.

Ferro Rodrigues é, pois, um "vencedor/perdedor". Paradoxal. Mas essa encruzilhada extrema em que se encontra é o que lhe dá a força. Quem conheça o homem, como eu, sabe que não desistirá, não fará "fretes" e, mais importante, nunca abandonará "o barco". O povo entende.

Vejam, ao contrário, como um "vencedor", o Dr. Durão Barroso, ao abandonar o governo, se transformou num perdedor. O mesmo já tinha acontecido com o Eng.º Guterres. A importância dos "chefes" avulta pela perda que pode assumir dimensões dramáticas: os "chefes são glorificados pela morte em combate, o sacrifício supremo, (Sousa Franco) ou são odiados pela desistência inexplicável, a suprema cobardia. (Durão Barroso). Cito os casos mais recentes.

Na verdade nunca se discute o programa do governo ou do partido (isso é uma ilusão) o que se discute, na "praça pública" é a personalidade do "chefe". As qualidades e os defeitos dos "chefes" são apreciados, até à exaustão, pela opinião pública. Os cidadãos sabem que o programa "está lá" mas que pode ser "outro" conforme o "chefe" que o executa.

Por isso Durão Barroso não pode ser substituído por Santana Lopes mesmo que o programa da coligação PSD/PP seja o mesmo. Santana Lopes nunca cumprirá o que Durão Barroso prometeu aos portugueses nas eleições e ele próprio não cumpriu.

O que no presente os cidadãos querem é participar na criação de um consenso majoritário na sociedade em torno de uma ideia capaz de relançar a esperança no futuro de Portugal. E esse caminho em democracia é, apesar de tudo, o da escolha, em eleições livres, dos homens para governar.

A citação do dia: ""Nietzche. - Nada de decisivo se constrói, a não ser sobre um "apesar de tudo""

(Albert Camus, "Cadernos" - Caderno nº 4 - Janeiro 1942/Setembro 1945 - Livros do Brasil)

Sem comentários: