New York Times apoia Kerry
TODAY'S EDITORIAL
John Kerry for President John Kerry has qualities that could be the basis for a great chief executive and we enthusiastically endorse him for president.
Nova Iorque, 17 Out (Lusa) - O New York Times declarou hoje o seu apoio a John Kerry para a presidência dos Estados Unidos, elogiando o candidato democrata pela sua disponibilidade "para reavaliar decisões quando as condições se alteram".
Kerry recebeu também o apoio de jornais importantes em dois estados onde a luta com George W. Bush, o Ohio e o Minnesota. No primeiro daqueles estados, o candidato democrata foi escolhido pelo Dayton Daily News, enquanto no Minnesota foi o Star Tribune, de Minneapolis, que decidiu apoiar John Kerry.
No seu editorial de hoje em que declara o apoio ao candidato democrata, o New York Times afirma ter ficado impressionado com o "vasto conhecimento e pensamento claro de John Kerry", que diz terem ficado bem expressos nos debates.
"E graças a Deus que está disposto a reavaliar decisões quando as condições se alteram", sublinha, numa alusão à teimosia de Bush em admitir que cometeu erros ou tomou decisões incorrectas. "John Kerry impressiona-nos, sobretudo, como um homem com um fundo moral forte", diz ainda o jornal.
(Outros jornais de vários Estados declararam o apoio a Kerry, outros a Bush, mas o New York Times é emblemático)
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, outubro 17
sábado, outubro 16
"A mais estúpida das medidas"
Hoje ao abrir o “Expresso” confrontei-me com “a mais estúpida das medidas” que podem ser tomadas em democracia. A manchete anunciava que a militante do PSD, Manuela Ferreira Leite, tinha sido “eliminada”da lista de militantes com acesso ao Congresso. Convidada a encabeçar uma lista de delegados ao Congresso de Novembro próximo foi depois eliminada por, pasme-se, falta do pagamento das quotas.
Descontando os aspectos pitorescos da manobra do aparelho partidário sobra mais um grave situação (não já um indício) de efectiva liquidação política das vozes potencialmente incómodas à actual direcção política do PSD. Salvo o devido respeito, a ser verdade o que o “Expresso” anuncia, o PSD está a adoptar, perante os seus adversários, internos e externos, os métodos próprios dos partidos únicos das democracias populares e do partido único da nosso velha e, para alguns, saudosa democracia orgânica representada pela “União Nacional”, ou sejam, os métodos das ditaduras.
O desaforo já ultrapassa o género da comédia para ameaçar transformar-se numa tragédia.
A propósito do episódio lembrei-me de um artigo que, em tempos, escrevi acerca da célebre frase da Dra. Manuela Ferreira Leite, enquanto titular da pasta das finanças, referindo-se ao congelamento das admissões de pessoal e de renovações de contratos na administração pública como “a mais estúpida das medidas” que algum dia ela própria tinha tomado.
Na altura hesitei na sua publicação e, após a minha exoneração de Presidente do INATEL, resolvi, de vez, não o publicar. Primeiro porque achei, ingenuamente, que podia prejudicar a aprovação das medidas excepcionais que, de boa fé, propus para minorar os prejuízos que aquela medida acarretaria para o INATEL, e depois porque considerei que a sua publicação tinha perdido oportunidade.
Soube entretanto que o bloqueio à aprovação da proposta, contendo aquelas medidas de contratação de pessoal para o INATEL, a título urgente e excepcional, que só a Ministra poderia aprovar, irrepreensivelmente instruído, justificado e apresentado em tempo útil, tinha sido autorizado, imagine-se (!) no dia 5 de Fevereiro de 2003. Exactamente no dia seguinte ao da minha exoneração. Uma estranha coincidência!
É esse artigo, nunca publicado, que, a propósito desta manchete do “Expresso”, por conter algumas informações interessantes acerca da minha gestão daquele Instituto, agora divulgo. Tal gesto pode, paradoxalmente, ser entendido, hoje, como um acto de solidariedade para com a Dra. Manuela Ferreira Leite, com cuja política quase sempre discordei mas que dificilmente alguém poderá acusar de incoerência. É essa coerência e coragem que explica este acto inqualificável.
Nem por ser uma destacada militante e dirigente do PSD os seus adversários podem tolerar e deixar passar em claro estas situações anómalas numa democracia política madura. Salvo se quisermos todos, de forma acéfala e cobarde, contribuir para o definitivo declínio do regime democrático. O artigo a que me refiro pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.
Descontando os aspectos pitorescos da manobra do aparelho partidário sobra mais um grave situação (não já um indício) de efectiva liquidação política das vozes potencialmente incómodas à actual direcção política do PSD. Salvo o devido respeito, a ser verdade o que o “Expresso” anuncia, o PSD está a adoptar, perante os seus adversários, internos e externos, os métodos próprios dos partidos únicos das democracias populares e do partido único da nosso velha e, para alguns, saudosa democracia orgânica representada pela “União Nacional”, ou sejam, os métodos das ditaduras.
O desaforo já ultrapassa o género da comédia para ameaçar transformar-se numa tragédia.
A propósito do episódio lembrei-me de um artigo que, em tempos, escrevi acerca da célebre frase da Dra. Manuela Ferreira Leite, enquanto titular da pasta das finanças, referindo-se ao congelamento das admissões de pessoal e de renovações de contratos na administração pública como “a mais estúpida das medidas” que algum dia ela própria tinha tomado.
Na altura hesitei na sua publicação e, após a minha exoneração de Presidente do INATEL, resolvi, de vez, não o publicar. Primeiro porque achei, ingenuamente, que podia prejudicar a aprovação das medidas excepcionais que, de boa fé, propus para minorar os prejuízos que aquela medida acarretaria para o INATEL, e depois porque considerei que a sua publicação tinha perdido oportunidade.
Soube entretanto que o bloqueio à aprovação da proposta, contendo aquelas medidas de contratação de pessoal para o INATEL, a título urgente e excepcional, que só a Ministra poderia aprovar, irrepreensivelmente instruído, justificado e apresentado em tempo útil, tinha sido autorizado, imagine-se (!) no dia 5 de Fevereiro de 2003. Exactamente no dia seguinte ao da minha exoneração. Uma estranha coincidência!
É esse artigo, nunca publicado, que, a propósito desta manchete do “Expresso”, por conter algumas informações interessantes acerca da minha gestão daquele Instituto, agora divulgo. Tal gesto pode, paradoxalmente, ser entendido, hoje, como um acto de solidariedade para com a Dra. Manuela Ferreira Leite, com cuja política quase sempre discordei mas que dificilmente alguém poderá acusar de incoerência. É essa coerência e coragem que explica este acto inqualificável.
Nem por ser uma destacada militante e dirigente do PSD os seus adversários podem tolerar e deixar passar em claro estas situações anómalas numa democracia política madura. Salvo se quisermos todos, de forma acéfala e cobarde, contribuir para o definitivo declínio do regime democrático. O artigo a que me refiro pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.
Carrossel Oito
Nas feiras há um carrossel que sempre fascinou a maioria das crianças. A mim também. Era (e é) o carrossel oito. Dava mais voltas e, aparentemente, mais arriscadas e vertiginosas.
A leitura dos jornais de fim de semana fez-me vir à memória esse carrossel e a sensação que era nele embarcar. Esta lembrança vem a propósito do governo de Portugal e do seu líder. Com a grande diferença que embarcar no carrossel oito da minha meninice era uma aventura com regresso assegurado. Agora embarcar neste governo…não se sabe.
Como diz, na “Visão”, Cáceres Monteiro: “A informação é o ar que se respira, no funcionamento do sistema democrático. Sem transparência, há asfixia. No Portugal de 2004, o ar está carregado de monóxido de carbono. Como nunca esteve. Irrespirável.”
A leitura dos jornais de fim de semana fez-me vir à memória esse carrossel e a sensação que era nele embarcar. Esta lembrança vem a propósito do governo de Portugal e do seu líder. Com a grande diferença que embarcar no carrossel oito da minha meninice era uma aventura com regresso assegurado. Agora embarcar neste governo…não se sabe.
Como diz, na “Visão”, Cáceres Monteiro: “A informação é o ar que se respira, no funcionamento do sistema democrático. Sem transparência, há asfixia. No Portugal de 2004, o ar está carregado de monóxido de carbono. Como nunca esteve. Irrespirável.”
sexta-feira, outubro 15
Turismo Sénior - Um estudo
Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR a intervenção de apresentação, sob o título “O MERCADO INTERNO NA ESTRATÉGIA DO TURISMO PORTUGUÊS”, do estudo “TURISMO SÉNIOR EM PORTUGAL – SEU IMPACTO SÓCIO ECONÓMICO E PERSPECTIVAS DE FUTURO” (Janeiro de 2002).
Orçamento 2005
O editor de economia da SIC Notícias "babava-se" comentando, em cima do acontecimento, a "criatividade" da proposta do orçamento de estado para 2005 do Dr. Bagão Félix. Chegou a dizer que era de esquerda (o orçamento) e com preocupações sociais associando estas á militância católica do ministro.
O editor devia estar avisado de como a direita populista trabalha. Muitos já escreveram acerca disso, por exemplo, Pacheco Pereira, de forma abundante e clarividente. A direita populista é capaz de surgir face à opinião pública como a campeã da defesa dos pobres. Tem ao longo da história assumido muitas variantes, algumas radicais, desde o justicialismo, aos fascismos (nas fases de implantação) até às soluções sul americanas de tipo militarista.
O populismo em democracia agrava um problema mais vasto com o qual se confrontam todas as políticas económicas: os ciclos políticos são demasiado curtos contrariando a bondade da maioria das medidas de política económica. O ciclo eleitoral que se avizinha, em Portugal, é um exemplo vivo deste problema. O “orçamento expansionista”, para 2005, do Dr. Bagão Félix, será promotor do crescimento, a curto prazo, mas inibidor do potencial de crescimento a longo prazo.
Esta é a raíz do engano e a razão dos danos futuros desta proposta de orçamento para já não dizer que se trata de uma proposta que rompe com a política do governo anterior que este se tinha comprometido a prosseguir. Esta é também parte da matéria dos estudos que valeram, este ano, o Prémio Nobel da Economia de que dei notícia em anteior post.
O editor devia estar avisado de como a direita populista trabalha. Muitos já escreveram acerca disso, por exemplo, Pacheco Pereira, de forma abundante e clarividente. A direita populista é capaz de surgir face à opinião pública como a campeã da defesa dos pobres. Tem ao longo da história assumido muitas variantes, algumas radicais, desde o justicialismo, aos fascismos (nas fases de implantação) até às soluções sul americanas de tipo militarista.
O populismo em democracia agrava um problema mais vasto com o qual se confrontam todas as políticas económicas: os ciclos políticos são demasiado curtos contrariando a bondade da maioria das medidas de política económica. O ciclo eleitoral que se avizinha, em Portugal, é um exemplo vivo deste problema. O “orçamento expansionista”, para 2005, do Dr. Bagão Félix, será promotor do crescimento, a curto prazo, mas inibidor do potencial de crescimento a longo prazo.
Esta é a raíz do engano e a razão dos danos futuros desta proposta de orçamento para já não dizer que se trata de uma proposta que rompe com a política do governo anterior que este se tinha comprometido a prosseguir. Esta é também parte da matéria dos estudos que valeram, este ano, o Prémio Nobel da Economia de que dei notícia em anteior post.
Diálogo de crise
No quiosque em frente a um local de manifestações.
Um cliente:
Então, estes ajuntamentos são bons para o negócio?
Sempre se vende mais qualquer coisinha. Sabe lá as dificuldades porque tenho passado neste último ano e meio. Perdi tudo, mas tenho de me aguentar!
O cliente:
É a crise, deviam haver manifestações todos os dias, não é?
A proprietária do quiosque:
Pois é, mas são só poucas vezes!
Um cliente:
Então, estes ajuntamentos são bons para o negócio?
Sempre se vende mais qualquer coisinha. Sabe lá as dificuldades porque tenho passado neste último ano e meio. Perdi tudo, mas tenho de me aguentar!
O cliente:
É a crise, deviam haver manifestações todos os dias, não é?
A proprietária do quiosque:
Pois é, mas são só poucas vezes!
Nobel da Economia - 2004
Procurei informação acerca do Prémio Nobel da Economia de 2004 e é muito escassa e pouco acessível. Deixo aqui um contributo sintético, colhido directamente na fonte, acerca dos laureados e da natureza do seu trabalho.
The Royal Swedish Academy of Sciences has decided to award the Bank of Sweden Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel, 2004, jointly to Finn E. Kydland, Carnegie Mellon University, Pittsburgh and University of California, Santa Barbara, USA, and Edward C. Prescott, Arizona State University, Tempe, and Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA
"for their contributions to dynamic macroeconomics: the time consistency of economic policy and the driving forces behind business cycles".
New theory on business cycles and economic policy
The driving forces behind business cycle fluctuations and the design of economic policy are key areas in macroeconomic research. Finn Kydland and Edward Prescott have made fundamental contributions to these areas of great significance, not only for macroeconomic analysis, but also for the practice of monetary and fiscal policy in many countries.
Time Consistency of Economic Policy
The higher taxation of capital households expect in the future, the less they save; the more expansive monetary policy and the higher inflation firms expect, the higher prices and wages they set, etc. The Laureates showed how such effects of expectations about future economic policy can give rise to a time consistency problem. If economic policymakers lack the ability to commit in advance to a specific decision rule, they will often not implement the most desirable policy later on.
Driving Forces Behind Business Cycles
Research by the Laureates also transformed the theory of business cycles by integrating it with the theory of economic growth. Whereas earlier research had emphasized macroeconomic shocks on the demand side of the economy, Kydland and Prescott demonstrated that shocks on the supply side may have far-reaching effects. In their business-cycle model, realistic fluctuations in the rate of technological development brought about a covariation between GDP, consumption, investments and hours worked close to that observed in actual data.
Read more about this year's prize
Information for the Public
Advanced Information (pdf)
Links and Further Reading
Finn E. Kydland, born 1943 (60 years) in Norway (Norwegian citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1973. Professor at Carnegie Mellon University and University of California, Santa Barbara, USA.
Edward C. Prescott, born 1940 (63 years) in Glen Falls, NY, USA (US citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1967. Professor at Arizona State University, Tempe and researcher at Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA.
The Royal Swedish Academy of Sciences has decided to award the Bank of Sweden Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel, 2004, jointly to Finn E. Kydland, Carnegie Mellon University, Pittsburgh and University of California, Santa Barbara, USA, and Edward C. Prescott, Arizona State University, Tempe, and Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA
"for their contributions to dynamic macroeconomics: the time consistency of economic policy and the driving forces behind business cycles".
New theory on business cycles and economic policy
The driving forces behind business cycle fluctuations and the design of economic policy are key areas in macroeconomic research. Finn Kydland and Edward Prescott have made fundamental contributions to these areas of great significance, not only for macroeconomic analysis, but also for the practice of monetary and fiscal policy in many countries.
Time Consistency of Economic Policy
The higher taxation of capital households expect in the future, the less they save; the more expansive monetary policy and the higher inflation firms expect, the higher prices and wages they set, etc. The Laureates showed how such effects of expectations about future economic policy can give rise to a time consistency problem. If economic policymakers lack the ability to commit in advance to a specific decision rule, they will often not implement the most desirable policy later on.
Driving Forces Behind Business Cycles
Research by the Laureates also transformed the theory of business cycles by integrating it with the theory of economic growth. Whereas earlier research had emphasized macroeconomic shocks on the demand side of the economy, Kydland and Prescott demonstrated that shocks on the supply side may have far-reaching effects. In their business-cycle model, realistic fluctuations in the rate of technological development brought about a covariation between GDP, consumption, investments and hours worked close to that observed in actual data.
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Information for the Public
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Links and Further Reading
Finn E. Kydland, born 1943 (60 years) in Norway (Norwegian citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1973. Professor at Carnegie Mellon University and University of California, Santa Barbara, USA.
Edward C. Prescott, born 1940 (63 years) in Glen Falls, NY, USA (US citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1967. Professor at Arizona State University, Tempe and researcher at Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA.
quinta-feira, outubro 14
Diálogo de merda
O homem, com ar de patrão, ao balcão da pastelaria:
-Admiro aquele homem!
O empregado:
-Quem?
-O Scolari! Você ouviu?
-O quê?
O patrão empolgado:
-Ele disse que os jornalistas são uns merdas!
-O empregado, divertido:
O que é que vai hoje?
-Remate do patrão:
Nada, nada, grande homem, o Scolari, até logo!
-Admiro aquele homem!
O empregado:
-Quem?
-O Scolari! Você ouviu?
-O quê?
O patrão empolgado:
-Ele disse que os jornalistas são uns merdas!
-O empregado, divertido:
O que é que vai hoje?
-Remate do patrão:
Nada, nada, grande homem, o Scolari, até logo!
"A última crônica", de Fernando Sabino
Em 1965, Fernando Sabino escreveu a crônica que gostaria que fosse a sua última. O texto foi publicado no livro A companheira de viagem, e é reembrado hoje no Portal Literal. Belo, belo, belo, do início ao lírico desfecho. Ta aí embaixo, amigos, "puro como um sorriso":
Vejam no PENTIMENTO
Vejam no PENTIMENTO
Kerry vence debate...graças a Deus!
Emprego e imigração no frente-a-frente entre Kerry e Bush
O candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, foi o vencedor do debate de quarta-feira com o presidente George W. Bush, mostram as sondagens efectuadas depois do frente a frente. No centro das atenções no debate estiveram questões como o emprego ou a imigração.
(In TSF on line)
O candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, foi o vencedor do debate de quarta-feira com o presidente George W. Bush, mostram as sondagens efectuadas depois do frente a frente. No centro das atenções no debate estiveram questões como o emprego ou a imigração.
(In TSF on line)
"Jorge podes ir participação cívica enfim morta!"
O JPN do respirar o mesmo ar tem algumas tiradas do melhor da blogosfera. Com todo o respeito e consideração pessoal que nutro pelo PR também considero ser um dever cívico chamar a atenção para os passos do que parece ser a sua prematura abdicação do pleno exercício da função presidencial. Queira Deus que esteja enganado.
7-1
Como falei do JPN (ver post anterior) e um dia, a propósito do “Euro – 2004”, travei com ele um diálogo estimulante, sempre quero assinalar que visitei hoje, pela primeira vez, o novo Estádio de Alvalade. Vi, ao vivo, o Portugal-Rússia. Em boa hora. Há noites felizes. Digam o que disserem, aconteçam os resultados que acontecerem, na “arte da bola” os portugueses são mesmo bons.
E os Estádios, construídos para o "Euro – 2004", por iniciativa do governo da “pesada herança”, “o anterior ao anterior”, são mesmo espaços imponentes e que, finalmente, pasme-se (!) já ninguém questiona. Isto de sermos bons em qualquer coisa custa, não é?
Talvez reabrir um processo de averiguações que esteja adormecido numa qualquer gaveta. Afinal não foi o actual líder do PS o impulsionador do "Euro – 2004"?
E os Estádios, construídos para o "Euro – 2004", por iniciativa do governo da “pesada herança”, “o anterior ao anterior”, são mesmo espaços imponentes e que, finalmente, pasme-se (!) já ninguém questiona. Isto de sermos bons em qualquer coisa custa, não é?
Talvez reabrir um processo de averiguações que esteja adormecido numa qualquer gaveta. Afinal não foi o actual líder do PS o impulsionador do "Euro – 2004"?
quarta-feira, outubro 13
"Um actor sem tripas"
"Olhando a prestação de Pedro Santana Lopes na televisão, na passada segunda-feira, espantou-me a falta de convicção da personagem. Como se um actor ágil em outros papéis de um vasto reportório se tivesse, de súbito, desencontrado.
O facto é por demais surpreendente. Enterrado numa cadeira em que as costas surgiam como orelhas negras, mais abismado na leitura do que em nos olhar de frente, com uma dicção preocupada em não falhar as palavras, em vez de demonstrar a firmeza do discurso, não era, nitidamente, alguém sentado no topo do Poder que nos falava. Era alguém que timidamente simulava estar a controlar as coisas, vagamente abordando temas que usualmente escutamos na boca de membros do Governo (impostos, salários, pensões de reforma), mas que, na verdade, estava só a fazer de conta, desenquadrado do papel, debitando falas que teriam sido escritas para outro, com uma indizível vontade de chegar ao fim da cena e ir-se embora o mais depressa possível.
Fez-me lembrar aqueles pobres adolescentes amadores em récitas de liceu que decoram com cuspo um papel em que não se sentem à vontade e o deitam cá para fora entre suores frios e pânico de ser ridículo ante tão larga audiência.
O espanto é ver que Pedro Santana Lopes, a quem já vimos desempenhar com talento papéis diversíssimos (de playboy a «enfant terrible» do PSD, de dirigente desportivo a Secretário de Estado), apareça agora tão desfibrado.
Um encenador pouco dado à paciência talvez desesperasse, considerando haver ali um puro erro de «casting» e apressando-se a escolher diferente intérprete para o papel de Primeiro-Ministro. Um outro, mais brando, consideraria a hipótese de uma ajuda especializada, umas quantas aulas de postura, movimento e voz - esperando que, no fim da preparação, o papel soasse mais credível. Mais necessário que tudo, todavia, é a prática daquilo que os actores chamam um «monólogo interior», um conjunto de referências anímicas que dê vida à personagem. Vida e não apenas técnica, não apenas fingimento, guarda-roupa e adereços."
Jorge Leitão Ramos, in Expresso on line
O facto é por demais surpreendente. Enterrado numa cadeira em que as costas surgiam como orelhas negras, mais abismado na leitura do que em nos olhar de frente, com uma dicção preocupada em não falhar as palavras, em vez de demonstrar a firmeza do discurso, não era, nitidamente, alguém sentado no topo do Poder que nos falava. Era alguém que timidamente simulava estar a controlar as coisas, vagamente abordando temas que usualmente escutamos na boca de membros do Governo (impostos, salários, pensões de reforma), mas que, na verdade, estava só a fazer de conta, desenquadrado do papel, debitando falas que teriam sido escritas para outro, com uma indizível vontade de chegar ao fim da cena e ir-se embora o mais depressa possível.
Fez-me lembrar aqueles pobres adolescentes amadores em récitas de liceu que decoram com cuspo um papel em que não se sentem à vontade e o deitam cá para fora entre suores frios e pânico de ser ridículo ante tão larga audiência.
O espanto é ver que Pedro Santana Lopes, a quem já vimos desempenhar com talento papéis diversíssimos (de playboy a «enfant terrible» do PSD, de dirigente desportivo a Secretário de Estado), apareça agora tão desfibrado.
Um encenador pouco dado à paciência talvez desesperasse, considerando haver ali um puro erro de «casting» e apressando-se a escolher diferente intérprete para o papel de Primeiro-Ministro. Um outro, mais brando, consideraria a hipótese de uma ajuda especializada, umas quantas aulas de postura, movimento e voz - esperando que, no fim da preparação, o papel soasse mais credível. Mais necessário que tudo, todavia, é a prática daquilo que os actores chamam um «monólogo interior», um conjunto de referências anímicas que dê vida à personagem. Vida e não apenas técnica, não apenas fingimento, guarda-roupa e adereços."
Jorge Leitão Ramos, in Expresso on line
Diálogo no elevador
Antes da chegada ao destino entram três senhoras.
Uma delas:
Para onde eu vou?
Outra:
Ao Bar?
A outra:
À rua?
De novo a primeira:
Ao gabinete?
A dita:
Não sei. Vou regressar.
Saio e ela regressa ao ponto de partida.
Uma delas:
Para onde eu vou?
Outra:
Ao Bar?
A outra:
À rua?
De novo a primeira:
Ao gabinete?
A dita:
Não sei. Vou regressar.
Saio e ela regressa ao ponto de partida.
Educação Profissional - Caminho do Futuro
Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo "Educação profissional - Caminho do Futuro" publicado, no "Semanário Económico", em Junho de 2004.
Um assunto sério
O Prémio Nobel da economia foi atribuído, dias atrás, a dois economistas que, segundo todas as notícias, têm estudado os benefícios das políticas macroeconómicas de longo prazo. Falamos de decisões económicas com influência real na vida quotidiana dos cidadãos. É a teorização daquilo que toda a gente de bom senso deveria considerar razoável: é preciso tempo para conceber e desenvolver, de forma estruturada, medidas que permitam resolver os verdadeiros problemas das sociedades. Mas os ciclos políticos são demasiado curtos contrariando a bondade da maioria das medidas de política económica.
A democracia parlamentar funda-se na livre escolha dos governos. Preservemos a liberdade de escolha dos cidadãos. Mantenhamos o sistema em que os responsáveis políticos são eleitos pelo voto universal, individual e secreto. Salvemos a democracia representativa de todas as tentações totalitárias. Mas como resolver este dilema? Como ganhar tempo para que as livres escolhas políticas favoreçam as mais sábias decisões económicas?
Além de reflexão aprofundada o tema carece de decisões políticas arrojadas. Mas mesmo para a reflexão e para a decisão é necessário tempo. Não falo de um tempo fora do tempo. Mas de um tempo ocupado com as tarefas de cada um, as suas urgências e aspirações, mas livre para a reflexão, o debate e a criação de novas soluções para velhos e novos problemas. Como criar o tempo necessário para que a democracia respire e se regenere? Um assunto sério!
A democracia parlamentar funda-se na livre escolha dos governos. Preservemos a liberdade de escolha dos cidadãos. Mantenhamos o sistema em que os responsáveis políticos são eleitos pelo voto universal, individual e secreto. Salvemos a democracia representativa de todas as tentações totalitárias. Mas como resolver este dilema? Como ganhar tempo para que as livres escolhas políticas favoreçam as mais sábias decisões económicas?
Além de reflexão aprofundada o tema carece de decisões políticas arrojadas. Mas mesmo para a reflexão e para a decisão é necessário tempo. Não falo de um tempo fora do tempo. Mas de um tempo ocupado com as tarefas de cada um, as suas urgências e aspirações, mas livre para a reflexão, o debate e a criação de novas soluções para velhos e novos problemas. Como criar o tempo necessário para que a democracia respire e se regenere? Um assunto sério!
segunda-feira, outubro 11
A quadratura do círculo
Este texto já estava escrito antes da comunicação ao país do senhor primeiro-ministro. A sua publicação, sem alterações, deve-se à nova estratégia de propaganda do governo que mostrou, hoje, uma faceta original. A comunicação foi gravada e, ao contrário do anunciado, passada sequencialmente nos telejornais da SIC, RTP, …e não sei onde mais. Não foi uma comunicação foi uma retransmissão. Não tive paciência para escrever nada em cima daquela comunicação flácida. O que antes tinha escrito acerca do que dela previa basta. Aqui vai.
Aposto que o primeiro-ministro vai anunciar ao país a “quadratura do círculo”. A ideia só pode ser uma. Aumento das remunerações, acima da inflação esperada, para os funcionários públicos. Diminuição do IRS. Flexibilização dos limites do endividamento das autarquias. Políticas de “diferenciação positiva” para “beneficiar” os mais desfavorecidos. Políticas variadas para prometer tudo a todos mas com “rigor e contenção”. Reformas estruturais só com incidência para depois de 2006.
Tudo somado e baralhado: mais despesa pública e menos receita, mas com cumprimento dos limites do deficit em 3%. E, acima de tudo, muita verdade e trabalho. A quadratura do círculo. O ministro das finanças benze o pacote. O PR vai achar péssimo em privado mas, em público, deixa correr com umas reservas com as quais o primeiro-ministro vai concordar. Serão contributos inestimáveis para melhorar as propostas.
Ora reparem no calendário eleitoral: dia 17 de Outubro, próximo, eleições regionais nos Açores e Madeira; Outubro de 2005 eleições autárquicas; inícios de 2006 eleições presidenciais e Outubro de 2006 eleições legislativas (se não houver azar…).
Amanhã vai começar a verdadeira “corrida eleitoral” da maioria. Se fosse no comércio a retalho teria direito a um anúncio do género: “tudo com 60% de desconto”.
Aposto que o primeiro-ministro vai anunciar ao país a “quadratura do círculo”. A ideia só pode ser uma. Aumento das remunerações, acima da inflação esperada, para os funcionários públicos. Diminuição do IRS. Flexibilização dos limites do endividamento das autarquias. Políticas de “diferenciação positiva” para “beneficiar” os mais desfavorecidos. Políticas variadas para prometer tudo a todos mas com “rigor e contenção”. Reformas estruturais só com incidência para depois de 2006.
Tudo somado e baralhado: mais despesa pública e menos receita, mas com cumprimento dos limites do deficit em 3%. E, acima de tudo, muita verdade e trabalho. A quadratura do círculo. O ministro das finanças benze o pacote. O PR vai achar péssimo em privado mas, em público, deixa correr com umas reservas com as quais o primeiro-ministro vai concordar. Serão contributos inestimáveis para melhorar as propostas.
Ora reparem no calendário eleitoral: dia 17 de Outubro, próximo, eleições regionais nos Açores e Madeira; Outubro de 2005 eleições autárquicas; inícios de 2006 eleições presidenciais e Outubro de 2006 eleições legislativas (se não houver azar…).
Amanhã vai começar a verdadeira “corrida eleitoral” da maioria. Se fosse no comércio a retalho teria direito a um anúncio do género: “tudo com 60% de desconto”.
"O que ele vai dizer?
O país está suspenso da comunicação que hoje fará o primeiro-ministro. Há quem garanta que não falará sobre o caso Marcelo, apontando antes para os desafios que o Governo vai enfrentar nos próximos meses. Há quem admita que voltará a desafiar o Presidente da República para, se considera que o executivo pressionou a TVI a afastar Marcelo, tomar as decisões consequentes. E há quem assegure que fará um balanço elogioso do que o Governo já fez e anunciará as linhas do orçamento do Estado para 2005. Mas há coisas de que o primeiro-ministro não falará.
E a primeira delas é sobre a recente cimeira luso-espanhola, cada vez mais designada por cimeira ibérica, em que o primeiro-ministro de Portugal aceitou, pela primeira vez na história destes encontros, ter do outro lado da mesa não só o primeiro-ministro de Espanha, como representantes das autonomias espanholas.
Eu não sei se o primeiro-ministro tem consciência do significado político deste acto. Não sei se não lhe passa pela cabeça que a leitura política da cimeira é que Portugal se coloca, assim, como mais uma das regiões autónomas de Espanha. Eu não sei se ele sabe que nunca no passado, nenhum primeiro-ministro português aceitou participar nestas cimeiras que não tivesse, do outro lado da mesa, apenas e só o primeiro-ministro de Espanha - porque se trata de uma cimeira luso-espanhola e não de uma cimeira Madrid-Portugal e regiões autónomas. E, não sabendo ele, não sei se alguém não lhe terá lembrado os equívocos de aceitar uma cimeira com esta composição.
É talvez por isso que se lêem notícias dando indicações de que o ministro do Ambiente está a negociar, por ajuste directo, o controlo da rede de distribuição de água aos consumidores em Cascais e zonas envolventes. Já parece estranho que, num sector tão sensível como este, a transferência para os privados se faça por ajuste directo. Mas mais estranho ainda é que, do outro lado, o privado que aparece é a Sacyr Vallehermoso. É claro que se apresenta sob as vestes de Somague, que iniciou esse envolvimento quando era uma empresa portuguesa. Mas entretanto a Somague foi vendida aos espanhóis da Sacyr - e o prémio vai ser o Governo entregar-lhe de mão beijada, por ajuste directo, aquela rede de distribuição de água?
Parece mau de mais para ser verdade. Mas verdade, verdade é que um poder fraco faz fraca a forte gente. E um poder forte faz forte a fraca gente. Infelizmente, em Portugal, neste momento, estamos na primeira situação."
Nicolau Santos, in "Expresso on line"
11 Outubro 2004
E a primeira delas é sobre a recente cimeira luso-espanhola, cada vez mais designada por cimeira ibérica, em que o primeiro-ministro de Portugal aceitou, pela primeira vez na história destes encontros, ter do outro lado da mesa não só o primeiro-ministro de Espanha, como representantes das autonomias espanholas.
Eu não sei se o primeiro-ministro tem consciência do significado político deste acto. Não sei se não lhe passa pela cabeça que a leitura política da cimeira é que Portugal se coloca, assim, como mais uma das regiões autónomas de Espanha. Eu não sei se ele sabe que nunca no passado, nenhum primeiro-ministro português aceitou participar nestas cimeiras que não tivesse, do outro lado da mesa, apenas e só o primeiro-ministro de Espanha - porque se trata de uma cimeira luso-espanhola e não de uma cimeira Madrid-Portugal e regiões autónomas. E, não sabendo ele, não sei se alguém não lhe terá lembrado os equívocos de aceitar uma cimeira com esta composição.
É talvez por isso que se lêem notícias dando indicações de que o ministro do Ambiente está a negociar, por ajuste directo, o controlo da rede de distribuição de água aos consumidores em Cascais e zonas envolventes. Já parece estranho que, num sector tão sensível como este, a transferência para os privados se faça por ajuste directo. Mas mais estranho ainda é que, do outro lado, o privado que aparece é a Sacyr Vallehermoso. É claro que se apresenta sob as vestes de Somague, que iniciou esse envolvimento quando era uma empresa portuguesa. Mas entretanto a Somague foi vendida aos espanhóis da Sacyr - e o prémio vai ser o Governo entregar-lhe de mão beijada, por ajuste directo, aquela rede de distribuição de água?
Parece mau de mais para ser verdade. Mas verdade, verdade é que um poder fraco faz fraca a forte gente. E um poder forte faz forte a fraca gente. Infelizmente, em Portugal, neste momento, estamos na primeira situação."
Nicolau Santos, in "Expresso on line"
11 Outubro 2004
domingo, outubro 10
Censura! Help!
Ajudem-me a interpretar a notícia da Lusa que abaixo transcrevo. Por favor! Se "tem que ser banida" é porque existe! O PR está a confirmar que existe censura em Portugal. O assunto é da maior gravidade. Já tinham dado por isso? Não me refiro à gravidade da declaração do PR. Mas à existência de censura. Eu, por acaso, já tinha sentido algo que brigou comigo! Do género da frase do PR: "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas..." Mas ninguém ligou coisa nenhuma. Então como se materializa a dita censura? Como? É isso? E onde? E quem são os agentes? E quando? E por que meios? E quais as medidas que o PR pensa tomar?
"Sampaio diz que "a censura tem que ser banida completa e
definitivamente"
Lisboa, 10 Out (Lusa) - O Presidente da República admitiu hoje a existência de "restrições potenciais ou implícitas" à liberdade de informação em Portugal e voltou a defender a criação de mecanismos independentes de regulação dos media.
"A censura tem que ser banida completa e definitivamente", acentuou Jorge Sampaio, em declarações à SIC, no âmbito de uma visita guiada ao Museu da Presidência da República, mas sem nunca se referir ao caso que levou Marcelo Rebelo de Sousa a abandonar os seus comentários na TVI.
Na opinião do Presidente, "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas, ou pelo menos as coisas mais adaptadas, que não deixam de ser restrições potenciais ou implícitas, que estão escondidas, mas que se exercem no quotidiano".
"É contra isso que uma sociedade aberta pode combater. Uma sociedade fechada não combate. A sociedade e os agentes políticos têm uma enorme responsabilidade de, pela sua independência e autonomia, poderem dizer o que pensam e poderem criticar os poderes imediatos da sociedade", sustentou.
Jorge Sampaio reconheceu que "o equilíbrio entre liberdade e regulação é difícil", mas insistiu na necessidade de uma entidade reguladora constituída por cidadãos independentes.
Para o Presidente da República, é necessário que a Alta Autoridade para a Comunicação Social seja substituída por "uma regulação independente, efectiva, constituída por gente de peso e acima de qualquer suspeita".
"Isso é indispensável para as liberdades continuarem com a esperança que elas deram à vida portuguesa nos últimos 30 anos", sublinhou.
Comentando a situação actual dos media e nunca o "caso Marcelo", Sampaio frisou que "nada pode substituir, de maneira nenhuma, a liberdade, no seu sentido mais amplo e mais forte", mas quando confrontado com a mediatização de alguns sectores da vida pública, como a Justiça, comentou: "Não tenho um tremendismo do desespero".
"Sampaio diz que "a censura tem que ser banida completa e
definitivamente"
Lisboa, 10 Out (Lusa) - O Presidente da República admitiu hoje a existência de "restrições potenciais ou implícitas" à liberdade de informação em Portugal e voltou a defender a criação de mecanismos independentes de regulação dos media.
"A censura tem que ser banida completa e definitivamente", acentuou Jorge Sampaio, em declarações à SIC, no âmbito de uma visita guiada ao Museu da Presidência da República, mas sem nunca se referir ao caso que levou Marcelo Rebelo de Sousa a abandonar os seus comentários na TVI.
Na opinião do Presidente, "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas, ou pelo menos as coisas mais adaptadas, que não deixam de ser restrições potenciais ou implícitas, que estão escondidas, mas que se exercem no quotidiano".
"É contra isso que uma sociedade aberta pode combater. Uma sociedade fechada não combate. A sociedade e os agentes políticos têm uma enorme responsabilidade de, pela sua independência e autonomia, poderem dizer o que pensam e poderem criticar os poderes imediatos da sociedade", sustentou.
Jorge Sampaio reconheceu que "o equilíbrio entre liberdade e regulação é difícil", mas insistiu na necessidade de uma entidade reguladora constituída por cidadãos independentes.
Para o Presidente da República, é necessário que a Alta Autoridade para a Comunicação Social seja substituída por "uma regulação independente, efectiva, constituída por gente de peso e acima de qualquer suspeita".
"Isso é indispensável para as liberdades continuarem com a esperança que elas deram à vida portuguesa nos últimos 30 anos", sublinhou.
Comentando a situação actual dos media e nunca o "caso Marcelo", Sampaio frisou que "nada pode substituir, de maneira nenhuma, a liberdade, no seu sentido mais amplo e mais forte", mas quando confrontado com a mediatização de alguns sectores da vida pública, como a Justiça, comentou: "Não tenho um tremendismo do desespero".
Che Guevara
Acabo de ver (em DVD) o documentário “A viagem de Che Guevara” realizado a propósito do filme “Diários de Che Guevara”, do brasileiro Walter Salles, em exibição em Lisboa mas que ainda não vi.
Este documentário mostra o companheiro de viagem de Che, Alberto Granado, guiando a reconstrução da viagem dos dois jovens amigos na travessia da América Latina. A moto que os transportou, na primeira parte da viagem, era uma Norton igualzinha à do meu pai.
O documentário é uma sequência de depoimentos, lugares, episódios, riscos, aventuras... Um mundo de experiências perigosas enfrentadas por dois jovens argentinos que queriam conhecer a América do Sul e a vida dos seus povos. Chegaram ao fim.
Uma viagem que, certamente, determinou a opção de Che pela revolução. Um testemunho comovente acerca de um percurso de vida raro: o de Che Guevara assassinado, na Bolívia, em 9 de Outubro de 1967. Passaram 37 anos.
Este documentário mostra o companheiro de viagem de Che, Alberto Granado, guiando a reconstrução da viagem dos dois jovens amigos na travessia da América Latina. A moto que os transportou, na primeira parte da viagem, era uma Norton igualzinha à do meu pai.
O documentário é uma sequência de depoimentos, lugares, episódios, riscos, aventuras... Um mundo de experiências perigosas enfrentadas por dois jovens argentinos que queriam conhecer a América do Sul e a vida dos seus povos. Chegaram ao fim.
Uma viagem que, certamente, determinou a opção de Che pela revolução. Um testemunho comovente acerca de um percurso de vida raro: o de Che Guevara assassinado, na Bolívia, em 9 de Outubro de 1967. Passaram 37 anos.
sábado, outubro 9
"O monstro da totalidade
Outro discurso: neste dia 6 de Agosto, no campo, uma manhã dum dia esplêndido: sol, calor, flores, silêncio, calma, esplendor. Nada há que vagueie, nem o desejo nem a agressão; apenas o trabalho aqui está, à minha frente, como uma espécie de ser universal: está tudo cheio. Será então isto a natureza? Uma ausência… do resto? A Totalidade?”
6 de Agosto de 1973 – 3 de Setembro de 1974
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 47
(Fragmento 2 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
----------------------------------
Este é o último post desta série de fragmentos da minha primeira leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”. A sua divulgação resulta do prazer da leitura que a obra me provocou. Aqui deixo o caminho para um melhor conhecimento do autor através do acesso a este sítio.
O meu livro artesanal (em folhas A4) foi elaborado, no início dos anos 80, através da colagem de fotocópias de fragmentos da obra. Escrevi, ao mesmo tempo, um conjunto de notas pessoais apostas, uma a uma, em cada página.
A última das quais é esta que seria capaz de escrever, letra a letra, ainda hoje: “não se podem menosprezar sistematicamente os actos as acções os gestos que nos dão prazer. são esses que podemos levantar nas mãos e lançar à nossa frente.” Este é o programa do prazer da acção e da acção por prazer.
6 de Agosto de 1973 – 3 de Setembro de 1974
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 47
(Fragmento 2 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
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Este é o último post desta série de fragmentos da minha primeira leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”. A sua divulgação resulta do prazer da leitura que a obra me provocou. Aqui deixo o caminho para um melhor conhecimento do autor através do acesso a este sítio.
O meu livro artesanal (em folhas A4) foi elaborado, no início dos anos 80, através da colagem de fotocópias de fragmentos da obra. Escrevi, ao mesmo tempo, um conjunto de notas pessoais apostas, uma a uma, em cada página.
A última das quais é esta que seria capaz de escrever, letra a letra, ainda hoje: “não se podem menosprezar sistematicamente os actos as acções os gestos que nos dão prazer. são esses que podemos levantar nas mãos e lançar à nossa frente.” Este é o programa do prazer da acção e da acção por prazer.
Marcelogate
Todos os caminhos, no caso Marcelo, vão no mesmo sentido. Um autêntico processo de pressão ilegítima do governo sobre um canal de televisão privado; iniciativas para a eliminação ou condicionamento das vozes críticas do governo, em particular, se situadas na mesma área política; utilização do aparelho diplomático para fins duvidosos; colocação de "comissários" no controle do oligopólio da comunicação social pública ou controlada através da PT; e tudo o mais que adiante se verá.
Um "marcelogate". Alguém que investigue o caso a sério e quem de direito que retire as devidas consequência políticas.
"Velha Europa" na 3ª Idade
O “Expresso” na sua edição de hoje publica um trabalho acerca da questão demográfica a propósito de um relatório da EU intitulado: “A situação social na União Europeia – 2004”.
Deixo aqui um excerto. O trabalho publicado pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR assim como o artigo que publiquei, em Março de 2004, no “Semanário Económico”, sob o título “Imigração – não meter a cabeça na areia.
“Bruxelas faz as contas e adverte para o risco do aumento dos idosos face à população activa. Após 2010, as coisas vão piorar ainda mais
Um em cada seis cidadãos comunitários tem hoje mais de 65 anos, mas no início da próxima década, quando se assistirá a um rápido envelhecimento da população da União Europeia (UE), a proporção será de um em cada quatro.
Os dados e os alertas sobre a dimensão do problema figuram no relatório «A situação social na União Europeia - 2004», cuja síntese foi há dias publicada pela Comissão. Actualmente, os 74 milhões de idosos correspondem a 16,3% da população total, mas em 2010 o peso dos «seniores» será de 27%.”
Deixo aqui um excerto. O trabalho publicado pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR assim como o artigo que publiquei, em Março de 2004, no “Semanário Económico”, sob o título “Imigração – não meter a cabeça na areia.
“Bruxelas faz as contas e adverte para o risco do aumento dos idosos face à população activa. Após 2010, as coisas vão piorar ainda mais
Um em cada seis cidadãos comunitários tem hoje mais de 65 anos, mas no início da próxima década, quando se assistirá a um rápido envelhecimento da população da União Europeia (UE), a proporção será de um em cada quatro.
Os dados e os alertas sobre a dimensão do problema figuram no relatório «A situação social na União Europeia - 2004», cuja síntese foi há dias publicada pela Comissão. Actualmente, os 74 milhões de idosos correspondem a 16,3% da população total, mas em 2010 o peso dos «seniores» será de 27%.”
"O teatro
Não acreditando na separação do afecto e do signo, da emoção e do seu teatro, não podia exprimir uma admiração, uma indignação, um amor, com medo de a significar mal. Assim, quanto mais comovido está mais insípido fica. A sua “sinceridade” não é mais do que o constrangimento dum actor que se não atreve a entrar em cena com medo de representar excessivamente mal.”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 46
(Fragmento 1 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 46
(Fragmento 1 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Três meses depois
Passaram três meses exactos sobre a decisão do PR, após a fuga de José Manuel Barroso, de não convocar eleições gerais antecipadas. 9 de Julho de 2004. Três meses depois estamos, de novo, em plena crise política ou num arremedo dela? Manobras tácticas? Reposicionamento de forças? Mudança de generais? Preparo para as batalhas políticas nos prazos legais? Ou mais do que isso?
O tom dos discursos e o desenho do cansaço nos rostos deixa antever, pelo menos, excesso de nervosismo. A opinião pública não se alenta com as medidas anunciadas pelo governo. A base de apoio da maioria estreita-se. Todos os sinais vão nesse sentido.
As oposições estão mais frescas. Porque estão fora da linha de fogo dos descontentamentos provocados pelas medidas impopulares. Mas também porque mudaram, ou vão mudar, as lideranças (excepto o BE). O tempo é escasso para mais do que escaramuças tácticas. Na legislação, nos negócios e na propaganda. A evolução, a curto prazo, da economia não vai ajudar quem governa. Veja-se a escalada do preço do petróleo nos mercados internacionais.
A anunciada aceleração desacelera. O factor tempo, finalmente, parece favorecer a oposição. O orçamento de estado para 2005 tem de ser apresentado até ao final da próxima semana. Disso falará certamente o primeiro-ministro na anunciada comunicação ao país de 2ª feira. Qual a mensagem? De confiança ou de renúncia? De esperança ou de desalento? De autenticidade ou de demagogia?
Veja o interessante artigo Marcelo e as «ondas de paixão», de Clara Ferreira Alves, no “Diário Digital”
O tom dos discursos e o desenho do cansaço nos rostos deixa antever, pelo menos, excesso de nervosismo. A opinião pública não se alenta com as medidas anunciadas pelo governo. A base de apoio da maioria estreita-se. Todos os sinais vão nesse sentido.
As oposições estão mais frescas. Porque estão fora da linha de fogo dos descontentamentos provocados pelas medidas impopulares. Mas também porque mudaram, ou vão mudar, as lideranças (excepto o BE). O tempo é escasso para mais do que escaramuças tácticas. Na legislação, nos negócios e na propaganda. A evolução, a curto prazo, da economia não vai ajudar quem governa. Veja-se a escalada do preço do petróleo nos mercados internacionais.
A anunciada aceleração desacelera. O factor tempo, finalmente, parece favorecer a oposição. O orçamento de estado para 2005 tem de ser apresentado até ao final da próxima semana. Disso falará certamente o primeiro-ministro na anunciada comunicação ao país de 2ª feira. Qual a mensagem? De confiança ou de renúncia? De esperança ou de desalento? De autenticidade ou de demagogia?
Veja o interessante artigo Marcelo e as «ondas de paixão», de Clara Ferreira Alves, no “Diário Digital”
sexta-feira, outubro 8
As pegadas do elefante
“Celeste Cardona recebeu do Montepio Geral durante sete anos (de 1996 a 2002) mais de quatro mil euros mensais, acrescidos de cartão de crédito e carro. Tinha sido contratada como consultora jurídica, depois de ter emitido um parecer positivo sobre o regime fiscal que favorecia a banca. Em 2002, garantiu a ex-ministra ao JN, deixou de receber tal verba. Tal como deixou de exercer a advocacia, atendendo a que a lei das incompatibilidades o proibia.
A "subida" a ministra parece ter representado, afinal, um grande rombo nas suas economias. Em 2003, quando apenas exercia a tutela da Justiça, Celeste Cardona declarou pouco mais de 80 mil euros. No ano anterior (2002), juntando os 202 mil euros de trabalho independente ao vencimento de deputada, declarou 278 mil euros.
Também por explicar está o facto das quantias pagas a Celeste Cardona pelo Montepio Geral terem transitado para o seu marido, o advogado Luís Queiró. Este contrato terá sido assinado no final de 2003, mas desde que Cardona tomou posse como ministra que a verba lhe passou a ser paga.” (JN)
A "subida" a ministra parece ter representado, afinal, um grande rombo nas suas economias. Em 2003, quando apenas exercia a tutela da Justiça, Celeste Cardona declarou pouco mais de 80 mil euros. No ano anterior (2002), juntando os 202 mil euros de trabalho independente ao vencimento de deputada, declarou 278 mil euros.
Também por explicar está o facto das quantias pagas a Celeste Cardona pelo Montepio Geral terem transitado para o seu marido, o advogado Luís Queiró. Este contrato terá sido assinado no final de 2003, mas desde que Cardona tomou posse como ministra que a verba lhe passou a ser paga.” (JN)
Diálogo matinal
A empregada de mesa, preocupada:
“A sua amiga anda tão tristinha!”
(silêncio)
“Acho que o cão dela está muito doente!”
(silêncio)
A empregada retira-se incrédula.
“A sua amiga anda tão tristinha!”
(silêncio)
“Acho que o cão dela está muito doente!”
(silêncio)
A empregada retira-se incrédula.
"A minha cabeça está baralhada
Sobre um determinado trabalho, sobre um determinado assunto (habitualmente aqueles sobre os quais se fazem dissertações), sobre um determinado dia de vida, gostaria ele de colocar como divisa este dito de comadre: a minha cabeça está baralhada (imaginemos uma língua na qual o jogo das categorias gramaticais obrigasse por vezes o sujeito a enunciar-se sob as vestes de uma velha).
E, todavia, ao nível do seu corpo, nunca sente a cabeça baralhada. (…)
Sente por vezes vontade de deixar repousar toda essa linguagem que tem na cabeça, no trabalho, nos outros, como se a própria linguagem fosse um membro cansado do corpo humano; parece-lhe que, se descansasse da linguagem, descansaria completamente, pelo feriado dado às crises, às repercussões, às exaltações, às feridas, às razões, etc. Vê a linguagem sob os traços duma velha mulher cansada (algo como uma antiga mulher-a-dias de mãos gastas) que suspira por uma certa aposentação”.
Nesta página escrevi, vá lá saber-se porquê: “generalizo talvez abusivamente.”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 45
(Fragmento 3 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
E, todavia, ao nível do seu corpo, nunca sente a cabeça baralhada. (…)
Sente por vezes vontade de deixar repousar toda essa linguagem que tem na cabeça, no trabalho, nos outros, como se a própria linguagem fosse um membro cansado do corpo humano; parece-lhe que, se descansasse da linguagem, descansaria completamente, pelo feriado dado às crises, às repercussões, às exaltações, às feridas, às razões, etc. Vê a linguagem sob os traços duma velha mulher cansada (algo como uma antiga mulher-a-dias de mãos gastas) que suspira por uma certa aposentação”.
Nesta página escrevi, vá lá saber-se porquê: “generalizo talvez abusivamente.”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 45
(Fragmento 3 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Abandono Escolar
Em Abril passado publiquei no "Semanário Económico" um artigo com o título: "Abandono escolar – uma emergência nacional". Agora que o ano escolar está finalmente a arrancar em pleno, nas escolas públicas, vale a pena regressar a um dos temas mais importantes da política educativa em Portugal. Por isso aqui deixo os parágrafos iniciais desse artigo que pode ser lido na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR.
"A Comissão Europeia divulgou um “projecto de relatório intercalar” acerca dos objectivos da “Estratégia de Lisboa” para os sistemas de educação e de formação na Europa. Esse relatório revela que, considerando os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, a “taxa média de casos de abandono escolar, precoce, na União é de 18,8 %”.
Surpreendente, ou talvez não, os dez países aderentes apresentam melhor desempenho que os actuais Estados membros da União com uma taxa de 8,4 %.
Outro facto relevante é que Portugal apresenta a mais alta taxa de abandono escolar da União Europeia com 45,5%. Ainda mais preocupante é o facto de Portugal (com a Dinamarca) ter invertido, a partir de meados da década de 90, a tendência para a melhoria deste indicador, encetada no início dessa mesma década."
"A Comissão Europeia divulgou um “projecto de relatório intercalar” acerca dos objectivos da “Estratégia de Lisboa” para os sistemas de educação e de formação na Europa. Esse relatório revela que, considerando os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, a “taxa média de casos de abandono escolar, precoce, na União é de 18,8 %”.
Surpreendente, ou talvez não, os dez países aderentes apresentam melhor desempenho que os actuais Estados membros da União com uma taxa de 8,4 %.
Outro facto relevante é que Portugal apresenta a mais alta taxa de abandono escolar da União Europeia com 45,5%. Ainda mais preocupante é o facto de Portugal (com a Dinamarca) ter invertido, a partir de meados da década de 90, a tendência para a melhoria deste indicador, encetada no início dessa mesma década."
quinta-feira, outubro 7
"Espantação"
Tanta gente espantada com a perseguição do governo à livre expressão da opinião e da crítica! Ainda não tinham dado por isso? Os jornalistas não sabem? Mostram-se indignados? Muitos deles próprios não participaram já em processos persecutórios?
No caso Marcelo a fonte é o próprio Marcelo. A perseguição ao “one-show-man” fez estilhaçar as ligações perversas entre todos os poderes. Expôs à vista desarmada as ligações perigosas entre os poderes político, económico e mediático. Os recíprocos condicionamentos e as dependências.
Fez emergir o desprezo do poder, exercido pelo governo, pelo elo mais valioso e, ao mesmo tempo, mais sensível da democracia: a liberdade.
Estamos no ponto em que a indiferença do poder presidencial, ou a omissão da sua acção, é imperdoável.
No caso Marcelo a fonte é o próprio Marcelo. A perseguição ao “one-show-man” fez estilhaçar as ligações perversas entre todos os poderes. Expôs à vista desarmada as ligações perigosas entre os poderes político, económico e mediático. Os recíprocos condicionamentos e as dependências.
Fez emergir o desprezo do poder, exercido pelo governo, pelo elo mais valioso e, ao mesmo tempo, mais sensível da democracia: a liberdade.
Estamos no ponto em que a indiferença do poder presidencial, ou a omissão da sua acção, é imperdoável.
"Tel Quel"
O corpo é a diferença irredutível e, ao mesmo tempo, o princípio de toda a estruturação (uma vez que a estruturação é o Único da estrutura (…). Se eu conseguisse falar política com o meu próprio corpo, tornaria a mais chã das estruturas (discursivas) numa estruturação; com a repetição produziria Texto. O problema está em saber se o aparelho político reconheceria durante muito tempo esta maneira de fugir à banalidade militante enfiando nela, vivo, pulsional, gozador, o meu próprio corpo único.”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 44
(Fragmento 2 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 44
(Fragmento 2 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
quarta-feira, outubro 6
Falatório*
Então ficamos combinados: o PSD não vai calar Marcelo, o PS não vai calar Alegre, o PP não vai calar o “autarca da quinta”, porque eles não se calarão; o PCP não vai calar Carvalhas, porque ele se calará; o PSD/PP não vai calar Sampaio, porque ele só falará; Sampaio não vai calar o Povo, porque o Povo não se calará...em democracia é difícil governar.
(Falatório: “ruído de vozes”, “mexerico”, “tagalerice”, “discurso comprido” – Mini Houaiss – Dicionário)
(Falatório: “ruído de vozes”, “mexerico”, “tagalerice”, “discurso comprido” – Mini Houaiss – Dicionário)
"A simbólica de Estado
Escrevo o que se segue num sábado, 6 de Abril de 1974, dia de luto nacional em memória de Pompidou. Durante o dia inteiro na rádio, “boa música” (para os meus ouvidos): Bach, Mozart, Brahms, Schubert. A “boa música” é portanto uma música fúnebre: há uma metonímia oficial que une a morte, a espiritualidade e a música de classe (nos dias de greve só se ouve “má música”). A minha vizinha, que ouve habitualmente música pop, hoje não ligou o rádio. Ficamos assim os dois excluídos da simbólica do Estado: ela porque não suporta o seu significante (a “boa música”), eu porque não suporto o seu significado (a morte de Pompidou). Esta dupla amputação não tornará a música assim manipulada num discurso opressivo?”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 43
(Fragmento 1 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 43
(Fragmento 1 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Amália Rodrigues
Amália Rodrigues morreu a 6 de Outubro de 1999. Vejo as imagens de uma homenagem na RTP. Ouço a sua voz e sigo os seus gestos. É um espanto. Um fenómeno arrebatador. Uma voz e uma alma. O melhor de um povo na voz singular de uma mulher do povo.
Em Nápoles canta uma canção napolitana no dialecto local. Em Lisboa, como espectadora, sobe ao palco para a abraçar Caetano Veloso. Recebe a mais alta condecoração do Estado português das mãos de Mário Soares. Fez-se justiça a tempo e ficou feliz. Mas confessa que só os aplausos do público lhe davam alegria.
Os aplausos para Amália ainda não se deixaram de ouvir e ecoam na nossa memória colectiva.
Em Nápoles canta uma canção napolitana no dialecto local. Em Lisboa, como espectadora, sobe ao palco para a abraçar Caetano Veloso. Recebe a mais alta condecoração do Estado português das mãos de Mário Soares. Fez-se justiça a tempo e ficou feliz. Mas confessa que só os aplausos do público lhe davam alegria.
Os aplausos para Amália ainda não se deixaram de ouvir e ecoam na nossa memória colectiva.
terça-feira, outubro 5
Querem uma notícia importante?
05-10-2004 15:25:00 UTC . Fonte LUSA. Notícia SIR-6406573
Temas: economia internacional energia mercadosPetróleo: Preço bate novo recorde nos 50,91 dólares em Nova Iorque
Lisboa, 05 Out (Lusa) - O preço do petróleo bateu hoje um novo recorde em Nova Iorque ao chegar aos 50,91 dólares o barril depois dos furacões que atingiram o Golfo do México terem reduzido as exportações para os Estados Unidos.
O preço mais elevado até hoje foi atingido a 28 de Setembro com o barril a ser transaccionado a 50,47 dólares no mercado de Nova Iorque.
A produção norte-americana no Golfo do México está 28 por cento abaixo do normal, devido aos estragos provocados pelo furacão Ivan, anunciou o governo.
No final da semana que acabou a 24 de Setembro, as reservas norte-americanas de combustível para aquecimento estavam 9,7 por cento abaixo da média dos últimos cinco anos para esta época, levantando dúvidas acerca da sua capacidade para satisfazer o aumento da procura no Inverno.
O barril de crude para entrega em Novembro transaccionava-se na abertura da sessão do New York Mercantile Exchange (Nymex) a 50,91 dólares.
Em Londres, o Brent, para entrega em Novembro, cotava-se às 14:04 (hora de Lisboa) a 47,14 dólares o barril.
ACF.
Lusa/fim
Temas: economia internacional energia mercadosPetróleo: Preço bate novo recorde nos 50,91 dólares em Nova Iorque
Lisboa, 05 Out (Lusa) - O preço do petróleo bateu hoje um novo recorde em Nova Iorque ao chegar aos 50,91 dólares o barril depois dos furacões que atingiram o Golfo do México terem reduzido as exportações para os Estados Unidos.
O preço mais elevado até hoje foi atingido a 28 de Setembro com o barril a ser transaccionado a 50,47 dólares no mercado de Nova Iorque.
A produção norte-americana no Golfo do México está 28 por cento abaixo do normal, devido aos estragos provocados pelo furacão Ivan, anunciou o governo.
No final da semana que acabou a 24 de Setembro, as reservas norte-americanas de combustível para aquecimento estavam 9,7 por cento abaixo da média dos últimos cinco anos para esta época, levantando dúvidas acerca da sua capacidade para satisfazer o aumento da procura no Inverno.
O barril de crude para entrega em Novembro transaccionava-se na abertura da sessão do New York Mercantile Exchange (Nymex) a 50,91 dólares.
Em Londres, o Brent, para entrega em Novembro, cotava-se às 14:04 (hora de Lisboa) a 47,14 dólares o barril.
ACF.
Lusa/fim
"A mim, eu
Um estudante americano (positivista ou contestatário: já não consigo distinguir) identifica, como se fosse óbvio, subjectividade com narcisismo; pensa certamente que a subjectividade consiste em falar de si, para dizer bem. Isto por ser vítima de um velho casal, dum velho paradigma: subjectividade/objectividade. Todavia, hoje em dia, o sujeito toma-se noutro lado e a “subjectividade” pode regressar noutro ponto da espiral: desconstruída, desunida, deportada, sem amarras: porque não hei-de falar de “eu”, uma vez que “eu” já não é “mim mesmo”?
(…)
Por outro lado, não falar de si próprio pode querer dizer: eu sou aquele que não fala de si próprio; e falar sobre si próprio, dizendo “ele”, pode querer dizer: falo de mim como estando um pouco morto, assolado por uma leve bruma de ênfase paranóica; ou ainda: falo de mim à maneira do actor brechtiano, que deve distanciar o seu personagem: deve “mostrá-lo” e não encarná-lo, dando no seu débito verbal como que um piparote que tem por efeito descolar o pronome do seu nome, a imagem do seu suporte, o imaginário do seu espelho (Brecht recomendava ao actor que pensasse todo o seu papel na terceira pessoa).
(…)
Ao dizer, acerca de alguém, “ele”, tenho sempre em vista uma espécie de assassínio pela linguagem, cuja cena completa, por vezes sumptuosa, é o mexerico. (…) ”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 42
(Fragmento 1 de 1, pag. 18)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Nesta página escrevi: “a viagem é mais do que um pretexto: santuário das relações, lugar de culto de uma nova forma de ser solidário e de marcar encontro com aspirações que se estão a esvair com uma rapidez e violência impressionantes.”
(O excerto original é excessivamente longo para um post, por isso este é um excerto de um excerto. Além do mais aborda um tema que tenho presente, como dilema, num conjunto de textos que estou a escrever, hoje, agora mesmo, na primeira pessoa, “eu”, e que hesito em publicar num registo que receio ser demasiado autobiográfico.)
(…)
Por outro lado, não falar de si próprio pode querer dizer: eu sou aquele que não fala de si próprio; e falar sobre si próprio, dizendo “ele”, pode querer dizer: falo de mim como estando um pouco morto, assolado por uma leve bruma de ênfase paranóica; ou ainda: falo de mim à maneira do actor brechtiano, que deve distanciar o seu personagem: deve “mostrá-lo” e não encarná-lo, dando no seu débito verbal como que um piparote que tem por efeito descolar o pronome do seu nome, a imagem do seu suporte, o imaginário do seu espelho (Brecht recomendava ao actor que pensasse todo o seu papel na terceira pessoa).
(…)
Ao dizer, acerca de alguém, “ele”, tenho sempre em vista uma espécie de assassínio pela linguagem, cuja cena completa, por vezes sumptuosa, é o mexerico. (…) ”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 42
(Fragmento 1 de 1, pag. 18)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Nesta página escrevi: “a viagem é mais do que um pretexto: santuário das relações, lugar de culto de uma nova forma de ser solidário e de marcar encontro com aspirações que se estão a esvair com uma rapidez e violência impressionantes.”
(O excerto original é excessivamente longo para um post, por isso este é um excerto de um excerto. Além do mais aborda um tema que tenho presente, como dilema, num conjunto de textos que estou a escrever, hoje, agora mesmo, na primeira pessoa, “eu”, e que hesito em publicar num registo que receio ser demasiado autobiográfico.)
segunda-feira, outubro 4
PSD odeia Marcelo
Só falta apelar ao restabelecimento da censura. Depois da criação da “central de informações” o PSD ataca-se a si próprio. O Dr. Portas deve rir às gargalhadas.
“Gomes da Silva quer intervenção da alta autoridade contra Marcelo
O ministro dos Assuntos Parlamentares Rui Gomes da Silva afirmou hoje estranhar o silêncio da Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) em relação aos comentários de "ódio" e às "mentiras e falsidades" feitas pelo ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa aos domingos na TVI.”
“Gomes da Silva quer intervenção da alta autoridade contra Marcelo
O ministro dos Assuntos Parlamentares Rui Gomes da Silva afirmou hoje estranhar o silêncio da Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) em relação aos comentários de "ódio" e às "mentiras e falsidades" feitas pelo ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa aos domingos na TVI.”
A base
Algumas notícias anunciam, no rescaldo do congresso do PS, o regresso à base de Ferro Rodrigues. Este regresso é assumido pelos órgãos de comunicação social de uma forma envergonhada e pouco convincente.
O exemplo de cidadania, humildade democrática e coragem cívica, como o de Ferro, são pouco aliciantes para eles. Os patrões da comunicação social, e os seus sequazes, preferem chafurdar no sangue das presas a espernear entre os dentes de “animais ferozes”.
Sempre retive na minha cabeça a frase de Camus que explica muitas destas “anomalias” da política: “Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.”
O exemplo de cidadania, humildade democrática e coragem cívica, como o de Ferro, são pouco aliciantes para eles. Os patrões da comunicação social, e os seus sequazes, preferem chafurdar no sangue das presas a espernear entre os dentes de “animais ferozes”.
Sempre retive na minha cabeça a frase de Camus que explica muitas destas “anomalias” da política: “Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.”
O "shifter" como utopia
Recebe uma carta longínqua de um amigo: “Segunda-feira. Regresso amanhã. João-Luís.”
Tal como Jourdain e a sua prosa célere (cena de resto bastante poujadista), maravilha-se ao descobrir num enunciado tão simples como este o rasto dos operadores duplos, analisados por Jakobson. Porque, se o João Luís sabe perfeitamente quem é e em que dia está a escrever, a mensagem dele que até mim chega é perfeitamente incerta: qual segunda-feira? qual João Luís? Como hei-de sabê-lo, eu que do meu ponto de vista tenho que escolher instantaneamente entre vários João Luís e entre várias segundas-feiras? Embora codificado o “shifter”, para só falar do mais comum desses operadores, surge assim como um meio manhoso – fornecido pela própria língua – de romper a comunicação: eu falo (apreciem o meu domínio do código), mas envolvo-me na bruma duma situação enunciadora que é desconhecida para os outros; estabeleço no meu discurso fugas de interlocução (não será afinal isso que sempre acontece quando usamos o “shifter” por excelência, o pronome “eu”?).
(…)
Será possível imaginarmos a liberdade – e, se assim se pode dizer, a fluidez amorosa – duma colectividade que só falasse usando primeiros nomes e “shifters”, em que cada pessoa não dissesse senão eu, amanhã, lá …”
Nesta página escrevi a seguinte nota: “a viagem é uma tradição a recuperar com ou sem grupo”.
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 41
(Fragmento 1 de 1, pag. 17)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Tal como Jourdain e a sua prosa célere (cena de resto bastante poujadista), maravilha-se ao descobrir num enunciado tão simples como este o rasto dos operadores duplos, analisados por Jakobson. Porque, se o João Luís sabe perfeitamente quem é e em que dia está a escrever, a mensagem dele que até mim chega é perfeitamente incerta: qual segunda-feira? qual João Luís? Como hei-de sabê-lo, eu que do meu ponto de vista tenho que escolher instantaneamente entre vários João Luís e entre várias segundas-feiras? Embora codificado o “shifter”, para só falar do mais comum desses operadores, surge assim como um meio manhoso – fornecido pela própria língua – de romper a comunicação: eu falo (apreciem o meu domínio do código), mas envolvo-me na bruma duma situação enunciadora que é desconhecida para os outros; estabeleço no meu discurso fugas de interlocução (não será afinal isso que sempre acontece quando usamos o “shifter” por excelência, o pronome “eu”?).
(…)
Será possível imaginarmos a liberdade – e, se assim se pode dizer, a fluidez amorosa – duma colectividade que só falasse usando primeiros nomes e “shifters”, em que cada pessoa não dissesse senão eu, amanhã, lá …”
Nesta página escrevi a seguinte nota: “a viagem é uma tradição a recuperar com ou sem grupo”.
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 41
(Fragmento 1 de 1, pag. 17)
Edição portuguesa: "Edições 70"
"No meu bairro já está tudo normal
“Voltou a calma ao meu bairro. Depois de quinze dias em que pensámos que estávamos todos ricos, eis que o ministro das Finanças nos tira com uma declaração aquilo que nos tinha dado com uma afirmação. Explico-me.
Lembram-se certamente de o ministro das Finanças ter ido à RTP, há quinze dias, dizer à Judite de Sousa que ia acabar com os benefícios fiscais dos PPR, PPR-E, PPA e Contas Poupança-Habitação, já que, segundo afirmou, quem investia em tais produtos eram os contribuintes 30% mais ricos de Portugal (ele só falou dos que pagam impostos; os outros ricos, ao que deduzimos, ou não pagam impostos ou não investem nestes produtos). E eram assim esses ricos que, capciosamente, se aproveitavam de tais benefícios para pagar menos impostos, ao contrário dos outros contribuintes pobres que, por não investirem em tais produtos, nada podiam deduzir à colecta. O ministro anunciou então o que faria Robin dos Bosques: tirar aos ricos para descer o IRS dos mais pobres. O país estremeceu de reconhecimento emocionado: finalmente, a justiça social pela mão de Bagão!
Pois bem: eu sabia que lá no meu bairro o sr. Joaquim da mercearia tinha feito um PPR para a mãe que está velhota. O sr. João da padaria investiu num PPR-E para quando o miúdo, que ia bem nos estudos, quisesse tirar um MBA. A sra. Ana da farmácia andava a juntar uns trocos numa Conta Poupança-Habitação para comprar uma casita. E o sr. José de uma agência imobiliária apostou num Plano Poupança Acções, depois de ter ouvido o dr. Catroga dizer em 1995 que isso ia ser muito bom para quem aí investisse, além do que servia para animar o mercado de capitais.
Ora assim que ouviram o ministro dizer que estavam entre os 30% dos mais ricos de Portugal (os que pagam impostos, insisto), os meus vizinhos entraram numa euforia, porque não é qualquer um que trata os Belmiro, os Jardins Gonçalves, os Américos Amorins e outros ricos deste país tu cá, tu lá como nós lá no bairro. E assim o Joaquim deixou de trabalhar, pensando na herança que ia receber, o filho do João deixou de estudar porque o pai tinha ficado rico, a Ana não pôs mais os pés na farmácia e o José está à espera que lhe cheguem a casa as grandes mais-valias que fez através do Plano Poupança Acções.
Estava assim o meu bairro em grande festança quando vários jornais resolvem colocar cá fora a declaração de rendimentos do ministro das Finanças. Ora ele é homem sério, competente, trabalhador, bom chefe de família, até porque é um furioso entusiasta do Benfica, mas não tem cara de ser rico. Tem, aliás, o mesmo carro desde 1994 e não é grande coisa a viatura. Ora se ele não é um rico, nós devemos ter muito mais dinheiro que ele.
Mas vai-se a ver a declaração de rendimentos do nosso ministro e a nossa surpresa foi total, seguindo-se uma profunda tristeza. Para já, se não é rico, como é que ele investe nestes produtos? Só os 30% dos ricos é que o fazem. Depois deste facto perturbador, outro se seguiu. O ministro não só investe, como investe bastante. A saber: tem uma carteira de aplicações de 655 mil euros, dos quais quase 74 mil em PPR, quase 24 mil em PPA e depois ainda uma modesta aplicação de 7.200 euros numa conta poupança-habitação, num total que se aproxima dos 105 mil euros. Aliás, o ministro não fez outra coisa se não aumentar as suas aplicações nestes produtos nos últimos três anos, que passaram de 81 mil euros em 2002 para 91 mil em 2003 e 104 mil em 2004.
Bom, eu queria que vissem a cara do Joaquim, do João, da Ana e do José quando ouviram isto. É que aquilo que o ministro tem em aplicações financeiras é bem mais do que qualquer um deles ganha por ano, na casa das cinco vezes mais.
E pronto, durante quinze dias fomos ricos, mas já deixámos de ser. Mas como em todas as coisas, há que tirar os pequenos lucros das grandes perdas. O Joaquim abriu de novo a mercearia, o filho do João voltou a estudar, a Ana regressou à farmácia e o José está de novo a mostrar casas na imobiliária onde trabalha. O bairro voltou à normalidade e estamos todos muito mais contentes. É claro que deixámos de nos dar com o Belmiro, o Jardim Gonçalves e o Américo Amorim. Mas também é verdade que eles não passavam lá muito pelo meu bairro. E quem é que se quer dar com pessoas que não investem em PPR?”
4 de Outubro de 2004
Nicolau Santos, in Expresso on line
Lembram-se certamente de o ministro das Finanças ter ido à RTP, há quinze dias, dizer à Judite de Sousa que ia acabar com os benefícios fiscais dos PPR, PPR-E, PPA e Contas Poupança-Habitação, já que, segundo afirmou, quem investia em tais produtos eram os contribuintes 30% mais ricos de Portugal (ele só falou dos que pagam impostos; os outros ricos, ao que deduzimos, ou não pagam impostos ou não investem nestes produtos). E eram assim esses ricos que, capciosamente, se aproveitavam de tais benefícios para pagar menos impostos, ao contrário dos outros contribuintes pobres que, por não investirem em tais produtos, nada podiam deduzir à colecta. O ministro anunciou então o que faria Robin dos Bosques: tirar aos ricos para descer o IRS dos mais pobres. O país estremeceu de reconhecimento emocionado: finalmente, a justiça social pela mão de Bagão!
Pois bem: eu sabia que lá no meu bairro o sr. Joaquim da mercearia tinha feito um PPR para a mãe que está velhota. O sr. João da padaria investiu num PPR-E para quando o miúdo, que ia bem nos estudos, quisesse tirar um MBA. A sra. Ana da farmácia andava a juntar uns trocos numa Conta Poupança-Habitação para comprar uma casita. E o sr. José de uma agência imobiliária apostou num Plano Poupança Acções, depois de ter ouvido o dr. Catroga dizer em 1995 que isso ia ser muito bom para quem aí investisse, além do que servia para animar o mercado de capitais.
Ora assim que ouviram o ministro dizer que estavam entre os 30% dos mais ricos de Portugal (os que pagam impostos, insisto), os meus vizinhos entraram numa euforia, porque não é qualquer um que trata os Belmiro, os Jardins Gonçalves, os Américos Amorins e outros ricos deste país tu cá, tu lá como nós lá no bairro. E assim o Joaquim deixou de trabalhar, pensando na herança que ia receber, o filho do João deixou de estudar porque o pai tinha ficado rico, a Ana não pôs mais os pés na farmácia e o José está à espera que lhe cheguem a casa as grandes mais-valias que fez através do Plano Poupança Acções.
Estava assim o meu bairro em grande festança quando vários jornais resolvem colocar cá fora a declaração de rendimentos do ministro das Finanças. Ora ele é homem sério, competente, trabalhador, bom chefe de família, até porque é um furioso entusiasta do Benfica, mas não tem cara de ser rico. Tem, aliás, o mesmo carro desde 1994 e não é grande coisa a viatura. Ora se ele não é um rico, nós devemos ter muito mais dinheiro que ele.
Mas vai-se a ver a declaração de rendimentos do nosso ministro e a nossa surpresa foi total, seguindo-se uma profunda tristeza. Para já, se não é rico, como é que ele investe nestes produtos? Só os 30% dos ricos é que o fazem. Depois deste facto perturbador, outro se seguiu. O ministro não só investe, como investe bastante. A saber: tem uma carteira de aplicações de 655 mil euros, dos quais quase 74 mil em PPR, quase 24 mil em PPA e depois ainda uma modesta aplicação de 7.200 euros numa conta poupança-habitação, num total que se aproxima dos 105 mil euros. Aliás, o ministro não fez outra coisa se não aumentar as suas aplicações nestes produtos nos últimos três anos, que passaram de 81 mil euros em 2002 para 91 mil em 2003 e 104 mil em 2004.
Bom, eu queria que vissem a cara do Joaquim, do João, da Ana e do José quando ouviram isto. É que aquilo que o ministro tem em aplicações financeiras é bem mais do que qualquer um deles ganha por ano, na casa das cinco vezes mais.
E pronto, durante quinze dias fomos ricos, mas já deixámos de ser. Mas como em todas as coisas, há que tirar os pequenos lucros das grandes perdas. O Joaquim abriu de novo a mercearia, o filho do João voltou a estudar, a Ana regressou à farmácia e o José está de novo a mostrar casas na imobiliária onde trabalha. O bairro voltou à normalidade e estamos todos muito mais contentes. É claro que deixámos de nos dar com o Belmiro, o Jardim Gonçalves e o Américo Amorim. Mas também é verdade que eles não passavam lá muito pelo meu bairro. E quem é que se quer dar com pessoas que não investem em PPR?”
4 de Outubro de 2004
Nicolau Santos, in Expresso on line
domingo, outubro 3
Congresso do PS - Encerramento
As maiorias esmagadoras são más conselheiras. Vejo notícias, acerca do Congresso do PS, a realçar essas maiorias. Zapatero ganhou o Congresso do PSOE por um voto (isso mesmo, um voto). Os discursos eficazes, com mensagens perceptíveis por todos, são um bom sinal. José Sócrates é um bom comunicador. Toda a gente já o sabia. Mas o Congresso consagrou essa vantagem.
Homenagear Sousa Franco proclamando as palavras: "amigos, companheiros e camaradas", com as quais abria as suas intervenções é uma provocação, desnecessária, a Manuel Alegre. Todos os que têm a memória da resistência ao fascismo sabem que era Manuel Alegre que abria as emissões da Rádio “Voz da Liberdade”, desde Argel, com as palavras: "amigos, companheiros e camaradas". Mau sinal.
A afirmação da vocação europeia do PS é um bom sinal. A criação de um “Fórum Novas Fronteiras”, seja qual for o seu formato, é um sinal de abertura à sociedade civil. A marcação de uma data para a sua concretização, 29 de Janeiro de 2005, é uma marca de pragmatismo. Bons sinais. Será para lançar a candidatura de Guterres à Presidência da República?
A "simplificação" da questão da política de alianças, que transpareceu dos discursos de alguns dirigentes da maioria vencedora do Congresso, e as afirmações ideológicas de um centrismo exacerbado, explanadas por outros, são um mau sinal. Se não houver capacidade para flexibilizar os impulsos do "radicalismo centrista", emergente neste Congresso, será muito difícil ao PS obter uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas por erosão do seu eleitorado à esquerda. O futuro o confirmará.
Não conheço os detalhes do debate mas reparei que as moções sectoriais foram, como de costume, remetidas para a próxima reunião da Comissão nacional. Mau sinal. Os rostos dos derrotados estavam crispados, os dos vencedores cansados (e preocupados?). Mau sinal.
Agora falta definir a política. A tradicional divisão direita/esquerda não ajuda grande coisa a essa definição. Os problemas que bloqueiam o desenvolvimento do país e a sua afirmação na Europa e no Mundo são transversais nos planos económico, social e político. Difíceis de abordar e ainda mais difíceis de verter em políticas aceitáveis pelo eleitorado tradicional da esquerda e mobilizadoras dos sectores mais dinâmicos da sociedade.
É preciso ir ao terreno, ouvir os protagonistas, chamar os melhores à mesa da discussão e formular políticas realistas, aceitáveis pelo maior número, com bom senso e bom gosto. É difícil? É simples? Em política o difícil é fazer os problemas difíceis parecerem simples.
Os Desvarios do Senhor Reitor
Deve ter sido um azar do Reitor da “Católica”. As entrevistas têm destas coisas. Logo foram puxar para manchete da edição dominical do "Público" um tema certamente marginal ao teor da entrevista concedida pelo reitor da “Católica”.
Manuel Braga da Cruz foi militante do MES. Eu sei que foi há muitos anos e a juventude explica muitos e, na maior parte dos casos, saudáveis desvarios. Ora aí está uma boa razão para que a diversão nocturna não mereça excomunhão. Haja Deus!
“Reitor da Católica Quer Novas Regras para Bares e Discotecas Manuel Braga da Cruz Diz Que a Pressão da Industria de Diversão Nocturna Contribui para o Insucesso no Ensino Superior, Deseja Que Os Alunos Não Frequentem Esses Espaços Tão Intensamente e Pede Intervenção do Poder Político
“Reitor da Católica Quer Novas Regras para Bares e Discotecas Manuel Braga da Cruz Diz Que a Pressão da Industria de Diversão Nocturna Contribui para o Insucesso no Ensino Superior, Deseja Que Os Alunos Não Frequentem Esses Espaços Tão Intensamente e Pede Intervenção do Poder Político
O reitor da Universidade Católica Portuguesa considera que um dos factores que contribuem para o insucesso dos alunos do ensino superior é a existência de uma pressão da indústria de diversão nocturna. Manuel Braga da Cruz defende que o poder político deve intervir na regulamentação desses espaços de modo a que os estudantes não os frequentem tão intensamente.” TEXTO
PS - CONGRESSO
Ao segundo dia surgiu o debate da política de alianças. Nada de novo a não ser o ter-se discutido abertamente o que já não é nada pouco.
Mas o mais importante acontecimento deste congresso continua a ser a eleição do Secretário-geral. José Sócrates foi eleito por voto directo e secreto dos militantes com uma elevada participação. Mais de 30.000 eleitores foram às urnas facto absolutamente inédito na história da democracia portuguesa.
No primeiro dia do Congresso deu para conhecer o estilo do secretário-geral. No segundo para conhecer a política de alianças: PS sozinho em busca de uma maioria para governar, sem alianças. Agora faltam enunciar as políticas.
E saber como a nova liderança vai reagir às campanhas que a direita deve estar a aprontar na linha do vale tudo. É que a liderança do PS mudou mas não mudaram as lideranças do PSD e do PP. Preparem-se!
sábado, outubro 2
MARISA VAQUERO
Nacida en Daimiel (Ciudad Real), obtuvo el Premio Ciudad de Leganés por Jardines de piedra (1988). Ha publicado: Jean-Loup (1992) y una Antología de sus versos (1991). El inédito Poemas de falda negra aparecerá próximamente.
Para él
quiero una muerte lenta,
Para él
que oigan sus lamentos
las montañas y valles.
Que se llenen los ríos,
mares, pozos y lagos
de finos hilos rojos.
Que vean las estrellas
cómo se agota el ánimo,
cómo el latir se apaga.
Quiero vengarme hoy
que mi apetito sólo
desea devorarle.
In HARTZ
A nomeação de Celeste Cardona
Ouvi dizer, não ouvi ao vivo, que o Dr. Bagão Félix se manifestou indignado por uma campanha lançada, na comunicação social, contra a nomeação da Dra. Celeste Cardona para a administração da CGD (Caixa Geral de Depósitos).
A consciência do Dr. Bagão Felix é leve, muito leve, como o ar que respira. Já agora, a Dra. Celeste Cardona vai assumir, a tempo inteiro, na administração da CGD as “áreas jurídica e fiscal/contencioso/compras e provisionamento”.
Este episódio e os seus católicos protagonistas fizeram-me, estranhamente, lembrar estas citações:
“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”
“Para os cristãos, a Revelação está no início da história. Para os marxistas, está no fim.”
G. Greene: ...”Para quem não crê em Deus, se as pessoas não forem tratadas segundo os seus méritos o mundo é um caos, é-se levado ao desespero”.
Albert Camus, in Cadernos
Este episódio e os seus católicos protagonistas fizeram-me, estranhamente, lembrar estas citações:
“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”
“Para os cristãos, a Revelação está no início da história. Para os marxistas, está no fim.”
G. Greene: ...”Para quem não crê em Deus, se as pessoas não forem tratadas segundo os seus méritos o mundo é um caos, é-se levado ao desespero”.
Albert Camus, in Cadernos
"Projecto dum livro sobre a sexualidade
Aqui está um jovem casal que se instala no meu compartimento: a mulher é loira pintada; usa grandes óculos escuros, lê o Paris-Match; tem um anel em cada dedo e cada unha de ambas as mãos está pintada de cor diferente das unhas vizinhas; a do dedo médio, mais curta, dum carmim pesado, indica grosseiramente o dedo da masturbação. Daqui, do encantamento em que me mantém este casal do qual não consigo desviar os olhos, surge-me a ideia de um livro (ou dum filme) onde não haveria senão estes traços de sexualidade secundária (nada de pornográfico); aí se apreenderia (tentar-se-ia apreender) a “personalidade” sexual de cada corpo, que não é nem a sua beleza nem o seu ar “sexy” mas, sim, a forma como cada se oferece imediatamente à leitura; porque a jovem loira de unhas grosseiramente colorias e o seu jovem marido (de nádegas moldadas e olhos doces) traziam a sua sexualidade de casal na botoeira, com uma legião de honra (sexualidade e respeitabilidade provêm do mesmo cartaz) e essa sexualidade legível (tal qual Michelet a teria certamente lido) enchia o compartimento, por uma metonímia irresistível, muito mais seguramente do que uma série de garridices.”
Na página 16 escrevi a seguinte nota: “prefiro a viagem. o encontro entre as pessoas que se movimentam nos lugares e nos acontecimentos.”
Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 40
(pag. 16, 2 de 2)
Edição portuguesa - Edições 70
Na página 16 escrevi a seguinte nota: “prefiro a viagem. o encontro entre as pessoas que se movimentam nos lugares e nos acontecimentos.”
Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 40
(pag. 16, 2 de 2)
Edição portuguesa - Edições 70
sexta-feira, outubro 1
José Sócrates
Teve início o Congresso do PS. Os discursos iniciais são marcantes. Dispenso-me de comentar os rostos cansados das primeiras filas. Sócrates tem todas as condições para ser um vencedor. A personalidade dos lideres é muito importantes na luta política. A batalha da comunicação já ele ganhou. Agora falta definir a política. É aqui que bate o ponto.
Imigração - "O problema Social Mais Grave da Europa"
Está diponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo, com o título em epígrafe, publicado hoje no "Semanário Económico"
Aurora boreal
Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.
Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.
António Gedeão
Obra Poética
Edições João Sá da Costa
2001
Viajar na cidade
A cidade é um espaço fascinante. Ontem cruzei a cidade, de lés a lés, duas vezes de taxi. Não falo agora da arquitectura, da demografia, da limpeza, do estacionamento, do trânsito, do policiamento, em suma, da gestão da cidade de Lisboa. Falo dos dois homens que me guiaram nessas viagens pela cidade. Dois encontros surpreendentes.
O primeiro tinha sido empresário na área dos produtos de iluminação. A sua empresa era razoavelmente grande. Seis meses atrás desentendeu-se com o sócio e saiu “a bem”. A adesão à sua nova profissão foi forçada e estava a habituar-se. Gostava do que fazia mas as suas palavras denotavam a nostalgia pela vida que tinha "sido obrigado" a largar.
O segundo andava há quatro dias na faina. Não sabia como chegar ao destino que lhe indiquei. Homem maduro reconheceu a sua ignorância. Expliquei-lhe o que o seu colega da manhã me tinha explicado. “Não se preocupe que 80% dos clientes lhe indicarão o caminho”. A maioria são simpáticos e colaborantes confirmou, como resultado da sua curta experiência. Enquanto lhe indicava, com o máximo de detalhes, as virtudes do caminho que escolhi ele contava-se a sua experiência de vida.
Era industrial de confecções. Tinha uma fábrica que começou a não dar para pagar as despesas. Explicou-me que os produtos do oriente não dão hipóteses à nossa produção tradicional. A sua mulher ainda lá trabalha. Mas ele teve que agarrar-se a uma actividade que tinha abandonado há muitos anos atrás. Para legalizar a sua situação de condutor do táxi (de um amigo) realizou 200 horas de formação. Aos 60 anos é obra.
Ao viajar na cidade ontem confrontei-me com dois dramas pessoais e familiares. Dois exemplos de homens de cultura e experiência superior que não se deram por vencidos face às dificuldades da vida. Senti-me solidário com eles.
Aconselho vivamente o Dr. Bagão Féliz a tomar, de vez em quando, um táxi, a andar a pé na rua, a viajar na cidade. Assim poderia afinar com mais perfeição os seus discursos de defesa dos pobres e desprotegidos. E a perceber a cor da bonomia que esconde, envergolhada, o vermelho da indignação e da revolta
quinta-feira, setembro 30
Colocação de professores
A divulgação da informação de que uma empresa resolveu, de forma expedita, o problema informático que fez colapsar o processo de colocação dos professores coloca novos problemas. Quais as verdadeiras razões daquele colapso? Se era fácil, rápido e barato solucionar o problema informático porque razão não foi solucionado antes? As colocações, afinal, foram feitas à mão? Se o essencial do problema da colocação de professores foi resolvido ainda bem. Mas depois desta novidade e da intervenção pública do ex-ministro David Justino resta muito por esclarecer, a bem do funcionamento da comunidade educativa e do interesse público
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"Nova Empresa Resolveu Colocação de Professores em Seis Dias
O problema da colocação de professores foi resolvido através de uma nova solução informática pensada em seis dias e executada em 30 minutos, com o apoio de um novo servidor vindo de Espanha." (Público)
TEXTO
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"Nova Empresa Resolveu Colocação de Professores em Seis Dias
O problema da colocação de professores foi resolvido através de uma nova solução informática pensada em seis dias e executada em 30 minutos, com o apoio de um novo servidor vindo de Espanha." (Público)
quarta-feira, setembro 29
Serviço Militar Obrigatório
O Dr. Portas surge, ufano, a proclamar o fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO). O acontecimento aparece aos olhos da grande maioria como uma grande conquista civilizacional. Em particular aos olhos da juventude. As juventudes partidárias rejubilam.
O Dr. Portas ostenta um orgulho que estaria nas antípodas das suas próprias convicções caso fosse um verdadeiro patriota. No momento em que se consagra o fim do SMO quero afirmar que sempre fui a favor da conscrição, ou seja, do “alistamento militar”.
Acho que o fim do SMO é uma cobardia moral e um sinal de resignação patriótica.
A partir de agora o país ficará a dispor de forças militares profissionais. A maioria dos jovens nunca terá acesso à experiência militar. Nunca saberá manejar uma arma. Nunca terá a noção real do que é a defesa nacional. O país perderá um dos últimos redutos onde se exercitava o sentimento de pertença à comunidade nacional.
Ficam os ex-combatentes para o exercício da demagogia patrioteira. Ficam as compras de armamento para o aumento da despesa pública. Ficam os edifícios e os terrenos militares devolutos para combater o deficit.
O patriotismo virou negócio por grosso e a retalho. E negócio chorudo!
Pequenas coisas
Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.
Albano Martins
Escrito a vermelho
Campo das Letras
1999
1ª edição
Pó dos livros - 8
O teatro ocupou um lugar importante na formação da minha sensibilidade e cultura cívica. Fui iniciado, no liceu de Faro, pelo Prof. Joaquim Magalhães tendo prosseguido uma intensa experiência teatral, no Grupo de Teatro do Círculo Cultural do Algarve, sob a orientação do médico Emílio Campos Coroa, oriundo da escola do TEUC de Coimbra, dirigido por Paulo Quintela.
A todos eles, grandes figuras da cultura portuguesa, esquecidos mas nem por isso menos grandes, fiquei a dever, pela via do teatro, uma perspectiva humanista dos homens e do mundo.
Não admira que o “pó dos livros” revele a presença dos livros de teatro.
Aqui vão dois e um apontamento de uma experiência particular.
- “Teatro de Novos” – “Consultório” de Augusto Sobral e “O Pescador à Linha” de Jaime Salazar Sampaio – Arcádia, edição de 1961. Peças estreadas a 2 de Junho de 1961 no Teatro Nacional D. Maria II, com encenação de Artur Ramos. (Talvez o livro de teatro mais antigo que comprei por 15$00.) ;
- “Teatro Contemporâneo” – “problemas do jogo e do espírito” – Mário Vilaça, “um livro seleccionado por Vértice”, edição de autor – Coimbra, 1967.
Neste último, encadernado a “papel ferro”, com abundantes fotos, a preto e branco, se reúnem textos publicados em diversas revistas e publicações fazendo referências a autores, peças, escolas de teatro e técnicas. Reparo, em particular, num texto dedicado ao teatro moderno norte-americano em que se fala, entre outros, de Thornton Wilder.
Retenho que encenei e representei, num trabalho colectivo, no que chamávamos o “Teatro Sarrapilheira”, em Faro, a peça, em um acto, “A Longa Ceia de Natal”, desse grande autor norte-americano. A empresa foi levada a cabo com o beneplácito de Campos Coroa e sem autorização prévia do Governo Civil, cujo pedido tornaria a tarefa impossível. Uma representação única, clandestina, com a sala cheia.
Foi uma das experiências mais importantes da minha vida e ainda hoje, passados decénios, convivo mentalmente com os bastidores da acção, revejo os meus gesto em cena, assim como as faces e os corpos dos meus companheiros de aventura. Dessa experiência guardo, aliás, uma foto que sempre coloco em lugar de destaque.
terça-feira, setembro 28
Três boas notícias e uma má
Governo italiano confirma Reféns italianas libertadas
As duas italianas feitas reféns no Iraque no passado dia 7 foram libertadas, noticiou hoje a televisão Al-Jazira. O governo italiano já confirmou a libertação das duas jovens.
As duas italianas feitas reféns no Iraque no passado dia 7 foram libertadas, noticiou hoje a televisão Al-Jazira. O governo italiano já confirmou a libertação das duas jovens.
Polícia palestiniana anuncia Jornalista da CNN libertado
Colocação de professores Listas estão publicadas na net
As listas de afectação, destacamento e contratação de docentes foram hoje publicadas na Internet, informou o Ministério da Educação, numa nota à comunicação social. A publicação ocorre dois dias antes do fim do prazo dado pela ministra da Educação, Maria do Carmo Seabra, que terminava a 30 de Setembro.
Constâncio alerta para subida dos preços do petróleo Retoma em perigo
A manterem-se os actuais preços do petróleo irão cair por terra as previsões de crescimento económico. O alerta foi dado hoje pelo governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, que afirmou que caso o preço do barril se mantenha acima dos 50 dólares as previsões terão de ser revistas.
(Expresso on line)
"Uma política de rigor e contenção"
O Dr. Cordeiro, o “boticário mor do reino” (lembram-se?) tem sido recompensado pelo apoio encarniçado que prestou à maioria do governo. Aqui está o exemplo vivo de uma verdadeira política de rigor e contenção da despesa pública!...
"Despesas com medicamentos disparam
Comparticipação do Estado subiu 12 por cento
Os portugueses estão a gastar mais em medicamentos. De acordo com o Jornal de Negócios, esta subida reflectiu-se nas comparticipações do Estado, que aumentaram quase 12 por cento em relação aos primeiros oito meses do ano passado.
A despesa do Serviço Nacional de Saúde com os medicamentos vendidos nas farmácias disparou nos últimos meses. Segundo o Jornal de Negócios, até ao mês de Agosto, o Estado já tinha gasto 916 milhões de euros na comparticipação de medicamentos. Este crescimento de 11,8 por cento em relação aos primeiros oito meses de 2003, constitui também o maior aumento verificado desde 1997, ano em que os encargos do serviço nacional de saúde aumentaram 12,2 por cento.
"Despesas com medicamentos disparam
Comparticipação do Estado subiu 12 por cento
Os portugueses estão a gastar mais em medicamentos. De acordo com o Jornal de Negócios, esta subida reflectiu-se nas comparticipações do Estado, que aumentaram quase 12 por cento em relação aos primeiros oito meses do ano passado.
A despesa do Serviço Nacional de Saúde com os medicamentos vendidos nas farmácias disparou nos últimos meses. Segundo o Jornal de Negócios, até ao mês de Agosto, o Estado já tinha gasto 916 milhões de euros na comparticipação de medicamentos. Este crescimento de 11,8 por cento em relação aos primeiros oito meses de 2003, constitui também o maior aumento verificado desde 1997, ano em que os encargos do serviço nacional de saúde aumentaram 12,2 por cento.
O Ministro da Saúde já se manifestou preocupado com estes valores. Na semana passada, Luís Filipe Pereira considerou que, se aumenta o consumo de genéricos, o consumo de medicamentos de marca deveria baixar. Mas, ao contrário do que se estava à espera, mesmo com a introdução dos genéricos, a despesa continua a aumentar muito acima da inflação.
Só em Agosto o aumento foi superior a 16 por cento, relativamente ao mesmo período do ano passado. E em Março o aumento chegou aos 20 por cento. O Infarmed chegou a ameaçar alguns laboratórios de retirar a comparticiapação de medicamentos, que registaram um consumo "anómalo", mas até agora o instituto não avançou com nenhuma sanção aos laboratórios. O Ministro da Saúde garante que o Governo irá introduzir um conjunto de medidas para travar este crescimento da despesa do Estado. (Sic on line)
Imigração - ridículo
O ridículo de uma política da qual resulta objectivamente a imigração clandestina. O problema é grave.
"Sistema de quotas para a imigração só legalizou três pessoas
A tentativa do Governo de regular a imigração através do apuramento das necessidades de mão-de-obra no país - tarefa que coube ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) - não está a ter resultados. Dos 8500 imigrantes que deveriam entrar em Portugal este ano, no âmbito da quota definida pelo Governo, apenas três obtiveram o visto de trabalho que lhes permite estabelecerem-se em Portugal e apenas 60 se candidataram.” (Público)
Pó dos livros - 7
Os livros que me caem nas mãos não cessam de me surpreender e, por vezes, inquietar. Ou porque deles já não me lembrava, ou porque no seu corpo descubro detalhes inusitados, sublinhados surpreendentes, notas manuscritas, cartões com apontamentos, enfim, um mundo de descobertas.
- “Escrito Póstumos” – Pier Paolo Pasolini – Morais Editores – edição de 1979; extensamente sublinhado a lápis observo um artigo intitulado: “O coito, o aborto, a falsa tolerância do Poder e o conformismo dos progressistas” (19 de Janeiro de 1975, publicado no “Corriere della Sera”, com o título: “Eu sou contra o aborto”). Muito interessante.
- “O Príncipe” – Nicolau Maquiavel (comentado por Napoleão Bonaparte) – Livros de Bolso da “Europa América” – edição de 1972.
Reproduzo um sublinhado da minha leitura: “ Os homens são tão simples e tão obedientes às necessidades do momento, que quem engana encontra sempre quem se deixe enganar”.
E mais à frente: “Convém também notar que um príncipe, sobretudo quando é novo, não pode respeitar singelamente todas as condições segundo as quais se é considerado homem de bem, pois não raro, para conservar os seus Estados, se vê constrangido a agir contra a sua palavra, contra a caridade, a humanidade e a religião. É por isso que deve ter o entendimento treinado para virar conforme os ventos da fortuna e a mutabilidade das coisas lhe ordenem, e, como já disse, não se afastar do bem, se puder, mas enveredar pelo mal, se for necessário.”
segunda-feira, setembro 27
Caixa Geral de Depósitos
Ao ponto a que se chegou! As pessoas honestas, os gestores honrados, terem que dar explicações públicas acerca da sua conduta exemplar! Os outros, os habilidosos, os “sacristas”, em silêncio, escondem-se por detrás das decisões políticas que, por sua vez, se escondem por detrás dos regulamentos. Sempre a sacar…
"O ex-presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), António de Sousa, garantiu hoje em comunicado que não vai receber qualquer pensão de reforma do banco público.” (Expresso on line)
Queixa das almas jovens censuradas
Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.
Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.
Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.
Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.
Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.
Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.
Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.
Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.
Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.
Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.
Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.
Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.
Natália Correia
Poesia Completa
Publicações Dom Quixote
1999
(Para muitos de nós esta leitura é também um exercício musical, não é?)
Pó dos livros - 6
As tarefas de arrumação das estantes estão praticamente concluídas. Restam ainda alguns papéis e documentos. Mas nesta faceta a organização da minha pequena biblioteca está facilitada pois nunca segui o hábito de trazer para casa cópias dos dossiers dos meus vários exercícios profissionais.
Aqui identifico mais alguns livros marcantes que me surgiram a uma nova luz neste trabalho de arrumação:
“O Físico prodigioso” -novela – Jorge de Sena – Edições 70, 1979. (Uma das mais extraordinárias leituras da minha vida);
“O Fenómeno da Guerra” – Gaston Bouthoul – Ideias e Formas – Estúdios Cor, Edição de 1966; (repleto de sublinhados e anotações pois me lembro de ter sido uma leitura apaixonante da minha juventude – carece de restauro);
“Lenine, seguido de um texto de André Breton” – Trotsky – Edições “& etc”; (com uma nota manuscrita assinalando que deve ter sido comprado, em Faro, no verão de 1978);
“O Judeu – Narrativa dramática em três actos” – Bernardo Santareno – Edições Ática, edição de 1966; (livro que sempre me acompanhou desde a época das minhas práticas teatrais contemporâneas desta primeira edição).
Para os menos relacionados com o conhecimento do teatro português e com o teor desta obra, que versa o sacrifício às mãos da inquisição de António José da Silva – o Judeu, aqui reproduzo um excerto do final do 3º Acto:
“Olhai que o Santo Tribunal da Inquisição mais não é que o corpo visível, a aparência mortal dum espírito de trevas, e que este espírito … vivo por certo persistirá, neste Nação, muito tempo ainda após a morte do Santo Ofício!”
E, ainda, o último parágrafo da narrativa: “À medida que a obscuridade vai tomando o palco, ilumina-se o vitral de fundo: este deixar-nos-á ver as chamas duma fogueira, cada vez mais altas, até que por inteiro o enchem. Atingem o máximo, o canto inquisitorial e o ódio sanguinário do povo.”
Dedico esta evocação ao meu amigo Eduardo Ferro Rodrigues que, por estes dias, cessou as funções de Secretário-geral do Partido Socialista.
domingo, setembro 26
David Justino
Li as entrevistas de David Justino. Entrevistas aos molhos. Muitas. Acerca do colapso na colocação dos professores. Percebe-se a sua preocupação. Diz que fala porque o silêncio é ensurdecedor. Aqueles que deveriam falar estiveram calados. É sintomático que insista sempre no mesmo ponto: os responsáveis pelo colapso foram outros. Os detalhes são de somenos importância. O que interessa é afastar a responsabilidade.
É um exercício desesperado que, por vezes, atinge o patético. Afirma-se solitário, mas não solidário. Afirma-se responsável político, mas não técnico. Assume a paternidade pela arquitectura global da política educativa, que desenvolveu, mas empurra para outros a responsabilidade pelos processos destinados a pô-la em prática.
Explicita, de forma consciente, fracturas profundas no seio do anterior governo. Nada que já não se soubesse. Mas desta vez as fracturas são assumidas por um protagonista dos acontecimentos. Afirma que precisou de 5 anos para se preparar para ser ministro da educação e diz compreender as dificuldades de quem tem de aprender a exercer o cargo “em exercício”. Marca assim a distância face à actual titular do cargo. No fundo confirma que a coligação PSD/PP nunca funcionou, nem funciona, na execução de políticas públicas essenciais. E envia um “aviso à navegação” para o interior do PSD.
Como diz Veiga Simão, numa estranha entrevista à Visão: ”Os partidos não são escolas de pensamento, são escolas de interesses”. Está tudo dito !
O horror dentro do horror
Uma criança assassinada pela própria mãe. É essa a notícia e parece, quase certo, ser essa a realidade. É o supremo horror, a máxima degradação da condição humana, a miséria moral absoluta. Mas não é menos horrível a sanha popular, as palavras de ódio desapiedadas, a exploração da sanha irracional dos populares em directo pela TV. A miséria da condição humana servida, em directo, à hora do jantar. É o que vende que passa. Só falta o crime em directo. O horror dentro do horror. Vamos a caminho…
sábado, setembro 25
Apura-se e empurra-se
Alguém disse que o colapso da colocação dos professores é pior do que a queda da ponte de Entre-os-rios. É uma fórmula de chamar a atenção para a gravidade deste colapso.
Nestes dias sucedem-se os acontecimentos. Desde pedidos de desculpa aos portugueses, passando por anúncios de inquéritos, até abundantes declarações dos ex-responsáveis governamentais pela educação.
Resumindo: apura-se e empurra-se. O saldo final, ou muito me engano, vai ser um empate a zero. Os responsáveis pelo colapso não vão aparecer. Ao menos no caso de Entre-os-rios o ex-ministro Jorge Coelho demitiu-se na hora.
Se o PS actuar à maneira da coligação PSD/PP vai insistir neste colapso, todos os dias, até ao final da legislatura. Mas, ao menos, que comecem as aulas.
"A cena
Ele sempre considerou a “cena” (doméstica) como uma experiência pura de violência, a tal ponto que, onde quer que ouça uma, tem sempre medo, como uma criança tomada de pânico por causa das discussões dos pais (foge sempre dela, descaradamente). A cena tem uma repercussão assim tão grave porque põe a nu o cancro da linguagem. O que a cena diz é que a linguagem é impotente para fechar a linguagem: engendram-se as réplicas sem qualquer outra conclusão que não seja a do assassínio; e é por estar inteiramente voltada para esta última violência que a cena, todavia, nunca assume (pelo menos entre pessoas “civilizadas”) o facto de ser uma violência essencial, uma violência que tem prazer em se alimentar: terrível e ridícula, à maneira dum homeostato de ficção científica.
(Passando para o teatro, a cena domestica-se. O teatro doma-a quando a obriga a terminar: uma paragem da linguagem é a maior violência que se pode exercer na violência da linguagem.)
Ele tolerava mal a violência. Esta disposição, embora permanentemente verificada, continuava a ser para ele bastante enigmática; mas ele sentia que a razão dessa intolerância devia ser procurada por este lado: a violência organizava-se sempre como cena: a mais transitiva das condutas (eliminar, matar, ferir, dominar, etc.) era também a mais teatral, e era, em suma, a esta espécie de escândalo semântico que ele resistia (pois não se oporá o sentido por natureza ao acto?); ele não podia deixar de entrever bizarramente em toda a violência um nó literário: quantas cenas conjugais não poderão ser agrupadas segundo o modelo de um grande quadro de pintura: A Mulher Expulsa ou ainda O Repúdio? Toda a violência é afinal a ilustração dum estereótipo patético e, bizarramente, a maneira absolutamente irrealista pela qual se decora e sobrecarrega o acto violento – maneira ao mesmo tempo expeditiva e grotesca, activa e cristalizada – era o que o levava a ter pela violência um sentimento que ele não conhecia em mais nenhuma ocasião: uma espécie de severidade (pura reacção de amanuense, sem dúvida).”
"Roland Barthes por Roland Barthes" -
(Fragmento 1 de 2, pag. 16)
Edição portuguesa: "Edições 70"
(Passando para o teatro, a cena domestica-se. O teatro doma-a quando a obriga a terminar: uma paragem da linguagem é a maior violência que se pode exercer na violência da linguagem.)
Ele tolerava mal a violência. Esta disposição, embora permanentemente verificada, continuava a ser para ele bastante enigmática; mas ele sentia que a razão dessa intolerância devia ser procurada por este lado: a violência organizava-se sempre como cena: a mais transitiva das condutas (eliminar, matar, ferir, dominar, etc.) era também a mais teatral, e era, em suma, a esta espécie de escândalo semântico que ele resistia (pois não se oporá o sentido por natureza ao acto?); ele não podia deixar de entrever bizarramente em toda a violência um nó literário: quantas cenas conjugais não poderão ser agrupadas segundo o modelo de um grande quadro de pintura: A Mulher Expulsa ou ainda O Repúdio? Toda a violência é afinal a ilustração dum estereótipo patético e, bizarramente, a maneira absolutamente irrealista pela qual se decora e sobrecarrega o acto violento – maneira ao mesmo tempo expeditiva e grotesca, activa e cristalizada – era o que o levava a ter pela violência um sentimento que ele não conhecia em mais nenhuma ocasião: uma espécie de severidade (pura reacção de amanuense, sem dúvida).”
"Roland Barthes por Roland Barthes" -
(Fragmento 1 de 2, pag. 16)
Edição portuguesa: "Edições 70"
sexta-feira, setembro 24
Desabafo
"Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa."
(Eça de Queirós)
(Eça de Queirós)
Volta Eça que fazes cá falta, digo eu.
Abraço
F.
Pó dos livros - 5
Não foi uma descoberta nem um reencontro. É o livro dos livros. Era a biblioteca da casa dos meus avós (maternos). Camponeses de um Algarve seco e pobre das primeiras décadas do Sec. XX. Tempos atrás mandei-o encadernar. Ficou como novo.
É uma edição de 1867 impressa em Lisboa pela Typographia Universal de Thomaz Quintino Antunes, Rua dos Calafates, 110.
É a Bíblia Sagrada: “O Novo e o Velho Testamento traduzida em portuguez segundo a vulgata latina por António Pereira de Figueiredo”.
Noutros tempos foi um livro grosso para o meu olhar juvenil. Mais de mil páginas, a duas colunas, letras miúdas e bem arrumados em capítulos e começa assim:
GENESIS - Em Hebraico Beresith
É uma edição de 1867 impressa em Lisboa pela Typographia Universal de Thomaz Quintino Antunes, Rua dos Calafates, 110.
É a Bíblia Sagrada: “O Novo e o Velho Testamento traduzida em portuguez segundo a vulgata latina por António Pereira de Figueiredo”.
Noutros tempos foi um livro grosso para o meu olhar juvenil. Mais de mil páginas, a duas colunas, letras miúdas e bem arrumados em capítulos e começa assim:
GENESIS - Em Hebraico Beresith
Capítulo I
“1. No princípio creou Deus o Ceo e a Terra. 2. A terra porém era vã e vazia: e as trevas cobriam a face do abysmo: e o espirito de Deus era levado sobre as águas. 3. E disse Deus: faça-se a luz; e foi feita a luz. ...”
Este livro é o sinal de uma cultura e civilização a cuja matriz fundadora não pude escapar.
“1. No princípio creou Deus o Ceo e a Terra. 2. A terra porém era vã e vazia: e as trevas cobriam a face do abysmo: e o espirito de Deus era levado sobre as águas. 3. E disse Deus: faça-se a luz; e foi feita a luz. ...”
Este livro é o sinal de uma cultura e civilização a cuja matriz fundadora não pude escapar.
quinta-feira, setembro 23
Sagrado coração
Sagrado coração de Maria, Deus nos acuda, nem tudo vai mal, há esperanças de salvação, a pasta da justiça é virtuosa, valeu a pena o sacrifício, os amigos são para as ocasiões, a pasta das finanças permite fazer o bem, o senhor presidente é muito boa pessoa, é comovente ver o seu sofrimento, o que não tem solução solucionado está, dizia o meu saudoso pai. Amén.
Houve em tempos uma guerra...
(...) As pessoas queixam-se de que tratamos os animais como objectos, mas, na realidade tratamo-los como prisioneiros de guerra . Sabes que, quando, pela primeira vez, se abriram ao público os jardins zoológicos, os zeladores tinham de proteger os animais dos ataques dos visitantes? Os visitantes achavam que os animais estavam ali para serem insultados e abusados, como prisioneiros depois da vitória. Houve, em tempos, uma guerra contra os animais a que chamámos caça embora de facto, guerra e caça sejam a mesma coisa (Aristóteles percebeu-o com toda a clareza). Essa guerra durou milhões de anos. Só há uns séculos atrás a ganhámos quando inventámos as armas. Só depois da vitória estar consolidada é que nos pudémos dar ao luxo de cultivar a compaixão. Mas a nossa compaixão é muito superficial. Por baixo dela existe uma atitude mais primitiva. O prisioneiro de guerra não pertence à nossa tribo. Podemos fazer dele o que quisermos. Podemos sacrificá-lo aos nossos deuses. Podemos degolá-lo, arrancar-lhe o coração, lançá-lo às chamas. Quando se trata de prisioneiros de guerra não há leis.
J.M. Coetzee, Elisabeth Costello, romance ed D. Quixote, p 106,
in cap. 4 As Vidas Dos Animais, Os poetas e os animais.
quarta-feira, setembro 22
Não há problema...
O discurso da tanga. O desastre do deficit excessivo. Os anúncios da “pesada herança” em grandes parangonas no país e no estrangeiro. Os artigos, e os discursos cirúrgicos, do Prof. Cavaco Silva acerca do “monstro”. A “entrada de leão”: muda-se tudo porque está tudo mal.
Foi assim o tempo todo por quase todo o lado. Dois anos a zurzirem no passado. A destruir organismos. A criar organismos. A fundir organismos. A anunciar a extinção de organismos. A anunciar a separação de organismos. A nomear, a sanear e a sacanear dirigentes e trabalhadores.
A fazer leis orgânicas que nunca entraram em vigor. A desmontar equipas. A desfazer projectos. A sindicar, a auditar, a inspeccionar. A dar caça aos “infiéis”. A humilhar e a queimar na fogueira do “santo ofício” da comunicação social a reputação de gente honesta e dedicada.
A exercer o cinismo mais abjecto. Uma hipocrisia de sacristia. A mentira mais sofisticada. A fazer e a desfazer contratações. A esconder o real aumento da despesa pública. A vender o património público. A colocar o estado de joelhos perante o sacrossanto mercado. Sem recursos nem orientações. Anos a fio.
Os heróis da reforma do Estado desapareceram como ratos pelas sarjetas. O ministros desaparecem e não falam. Ninguém da comunicação social os “obriga” a falar. Os jornalistas de investigação não se interessam pelos problemas importantes do país. Chafurdam no esterco. Obedecem à voz do dono.
A “política da mudança” deu nisto! Depois queixem-se dos discursos do Alberto João Jardim! Não há problema...
Professores 1 - Educação 0
Os professores estão na ordem do dia. No entanto ninguém fala do seu papel no processo educativo. No processo de inclusão social dos jovens e no apoio às famílias. Da sua formação ou falta dela. Da sua itinerância forçada. Da sua profissionalização. Do seu saber. Nada se fala das questões da qualidade. Nada se diz acerca do programa de combate ao abandono escolar anunciado, tempos atrás, pelo governo. Nada se fala acerca da reforma. Nada se fala acerca do fecho de escolas com menos de 10 alunos. E também quase nada se fala acerca do papel das autarquias, das associações de pais, de estudantes e dos sindicatos Fala-se muito de professores. Mas não se fala nada de educação. Professores 1-Educação 0.
terça-feira, setembro 21
Professores colocados com atraso e…à mão
Um dia, andava eu no liceu, reparei, como todos os meus colegas, que o professor Almodoval (julgo não errar no nome) trazia, durante todo o Inverno, sempre a mesma gabardina com um remendo bem à vista de qualquer olhar menos atento. No ano seguinte igualmente.
O Prof. Neves vestia com a modéstia de um sábio pouco preocupado com as aparências. No ano seguinte igualmente. Eram excelentes os professores Almodoval e Neves, assim como tantos outros que conheci no Liceu de Faro.
A permanência dos professores nas escolas era assegurada por um par de anos razoável. Todos se lembram das carreiras de professores poetas consagrados como Régio, ligado a Portalegre ou Gedeão, ligado a Lisboa. Ficaram muitos anos a leccionar no mesmo liceu.
Eu sei que o liceu, nessa época, era frequentado por um número de alunos incomparavelmente inferior aos liceus dos nossos dias. Da frequência do ensino liceal restrita a uma elite de privilegiados, passamos, em poucas décadas, felizmente, para a frequência em massa dos liceus abarcando, tendencialmente, a totalidade dos jovens portugueses em idade escolar. A natureza do processo educativo mudou.
Mas serve a evocação para, sem saudosismo, lembrar que não mudou o valor inestimável da sobriedade, da competência, da modéstia, do saber e da estabilidade no exercício da função docente. Assim sejamos capazes de aplacar a ira do fascínio pela sociedade da informação, da mobilidade e do consumo para dar à escola pública a capacidade (em recursos, qualidade e autenticidade) de reter, por mais e melhor tempo, alunos e professores. É essa uma das questões que está escondida por detrás deste problema da colocação dos professores.
Paradoxalmente, na sociedade da informação, os professores vão ser, finalmente, colocados nas escolas, com atraso e …à mão. Pode ser, quem sabe, um bom sinal!
O Prof. Neves vestia com a modéstia de um sábio pouco preocupado com as aparências. No ano seguinte igualmente. Eram excelentes os professores Almodoval e Neves, assim como tantos outros que conheci no Liceu de Faro.
A permanência dos professores nas escolas era assegurada por um par de anos razoável. Todos se lembram das carreiras de professores poetas consagrados como Régio, ligado a Portalegre ou Gedeão, ligado a Lisboa. Ficaram muitos anos a leccionar no mesmo liceu.
Eu sei que o liceu, nessa época, era frequentado por um número de alunos incomparavelmente inferior aos liceus dos nossos dias. Da frequência do ensino liceal restrita a uma elite de privilegiados, passamos, em poucas décadas, felizmente, para a frequência em massa dos liceus abarcando, tendencialmente, a totalidade dos jovens portugueses em idade escolar. A natureza do processo educativo mudou.
Mas serve a evocação para, sem saudosismo, lembrar que não mudou o valor inestimável da sobriedade, da competência, da modéstia, do saber e da estabilidade no exercício da função docente. Assim sejamos capazes de aplacar a ira do fascínio pela sociedade da informação, da mobilidade e do consumo para dar à escola pública a capacidade (em recursos, qualidade e autenticidade) de reter, por mais e melhor tempo, alunos e professores. É essa uma das questões que está escondida por detrás deste problema da colocação dos professores.
Paradoxalmente, na sociedade da informação, os professores vão ser, finalmente, colocados nas escolas, com atraso e …à mão. Pode ser, quem sabe, um bom sinal!
O ritmo
Ele sempre acreditou nesse ritmo grego, na sucessão da Ascese e da Festa, no desencadeamento duma pela outra (e de forma alguma no ritmo insípido da modernidade: trabalho/lazer). Era precisamente o ritmo de Michelet ao passar, na sua vida e no seu texto, por uma série de mortes e ressurreições, enxaquecas e entusiasmos, narrativas (ele "remava" em Luís XI) e quadros (aí a sua escrita desabrochava). Foi o ritmo que de certo modo conheceu na Roménia, onde, por virtude de um costume eslavo ou balcânico, as pessoas se encerravam periodicamente, durante três dias na Festa (jogos, comida, vigília e o resto: era o "Kef").
Assim, na sua própria vida, esse ritmo é permanentemente procurado; não só é necessário que durante o dia de trabalho haja em vista o prazer à noite (o que é banal) como também, complementarmente, surja da noite feliz, mais para o fim dela, o desejo de chegar muito depressa ao dia seguinte a fim de recomeçar o trabalho (de escrita).
(De reparar que o ritmo não é obrigatoriamente regular: Casals dizia muito bem que o ritmo é o retardo.)
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 38
(Fragmento 2 de 2, pag. 15)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Nesta página escrevi: "Barthes, o autor, não é o meu ídolo. É um pretexto agora instrumento do meu desejo de ser identificado com uma reflexão que se propõe essencialmente para agradar".
Assim, na sua própria vida, esse ritmo é permanentemente procurado; não só é necessário que durante o dia de trabalho haja em vista o prazer à noite (o que é banal) como também, complementarmente, surja da noite feliz, mais para o fim dela, o desejo de chegar muito depressa ao dia seguinte a fim de recomeçar o trabalho (de escrita).
(De reparar que o ritmo não é obrigatoriamente regular: Casals dizia muito bem que o ritmo é o retardo.)
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 38
(Fragmento 2 de 2, pag. 15)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Nesta página escrevi: "Barthes, o autor, não é o meu ídolo. É um pretexto agora instrumento do meu desejo de ser identificado com uma reflexão que se propõe essencialmente para agradar".
Agora é que é…
Quando se entra a matar. Se rejeita a herança. Se humilham os adversários. Se prometem impossíveis. Se mente e desmente sem cessar. Se ignora a matéria governar. Se sabe que o tempo é escasso e impiedoso. Se fica crispado.
Quando para tudo, agora é que é…a grande oportunidade. A pouco e pouco, começa a chegar a hora da verdade.
Quando para tudo, agora é que é…a grande oportunidade. A pouco e pouco, começa a chegar a hora da verdade.
segunda-feira, setembro 20
Ministério do Turismo
O artigo com o título em epígrafe publicado, em inícios de Agosto, no "Semanário Económico" e retomado pela revista "Turismhotel" está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.
O pó dos livros - 4
Não foi propriamente uma descoberta surpreendente. A novidade foi ter confirmado que o livro estava lá. É um dos livros que mais prazer me deu ler. Foi há muitos anos. Mas, a certa altura, perdi-o. Alguém deve ter achado muito interessante a mesma leitura. E esqueceu-se de mo devolver.
Fiquei com uma pena de morte. Reconheço que não é propriamente um clássico que prestigie intelectualmente o leitor. Mas foi uma leitura de época. Daquelas que nos marcam, vá lá saber-se porquê!
Um dia, passados para aí uns 20 anos, ao descer a rua da Trindade, vindo da Cotovia, onde tinha ido comprar "Bagagem", de Adélia Prado, para oferecer a um amigo, resolvi entrar no "Rei dos Livros". Dirigi-me ao balcão e disparei: "Não terá, por acaso, por aí um livro, assim e assim, uma edição antiga, julgo que de uma editora brasileira, ando atrás dele vai para 20 anos...".
O homem olhou para mim com um ar de estranha compaixão que me deu esperanças! Emitiu um monossílabo do género "Um momento...".
Dirigiu-se à sala dos fundos. Pouco depois surgiu com um volume nas mãos. Eu não queria acreditar. Era mesmo o livro que eu, em vão, tinha procurado durante tantos anos: "A minha vida com Picasso", de Françoise Gilot e Carlton Lake.
Vieram-me as lágrimas aos olhos. Agradeci, não sei com que palavras. Paguei 15 euros, uma ninharia. Saí. Senti o ar mais leve e perfumado. Agora só tenho que o mandar encadernar e nunca mais o emprestar a ninguém.
(Françoise Gilot foi companheira de Picasso entre 1943 e 1953. A edição original é da "Europa América" (portuguesa) a partir de uma edição americana da McGraw-Hill Book Company. A tradução do inglês é de Cármen Gonzalez e de António Ramos Rosa. Mas a edição que encontrei é uma reprodução integral da edição portuguesa realizada pela "Editôra Somabaia" e foi impresso no Brasil.)
Fiquei com uma pena de morte. Reconheço que não é propriamente um clássico que prestigie intelectualmente o leitor. Mas foi uma leitura de época. Daquelas que nos marcam, vá lá saber-se porquê!
Um dia, passados para aí uns 20 anos, ao descer a rua da Trindade, vindo da Cotovia, onde tinha ido comprar "Bagagem", de Adélia Prado, para oferecer a um amigo, resolvi entrar no "Rei dos Livros". Dirigi-me ao balcão e disparei: "Não terá, por acaso, por aí um livro, assim e assim, uma edição antiga, julgo que de uma editora brasileira, ando atrás dele vai para 20 anos...".
O homem olhou para mim com um ar de estranha compaixão que me deu esperanças! Emitiu um monossílabo do género "Um momento...".
Dirigiu-se à sala dos fundos. Pouco depois surgiu com um volume nas mãos. Eu não queria acreditar. Era mesmo o livro que eu, em vão, tinha procurado durante tantos anos: "A minha vida com Picasso", de Françoise Gilot e Carlton Lake.
Vieram-me as lágrimas aos olhos. Agradeci, não sei com que palavras. Paguei 15 euros, uma ninharia. Saí. Senti o ar mais leve e perfumado. Agora só tenho que o mandar encadernar e nunca mais o emprestar a ninguém.
(Françoise Gilot foi companheira de Picasso entre 1943 e 1953. A edição original é da "Europa América" (portuguesa) a partir de uma edição americana da McGraw-Hill Book Company. A tradução do inglês é de Cármen Gonzalez e de António Ramos Rosa. Mas a edição que encontrei é uma reprodução integral da edição portuguesa realizada pela "Editôra Somabaia" e foi impresso no Brasil.)
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