Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, abril 13
"Há sempre uma filosofia para a falta de coragem"
Camus
No verão de 2004 a crise política aberta pelo abandono de José Manuel Barroso conduziu a uma situação propícia à avaliação da governação de direita e às mais diversas especulações acerca do caminho a tomar para a conjuração da crise. No centro do “furacão” ficaram o PR e o Secretário Geral da PS, à época, Ferro Rodrigues.
Discorro neste post, e nos seguintes, acerca do “bom governo”, dos “chefes” e dos “programas”. Mais à frente aventuro-me numa especulação em torno da estratégia presidencial.
Diga-se que sempre acreditei, ingenuamente, que o PR convocaria eleições antecipadas em Julho de 2004. Enganei-me. Em 28 de Junho de 2004, na abébia vadia, sob o título “Citações-2”, escrevi:
O "bom governo" o que é? A crise aberta pela nomeação de Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia pode ser uma grande oportunidade para debater o tema do "bom governo".
Não falo de formalidades mas da coisa em si mesma. Tomando em consideração a ideologia de juventude do "putativo futuro" PCE a primeira condição do "bom governo " é a do timoneiro ou, na linguagem mais vernácula do maoismo, a do "grande timoneiro".
O "bom governo" carece de um "bom primeiro-ministro". As suas qualidades intrínsecas não são, no entanto, suficientes pois, em regime democrático, a bondade do líder carece de ser sufragada pelo povo. É a maçada das eleições.
Nas ditaduras um grupo de conjurados impõe, a golpe, o "chefe", enquanto nas democracias representativas, os eleitos são uma emanação do sufrágio popular.
Em democracia as escolhas não resultam das qualidades intrínsecas do "chefe" exaltadas pelo apoio "unânime" dos seus apaniguados. Este é o modelo populista que se aproxima tanto mais da ditadura quanto a democracia é transformada aos olhos das massas numa desnecessidade por "não resolver nada" ou "por não valer a pena votar" (quantas vezes já ouvimos estas palavras nos últimos dias!).
A verdadeira democracia exige a coragem tranquila dos homens que querem ser livres e estão dispostos a correr o risco de lutar pela liberdade.
A citação do dia: "Há sempre uma filosofia para a falta de coragem."
(Albert Camus, "Cadernos" - Caderno nº 4 - Janeiro 1942/Setembro 1945 - Livros do Brasil)
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