quarta-feira, outubro 6

"A simbólica de Estado

Escrevo o que se segue num sábado, 6 de Abril de 1974, dia de luto nacional em memória de Pompidou. Durante o dia inteiro na rádio, “boa música” (para os meus ouvidos): Bach, Mozart, Brahms, Schubert. A “boa música” é portanto uma música fúnebre: há uma metonímia oficial que une a morte, a espiritualidade e a música de classe (nos dias de greve só se ouve “má música”). A minha vizinha, que ouve habitualmente música pop, hoje não ligou o rádio. Ficamos assim os dois excluídos da simbólica do Estado: ela porque não suporta o seu significante (a “boa música”), eu porque não suporto o seu significado (a morte de Pompidou). Esta dupla amputação não tornará a música assim manipulada num discurso opressivo?”

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 43
(Fragmento 1 de 3, pag. 19)

Edição portuguesa: "Edições 70"

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