terça-feira, outubro 26

Desemprego cai em Espanha

O "El País" dá notícias acerca do desemprego em Espanha. Os socialistas desenvolvem estranhas políticas que deviam ser estudadas ou, quem sabe, investigadas. À consideração superior.

"El paro cae al 10,54% en el tercer trimestre, la tasa más baja en tres años La EPA comunica 61.300 parados menos de julio a septiembre - Las mujeres se benefician de la mayor parte del empleo creado, aunque el paro femenino duplica al masculino.

El paro se redujo en 61.300 personas durante el tercer trimestre del año, un periodo en el que se crearon 190.400 puestos de trabajo. Con ello se redujo el número total de parados a 2.031.300, el 10,54% del total de personas en disposición de trabajar.


Según la Encuesta de Población Activa (EPA) difundida hoy por el Instituto Nacional de Estadística (INE), el empleo generado ha llevado la cifra de ocupados a rebasar los 17,24 millones de personas aunque aumenta fuertemente la precariedad laboral: de los casi 200.000 nuevos asalariados, 179.600 son temporales."

El País

segunda-feira, outubro 25

Clara Ferreira Alves

A admirável coragem de dizer não. Neste caso ao Diário de Notícias. Os meus aplausos.

O IRS para os pobres

Sou um contribuinte vulgar e cumpridor. Julgo eu. Estou à espera que me seja enviada a “via verde” do Dr. Bagão Félix. Também pertenço àquela minoria de ricos do PS que não estão representados pelo partido dos pobres do Dr. Paulo Portas.

Mas, como se sabe, os pobres são mal agradecidos como ficou provado pelos recentes resultados eleitorais nos Açores e na Madeira. Os pobres na expectativa de ficarem ricos, com as benesses do governo do Dr.Portas, começam a preparar-se para votar no Partido dos ricos. Antecipam, simplesmente, uma expectativa. Vem nos livros. O Dr. Sócrates rejubila.

O Dr. Portas e o Dr. Bagão com os seus anúncios de combate aos ricos e remediados acabarão por não satisfazer ninguém. A minha experiência diz-me que os pobres são uns ingratos. Dá-se-lhes uma sopa, daquelas suculentas, e começam logo a reclamar pelo bife e a encontrar defeitos na sopa, que está aguada, que está requentada, quente, azeda...vejam o caso dos ex-combatentes.

Mas, hoje, preocupa-me, como contribuinte, a comezinha questão do calendário. Recebi, um destes dias, a “nota de liquidação” do IRS referente a 2003. Hoje, dia 25 de Outubro, é o último dia do prazo de pagamento desse IRS do meu agregado familiar. Pelo sim pelo não paguei ontem. Tudo bem. Está pago.

Vejamos o que se vai passar a partir de 2005 deixando de lado esses detalhes menores que preocupam os economistas e comentadores, tais como a coerência da política económica no decurso do tempo, a utilização repetida de receitas extraordinárias para cumprir o déficit, a criação da “polícia fiscal” ou os critérios para a formação da nova super estrutura dirigente da administração fiscal.

O IRS, referente a 2005, é apresentado como beneficiando todos os contribuintes com excepção de uma minoria estimada, hoje no Público”, em 165.000. São os tais ricos que o PP diz que o PS defende. Não vou discutir os méritos ou deméritos da política fiscal em sede de IRS pois não conheço senão anúncios. Interessa-me, neste momento, a questão do calendário.

Ora o calendário das cobranças e notificações do IRS é determinado pelo Governo. No caso do IRS, referente ao ano fiscal de 2005, essas notificações, naturalmente, ocorrerão no ano de 2006. As “notas de liquidação” chegarão, pois, às mãos dos contribuintes no decurso de 2006. O segredo está na determinação do momento exacto mas essa decisão ficará nas mãos do governo. Dir-se-á sempre que calendário é calendário.

Mas sempre se poderá dizer, sem risco de errar, que, para além de outras medidas emblemáticas em "benefício dos pobres" que, a seu tempo, virão a lume, os contribuintes a reembolsar receberão o cheque no tempo oportuno e os que tiverem que pagar receberão a conta no tempo certo. É que as eleições legislativas, em calendário normal, terão lugar exactamente em Outubro de 2006.

Aqui está a política económica, neste caso, na sua vertente fiscal, reduzida a uma mera operação de propaganda eleitoral. Tudo ao contrário do programa anunciado pelo Dr. José Manuel Barroso que foi em quem os portugueses, por uma maioria escassa, votaram para ser governo. Tudo preparado com antecedência e requinte. E a procissão ainda vai no adro.

Guerra Junqueiro

Aproveitando para apresentar o blog Ilhas um texto magnífico de Guerra Junqueiro.

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;

um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta(...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria.A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896


Germana Tânger e o poema "Aniversário" de Álvaro de Campos

Acabo de ver e ouvir, por acaso, na “SIC Mulher”, uma entrevista com Germana Tânger. Grande declamadora de poesia, como me apetece dizer, agora com 84 anos e muitas histórias para contar.

Mora numa casa ao lado daquela onde nasceu Pessoa. Pessoa e os poetas do Orfeu foram os que mais disse na sua longa vida de divulgadora infatigável da poesia. Vai ser agora editado um “audio-livro”, pela Assírio e Alvim, com poemas de Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mário Sá Carneiro ditos por ela.

O programa acabou com Germana Tânger dizendo o poema de Álvaro de Campos, “Aniversário”.

Recusou o livro para o dizer de cor. O que na televisão pode ser uma tragédia para um artista vulgar não o foi para ela. Esqueceu-se de um verso e, provavelmente, enganou-se noutros. Mas disse o poema de cor. E o essencial estava lá. Aqui está o poema com as desculpas por algum erro pois é tarde e não tenho tempo de o rever em todo o seu detalhe.


Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,

O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,

Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...

A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


Álvaro de Campos




domingo, outubro 24

Centro Integrado de Lazer do Alamal - Gavião

As pesquisas, buscando informação acerca deste Centro, têm sido sempre muito abundantes desde a publicação de um post anterior referindo o seu projecto de arquitectura e os autores do mesmo.

Correspondendo a essa curiosidade disponibilizo no IR AO FUNDO E VOLTAR o texto da minha intervenção aquando da sua inauguração.

Nesse texto são definidos os contornos do conceito subjacente à realização daquele projecto que se mantem plenamente actual e é um contributo concreto para uma estratégia de desenvolvimento sustentável muito "badalada", no nosso país, mas muito pouco praticada.

Pobres e Ricos

Vale a pena ler no "Público".
Artigo de FREI BENTO DOMINGUES com o título em epígrafe.

Kerry avança

POST EDITORIAL
John F. Kerry for President
The Washington Post endorses Sen. John F. Kerry for president.

EUA: Washington Post anuncia apoio a John Kerry

Washington, 24 Out (Lusa) - O Washington Post, um dos mais importantes e influentes jornais norte-americanos, anunciou hoje o seu apoio à eleição de John Kerry para presidente dos Estados Unidos.
O Post, que segue o exemplo de jornais igualmente influentes com o New York Times e o Chicago Tribune, faz uma análise aos pontos fortes e fracos de cada um dos dois candidatos para concluir que a melhor opção de voto é no senador democrata do Masachusetts.
"Acreditamos que John Kerry, com a sua promessa de decisão, temperada por sabedoria e abertura de espírito, é o que dá mais garantias em termos de confiança do país para o liderar nos próximos quatro anos", escreve o jornal, em editorial.

sábado, outubro 23

Abandono Escolar em Espanha

"El 26% de los alumnos no logra acabar la enseñanza obligatoria
Asturias, País Vasco y Navarra obtienen los mejores resultados frente a Canarias y Extremadura

Finalizado el desarrollo de la educación secundaria obligatoria (ESO) como único sistema educativo de los 12 a los 16 años, el fracaso escolar no ha disminuido. Los chicos que abandonan las aulas sin conseguir el título oficial rondan el 26% (la media europeo es del 20%), según un estudio presentado ayer. El fracaso escolar sube hasta un 32% en Canarias y baja casi al 14% en Asturias. Entre una y otra comunidad discurren todas las demás con resultados dispares que responden a la inversión pública en educación, a la renta per cápita y la cultura de las familias o al gasto por alumno."

El País

Segundo este estudo em Espanha não se tem verificado uma evolução positiva no que respeita ao "abandono escolar". Qual terá sido a evolução mais recente em Portugal? Num trabalho que publiquei, tempos atrás, disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR, Portugal apresentava, segundo as últimas estatísticas da UE, uma taxa de abandono escolar mais que dupla da média da UE.


Preocupações para quê?

Não vale a pena estarem preocupados. A liberdade não está em risco. Um dia um insígne dirigente político do continente, afecto à maioria de direita, disse que Portugal ainda se iria transformar numa imensa Madeira. A liberdade não está em risco. Mas vamos a caminho da Madeira em marchas forçadas. Resta o problema dos conceitos de liberdade, justiça e democracia. Quem cuida de assegurar que as práticas dos governantes correspondem aos conceitos e princípios consagrados na Constituição e nas leis? Alguém, hoje, tem a certeza de saber responder?

sexta-feira, outubro 22

O Nobel de Economia, o Orçamento e o Fórum

O artigo, com o título em epígrafe, publicado na edição de hoje do "Semanário Económico" está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.

"A estratégia da Aranha"

Miguel Sousa Tavares descreve, hoje, no Público, de forma directa e sem meias palavras, o que se está a passar no nosso país. Claro que há gente séria e impoluta na comunicação social mas a minha experiência pessoal permite-me confirmar as palavras certeiras de MST e “assinar por baixo”.

“O processo está em curso, a intimidação e o medo estão instalados e o objectivo claro é garantir a reeleição deste Governo, não pelos seus méritos, mas pela propaganda maciça, e com menos "contraditório" quanto possível dos seus supostos ou reais méritos.

É a "italianização" da vida política portuguesa, umas vezes feita subtilmente, outras vezes com a falta de jeito que caracteriza os ministros Gomes da Silva ou Morais Sarmento.

A teia vai-se tecendo e não dispensa coisas tão rasteiras como o suborno de jornalistas e de chefias, os "avisos de amigos" ou as soluções finais de silenciamento e afastamento, quando nada mais resulta.

Acreditem: sei do que falo, conheço esta gente e os seus métodos, sei o que os move e aquilo de que são capazes.”

Imortalidade

A única notícia que, verdadeiramente, me assustou, nos últimos tempo, foi uma nota necrológica, num jornal de referência, que anunciava a minha morte. FALECEU – EDUARDO GRAÇA.

Depois do destaque vinha o real desmentido através do título de nobreza do falecido.

Alguns políticos deveriam ser confrontados com notas necrológicas deste tipo mas sempre nos jornais de referência. Seguidas, é claro, de um desmentido oficial preparado cuidadosamente pela “central de informações”. Dessa forma quando se finassem mesmo, no plano político, claro, ninguém acreditaria e, dessa forma, sentir-se-iam imortais.

quinta-feira, outubro 21

Ranking da corrupção

Veja ranking completo de países sobre corrupção no mundo

In "Diário de Lisboa"



Uma realidade surreal

Isto parecem ideias demais, excesso nos erros e erros excessivos, frenética descoordenação, exercícios de fogo real com tiros de pólvora seca e de balas perdidas. São erros demais para ser verdade. Não se passa nada? A realidade foi suspensa? Decisões políticas? Negócios? Nomeações? Não estão a acontecer? O fogo de artifício serve para esconder a realidade! Ou é mesmo este o modelo de governação de que são capazes? São maus ou fingem que são maus? É um exercício para nos mostrar o que é um bom governo? Por negação! Uma realidade surreal! Ler hoje “pobre país” no abrupto.

quarta-feira, outubro 20

Luta Estudantil

As notícias acerca dos acontecimentos na Universidade de Coimbra não têm tido grande destaque na comunicação social. Têm mesmo suscitado um tipo de comentários que me fazem lembrar aqueles que os “ultras” do Estado Novo aplicavam a todas as movimentações de contestação estudantil: “grupos minoritários”, “perturbadores de ordem pública” e por aí adiante.

Para meu espanto ninguém parece dar a devida importância aos sinais que estas manifestações enviam às autoridades universitárias, governamentais e, em geral, à sociedade portuguesa. Mal-estar profundo, sentimentos de frustração e de revolta, desespero face às perspectivas de futuro, desconfiança no sistema político-administrativo, enfim, crise de regime. As manifestações das chamadas minorias estudantis espelham um profundo mal estar de que está impregnada toda a sociedade portuguesa.

O governo não entendem ou fazem por não entender; as autoridades universitárias não entendem ou fazem por não entender, mas os acontecimentos que estão em curso, que já atingiram o estádio da violência, independentemente das suas causas imediatas, fazem-me lembrar qualquer coisa…

"Universidade de Coimbra Um estudante ferido

Pelo menos um estudante da Universidade de Coimbra (UC) sofreu hoje ferimentos, na sequência da intervenção da PSP, quando cerca de duas centenas de alunos tentavam entrar na sala onde decorre a reunião do Senado.

De acordo com relatos de alguns manifestantes, o forte contingente policial destacado no local terá usado 'gás-pimenta' para dispersar os estudantes, o que desencadeou confrontos entre universitários e agentes policiais.

Uma força do Corpo de Intervenção da PSP chegou entretanto às instalações da Faculdade de Ciências e Tecnologia, no Pinhal de Marrocos.

A reunião extraordinária do Senado foi convocada pelo reitor, Seabra Santos, para analisar a interrupção da abertura solene das aulas, na Sala dos Capelos, na semana passada, por um grupo de estudantes em representação do Conselho de Repúblicas.

Posteriormente, os senadores foram informados de que a ordem de trabalhos incluía um ponto relativo à fixação das propinas, o que foi interpretado por alguns alunos, na Assembleia Magna da madrugada de hoje, «como uma retaliação» pelos acontecimentos do dia 13, na Sala dos Capelos".

20 Outubro 2004

Expresso on line

Diálogo no Metro

Duas amigas encontram-se no Metro, por acaso, e sentam-se, lado a lado, à minha frente:
-Então a tua filhota?
-Tudo bem. Anda no 4º ano e continua sem aulas!
-Porquê?
-A professora está de baixa de parto e ainda não foi substituída. Dão-lhe umas fichas para entreter. (Encolhe os ombros).
-Chatice!
-Dizem que isto pode ir até Janeiro.
(O tom da conversa é de natural aceitação como se fosse uma fatalidade.)


terça-feira, outubro 19

De mal a pior

O "caso Marcelo", mais a cabala do Ministro Gomes da Silva, mais esta afirmação, convicta, do Ministro Morais Sarmento, mais a "central de Comunicação", e o que adiante se verá,...demonstram um muito peculiar conceito da liberdade de informação!

"O ministro da Presidência, Nuno Morais Sarmento, defendeu hoje que deve ser o Governo a definir o modelo de programação da RTP, porque é o Executivo que responde pelas decisões praticadas na televisão pública.
«Deve haver uma definição por parte do poder político acerca do modelo de programação do operador de serviço público», afirmou Morais Sarmento, durante o primeiro colóquio da Rádio e Televisão de Portugal, que decorreu em Lisboa.
O ministro reagia às palavras do deputado socialista e ex-secretário de Estado da Comunicação Social Alberto Arons de Carvalho, que, segunda-feira, pediu a Morais Sarmento que se pronunciasse acerca da notícia do EXPRESSO em que se anunciava a substituição para breve do actual director de informação da RTP, José Rodrigues dos Santos.
Apesar de sublinhar que o papel do Governo «não pode envolver o que são as competências da administração, como seja a escolha dos responsáveis» pelas áreas de programas ou de informação, o ministro que tutela a pasta da Comunicação Social lembrou serem «os responsáveis políticos que respondem perante o povo».
«Não são os jornalistas nem as administrações que vão responder perante os eleitores» pela informação ou pela programação da estação pública, sublinhou o ministro.
Por isso, defendeu, é necessário «haver limites à independência» dos operadores públicos sob pena de ser adoptado «um modelo perverso», que exige responsabilidades a quem não toma as decisões.
«Não tenho direito a mandar, mas tenho direito a ter opinião», sublinhou Morais Sarmento, defendendo que «a RTP ainda tem um longo percurso [a percorrer] a nível dos conteúdos» que transmite."


Expresso on line


Lá vamos cantando e rindo...

O GIC
Gastos com novo gabinete estão previstos no Orçamento de Estado"Central de comunicação" do Governo custa dois milhões de euros

Segundo o decreto regulamentar que foi aprovado, o GIC irá "elaborar planos de comunicação relativos às políticas públicas aprovadas e à acção governativa; estabelecer as relações com os meios de comunicação social; apoiar assessorias e outras estruturas de imprensa; planear e apoiar campanhas de informação a promover; organizar e apoiar conferências de imprensa dos membros do Governo, bem como sessões de informação e esclarecimento; elaborar conteúdos internos para plataformas de informação e comunicação governamentais; elaborar relatórios de imprensa; promover a formação profissional na área da informação e comunicação e tratar, arquivar e divulgar a informação produzida pelos órgãos de comunicação social".

O SNI
Deixo um conselho de amigo. Estudem o SNI e o papel de António Ferro. Aprendam com a história para não fazerem asneira. Aqui ficam uns tópicos breves.

A criação do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo (conhecido como SNI) e a extinção do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) é concretizada pelo Decreto-lei n.º 33545, 28 de Fevereiro.

O regulamento dos serviços do SNI (Decreto-Lei n.º 34334) atribui-lhe, entre outras, a competência para "promover no País e no estrangeiro a divulgação e exacta compreensão dos factos mais importantes da vida portuguesa,... a defesa da opinião pública contra tudo o que possa desviá-la do sentido da verdade, da justiça e do bem comum".

Na noite escura se fez luz

Sem comentários!

TVI/Marcelo: Gomes da Silva sugere cabala Expresso/Público/Marcelo

Lisboa, 19 Out (Lusa) - O ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, sugeriu hoje a existência de uma cabala contra o Governo entre o semanário Expresso, o jornal Público e o ex-comentador da TVI Marcelo Rebelo de Sousa.

Ouvido hoje de manhã pela Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) a propósito das declarações que proferiu dois dias antes da saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, Rui Gomes da Silva negou qualquer relação causal entre os dois acontecimentos.

O ministro dos Assuntos Parlamentares rejeitou também que as suas afirmações tenham constituído, intencionalmente ou não, qualquer forma de pressão sobre a TVI, apesar de admitir que gostaria que aquela estação de televisão passasse a incluir comentadores com outras opiniões.

"O que o Expresso trazia ao sábado era, no dia seguinte, glosado no Público, e Marcelo Rebelo de Sousa domingo à noite desenvolvia o tema", disse Rui Gomes da Silva, queixando-se de afirmações "falsas" e "constantemente negativas" por parte do ex- presidente do PSD em relação à actuação do Governo.

Questionado pela AACS sobre se estava a referir-se a "um conluio ou a uma cabala", o ministro respondeu que "as cabalas existem independentemente da vontade subjectiva de as constituir".

"Eu posso entender que há...", acrescentou.

Na próxima quinta-feira, a AACS ouvirá o presidente da administração da TVI, Miguel Paes do Amaral, de manhã, e o director de informação da estação, José Eduardo Moniz, da parte da tarde.

A Alta Autoridade indicou que deverá ouvir na próxima semana Marcelo Rebelo de Sousa.

www.lusa.pt


segunda-feira, outubro 18

Vilancete

- Meu corpo, que mais receias?
- Receio quem não escolhi.

- Na treva que as mãos repelem
os corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
o corpo torna-se inteiro,
todos os outros ausentes.

Os olhos olham no vago
das luzes brandas e alheias;
joelhos, dentes e dedos
se cravam por sobre os medos…
Meu corpo, que mais receias?

- Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
me lembram quantos perdi
por este outro que terei.

Jorge de Sena

“Pedra Filosofal” (1950)
Incluído em Poesia I, Moraes Editores
(2ª edição), 1977

Um exemplo brasileiro à consideração superior

"Quem financia a Baixaria é Contra a Cidadania"

Uma campanha da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e organizações da sociedade civil para promoção dos direitos humanos e da dignidade do cidadão na mídia.



Nobel da Economia - 2004

O "Público" de hoje publica um artigo, bastante claro, acerca da natureza dos estudos que justificaram a atribuição do Nobel de Economia de 2004.

“Nobel de 2004: Corte com o Keynesianismo”

Os sete pecados mortais do OE 2005

Nicolau Santos, no Expresso on line, desmonta, de forma certeira, a proposta do OE 2005.

A proposta de lei do Orçamento do Estado para 2005 traz um conjunto de boas intenções em matéria de combate à fraude e evasão fiscal que merece ser devidamente saudado. Mas esse é o verniz que esconde um outro conjunto de sinais para os agentes económicos que são errados e contraditórios com o que se fez nos dois últimos anos.

Saúde-se, pois, a criação do Conselho de Administração das Contribuições e Impostos, a criação de um corpo especial de elite para combater a fraude e evasão fiscal (embora seja discutível a sua colocação na dependência do ministro das Finanças), o fim ou uma grande restrição da utilização de talões sem nenhum valor para efeitos fiscais, a inversão do ónus da prova quando houver uma discrepância de um terço entre os rendimentos declarados e o acréscimo de património e de consumo, rever o regime de acesso ao sigilo bancário, etc.
Tudo isto é muito bonito mas, como o ministro das Finanças reconheceu, só produzirá efeitos em 2006. Até lá, temos os sinais errados - e que são sete.

1) Este orçamento não cumpre a redução estrutural de meio ponto do défice, como tinha sido acordado com Bruxelas. A consolidação orçamental abranda em relação aos dois últimos anos. A mensagem é que podemos alargar o cinto da contenção nos gastos públicos. Como está dito e redito, não é por causa da União Europeia que devemos reduzir a despesa do Estado. É por nossa causa e por causa dos nossos filhos e netos. É porque só assim teremos uma economia mais sã e equilibrada.

2) Este orçamento assenta em bases optimistas, para não dizer irrealistas, em relação ao crescimento económico, ao apontar para 2,4%. É verdade que o FMI ainda é mais optimista (2,7%), mas quem se tem notabilizado por mais se aproximar da realidade é o Banco de Portugal, que prevê 1,7%. Se assim for, vamos ter uma derrapagem das contas públicas, que será atirada para cima das costas largas do petróleo.

3) Este orçamento troca a poupança e o investimento pelo consumo. É isso que decorre do desagravamento do IRS, do fim dos benefícios fiscais dos PPR e da decisão de não voltar a descer as taxas de IRC. É um erro, com fins claros: vencer as eleições de 2006.

4) Este orçamento tira muito a poucos para dar pouco a muitos. É com base no corte dos benefícios à classe média e na evolução das taxas de IRS (em que, como o ministro reconheceu, nos três últimos decis um em cada três contribuintes perde, sendo ainda mais fantástico que nos sete primeiros decis ainda haja um que perde em cada nove - e veremos se é mesmo este o resultado final) que o ministro espera encontrar o dinheiro para suportar os custos com a descida dos escalões mais baixos do IRS. Deve conseguir: é que espera que, mesmo assim, a receita global de IRS cresça 4,9%.

5) Este orçamento é contra as empresas e o investimento. Por um lado, suspende a descida do IRC, que visava atrair investimento estrangeiro e tornar Portugal um país fiscalmente mais competitivo em relação aos países do Leste europeu. Em segundo, acaba com os benefícios para reestruturações de empresas, estimulando a deslocalização das sedes dos grupos nacionais por razões fiscais.

6) Este orçamento ignora olimpicamente a existência do mercado de capitais. Não pelo fim dos Planos Poupança Acções, embora esse seja também um sinal - mas porque não há uma única medida para estimular a entrada de novas empresas em bolsa.

7) Este orçamento alarga o regime de excepções à regra do endividamento de saldo nulo para as autarquias, uma orientação que vinha de Manuela Ferreira Leite e que deveria acabar com todas as excepções no próximo ano. Não é assim e há um retrocesso. O objectivo é claro: vencer as eleições autárquicas de 2005. As derrapagens vêem-se no fim dos próximos doze meses.

18 Outubro 2004

(A transcrição integral deve-se ao facto do acesso ao "Expresso on line" ser reservado a assinantes.
Pode consultar aqui. )


Eleições regionais - Açores

Atendendo às expectativas, criadas nos últimos dias, os resultados das eleições regionais nos Açores - maioria absoluta reforçada do PS - têm um especial significado. Não só regional mas também nacional.

Comentários e resultados finais aqui.

domingo, outubro 17

Eleições regionais nos Açores e Madeira - PS sobe

Nos Açores o PS reforçou a maioria absoluta com o melhor resultado de sempre; na Madeira o PSD reforça a maioria absoluta e o PS sobe 7%. O PS obteve, em ambas as regiões autónomas, os seus melhores resultados de sempre. Os números e os comentários aos resultados na Madeira estão disponíveis aqui. Os dos Açores aqui.

Estes resultados são um sinal do reforço da implantação eleitoral do PS que, aliás, é anterior ao seu último Congresso. Não convém esquecer que nas eleições europeias o PS já tinha alcançado uma vitória muito confortável. O Governo da República que os leia com atenção. E o PR também.

Paula Rego

Vale a pena ler no substrato

Eleições americanas - sinais de esperança

New York Times apoia Kerry

TODAY'S EDITORIAL
John Kerry for President John Kerry has qualities that could be the basis for a great chief executive and we enthusiastically endorse him for president.

Nova Iorque, 17 Out (Lusa) - O New York Times declarou hoje o seu apoio a John Kerry para a presidência dos Estados Unidos, elogiando o candidato democrata pela sua disponibilidade "para reavaliar decisões quando as condições se alteram".

Kerry recebeu também o apoio de jornais importantes em dois estados onde a luta com George W. Bush, o Ohio e o Minnesota. No primeiro daqueles estados, o candidato democrata foi escolhido pelo Dayton Daily News, enquanto no Minnesota foi o Star Tribune, de Minneapolis, que decidiu apoiar John Kerry.

No seu editorial de hoje em que declara o apoio ao candidato democrata, o New York Times afirma ter ficado impressionado com o "vasto conhecimento e pensamento claro de John Kerry", que diz terem ficado bem expressos nos debates.

"E graças a Deus que está disposto a reavaliar decisões quando as condições se alteram", sublinha, numa alusão à teimosia de Bush em admitir que cometeu erros ou tomou decisões incorrectas. "John Kerry impressiona-nos, sobretudo, como um homem com um fundo moral forte", diz ainda o jornal.

(Outros jornais de vários Estados declararam o apoio a Kerry, outros a Bush, mas o New York Times é emblemático)


sábado, outubro 16

"A mais estúpida das medidas"

Hoje ao abrir o “Expresso” confrontei-me com “a mais estúpida das medidas” que podem ser tomadas em democracia. A manchete anunciava que a militante do PSD, Manuela Ferreira Leite, tinha sido “eliminada”da lista de militantes com acesso ao Congresso. Convidada a encabeçar uma lista de delegados ao Congresso de Novembro próximo foi depois eliminada por, pasme-se, falta do pagamento das quotas.

Descontando os aspectos pitorescos da manobra do aparelho partidário sobra mais um grave situação (não já um indício) de efectiva liquidação política das vozes potencialmente incómodas à actual direcção política do PSD. Salvo o devido respeito, a ser verdade o que o “Expresso” anuncia, o PSD está a adoptar, perante os seus adversários, internos e externos, os métodos próprios dos partidos únicos das democracias populares e do partido único da nosso velha e, para alguns, saudosa democracia orgânica representada pela “União Nacional”, ou sejam, os métodos das ditaduras.

O desaforo já ultrapassa o género da comédia para ameaçar transformar-se numa tragédia.

A propósito do episódio lembrei-me de um artigo que, em tempos, escrevi acerca da célebre frase da Dra. Manuela Ferreira Leite, enquanto titular da pasta das finanças, referindo-se ao congelamento das admissões de pessoal e de renovações de contratos na administração pública como “a mais estúpida das medidas” que algum dia ela própria tinha tomado.

Na altura hesitei na sua publicação e, após a minha exoneração de Presidente do INATEL, resolvi, de vez, não o publicar. Primeiro porque achei, ingenuamente, que podia prejudicar a aprovação das medidas excepcionais que, de boa fé, propus para minorar os prejuízos que aquela medida acarretaria para o INATEL, e depois porque considerei que a sua publicação tinha perdido oportunidade.

Soube entretanto que o bloqueio à aprovação da proposta, contendo aquelas medidas de contratação de pessoal para o INATEL, a título urgente e excepcional, que só a Ministra poderia aprovar, irrepreensivelmente instruído, justificado e apresentado em tempo útil, tinha sido autorizado, imagine-se (!) no dia 5 de Fevereiro de 2003. Exactamente no dia seguinte ao da minha exoneração. Uma estranha coincidência!

É esse artigo, nunca publicado, que, a propósito desta manchete do “Expresso”, por conter algumas informações interessantes acerca da minha gestão daquele Instituto, agora divulgo. Tal gesto pode, paradoxalmente, ser entendido, hoje, como um acto de solidariedade para com a Dra. Manuela Ferreira Leite, com cuja política quase sempre discordei mas que dificilmente alguém poderá acusar de incoerência. É essa coerência e coragem que explica este acto inqualificável.

Nem por ser uma destacada militante e dirigente do PSD os seus adversários podem tolerar e deixar passar em claro estas situações anómalas numa democracia política madura. Salvo se quisermos todos, de forma acéfala e cobarde, contribuir para o definitivo declínio do regime democrático. O artigo a que me refiro pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.

Carrossel Oito

Nas feiras há um carrossel que sempre fascinou a maioria das crianças. A mim também. Era (e é) o carrossel oito. Dava mais voltas e, aparentemente, mais arriscadas e vertiginosas.

A leitura dos jornais de fim de semana fez-me vir à memória esse carrossel e a sensação que era nele embarcar. Esta lembrança vem a propósito do governo de Portugal e do seu líder. Com a grande diferença que embarcar no carrossel oito da minha meninice era uma aventura com regresso assegurado. Agora embarcar neste governo…não se sabe.

Como diz, na “Visão”, Cáceres Monteiro: “A informação é o ar que se respira, no funcionamento do sistema democrático. Sem transparência, há asfixia. No Portugal de 2004, o ar está carregado de monóxido de carbono. Como nunca esteve. Irrespirável.”

sexta-feira, outubro 15

Turismo Sénior - Um estudo

Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR a intervenção de apresentação, sob o título “O MERCADO INTERNO NA ESTRATÉGIA DO TURISMO PORTUGUÊS”, do estudo “TURISMO SÉNIOR EM PORTUGAL – SEU IMPACTO SÓCIO ECONÓMICO E PERSPECTIVAS DE FUTURO” (Janeiro de 2002).

Orçamento 2005

O editor de economia da SIC Notícias "babava-se" comentando, em cima do acontecimento, a "criatividade" da proposta do orçamento de estado para 2005 do Dr. Bagão Félix. Chegou a dizer que era de esquerda (o orçamento) e com preocupações sociais associando estas á militância católica do ministro.

O editor devia estar avisado de como a direita populista trabalha. Muitos já escreveram acerca disso, por exemplo, Pacheco Pereira, de forma abundante e clarividente. A direita populista é capaz de surgir face à opinião pública como a campeã da defesa dos pobres. Tem ao longo da história assumido muitas variantes, algumas radicais, desde o justicialismo, aos fascismos (nas fases de implantação) até às soluções sul americanas de tipo militarista.

O populismo em democracia agrava um problema mais vasto com o qual se confrontam todas as políticas económicas: os ciclos políticos são demasiado curtos contrariando a bondade da maioria das medidas de política económica. O ciclo eleitoral que se avizinha, em Portugal, é um exemplo vivo deste problema. O “orçamento expansionista”, para 2005, do Dr. Bagão Félix, será promotor do crescimento, a curto prazo, mas inibidor do potencial de crescimento a longo prazo.

Esta é a raíz do engano e a razão dos danos futuros desta proposta de orçamento para já não dizer que se trata de uma proposta que rompe com a política do governo anterior que este se tinha comprometido a prosseguir. Esta é também parte da matéria dos estudos que valeram, este ano, o Prémio Nobel da Economia de que dei notícia em anteior post.

Diálogo de crise

No quiosque em frente a um local de manifestações.
Um cliente:
Então, estes ajuntamentos são bons para o negócio?
Sempre se vende mais qualquer coisinha. Sabe lá as dificuldades porque tenho passado neste último ano e meio. Perdi tudo, mas tenho de me aguentar!
O cliente:
É a crise, deviam haver manifestações todos os dias, não é?
A proprietária do quiosque:
Pois é, mas são só poucas vezes!

Nobel da Economia - 2004

Procurei informação acerca do Prémio Nobel da Economia de 2004 e é muito escassa e pouco acessível. Deixo aqui um contributo sintético, colhido directamente na fonte, acerca dos laureados e da natureza do seu trabalho.

The Royal Swedish Academy of Sciences has decided to award the Bank of Sweden Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel, 2004, jointly to Finn E. Kydland, Carnegie Mellon University, Pittsburgh and University of California, Santa Barbara, USA, and Edward C. Prescott, Arizona State University, Tempe, and Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA
"for their contributions to dynamic macroeconomics: the time consistency of economic policy and the driving forces behind business cycles".

New theory on business cycles and economic policy
The driving forces behind business cycle fluctuations and the design of economic policy are key areas in macroeconomic research. Finn Kydland and Edward Prescott have made fundamental contributions to these areas of great significance, not only for macroeconomic analysis, but also for the practice of monetary and fiscal policy in many countries.

Time Consistency of Economic Policy
The higher taxation of capital households expect in the future, the less they save; the more expansive monetary policy and the higher inflation firms expect, the higher prices and wages they set, etc. The Laureates showed how such effects of expectations about future economic policy can give rise to a time consistency problem. If economic policymakers lack the ability to commit in advance to a specific decision rule, they will often not implement the most desirable policy later on.

Driving Forces Behind Business Cycles
Research by the Laureates also transformed the theory of business cycles by integrating it with the theory of economic growth. Whereas earlier research had emphasized macroeconomic shocks on the demand side of the economy, Kydland and Prescott demonstrated that shocks on the supply side may have far-reaching effects. In their business-cycle model, realistic fluctuations in the rate of technological development brought about a covariation between GDP, consumption, investments and hours worked close to that observed in actual data.

Read more about this year's prize
Information for the Public
Advanced Information (pdf)
Links and Further Reading

Finn E. Kydland, born 1943 (60 years) in Norway (Norwegian citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1973. Professor at Carnegie Mellon University and University of California, Santa Barbara, USA.

Edward C. Prescott, born 1940 (63 years) in Glen Falls, NY, USA (US citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1967. Professor at Arizona State University, Tempe and researcher at Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA.



quinta-feira, outubro 14

Diálogo de merda

O homem, com ar de patrão, ao balcão da pastelaria:
-Admiro aquele homem!
O empregado:
-Quem?
-O Scolari! Você ouviu?
-O quê?
O patrão empolgado:
-Ele disse que os jornalistas são uns merdas!
-O empregado, divertido:
O que é que vai hoje?
-Remate do patrão:
Nada, nada, grande homem, o Scolari, até logo!



"A última crônica", de Fernando Sabino

Em 1965, Fernando Sabino escreveu a crônica que gostaria que fosse a sua última. O texto foi publicado no livro A companheira de viagem, e é reembrado hoje no Portal Literal. Belo, belo, belo, do início ao lírico desfecho. Ta aí embaixo, amigos, "puro como um sorriso":
Vejam no PENTIMENTO

Kerry vence debate...graças a Deus!

Emprego e imigração no frente-a-frente entre Kerry e Bush
O candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, foi o vencedor do debate de quarta-feira com o presidente George W. Bush, mostram as sondagens efectuadas depois do frente a frente. No centro das atenções no debate estiveram questões como o emprego ou a imigração.
(In TSF on line)

"Jorge podes ir participação cívica enfim morta!"

O JPN do respirar o mesmo ar tem algumas tiradas do melhor da blogosfera. Com todo o respeito e consideração pessoal que nutro pelo PR também considero ser um dever cívico chamar a atenção para os passos do que parece ser a sua prematura abdicação do pleno exercício da função presidencial. Queira Deus que esteja enganado.

7-1

Como falei do JPN (ver post anterior) e um dia, a propósito do “Euro – 2004”, travei com ele um diálogo estimulante, sempre quero assinalar que visitei hoje, pela primeira vez, o novo Estádio de Alvalade. Vi, ao vivo, o Portugal-Rússia. Em boa hora. Há noites felizes. Digam o que disserem, aconteçam os resultados que acontecerem, na “arte da bola” os portugueses são mesmo bons.

E os Estádios, construídos para o "Euro – 2004", por iniciativa do governo da “pesada herança”, “o anterior ao anterior”, são mesmo espaços imponentes e que, finalmente, pasme-se (!) já ninguém questiona. Isto de sermos bons em qualquer coisa custa, não é?

Talvez reabrir um processo de averiguações que esteja adormecido numa qualquer gaveta. Afinal não foi o actual líder do PS o impulsionador do "Euro – 2004"?

quarta-feira, outubro 13

"Um actor sem tripas"

"Olhando a prestação de Pedro Santana Lopes na televisão, na passada segunda-feira, espantou-me a falta de convicção da personagem. Como se um actor ágil em outros papéis de um vasto reportório se tivesse, de súbito, desencontrado.

O facto é por demais surpreendente. Enterrado numa cadeira em que as costas surgiam como orelhas negras, mais abismado na leitura do que em nos olhar de frente, com uma dicção preocupada em não falhar as palavras, em vez de demonstrar a firmeza do discurso, não era, nitidamente, alguém sentado no topo do Poder que nos falava. Era alguém que timidamente simulava estar a controlar as coisas, vagamente abordando temas que usualmente escutamos na boca de membros do Governo (impostos, salários, pensões de reforma), mas que, na verdade, estava só a fazer de conta, desenquadrado do papel, debitando falas que teriam sido escritas para outro, com uma indizível vontade de chegar ao fim da cena e ir-se embora o mais depressa possível.

Fez-me lembrar aqueles pobres adolescentes amadores em récitas de liceu que decoram com cuspo um papel em que não se sentem à vontade e o deitam cá para fora entre suores frios e pânico de ser ridículo ante tão larga audiência.

O espanto é ver que Pedro Santana Lopes, a quem já vimos desempenhar com talento papéis diversíssimos (de playboy a «enfant terrible» do PSD, de dirigente desportivo a Secretário de Estado), apareça agora tão desfibrado.

Um encenador pouco dado à paciência talvez desesperasse, considerando haver ali um puro erro de «casting» e apressando-se a escolher diferente intérprete para o papel de Primeiro-Ministro. Um outro, mais brando, consideraria a hipótese de uma ajuda especializada, umas quantas aulas de postura, movimento e voz - esperando que, no fim da preparação, o papel soasse mais credível. Mais necessário que tudo, todavia, é a prática daquilo que os actores chamam um «monólogo interior», um conjunto de referências anímicas que dê vida à personagem. Vida e não apenas técnica, não apenas fingimento, guarda-roupa e adereços."

Jorge Leitão Ramos, in Expresso on line






Diálogo no elevador

Antes da chegada ao destino entram três senhoras.
Uma delas:
Para onde eu vou?
Outra:
Ao Bar?
A outra:
À rua?
De novo a primeira:
Ao gabinete?
A dita:
Não sei. Vou regressar.
Saio e ela regressa ao ponto de partida.


Educação Profissional - Caminho do Futuro

Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo "Educação profissional - Caminho do Futuro" publicado, no "Semanário Económico", em Junho de 2004.

Um assunto sério

O Prémio Nobel da economia foi atribuído, dias atrás, a dois economistas que, segundo todas as notícias, têm estudado os benefícios das políticas macroeconómicas de longo prazo. Falamos de decisões económicas com influência real na vida quotidiana dos cidadãos. É a teorização daquilo que toda a gente de bom senso deveria considerar razoável: é preciso tempo para conceber e desenvolver, de forma estruturada, medidas que permitam resolver os verdadeiros problemas das sociedades. Mas os ciclos políticos são demasiado curtos contrariando a bondade da maioria das medidas de política económica.

A democracia parlamentar funda-se na livre escolha dos governos. Preservemos a liberdade de escolha dos cidadãos. Mantenhamos o sistema em que os responsáveis políticos são eleitos pelo voto universal, individual e secreto. Salvemos a democracia representativa de todas as tentações totalitárias. Mas como resolver este dilema? Como ganhar tempo para que as livres escolhas políticas favoreçam as mais sábias decisões económicas?

Além de reflexão aprofundada o tema carece de decisões políticas arrojadas. Mas mesmo para a reflexão e para a decisão é necessário tempo. Não falo de um tempo fora do tempo. Mas de um tempo ocupado com as tarefas de cada um, as suas urgências e aspirações, mas livre para a reflexão, o debate e a criação de novas soluções para velhos e novos problemas. Como criar o tempo necessário para que a democracia respire e se regenere? Um assunto sério!

segunda-feira, outubro 11

A quadratura do círculo

Este texto já estava escrito antes da comunicação ao país do senhor primeiro-ministro. A sua publicação, sem alterações, deve-se à nova estratégia de propaganda do governo que mostrou, hoje, uma faceta original. A comunicação foi gravada e, ao contrário do anunciado, passada sequencialmente nos telejornais da SIC, RTP, …e não sei onde mais. Não foi uma comunicação foi uma retransmissão. Não tive paciência para escrever nada em cima daquela comunicação flácida. O que antes tinha escrito acerca do que dela previa basta. Aqui vai.

Aposto que o primeiro-ministro vai anunciar ao país a “quadratura do círculo”. A ideia só pode ser uma. Aumento das remunerações, acima da inflação esperada, para os funcionários públicos. Diminuição do IRS. Flexibilização dos limites do endividamento das autarquias. Políticas de “diferenciação positiva” para “beneficiar” os mais desfavorecidos. Políticas variadas para prometer tudo a todos mas com “rigor e contenção”. Reformas estruturais só com incidência para depois de 2006.

Tudo somado e baralhado: mais despesa pública e menos receita, mas com cumprimento dos limites do deficit em 3%. E, acima de tudo, muita verdade e trabalho. A quadratura do círculo. O ministro das finanças benze o pacote. O PR vai achar péssimo em privado mas, em público, deixa correr com umas reservas com as quais o primeiro-ministro vai concordar. Serão contributos inestimáveis para melhorar as propostas.

Ora reparem no calendário eleitoral: dia 17 de Outubro, próximo, eleições regionais nos Açores e Madeira; Outubro de 2005 eleições autárquicas; inícios de 2006 eleições presidenciais e Outubro de 2006 eleições legislativas (se não houver azar…).

Amanhã vai começar a verdadeira “corrida eleitoral” da maioria. Se fosse no comércio a retalho teria direito a um anúncio do género: “tudo com 60% de desconto”.

"O que ele vai dizer?

O país está suspenso da comunicação que hoje fará o primeiro-ministro. Há quem garanta que não falará sobre o caso Marcelo, apontando antes para os desafios que o Governo vai enfrentar nos próximos meses. Há quem admita que voltará a desafiar o Presidente da República para, se considera que o executivo pressionou a TVI a afastar Marcelo, tomar as decisões consequentes. E há quem assegure que fará um balanço elogioso do que o Governo já fez e anunciará as linhas do orçamento do Estado para 2005. Mas há coisas de que o primeiro-ministro não falará.

E a primeira delas é sobre a recente cimeira luso-espanhola, cada vez mais designada por cimeira ibérica, em que o primeiro-ministro de Portugal aceitou, pela primeira vez na história destes encontros, ter do outro lado da mesa não só o primeiro-ministro de Espanha, como representantes das autonomias espanholas.

Eu não sei se o primeiro-ministro tem consciência do significado político deste acto. Não sei se não lhe passa pela cabeça que a leitura política da cimeira é que Portugal se coloca, assim, como mais uma das regiões autónomas de Espanha. Eu não sei se ele sabe que nunca no passado, nenhum primeiro-ministro português aceitou participar nestas cimeiras que não tivesse, do outro lado da mesa, apenas e só o primeiro-ministro de Espanha - porque se trata de uma cimeira luso-espanhola e não de uma cimeira Madrid-Portugal e regiões autónomas. E, não sabendo ele, não sei se alguém não lhe terá lembrado os equívocos de aceitar uma cimeira com esta composição.

É talvez por isso que se lêem notícias dando indicações de que o ministro do Ambiente está a negociar, por ajuste directo, o controlo da rede de distribuição de água aos consumidores em Cascais e zonas envolventes. Já parece estranho que, num sector tão sensível como este, a transferência para os privados se faça por ajuste directo. Mas mais estranho ainda é que, do outro lado, o privado que aparece é a Sacyr Vallehermoso. É claro que se apresenta sob as vestes de Somague, que iniciou esse envolvimento quando era uma empresa portuguesa. Mas entretanto a Somague foi vendida aos espanhóis da Sacyr - e o prémio vai ser o Governo entregar-lhe de mão beijada, por ajuste directo, aquela rede de distribuição de água?

Parece mau de mais para ser verdade. Mas verdade, verdade é que um poder fraco faz fraca a forte gente. E um poder forte faz forte a fraca gente. Infelizmente, em Portugal, neste momento, estamos na primeira situação."

Nicolau Santos, in "Expresso on line"

11 Outubro 2004

domingo, outubro 10

Censura! Help!

Ajudem-me a interpretar a notícia da Lusa que abaixo transcrevo. Por favor! Se "tem que ser banida" é porque existe! O PR está a confirmar que existe censura em Portugal. O assunto é da maior gravidade. Já tinham dado por isso? Não me refiro à gravidade da declaração do PR. Mas à existência de censura. Eu, por acaso, já tinha sentido algo que brigou comigo! Do género da frase do PR: "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas..." Mas ninguém ligou coisa nenhuma. Então como se materializa a dita censura? Como? É isso? E onde? E quem são os agentes? E quando? E por que meios? E quais as medidas que o PR pensa tomar?

"Sampaio diz que "a censura tem que ser banida completa e
definitivamente"

Lisboa, 10 Out (Lusa) - O Presidente da República admitiu hoje a existência de "restrições potenciais ou implícitas" à liberdade de informação em Portugal e voltou a defender a criação de mecanismos independentes de regulação dos media.

"A censura tem que ser banida completa e definitivamente", acentuou Jorge Sampaio, em declarações à SIC, no âmbito de uma visita guiada ao Museu da Presidência da República, mas sem nunca se referir ao caso que levou Marcelo Rebelo de Sousa a abandonar os seus comentários na TVI.

Na opinião do Presidente, "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas, ou pelo menos as coisas mais adaptadas, que não deixam de ser restrições potenciais ou implícitas, que estão escondidas, mas que se exercem no quotidiano".

"É contra isso que uma sociedade aberta pode combater. Uma sociedade fechada não combate. A sociedade e os agentes políticos têm uma enorme responsabilidade de, pela sua independência e autonomia, poderem dizer o que pensam e poderem criticar os poderes imediatos da sociedade", sustentou.

Jorge Sampaio reconheceu que "o equilíbrio entre liberdade e regulação é difícil", mas insistiu na necessidade de uma entidade reguladora constituída por cidadãos independentes.

Para o Presidente da República, é necessário que a Alta Autoridade para a Comunicação Social seja substituída por "uma regulação independente, efectiva, constituída por gente de peso e acima de qualquer suspeita".

"Isso é indispensável para as liberdades continuarem com a esperança que elas deram à vida portuguesa nos últimos 30 anos", sublinhou.

Comentando a situação actual dos media e nunca o "caso Marcelo", Sampaio frisou que "nada pode substituir, de maneira nenhuma, a liberdade, no seu sentido mais amplo e mais forte", mas quando confrontado com a mediatização de alguns sectores da vida pública, como a Justiça, comentou: "Não tenho um tremendismo do desespero".


Boas leituras

Ora leiam no substrato vómitos

Che Guevara

Acabo de ver (em DVD) o documentário “A viagem de Che Guevara” realizado a propósito do filme “Diários de Che Guevara”, do brasileiro Walter Salles, em exibição em Lisboa mas que ainda não vi.

Este documentário mostra o companheiro de viagem de Che, Alberto Granado, guiando a reconstrução da viagem dos dois jovens amigos na travessia da América Latina. A moto que os transportou, na primeira parte da viagem, era uma Norton igualzinha à do meu pai.

O documentário é uma sequência de depoimentos, lugares, episódios, riscos, aventuras... Um mundo de experiências perigosas enfrentadas por dois jovens argentinos que queriam conhecer a América do Sul e a vida dos seus povos. Chegaram ao fim.

Uma viagem que, certamente, determinou a opção de Che pela revolução. Um testemunho comovente acerca de um percurso de vida raro: o de Che Guevara assassinado, na Bolívia, em 9 de Outubro de 1967. Passaram 37 anos.

sábado, outubro 9

"O monstro da totalidade

Outro discurso: neste dia 6 de Agosto, no campo, uma manhã dum dia esplêndido: sol, calor, flores, silêncio, calma, esplendor. Nada há que vagueie, nem o desejo nem a agressão; apenas o trabalho aqui está, à minha frente, como uma espécie de ser universal: está tudo cheio. Será então isto a natureza? Uma ausência… do resto? A Totalidade?”

6 de Agosto de 1973 – 3 de Setembro de 1974

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 47
(Fragmento 2 de 2, pag. 20)

Edição portuguesa: "Edições 70"

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Este é o último post desta série de fragmentos da minha primeira leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”. A sua divulgação resulta do prazer da leitura que a obra me provocou. Aqui deixo o caminho para um melhor conhecimento do autor através do acesso a este sítio.

O meu livro artesanal (em folhas A4) foi elaborado, no início dos anos 80, através da colagem de fotocópias de fragmentos da obra. Escrevi, ao mesmo tempo, um conjunto de notas pessoais apostas, uma a uma, em cada página.

A última das quais é esta que seria capaz de escrever, letra a letra, ainda hoje: “não se podem menosprezar sistematicamente os actos as acções os gestos que nos dão prazer. são esses que podemos levantar nas mãos e lançar à nossa frente.” Este é o programa do prazer da acção e da acção por prazer.

Marcelogate

Todos os caminhos, no caso Marcelo, vão no mesmo sentido. Um autêntico processo de pressão ilegítima do governo sobre um canal de televisão privado; iniciativas para a eliminação ou condicionamento das vozes críticas do governo, em particular, se situadas na mesma área política; utilização do aparelho diplomático para fins duvidosos; colocação de "comissários" no controle do oligopólio da comunicação social pública ou controlada através da PT; e tudo o mais que adiante se verá.
Um "marcelogate". Alguém que investigue o caso a sério e quem de direito que retire as devidas consequência políticas.
Vejam uma síntese dos últimos desenvolvimentos no abrupto.

"Velha Europa" na 3ª Idade

O “Expresso” na sua edição de hoje publica um trabalho acerca da questão demográfica a propósito de um relatório da EU intitulado: “A situação social na União Europeia – 2004”.

Deixo aqui um excerto. O trabalho publicado pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR assim como o artigo que publiquei, em Março de 2004, no “Semanário Económico”, sob o título “Imigração – não meter a cabeça na areia.

“Bruxelas faz as contas e adverte para o risco do aumento dos idosos face à população activa. Após 2010, as coisas vão piorar ainda mais

Um em cada seis cidadãos comunitários tem hoje mais de 65 anos, mas no início da próxima década, quando se assistirá a um rápido envelhecimento da população da União Europeia (UE), a proporção será de um em cada quatro.

Os dados e os alertas sobre a dimensão do problema figuram no relatório «A situação social na União Europeia - 2004», cuja síntese foi há dias publicada pela Comissão. Actualmente, os 74 milhões de idosos correspondem a 16,3% da população total, mas em 2010 o peso dos «seniores» será de 27%.”

"O teatro

Não acreditando na separação do afecto e do signo, da emoção e do seu teatro, não podia exprimir uma admiração, uma indignação, um amor, com medo de a significar mal. Assim, quanto mais comovido está mais insípido fica. A sua “sinceridade” não é mais do que o constrangimento dum actor que se não atreve a entrar em cena com medo de representar excessivamente mal.”

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 46
(Fragmento 1 de 2, pag. 20)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Três meses depois

Passaram três meses exactos sobre a decisão do PR, após a fuga de José Manuel Barroso, de não convocar eleições gerais antecipadas. 9 de Julho de 2004. Três meses depois estamos, de novo, em plena crise política ou num arremedo dela? Manobras tácticas? Reposicionamento de forças? Mudança de generais? Preparo para as batalhas políticas nos prazos legais? Ou mais do que isso?

O tom dos discursos e o desenho do cansaço nos rostos deixa antever, pelo menos, excesso de nervosismo. A opinião pública não se alenta com as medidas anunciadas pelo governo. A base de apoio da maioria estreita-se. Todos os sinais vão nesse sentido.

As oposições estão mais frescas. Porque estão fora da linha de fogo dos descontentamentos provocados pelas medidas impopulares. Mas também porque mudaram, ou vão mudar, as lideranças (excepto o BE). O tempo é escasso para mais do que escaramuças tácticas. Na legislação, nos negócios e na propaganda. A evolução, a curto prazo, da economia não vai ajudar quem governa. Veja-se a escalada do preço do petróleo nos mercados internacionais.

A anunciada aceleração desacelera. O factor tempo, finalmente, parece favorecer a oposição. O orçamento de estado para 2005 tem de ser apresentado até ao final da próxima semana. Disso falará certamente o primeiro-ministro na anunciada comunicação ao país de 2ª feira. Qual a mensagem? De confiança ou de renúncia? De esperança ou de desalento? De autenticidade ou de demagogia?

Veja o interessante artigo Marcelo e as «ondas de paixão», de Clara Ferreira Alves, no “Diário Digital”

sexta-feira, outubro 8

As pegadas do elefante

“Celeste Cardona recebeu do Montepio Geral durante sete anos (de 1996 a 2002) mais de quatro mil euros mensais, acrescidos de cartão de crédito e carro. Tinha sido contratada como consultora jurídica, depois de ter emitido um parecer positivo sobre o regime fiscal que favorecia a banca. Em 2002, garantiu a ex-ministra ao JN, deixou de receber tal verba. Tal como deixou de exercer a advocacia, atendendo a que a lei das incompatibilidades o proibia.

A "subida" a ministra parece ter representado, afinal, um grande rombo nas suas economias. Em 2003, quando apenas exercia a tutela da Justiça, Celeste Cardona declarou pouco mais de 80 mil euros. No ano anterior (2002), juntando os 202 mil euros de trabalho independente ao vencimento de deputada, declarou 278 mil euros.

Também por explicar está o facto das quantias pagas a Celeste Cardona pelo Montepio Geral terem transitado para o seu marido, o advogado Luís Queiró. Este contrato terá sido assinado no final de 2003, mas desde que Cardona tomou posse como ministra que a verba lhe passou a ser paga.” (JN)



Diálogo matinal

A empregada de mesa, preocupada:
“A sua amiga anda tão tristinha!”
(silêncio)
“Acho que o cão dela está muito doente!”
(silêncio)
A empregada retira-se incrédula.

"A minha cabeça está baralhada

Sobre um determinado trabalho, sobre um determinado assunto (habitualmente aqueles sobre os quais se fazem dissertações), sobre um determinado dia de vida, gostaria ele de colocar como divisa este dito de comadre: a minha cabeça está baralhada (imaginemos uma língua na qual o jogo das categorias gramaticais obrigasse por vezes o sujeito a enunciar-se sob as vestes de uma velha).
E, todavia, ao nível do seu corpo, nunca sente a cabeça baralhada. (…)
Sente por vezes vontade de deixar repousar toda essa linguagem que tem na cabeça, no trabalho, nos outros, como se a própria linguagem fosse um membro cansado do corpo humano; parece-lhe que, se descansasse da linguagem, descansaria completamente, pelo feriado dado às crises, às repercussões, às exaltações, às feridas, às razões, etc. Vê a linguagem sob os traços duma velha mulher cansada (algo como uma antiga mulher-a-dias de mãos gastas) que suspira por uma certa aposentação”.

Nesta página escrevi, vá lá saber-se porquê: “generalizo talvez abusivamente.”

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 45
(Fragmento 3 de 3, pag. 19)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Abandono Escolar

Em Abril passado publiquei no "Semanário Económico" um artigo com o título: "Abandono escolar – uma emergência nacional". Agora que o ano escolar está finalmente a arrancar em pleno, nas escolas públicas, vale a pena regressar a um dos temas mais importantes da política educativa em Portugal. Por isso aqui deixo os parágrafos iniciais desse artigo que pode ser lido na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR.

"A Comissão Europeia divulgou um “projecto de relatório intercalar” acerca dos objectivos da “Estratégia de Lisboa” para os sistemas de educação e de formação na Europa. Esse relatório revela que, considerando os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, a “taxa média de casos de abandono escolar, precoce, na União é de 18,8 %”.

Surpreendente, ou talvez não, os dez países aderentes apresentam melhor desempenho que os actuais Estados membros da União com uma taxa de 8,4 %.

Outro facto relevante é que Portugal apresenta a mais alta taxa de abandono escolar da União Europeia com 45,5%. Ainda mais preocupante é o facto de Portugal (com a Dinamarca) ter invertido, a partir de meados da década de 90, a tendência para a melhoria deste indicador, encetada no início dessa mesma década."

quinta-feira, outubro 7

"Espantação"

Tanta gente espantada com a perseguição do governo à livre expressão da opinião e da crítica! Ainda não tinham dado por isso? Os jornalistas não sabem? Mostram-se indignados? Muitos deles próprios não participaram já em processos persecutórios?

No caso Marcelo a fonte é o próprio Marcelo. A perseguição ao “one-show-man” fez estilhaçar as ligações perversas entre todos os poderes. Expôs à vista desarmada as ligações perigosas entre os poderes político, económico e mediático. Os recíprocos condicionamentos e as dependências.

Fez emergir o desprezo do poder, exercido pelo governo, pelo elo mais valioso e, ao mesmo tempo, mais sensível da democracia: a liberdade.

Estamos no ponto em que a indiferença do poder presidencial, ou a omissão da sua acção, é imperdoável.

"Tel Quel"

O corpo é a diferença irredutível e, ao mesmo tempo, o princípio de toda a estruturação (uma vez que a estruturação é o Único da estrutura (…). Se eu conseguisse falar política com o meu próprio corpo, tornaria a mais chã das estruturas (discursivas) numa estruturação; com a repetição produziria Texto. O problema está em saber se o aparelho político reconheceria durante muito tempo esta maneira de fugir à banalidade militante enfiando nela, vivo, pulsional, gozador, o meu próprio corpo único.”

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 44
(Fragmento 2 de 3, pag. 19)

Edição portuguesa: "Edições 70"

quarta-feira, outubro 6

Falatório - cont....

O PSD já calou Marcelo.

Falatório*

Então ficamos combinados: o PSD não vai calar Marcelo, o PS não vai calar Alegre, o PP não vai calar o “autarca da quinta”, porque eles não se calarão; o PCP não vai calar Carvalhas, porque ele se calará; o PSD/PP não vai calar Sampaio, porque ele só falará; Sampaio não vai calar o Povo, porque o Povo não se calará...em democracia é difícil governar.

(Falatório: “ruído de vozes”, “mexerico”, “tagalerice”, “discurso comprido” – Mini Houaiss – Dicionário)

"A simbólica de Estado

Escrevo o que se segue num sábado, 6 de Abril de 1974, dia de luto nacional em memória de Pompidou. Durante o dia inteiro na rádio, “boa música” (para os meus ouvidos): Bach, Mozart, Brahms, Schubert. A “boa música” é portanto uma música fúnebre: há uma metonímia oficial que une a morte, a espiritualidade e a música de classe (nos dias de greve só se ouve “má música”). A minha vizinha, que ouve habitualmente música pop, hoje não ligou o rádio. Ficamos assim os dois excluídos da simbólica do Estado: ela porque não suporta o seu significante (a “boa música”), eu porque não suporto o seu significado (a morte de Pompidou). Esta dupla amputação não tornará a música assim manipulada num discurso opressivo?”

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 43
(Fragmento 1 de 3, pag. 19)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Amália Rodrigues

Amália Rodrigues morreu a 6 de Outubro de 1999. Vejo as imagens de uma homenagem na RTP. Ouço a sua voz e sigo os seus gestos. É um espanto. Um fenómeno arrebatador. Uma voz e uma alma. O melhor de um povo na voz singular de uma mulher do povo.

Em Nápoles canta uma canção napolitana no dialecto local. Em Lisboa, como espectadora, sobe ao palco para a abraçar Caetano Veloso. Recebe a mais alta condecoração do Estado português das mãos de Mário Soares. Fez-se justiça a tempo e ficou feliz. Mas confessa que só os aplausos do público lhe davam alegria.

Os aplausos para Amália ainda não se deixaram de ouvir e ecoam na nossa memória colectiva.

terça-feira, outubro 5

Querem uma notícia importante?

05-10-2004 15:25:00 UTC . Fonte LUSA. Notícia SIR-6406573
Temas: economia internacional energia mercadosPetróleo: Preço bate novo recorde nos 50,91 dólares em Nova Iorque

Lisboa, 05 Out (Lusa) - O preço do petróleo bateu hoje um novo recorde em Nova Iorque ao chegar aos 50,91 dólares o barril depois dos furacões que atingiram o Golfo do México terem reduzido as exportações para os Estados Unidos.
O preço mais elevado até hoje foi atingido a 28 de Setembro com o barril a ser transaccionado a 50,47 dólares no mercado de Nova Iorque.
A produção norte-americana no Golfo do México está 28 por cento abaixo do normal, devido aos estragos provocados pelo furacão Ivan, anunciou o governo.
No final da semana que acabou a 24 de Setembro, as reservas norte-americanas de combustível para aquecimento estavam 9,7 por cento abaixo da média dos últimos cinco anos para esta época, levantando dúvidas acerca da sua capacidade para satisfazer o aumento da procura no Inverno.
O barril de crude para entrega em Novembro transaccionava-se na abertura da sessão do New York Mercantile Exchange (Nymex) a 50,91 dólares.
Em Londres, o Brent, para entrega em Novembro, cotava-se às 14:04 (hora de Lisboa) a 47,14 dólares o barril.
ACF.
Lusa/fim

"A mim, eu

Um estudante americano (positivista ou contestatário: já não consigo distinguir) identifica, como se fosse óbvio, subjectividade com narcisismo; pensa certamente que a subjectividade consiste em falar de si, para dizer bem. Isto por ser vítima de um velho casal, dum velho paradigma: subjectividade/objectividade. Todavia, hoje em dia, o sujeito toma-se noutro lado e a “subjectividade” pode regressar noutro ponto da espiral: desconstruída, desunida, deportada, sem amarras: porque não hei-de falar de “eu”, uma vez que “eu” já não é “mim mesmo”?
(…)
Por outro lado, não falar de si próprio pode querer dizer: eu sou aquele que não fala de si próprio; e falar sobre si próprio, dizendo “ele”, pode querer dizer: falo de mim como estando um pouco morto, assolado por uma leve bruma de ênfase paranóica; ou ainda: falo de mim à maneira do actor brechtiano, que deve distanciar o seu personagem: deve “mostrá-lo” e não encarná-lo, dando no seu débito verbal como que um piparote que tem por efeito descolar o pronome do seu nome, a imagem do seu suporte, o imaginário do seu espelho (Brecht recomendava ao actor que pensasse todo o seu papel na terceira pessoa).
(…)
Ao dizer, acerca de alguém, “ele”, tenho sempre em vista uma espécie de assassínio pela linguagem, cuja cena completa, por vezes sumptuosa, é o mexerico. (…) ”

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 42
(Fragmento 1 de 1, pag. 18)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Nesta página escrevi: “a viagem é mais do que um pretexto: santuário das relações, lugar de culto de uma nova forma de ser solidário e de marcar encontro com aspirações que se estão a esvair com uma rapidez e violência impressionantes.”

(O excerto original é excessivamente longo para um post, por isso este é um excerto de um excerto. Além do mais aborda um tema que tenho presente, como dilema, num conjunto de textos que estou a escrever, hoje, agora mesmo, na primeira pessoa, “eu”, e que hesito em publicar num registo que receio ser demasiado autobiográfico.)


segunda-feira, outubro 4

PSD odeia Marcelo

Só falta apelar ao restabelecimento da censura. Depois da criação da “central de informações” o PSD ataca-se a si próprio. O Dr. Portas deve rir às gargalhadas.

“Gomes da Silva quer intervenção da alta autoridade contra Marcelo

O ministro dos Assuntos Parlamentares Rui Gomes da Silva afirmou hoje estranhar o silêncio da Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) em relação aos comentários de "ódio" e às "mentiras e falsidades" feitas pelo ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa aos domingos na TVI.”




A base

Algumas notícias anunciam, no rescaldo do congresso do PS, o regresso à base de Ferro Rodrigues. Este regresso é assumido pelos órgãos de comunicação social de uma forma envergonhada e pouco convincente.

O exemplo de cidadania, humildade democrática e coragem cívica, como o de Ferro, são pouco aliciantes para eles. Os patrões da comunicação social, e os seus sequazes, preferem chafurdar no sangue das presas a espernear entre os dentes de “animais ferozes”.

Sempre retive na minha cabeça a frase de Camus que explica muitas destas “anomalias” da política: “Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.”

O "shifter" como utopia

Recebe uma carta longínqua de um amigo: “Segunda-feira. Regresso amanhã. João-Luís.”

Tal como Jourdain e a sua prosa célere (cena de resto bastante poujadista), maravilha-se ao descobrir num enunciado tão simples como este o rasto dos operadores duplos, analisados por Jakobson. Porque, se o João Luís sabe perfeitamente quem é e em que dia está a escrever, a mensagem dele que até mim chega é perfeitamente incerta: qual segunda-feira? qual João Luís? Como hei-de sabê-lo, eu que do meu ponto de vista tenho que escolher instantaneamente entre vários João Luís e entre várias segundas-feiras? Embora codificado o “shifter”, para só falar do mais comum desses operadores, surge assim como um meio manhoso – fornecido pela própria língua – de romper a comunicação: eu falo (apreciem o meu domínio do código), mas envolvo-me na bruma duma situação enunciadora que é desconhecida para os outros; estabeleço no meu discurso fugas de interlocução (não será afinal isso que sempre acontece quando usamos o “shifter” por excelência, o pronome “eu”?).
(…)

Será possível imaginarmos a liberdade – e, se assim se pode dizer, a fluidez amorosa – duma colectividade que só falasse usando primeiros nomes e “shifters”, em que cada pessoa não dissesse senão eu, amanhã, lá …”

Nesta página escrevi a seguinte nota: “a viagem é uma tradição a recuperar com ou sem grupo”.

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 41
(Fragmento 1 de 1, pag. 17)

Edição portuguesa: "Edições 70"

"No meu bairro já está tudo normal

“Voltou a calma ao meu bairro. Depois de quinze dias em que pensámos que estávamos todos ricos, eis que o ministro das Finanças nos tira com uma declaração aquilo que nos tinha dado com uma afirmação. Explico-me.

Lembram-se certamente de o ministro das Finanças ter ido à RTP, há quinze dias, dizer à Judite de Sousa que ia acabar com os benefícios fiscais dos PPR, PPR-E, PPA e Contas Poupança-Habitação, já que, segundo afirmou, quem investia em tais produtos eram os contribuintes 30% mais ricos de Portugal (ele só falou dos que pagam impostos; os outros ricos, ao que deduzimos, ou não pagam impostos ou não investem nestes produtos). E eram assim esses ricos que, capciosamente, se aproveitavam de tais benefícios para pagar menos impostos, ao contrário dos outros contribuintes pobres que, por não investirem em tais produtos, nada podiam deduzir à colecta. O ministro anunciou então o que faria Robin dos Bosques: tirar aos ricos para descer o IRS dos mais pobres. O país estremeceu de reconhecimento emocionado: finalmente, a justiça social pela mão de Bagão!


Pois bem: eu sabia que lá no meu bairro o sr. Joaquim da mercearia tinha feito um PPR para a mãe que está velhota. O sr. João da padaria investiu num PPR-E para quando o miúdo, que ia bem nos estudos, quisesse tirar um MBA. A sra. Ana da farmácia andava a juntar uns trocos numa Conta Poupança-Habitação para comprar uma casita. E o sr. José de uma agência imobiliária apostou num Plano Poupança Acções, depois de ter ouvido o dr. Catroga dizer em 1995 que isso ia ser muito bom para quem aí investisse, além do que servia para animar o mercado de capitais.


Ora assim que ouviram o ministro dizer que estavam entre os 30% dos mais ricos de Portugal (os que pagam impostos, insisto), os meus vizinhos entraram numa euforia, porque não é qualquer um que trata os Belmiro, os Jardins Gonçalves, os Américos Amorins e outros ricos deste país tu cá, tu lá como nós lá no bairro. E assim o Joaquim deixou de trabalhar, pensando na herança que ia receber, o filho do João deixou de estudar porque o pai tinha ficado rico, a Ana não pôs mais os pés na farmácia e o José está à espera que lhe cheguem a casa as grandes mais-valias que fez através do Plano Poupança Acções.


Estava assim o meu bairro em grande festança quando vários jornais resolvem colocar cá fora a declaração de rendimentos do ministro das Finanças. Ora ele é homem sério, competente, trabalhador, bom chefe de família, até porque é um furioso entusiasta do Benfica, mas não tem cara de ser rico. Tem, aliás, o mesmo carro desde 1994 e não é grande coisa a viatura. Ora se ele não é um rico, nós devemos ter muito mais dinheiro que ele.

Mas vai-se a ver a declaração de rendimentos do nosso ministro e a nossa surpresa foi total, seguindo-se uma profunda tristeza. Para já, se não é rico, como é que ele investe nestes produtos? Só os 30% dos ricos é que o fazem. Depois deste facto perturbador, outro se seguiu. O ministro não só investe, como investe bastante. A saber: tem uma carteira de aplicações de 655 mil euros, dos quais quase 74 mil em PPR, quase 24 mil em PPA e depois ainda uma modesta aplicação de 7.200 euros numa conta poupança-habitação, num total que se aproxima dos 105 mil euros. Aliás, o ministro não fez outra coisa se não aumentar as suas aplicações nestes produtos nos últimos três anos, que passaram de 81 mil euros em 2002 para 91 mil em 2003 e 104 mil em 2004.

Bom, eu queria que vissem a cara do Joaquim, do João, da Ana e do José quando ouviram isto. É que aquilo que o ministro tem em aplicações financeiras é bem mais do que qualquer um deles ganha por ano, na casa das cinco vezes mais.

E pronto, durante quinze dias fomos ricos, mas já deixámos de ser. Mas como em todas as coisas, há que tirar os pequenos lucros das grandes perdas. O Joaquim abriu de novo a mercearia, o filho do João voltou a estudar, a Ana regressou à farmácia e o José está de novo a mostrar casas na imobiliária onde trabalha. O bairro voltou à normalidade e estamos todos muito mais contentes. É claro que deixámos de nos dar com o Belmiro, o Jardim Gonçalves e o Américo Amorim. Mas também é verdade que eles não passavam lá muito pelo meu bairro. E quem é que se quer dar com pessoas que não investem em PPR?”

4 de Outubro de 2004

Nicolau Santos, in Expresso on line




domingo, outubro 3

Congresso do PS - Encerramento

As maiorias esmagadoras são más conselheiras. Vejo notícias, acerca do Congresso do PS, a realçar essas maiorias. Zapatero ganhou o Congresso do PSOE por um voto (isso mesmo, um voto). Os discursos eficazes, com mensagens perceptíveis por todos, são um bom sinal. José Sócrates é um bom comunicador. Toda a gente já o sabia. Mas o Congresso consagrou essa vantagem.

Homenagear Sousa Franco proclamando as palavras: "amigos, companheiros e camaradas", com as quais abria as suas intervenções é uma provocação, desnecessária, a Manuel Alegre. Todos os que têm a memória da resistência ao fascismo sabem que era Manuel Alegre que abria as emissões da Rádio “Voz da Liberdade”, desde Argel, com as palavras: "amigos, companheiros e camaradas". Mau sinal.

A afirmação da vocação europeia do PS é um bom sinal. A criação de um “Fórum Novas Fronteiras”, seja qual for o seu formato, é um sinal de abertura à sociedade civil. A marcação de uma data para a sua concretização, 29 de Janeiro de 2005, é uma marca de pragmatismo. Bons sinais. Será para lançar a candidatura de Guterres à Presidência da República?
A "simplificação" da questão da política de alianças, que transpareceu dos discursos de alguns dirigentes da maioria vencedora do Congresso, e as afirmações ideológicas de um centrismo exacerbado, explanadas por outros, são um mau sinal. Se não houver capacidade para flexibilizar os impulsos do "radicalismo centrista", emergente neste Congresso, será muito difícil ao PS obter uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas por erosão do seu eleitorado à esquerda. O futuro o confirmará.
Não conheço os detalhes do debate mas reparei que as moções sectoriais foram, como de costume, remetidas para a próxima reunião da Comissão nacional. Mau sinal. Os rostos dos derrotados estavam crispados, os dos vencedores cansados (e preocupados?). Mau sinal.
Agora falta definir a política. A tradicional divisão direita/esquerda não ajuda grande coisa a essa definição. Os problemas que bloqueiam o desenvolvimento do país e a sua afirmação na Europa e no Mundo são transversais nos planos económico, social e político. Difíceis de abordar e ainda mais difíceis de verter em políticas aceitáveis pelo eleitorado tradicional da esquerda e mobilizadoras dos sectores mais dinâmicos da sociedade.
É preciso ir ao terreno, ouvir os protagonistas, chamar os melhores à mesa da discussão e formular políticas realistas, aceitáveis pelo maior número, com bom senso e bom gosto. É difícil? É simples? Em política o difícil é fazer os problemas difíceis parecerem simples.

Os Desvarios do Senhor Reitor

Deve ter sido um azar do Reitor da “Católica”. As entrevistas têm destas coisas. Logo foram puxar para manchete da edição dominical do "Público" um tema certamente marginal ao teor da entrevista concedida pelo reitor da “Católica”.

Manuel Braga da Cruz foi militante do MES. Eu sei que foi há muitos anos e a juventude explica muitos e, na maior parte dos casos, saudáveis desvarios. Ora aí está uma boa razão para que a diversão nocturna não mereça excomunhão. Haja Deus!

“Reitor da Católica Quer Novas Regras para Bares e Discotecas Manuel Braga da Cruz Diz Que a Pressão da Industria de Diversão Nocturna Contribui para o Insucesso no Ensino Superior, Deseja Que Os Alunos Não Frequentem Esses Espaços Tão Intensamente e Pede Intervenção do Poder Político

O reitor da Universidade Católica Portuguesa considera que um dos factores que contribuem para o insucesso dos alunos do ensino superior é a existência de uma pressão da indústria de diversão nocturna. Manuel Braga da Cruz defende que o poder político deve intervir na regulamentação desses espaços de modo a que os estudantes não os frequentem tão intensamente.”
TEXTO







PS - CONGRESSO

Ao segundo dia surgiu o debate da política de alianças. Nada de novo a não ser o ter-se discutido abertamente o que já não é nada pouco.
Mas o mais importante acontecimento deste congresso continua a ser a eleição do Secretário-geral. José Sócrates foi eleito por voto directo e secreto dos militantes com uma elevada participação. Mais de 30.000 eleitores foram às urnas facto absolutamente inédito na história da democracia portuguesa.

No primeiro dia do Congresso deu para conhecer o estilo do secretário-geral. No segundo para conhecer a política de alianças: PS sozinho em busca de uma maioria para governar, sem alianças. Agora faltam enunciar as políticas.

E saber como a nova liderança vai reagir às campanhas que a direita deve estar a aprontar na linha do vale tudo. É que a liderança do PS mudou mas não mudaram as lideranças do PSD e do PP. Preparem-se!

sábado, outubro 2

MARISA VAQUERO

Nacida en Daimiel (Ciudad Real), obtuvo el Premio Ciudad de Leganés por Jardines de piedra (1988). Ha publicado: Jean-Loup (1992) y una Antología de sus versos (1991). El inédito Poemas de falda negra aparecerá próximamente.

Para él
quiero una muerte lenta,
que oigan sus lamentos
las montañas y valles.
Que se llenen los ríos,
mares, pozos y lagos
de finos hilos rojos.
Que vean las estrellas
cómo se agota el ánimo,
cómo el latir se apaga.
Quiero vengarme hoy
que mi apetito sólo
desea devorarle.

In HARTZ

A nomeação de Celeste Cardona

Ouvi dizer, não ouvi ao vivo, que o Dr. Bagão Félix se manifestou indignado por uma campanha lançada, na comunicação social, contra a nomeação da Dra. Celeste Cardona para a administração da CGD (Caixa Geral de Depósitos).
A consciência do Dr. Bagão Felix é leve, muito leve, como o ar que respira. Já agora, a Dra. Celeste Cardona vai assumir, a tempo inteiro, na administração da CGD as “áreas jurídica e fiscal/contencioso/compras e provisionamento”.

Este episódio e os seus católicos protagonistas fizeram-me, estranhamente, lembrar estas citações:

“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”

“Para os cristãos, a Revelação está no início da história. Para os marxistas, está no fim.”

G. Greene: ...”Para quem não crê em Deus, se as pessoas não forem tratadas segundo os seus méritos o mundo é um caos, é-se levado ao desespero”.

Albert Camus, in Cadernos

"Projecto dum livro sobre a sexualidade

Aqui está um jovem casal que se instala no meu compartimento: a mulher é loira pintada; usa grandes óculos escuros, lê o Paris-Match; tem um anel em cada dedo e cada unha de ambas as mãos está pintada de cor diferente das unhas vizinhas; a do dedo médio, mais curta, dum carmim pesado, indica grosseiramente o dedo da masturbação. Daqui, do encantamento em que me mantém este casal do qual não consigo desviar os olhos, surge-me a ideia de um livro (ou dum filme) onde não haveria senão estes traços de sexualidade secundária (nada de pornográfico); aí se apreenderia (tentar-se-ia apreender) a “personalidade” sexual de cada corpo, que não é nem a sua beleza nem o seu ar “sexy” mas, sim, a forma como cada se oferece imediatamente à leitura; porque a jovem loira de unhas grosseiramente colorias e o seu jovem marido (de nádegas moldadas e olhos doces) traziam a sua sexualidade de casal na botoeira, com uma legião de honra (sexualidade e respeitabilidade provêm do mesmo cartaz) e essa sexualidade legível (tal qual Michelet a teria certamente lido) enchia o compartimento, por uma metonímia irresistível, muito mais seguramente do que uma série de garridices.”

Na página 16 escrevi a seguinte nota: “prefiro a viagem. o encontro entre as pessoas que se movimentam nos lugares e nos acontecimentos.”

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 40
(pag. 16, 2 de 2)

Edição portuguesa - Edições 70

sexta-feira, outubro 1

José Sócrates

Teve início o Congresso do PS. Os discursos iniciais são marcantes. Dispenso-me de comentar os rostos cansados das primeiras filas. Sócrates tem todas as condições para ser um vencedor. A personalidade dos lideres é muito importantes na luta política. A batalha da comunicação já ele ganhou. Agora falta definir a política. É aqui que bate o ponto.

Imigração - "O problema Social Mais Grave da Europa"

Está diponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo, com o título em epígrafe, publicado hoje no "Semanário Económico"

Aurora boreal

Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.

António Gedeão
Obra Poética
Edições João Sá da Costa
2001


Viajar na cidade

A cidade é um espaço fascinante. Ontem cruzei a cidade, de lés a lés, duas vezes de taxi. Não falo agora da arquitectura, da demografia, da limpeza, do estacionamento, do trânsito, do policiamento, em suma, da gestão da cidade de Lisboa. Falo dos dois homens que me guiaram nessas viagens pela cidade. Dois encontros surpreendentes.
O primeiro tinha sido empresário na área dos produtos de iluminação. A sua empresa era razoavelmente grande. Seis meses atrás desentendeu-se com o sócio e saiu “a bem”. A adesão à sua nova profissão foi forçada e estava a habituar-se. Gostava do que fazia mas as suas palavras denotavam a nostalgia pela vida que tinha "sido obrigado" a largar.
O segundo andava há quatro dias na faina. Não sabia como chegar ao destino que lhe indiquei. Homem maduro reconheceu a sua ignorância. Expliquei-lhe o que o seu colega da manhã me tinha explicado. “Não se preocupe que 80% dos clientes lhe indicarão o caminho”. A maioria são simpáticos e colaborantes confirmou, como resultado da sua curta experiência. Enquanto lhe indicava, com o máximo de detalhes, as virtudes do caminho que escolhi ele contava-se a sua experiência de vida.
Era industrial de confecções. Tinha uma fábrica que começou a não dar para pagar as despesas. Explicou-me que os produtos do oriente não dão hipóteses à nossa produção tradicional. A sua mulher ainda lá trabalha. Mas ele teve que agarrar-se a uma actividade que tinha abandonado há muitos anos atrás. Para legalizar a sua situação de condutor do táxi (de um amigo) realizou 200 horas de formação. Aos 60 anos é obra.
Ao viajar na cidade ontem confrontei-me com dois dramas pessoais e familiares. Dois exemplos de homens de cultura e experiência superior que não se deram por vencidos face às dificuldades da vida. Senti-me solidário com eles.
Aconselho vivamente o Dr. Bagão Féliz a tomar, de vez em quando, um táxi, a andar a pé na rua, a viajar na cidade. Assim poderia afinar com mais perfeição os seus discursos de defesa dos pobres e desprotegidos. E a perceber a cor da bonomia que esconde, envergolhada, o vermelho da indignação e da revolta