Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, abril 29
Desespero Sorridente
Camus and his children in June 1957 (at the Angers Festival for the production of Olmedo). (Agence de Presse Photographie Bernard)
Recapitulando o sentido destas “Citações”, publicadas na abébia vadia, em Julho de 2004, sublinho que foram suscitadas pela crise política aberta com a decisão de José Manuel Barroso de abandonar o governo. Uma questão memória. Ai! a nossa memória!
Estas “citações-12” surgiram, a 17 de Julho de 2004, uma semana após o 9 de Julho dia da comunicação ao país do PR dando conta da sua decisão de empossar Santana Lopes como primeiro ministro.
Assumi, neste dia, com uma citação pura, a solidariedade com Ferro Rodrigues face à sua decisão de abandonar a liderança do PS. Eis o que escrevi:
Ao meu amigo Eduardo Ferro Rodrigues.
"Maio.
Não nos separarmos do mundo. Não se perde a vida quando a colocamos à luz do dia. Todo o meu esforço, em todas as posições e desgraças, as desilusões, é para recuperar os contactos. E mesmo nesta tristeza que há em mim, que desejo de amar e que enebriamento apenas perante a visão de uma colina na aragem do fim da tarde.
Contactos com o verdadeiro, a natureza em primeiro lugar, e depois a arte daqueles que compreenderam, a minha arte se a consigo alcançar. De contrário, a luz e a água e a embriaguez estão ainda na minha frente, e os lábios húmidos do desejo.
Desespero sorridente. Sem saída, mas que exerce sem cessar um domínio que se sabe inútil. O essencial: não nos perdermos, e não perder aquilo que, de nós, dorme no mundo." (Texto de Maio de 1936)
Albert Camus, in Cadernos, "Caderno n.º 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937) - Edição Livros do Brasil
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