terça-feira, maio 29

OS TRAVAS

Enquanto decorre a polémica acerca da abertura do túmulo de D. Afonso Henriques adiciono mais alguns fragmentos para a compreensão do papel de D. Teresa (mãe de Afonso Henriques) na formação do futuro reino de Portugal.

“Como vimos a sua aproximação (entre D. Teresa e os Travas) foi aumentando a partir de 1116. Em Janeiro de 1121, Fernão Peres Trava já se encontrava na corte de D. Teresa. Deve ter sido o sancionamento dessa situação por parte de D. Urraca que a levou a fazer as pazes. Em que consistia o acordo a que chegaram?”
(…)
"Pode, então, considerar-se a hipótese de D. Teresa, que sempre reivindicara o direito a herdar pelo menos uma parte do reino de seu pai, pretender obter o seu governo como soberana independente, e persuadir Pedro Froilaz de Trava a apoiá-la para o conseguir. O seu casamento com o seu filho Fernão Peres só podia reforçar esse projecto. Interessava a ambas as partes: D. Teresa, para conseguir a ajuda do mais poderoso magnata da Galiza; ao conde, para ascender à dignidade de consorte de uma rainha.”
(…)
“Ora, a união entre D. Teresa e Fernão Peres não podia ser aceite pela Igreja, porque o conde estava ligado por um casamento precedente (…).
Além disso, a rainha vivera antes, segundo parece, com Bermudo Peres, irmão de Fernão. (…) Ora o casamento com o irmão de alguém com quem houvera relações sexuais anteriores, era considerado pelo Direito Canónico como um impedimento da maior gravidade. A situação de D. Teresa e dos dois Travas tornava-se assim duplamente incestuosa. Foi, decerto, esse o “pecado” grave que eles procuraram reparar mandando construir o mosteiro de Sobrado, como recorda também a crónica. “
(…)
"Nada disto podia agradar a Diego Gelmirez, que se apresentava como um acérrimo defensor dos princípios da reforma gregoriana, e que viu assim prolongar-se por uma nova geração a rivalidade com Pedro Friolaz, e, pior, formar-se uma coligação entre galegos e portugueses para combater as suas pretensões hegemónicas. Daí o ódio que os redactores da História compostellana votavam a D. Teresa.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "Os Travas”", pgs. 30/31. (7)
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