Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, abril 19
MAQUIAVEL
Retrato de Maquiavel (1469-1527)
(detalhe), por Santi di Tito (séc. XVI) No Portal da História
Em 2 de Julho de 2004, em “citações-6”, afloro a “tese cínica”, que circulava em alguns meios políticos mais imaginativos, a qual nunca subscrevi.
Mas, tudo visto e ponderado, atentos os desenvolvimentos posteriores, andavam avisados os estrategos, com aprofundadas leituras de Maquiavel, que defenderam aquela tese.
A solução de governo Santana Lopes, sem convocação de eleições antecipadas, adoptada no verão de 2004, fez o seu caminho com os resultados conhecidos. Eis o que escrevi, em 2 de Julho de 2004, em sua antecipação.
A convocação de eleições legislativas antecipadas não é, como parece à primeira vista, uma vantagem óbvia para a esquerda. A situação da economia, o caos na administração e o mais que se verá, tornam a tarefa de qualquer futuro governo quase impossível.
Por outro lado Santana Lopes é um candidato temível se o PSD se apresentar às eleições liberto de compromissos com o PP de Paulo Portas. Segundo alguns estrategos, com leituras aprofundadas dos clássicos, incluindo Maquiavel, a esquerda teria muito a ganhar se Jorge Sampaio indigitasse o Dr. Pedro Santana Lopes para formar governo.
Conforme a actual maioria proclama ficava garantida a "tranquilidade pública" (Santana dixi) e o prosseguimento do projecto político aprovado pelo eleitorado em 2002. (Parece, em boa verdade, ter sido já há uns 20 anos!).
Para a direita seria um momento de glória a que se seguiria uma governação de direita populista repleta de contrariedades e contradições no seio do PSD. Para a esquerda seria uma folga para se reorganizar e esclarecer a questão da liderança no PS.
Reparem como a expectativa de eleições, a breve prazo, recriou a unidade no PS em torno de Ferro Rodrigues. Todos sabemos que se trata de uma falsa unidade.
Assim como a unidade em torno de Santana Lopes é uma falsa unidade. O "cheiro" do poder torna os "partidos governamentais" túmulos em que os silêncios se oferecem em troca do adiamento das disputam autênticas.Ao contrário do que parece a não convocação de eleições antecipadas pode ser, a médio prazo, vantajosa para o PS e para a esquerda.
Mas os perigos de um populismo sem freio, protagonizado por um governo Santana Lopes + Paulo Portas, sem legitimação eleitoral, farão Jorge Sampaio, muito provavelmente, tomar a opção contrária.
Mas, dizem alguns, que não é nada linear a consideração de que a eventual opção de Jorge Sampaio por eleições antecipadas seja, ao contrário do que possa parecer, um benefício para a esquerda.
As citações do dia: "Ter a força de escolher o que preferimos e ficarmos nesta posição. Caso contrário mais vale morrer."
"O tempo não corre depressa quando o observamos. Sente-se vigiado. Mas tira partido das nossas distracções. Talvez haja mesmo dois tempos, o que observamos e o que nos transforma."
(Albert Camus, "Cadernos" - Caderno nº 4 - Janeiro 1942/Setembro 1945 - Livros do Brasil)
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