segunda-feira, junho 14

Fragmentos de Leituras

O "dandy"

O uso desenfreado do paradoxo corre o risco de implicar (ou, simplesmente, implica) uma posição individualista e, se é que se pode dizer, uma espécie de "dandysmo". No entanto o "dandy", embora solitário, não está só: S., que é estudante, diz-lhe - com pena - que os estudantes são individualistas; numa situação histórica dada - de pessimismo e rejeição - toda a classe intelectual é virtualmente "dandy", se não for militante. (É "dandy" aquele cuja única filosofia é viageira: o tempo é o tempo da minha vida.)

"Roland Barthes por Roland Barthes" -17
(Fragmento 1 de 4, pag. 9)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Eleições europeias - notas

Ainda antes de saber os resultados definitivos das eleições europeias, ainda em fase final de apuramento, é certa a vitória do Partido Socialista. Nada que não fosse razoável esperar.

A abstenção andará em torno dos 61% - próxima dos níveis das eleições europeias de 1999 e inferior à que ocorreu, nas mesmas eleições, em 1994. O PSD e o PP coligados obterão um resultado de 33,2 - muito inferior ao somatório dos resultados dos dois partidos nas eleições de 1999.

O PS deverá atingir os 44,5%, o seu melhor resultado de sempre. A esquerda, no conjunto, vence folgadamente obtendo cerca de 58,6% dos votos expressos.

O que estes resultados provam e as suas consequências imediatas:

1) os portugueses estão muito descontentes com o governo;

2) as alternativas credíveis carecem de candidatos credíveis (caso de Sousa Franco);

3) o governo vai ser remodelado muito em breve, ou, menos provável, cairá por erosão dos fundamentos do acordo de coligação que o suporta;

4) o PS é a única alternativa credível de governo alternativo;

5) o regime democrático carece de um PS com capacidade para forjar, com autonomia, uma alternativa de governo realista e credível;

6) Ferro Rodrigues é candidato declarado à liderança do PS no próximo congresso do PS;

7) Ferro Rodrigues será, salvo qualquer acontecimento imprevisível, líder do PS para as próximas batalhas eleitorais: regionais, autárquicas, legislativas e presidenciais;

8) o PCP "aguenta" o seu eleitorado e o Bloco de Esquerda tende a crescer;

9) o que determina o sucesso das alternativas políticas não é o efeito de malabarismos de ocasião mas a persistência dos líderes na apresentação de projectos assentes em ideias claras e convicções fortes.


A partir do discurso de vitória desta noite é isso que a esquerda exige a Ferro Rodrigues: ideias claras e convicções fortes. O voto "de castigo" no governo é, ao mesmo tempo, um endosso de responsabilidades ao PS para forjar um projecto de governo alternativo capaz de assumir o poder, o mais tardar, em 2006.

Também publicado em abébia vadia

domingo, junho 13

A PALAVRA IMPOSSÍVEL

Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor de uma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim
A única palavra sem disfarce -
A palavra que nunca se profere.

Adolfo Casais Monteiro
(1908/1972)

In "Rosa do Mundo" - 2001 Poemas para o futuro
Assírio & Alvim

Eugénio de Andrade

Ouvi dizer, e é público, que estás muito doente. Não serve de nada glosar as doenças nem chorar a morte dos poetas. Eles quando são verdadeiros ficam sempre vivos. Quando são grandes tornam-se imortais.

Não sei se Portugal segue esta regra universal. Aqui somos mais dados à inveja e ao esquecimento. Quanto mais obra, e mais aprimorada, sem vénias, nem costas curvadas, pior para o artista.

Não são palavras amargas, suficientemente amargas, as que digo. São o menos que se pode dizer de um país que inverte em tudo a hierarquia da importância dos homens. Por isso não te admires se fores votado ao esquecimento. A tua glória já dura há muito tempo. És, graças a Deus, admirado em vida. Admirado por aqueles que merecem admirar-te. Vais agora ser publicado na China.

Tenho aqui na minha frente uns quantos poemas teus dedicados a heróis e amigos mortos: Guillaume Apollinaire, Augusto Gomes, Vicente Aleixandre, Kavafis, Che Guevara, José Dias Coelho, Casais Monteiro, Pier Paolo Pasolini, Jorge de Sena, Ruy Belo, Carlos Oliveira, Vitorino Nemésio e tantos mais. Teus heróis e amigos.

Um poema destes vale mais que todas as homenagens da praxe com regresso garantido ao baú das memórias. Ainda para mais quando sabemos que estão na fila de espera um ror de poetas vivos, e de saúde, para ser consagrados e, quiçá, condecorados.

E porque ao ler este poema me lembraste tantas coisas, porque é dia de Santo António, porque vamos a votos, porque "é a pátria que nos divide e mata/ antes de se morrer.", aqui te deixo a minha homenagem.

A CASAIS MONTEIRO,
PODENDO SERVIR DE EPITÁFIO

O que dói não é um álamo.
Não é a neve nem a raiz
da alegria apodrecendo nas colinas.
O que dói

não é sequer o brilho de um pulso
ter cessado,
e a música, que trazia
às vezes um suspiro, outras um barco.

O que dói é saber.
O que dói
é a pátria, que nos divide e mata
antes de se morrer.

Setembro, 72

sábado, junho 12

EURO-2004

"Dez estádios novinhos em folha ou quase, nove cidades-sede e muitas anfitriãs das equipas, 16 selecções, 1,2 milhões de lugares disponíveis para os espectadores nos 31 jogos, a maior operação de sempre em termos de segurança em Portugal..." Público

Começa hoje, em Portugal, o Campeonato da Europa de Futebol. A notícia completa é composta pelos múltiplos números e detalhes de um grande investimento. Sou um amante do futebol. Por isso considero positivo para Portugal a realização do EURO-2004.

Este projecto, paradoxalmente, foi obra do governo anterior. Choveram as críticas dos seus actuais propagandistas. É bom não esquecer que para um pequeno país europeu, com 10 milhões de habitantes, situado na ponta mais ocidental de uma Europa que, agora com 25 países, encontra o seu centro de gravidade cada vez mais a leste, conquistar a organização de um grande evento, como o EURO-2004, é um feito extraordinário.

Foi o governo anterior que assumiu os riscos. Esse governo ao qual se têm assacado as maiores desgraças e que tem sido apelidado, sem parança, pelo actual, de ter deixado "uma pesada herança". Estas palavras parecem banais. Mas não são. É que este é o único grande projecto português, com projecção internacional, que se vislumbra no horizonte.

Não é preciso Portugal ser campeão europeu para que o EURO-2004 seja um sucesso. O facto de ter sido possível conquistá-lo para Portugal, organizar os empreendimentos previstos: obras físicas e promoção de Portugal no Mundo, é uma vitória de Portugal que coloca problemas mas deixa, no essencial, marcas positivas para o futuro.

E, já agora, vamos fazer força para que Portugal seja campeão.

sexta-feira, junho 11

CV-15

SANATÓRIO GERAL

Um blog do Brasil. Bom gosto. Escrita perfeita. Um prazer de leitura. Como todos os outros que tenho dado a conhecer, neste série, são de autores que não conheço pessoalmente. Mas a sua qualidade não engana a sensibilidade. São trocas de emoções e reconhecimento de interesses comuns ou complementares.

Aqui está a breve biografia da autora: "Pessoa: jovem dama em terras maurícias, tem um bonito nome e cara de biscoito Maria"

O programa sintético do Blog: diarices, pensamentos e historinhas




Um funeral diferente para um homem diferente

Acabei de participar no funeral de um distinto homem público: Sousa Franco. Em Portugal, por muito mal que se fale da política, temos um escol de políticos sérios, competentes e dedicados à causa pública. Não vou enumerar nomes de políticos contemporâneos nem daqueles que no passado honraram com a sua acção o serviço público. Mas são muitos.

A caminhada foi, a pé, da Basílica da Estrela ao Cemitério dos Prazeres. Conheço aquele caminho. Não porque participe em muitos funerais. Só vou quando me obriga um profundo sentimento de amizade ou de gratidão.

Conheço o espaço público destes actos porque neles vivi boa parte da minha juventude. Morei na parte alta da Calçada da Estrela, ali ao lado da Basílica, e frequentei o majestoso jardim e a sua esplanada. A mesma que Sousa Franco tanto apreciava. Nela namorei, estudei, conspirei, desesperei, me despedi e reencontrei. É um lugar de referência na minha vida. Fui hoje visitá-la e estava quase tudo na mesma. Compreendo como poucos a razão do gosto de Sousa Franco por aquele lugar.

Depois sobe-se na direcção de Campo de Ourique. Um desfile de memórias. O Cinema Paris em ruínas. Nele vi os primeiros filmes da minha estadia, que nunca mais acabou, em Lisboa. Ao cimo da subida, a Tentadora, o "Correio", o "Canas". Frequentei esses lugares vezes sem conta. Ainda hoje ao sentar-me na esplanada da Tentadora, depois da última penosa caminhada de solidariedade com Sousa Franco, o empregado me dirigiu a palavra: "então há quanto tempo..."

Aqueles lugares são uma parte do meu percurso de vida. Têm o encanto dos caminhos que fiz, vezes sem conta, para casa do Xico Chaves (agora no Brasil, ói, como vais?) ou para a casa em que vivi na Rua Sampaio Bruno.

O Bairro de Campo de Ourique é uma preciosidade da cidade de Lisboa. Nele respira-se a luz mais brilhante, a urbanidade mais civilizada, o vozear mais cativante e os cheiros mais atraentes. A autêntica "Cidade Branca" de Tanner. Campo de Ourique faz-nos acreditar que vale a pena viver em comum. Que é possível a uma cidade manter a escala humana.

Paradoxalmente o acto de acompanhar Sousa Franco à "última morada" faz-nos acreditar na vida e no futuro. Sei que era isso que ele gostaria de ouvir. E toda a população que quis ver passar o cortejo fúnebre, no seu silêncio respeitoso, nas suas faces hirtas de comoção, nos seus olhos embaciados, mostrava como a política reassume a sua grandeza quando os protagonistas merecem o respeito e a confiança do povo.

Perdeu-se uma vida mas ficou uma lição de liberdade, cidadania e humanismo.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CAMINHO DO FUTURO (3)

Deixando de parte a discussão acerca da viabilidade e eficácia do ensino tecnológico, e das medidas que têm sido anunciadas, a sociedade portuguesa vive na expectativa de acolher jovens quadros técnicos formados nas diversas vias disponíveis da "educação profissional".

Nestas vias os jovens completam o ensino secundário, ou seja, o 12º ano e adquirem uma qualificação profissional de nível 3. Conheço essa realidade. A via da "educação profissional" não é uma alternativa menor. É uma alternativa maior. Este caminho já está descoberto e no terreno há muitos anos.

Para além de todas as alternativas que se queiram, legitimamente, implementar é preciso não perder de vista as realidades preexistentes da "educação profissional" e o apoio ao seu crescimento sustentado conjugando experiências, sinergias, recursos e inovação, desde os departamentos do estado, tantas vezes de costas voltadas, até à comunidade educativa, ao "mundo empresarial" e, em geral, à sociedade civil.

(Última parte do artigo publicado no "Semanário Económico" em 9/6/2004)



Eleições Europeias mais importantes que nunca

Estas eleições são muito mais importantes do que muitos portugueses pensam. Manuel Villaverde Cabral diz tudo aquilo que me apetecia dizer.

Vejam a sua crónica no DN de hoje.


Ray Charles

Ray Charles, o músico norte-americano apelidado de "génio da soul", morreu hoje, aos 73 anos de idade.

Sempre me fascinou. Lembro-me de o ouvir nas "caixas de discos" e nas "audições clandestinas" que em grupo fazíamos dos cantores proibidos pela ditadura, em particular, José Afonso.

Ao longo do tempo, quando o ouvia, sempre me perguntava a mim próprio porque razão me parecia sempre melhor e exercia o mesmo fascínio das primeiras vezes.


quinta-feira, junho 10

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CAMINHO DO FUTURO (2)

É necessário sublinhar que existe em Portugal, desde 1989, ensino tecnológico e profissional, criado no âmbito do Ministério da Educação, antecedido pela experiência pedagógica do técnico profissional, em 1983, cuja avaliação foi muito importante para o lançamento das escolas profissionais. Preferia chamar-lhe "educação profissional" mas isso é outra discussão. No entanto, para quem lê alguma comunicação social, parece que "agora" se está a inventar o já inventado.

De facto, em Portugal (Continente), 30% dos alunos do Ensino Secundário já frequentam cursos de ensino tecnológico e profissional. No ano lectivo de 2003/2004 frequentam o Ensino Secundário Regular 277.883 alunos; destes, 83.469 frequentam o ensino tecnológico e profissional, sendo que, deste universo, 31.702 frequentam as Escolas Profissionais.

O número de alunos, que frequentavam o ensino tecnológico e profissional, em 1989, era quase zero. A meta para 2010 é de 50%. Mas atingir os 30%, em 14 anos, é obra. Não sejamos masoquistas nem cedamos à tentação do "antes de nós o dilúvio".

O abandono escolar é outro assunto. Nos diversos percursos disponíveis no nosso sistema é curioso verificar que a taxa de abandono é superior no ensino tecnológico, face ao ensino regular. O mesmo não acontece nas escolas profissionais. Estas têm mostrado mais capacidade para gerar dinâmicas de empregabilidade e de sucesso na resposta aos desafios do combate ao abandono escolar.

(2ª parte do artigo publicado no "Semanário Económico" em 9/6/2004)

Luís de Camões no Dia de Portugal

Duas Redondilhas (muito conhecidas)

I

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso passo tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.


II

Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escalarta,
Sainho de chamalote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado,
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura


quarta-feira, junho 9

Sousa Franco - honra à sua memória


Quarta-feira 9 de Junho de 2004. Sousa Franco faleceu. Em campanha. Fui, desde a primeira hora, um entusiasta da sua candidatura.


Era um extraordinário candidato do PS na disputa das eleições europeias. Franco de nome como o meu pai. Franco de convicções como poucos. Um político de parte inteira. Podia não parecer eficaz pela sua imagem austera. Mas era um político fino. Lúcido e forte nas suas convicções, claro nas suas mensagens.


Era demasiado sério para a política portuguesa. Demasiado exigente para o nosso proverbial desleixo. Os adversários temiam o seu desabrimento. Quiseram pô-lo a falar mal do secretário-geral do PS mas ele saiu, com elevação, em sua defesa.


Quiseram pô-lo a falar mal de si próprio quando, no passado, exerceu as funções de Ministro das Finanças, mas ele defendeu a sua acção atacando, frontalmente, a hipocrisia dos seus adversários.


Sousa Franco disse, nesta campanha eleitoral, aquilo que os portugueses precisavam de ouvir: a actual maioria de governo defende os interesses dos poderosos, contra os interesses da maioria do povo. A actual maioria, afirmou, com uma ponta de ironia, faz o país andar para trás, a caminho do "Estado Novo".


Fizeram-lhe ataques miseráveis aos quais respondeu com firmeza. Combateu no terrreno político quando o quiseram arrastar para a lama do insulto pessoal.


Os portugueses não vão esquecer Sousa Franco. Espero que os seus adversários tenham uma iluminação de decência e não venham dizer que perderam as eleições porque Sousa Franco morreu.


Mal sabia eu que hoje diria de Sousa Franco o que ontem disse de Humberto Delgado: honra à sua memória.

(Também publicado no abébia vadia)

A palavra aos leitores

Recebi de E.B. este interessante comentário ao meu artigo hoje publicado no "Semanário Económico" e cuja primeira parte consta do post anterior.

"Realmente não sabia o que se passava neste domínio. É um artigo de grande utilidade informativa.

A título de piada acrescento que o ensino técnico, entre outras situações, foi grandemente responsável pelos complexos adquiridos pelo nosso ex-primeiro ministro e saudoso professor Doutor Cavaco Silva. Imagino que, ele, terá prometido a si próprio, com a cabeça enfiada nas grades da Escola Industrial e Comercial de Faro, do lado de dentro e vendo passar os “meninos” para o liceu, que um dia esses meninos iriam pagar caro a humilhação que lhe infligiam. Ajoelhar-se-iam a seus pés, implorando-lhe clemência, reclamando não ter culpa alguma do que acontecera. A isso ele responderia: mas assistiram a tudo, por isso têm que sofrer e reparar. É que embora como meros figurantes, constituíram todo o cenário da sua humilhação. Sendo agora humilhados, em parte contribuíam para que se fizesse justiça.

Na cadeira de Finanças 1, no ISCEF, já de certo modo cumpriu a sua “promessa”. Sentado, como 2º assistente, num pedestal, examinou os “meninos” que o humilharam. Eles entravam pela porta baixa, tolhidos pelo medo e sentavam-se no nível zero da sala, como que num banco de réus. Dava-lhes numa mesa um exemplar do Orçamento Geral do Estado. Três níveis acima, sobre o estrado, estava o antigo moço da Escola, agora recuperado na sua dignidade, desta vez como julgador. Dominando todos, quer examinandos, quer os assistentes seus ajudantes, quer o próprio catedrático, dirigia nervosas e curtas perguntas ao supostamente “menino” do Liceu, com solenidade e crispação. Sem paciência para esperar pelas respostas, conta-se que terá, uma vez, acabado o exame nos primeiros minutos, inferindo ignorância inultrapassável ao examinando por este ter aberto o gordo livro nas primeiras páginas. Realmente a Cordoaria como serviço autónomo estava nas últimas páginas do OGE.

Mas era generoso por vezes. Permitiu, por exemplo, ao professor titular da cadeira, dar 2 aulas por ano ( a primeira e a última), depois deste concordar que as matérias dessas 2 aulas não vinham para exame."



EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CAMINHO DO FUTURO (1)

O Presidente da República, na recente Presidência Aberta, disse aquilo que tem de ser dito acerca do abandono escolar: a dimensão do abandono escolar é uma tragédia nacional. O governo anunciou medidas, ainda bem.

Divulguei no Semanário Económico, tempos atrás, os dados desta tragédia. Dando um forte sinal público da gravidade da situação o Presidente da República cumpriu a preceito a sua função.

A mim, em particular, muito me apraz que o tenha feito numa escola profissional pois fui, de 1989 a 1993, coordenador da equipa de projecto que, no Ministério da Educação, dinamizou a criação do ensino profissional e das escolas profissionais.

As notícias da presidência aberta acerca do "estado da educação" foram pontuadas, aqui e ali, por manifestações de ignorância profunda, sugerindo que o ensino tecnológico e profissional está em fase de lançamento. A realidade resiste a ser descoberta desde que não esteja no terreno do interdito, ou seja, do socialmente escandaloso.

O estereotipo das antigas escolas técnicas substitui, no imaginário colectivo, a realidade do presente ensino tecnológico e profissional. Mas, de facto, o antigo "ensino técnico" já não existe em lado nenhum. Deixou marcas mas morreu. Não se recomenda. Era fruto de uma cultura elitista.

(1ª parte do artigo publicado no "Semanário Económico" em 9/6/2004)

terça-feira, junho 8

General Humberto Delgado

A 8 de Junho de 1958 tiveram lugar, em Portugal, as eleições presidenciais mais importantes dos 48 anos do Estado Novo.

O General Humberto Delgado atreveu-se a desafiar a ditadura.

A campanha eleitoral foi um momento de grande mobilização popular. O candidato do regime, Almirante Américo Tomáz, ganhou as eleições, como seria de esperar, mas o resultado nunca foi aceite pela oposição democrática.

Uma efeméride de que poucos se lembram. É pena. O General Humberto Delgado pagou caro a sua ousadia: foi assassinado pela polícia política da ditadura.

Honra à sua memória.

(Em simultâneo no absorto e na abébia vadia)

segunda-feira, junho 7

Uma política de poupança ao contrário.

"Aumento das Despesas com Medicamentos Pode Bater Record dos Últimos Seis Anos"- Público

A notícia parece bem fundamentada. E reacção do Ministro da Saúde assumiu um tom de vencido. Confirmou que a factura com medicamentos aumentou. Justificou com os "meses maus" do início do ano.

Afinal as poupanças previstas com a política dos genéricos já foram absorvidas por novos medicamentos, de marca, colocados no mercado. A indústria farmacêutica não deixa os seus créditos (lucros) por mãos alheias. O seu silêncio público quer dizer que os negócios estão a correr bem.

O Dr. Cordeiro, o boticário-mor do reino, também guarda prudente silêncio. O negócio da farmácias deve estar a correr bem. Então para quem é que corre mal? Aguardam-se esclarecimentos fundamentados e mais convincentes.

Para já estamos confrontados com uma política de poupança da despesa pública ao contrário. Interessante !


Fragmentos de Leituras

"Canhoto

Ser canhoto, que quer dizer? Comemos ao invés do lugar designado para os talheres; encontramos o punho do telefone ao contrário, quando um destro se serviu dele antes; a tesoura não está feita para o nosso polegar. Outrora, na sala de aula, era preciso lutar para ser como os outros, era preciso normalizar o corpo, fazer á pequena sociedade do liceu a oferta da "boa mão" (eu desenhava, por constrangimento, com a mão direita, mas coloria com a esquerda: vingança da pulsão); uma exclusão modesta, pouco consequente, tolerada socialmente, marcava a vida adolescente com um vinco ténue e persistente: acomodávamo-nos e seguíamos para diante."

Escrevi nesta página: "o buscar subtil de processos para matar o tédio, o aborrecimento, a rotina."


"Roland Barthes por Roland Barthes" -16
(Fragmento 3 de 3, pag. 8)

Edição portuguesa: "Edições 70"


CV-14

La vie en blues "Enredo: Sobre o tempo, o amor e outras coisas estranhíssimas."

Mais um blog do Brasil. Uma aproximação visual (e não só) ao meu próprio universo. Ao fim de quase seis meses só não uso ainda imagens. Lá iremos. Mas um gosto pela literatura em que se encontram pontos comuns. La vie en blues, gosto.

domingo, junho 6

6 de Junho de 1944

Neste dia, 60 anos atrás, os aliados desembarcaram nas praias da Normandia. É o princípio do fim da ocupação nazi da Europa. Morrem, em poucos dias, muitos milhares de soldados das forças libertadores e das forças ocupantes. Os relatos hoje retomados, em toda a sua dimensão heróica e trágica, engrandecem os vencedores e os valores da liberdade.

Camus por estes dias escreveu no seu Caderno:

"Criação corrigida.
O carro de assalto que se volta e se debate como uma centopeia.
Bob nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.
Cf. Relatório da comissão inglesa no Times sobre atrocidades.
O jornalista espanhol de Suzy (pedir o texto) (crianças mostravam-lhe os cadáveres, rindo).
Duche frio no coração durante uma hora.
Fala-se durante o dia da possibilidade de comer uma sopa de leite à noite porque isto faz urinar várias vezes durante a noite. Que os W.C. ficam a cem metros do prédio, que faz frio, etc.
- Ao entrarem na Suíça, as mulheres deportadas dão gargalhadas ao verem um enterro:
- "É assim que tratam os mortos, aqui!"
- Jacqueline.
- Os dois rapazes polacos a quem obrigam a queimar, aos catorze anos, a sua casa, estando os pais lá dentro. Dos catorze aos dezassete anos, Buchenwald.
- A porteira da Gestapo instalada em dois andares de um prédio da rua Pompe. De manhã, trata da casa no meio dos torturados. "Nunca me ocupo do que fazem os meus inquilinos."
- Jacqueline no regresso de Koenisberg a Ravensbruck - 100 quilómetros a pé. Numa grande tenda dividida em quatro. São tantas as mulheres, que não podem deitar-se no chão, a não ser encaixando-se umas nas outras. A disenteria. Os W.C. a cem metros. Mas é preciso passar por cima dos corpos e até pisá-los. Faz-se ali mesmo.
- Aspecto mundial no diálogo entre a política e a moral. Perante esse aglomerado de forças gigantescas: Sintes (…).
- X. deportada, libertada com uma tatuagem sobre a pele: serviu durante um ano no campo dos S.S. de …"


In "Cadernos II" (Caderno nº 4 - Janeiro 1942 - Setembro 1945), Albert Camus, Edições Livros do Brasil


Os "progressos da civilização"

A intervenção dos EUA no Iraque produz mais um notável resultado, certamente, inspirado pelo lado mais soturno da democracia americana - versão Bush - o restabelecimento da pena de morte.

No dia da celebração dos 60 anos do desembarque dos aliados na Normandia, princípio do fim da ocupação nazi da Europa, no qual os americanos desempenharam um papel decisivo e abnegado, o anúncio da pena de morte no Iraque "libertado" pelos americanos não deixa de ser uma triste ironia da história.

"O novo ministro da Justiça iraquiano, Malek Dohane al- Hassan, revelou domingo à imprensa que o seu país vai restabelecer a pena de morte após 30 de Junho e que o antigo presidente Saddam Hussein poderá nela incorrer.

"A pena de morte apenas está suspensa no Iraque, mas com o regresso da soberania nada obrigará a manter essa suspensão." - Lusa

Devo estar a ficar louco...

O Primeiro Ministro inaugurou hoje um troço do Metro do Porto. Mais uma obra oriunda da "pesada herança" do anterior governo. As próprias notícias são convincentes: o túnel foi escavado entre 2000 e finais de 2002. A iniciativa do projecto e a parte dura da obra decorreram, em grande parte, no período do Governo socialista. Nada mais natural do que um governo inaugurar obras projectadas e desenvolvidas pelo governo anterior. As mudanças de governo fazem parte da essência de democracia. Pode acontecer que o que um governo inicia outro governo conclua.

Mas no caso das obras inauguradas, recentemente, pelo actual governo é diferente. As inaugurações decorrem em plena campanha eleitoral. Toda a gente já acha normal! Mas que diabo. Tudo é apresentado como obra própria? E, ao mesmo tempo, prossegue a campanha alegre do "descalabro" da gestão do anterior governo? Este é um caso em que o governo, e a maioria que o suporta, atingiram os limites da baixeza na luta política democrática.

Mais demonstrativo da consciência da falta de obra própria é o anúncio realizado, nos últimos dias, de um projecto para a construção de outro túnel. Outro túnel? Sim. Desta vez o metro submarino ligando Lisboa a Almada. Além da Ponte 25 de Abril? Do comboio que já circula na mesma Ponte? Da travessia de barco entre as "duas bandas" do Tejo? Da ponte Vasco da Gama? Das encrencas do "Túnel do Marquêz" e do Estação de Metro doTerreiro do Paço?

É preciso mostrar ideias e iniciativas! Muitas e de preferência túneis! Desta vez a notícia que vi tinha uma curiosidade. Quem fazia o anúncio era o Ministro Óscar Fragoso! Pensei no velho General! O falecido Presidente! Óscar Fragoso! ...Carmona? Através deste lapso curioso recuamos às figuras de 1928 e às imagens do início da ditadura. Devo estar a ficar louco... (já não consegui linkar a notícia).

Na véspera das eleições os túneis nascem como cogumelos. E até o nome do velho General Carmona teve direito a regressar às notícias do dia! Devo estar a ficar louco...ou é a maioria que está a ficar, prematuramente, cansada?

sexta-feira, junho 4

CV-13

Navegar Impreciso Aqui vos apresento um criativo blog do Brasil. Gostei muito. Desde logo do título. Navegar é preciso, se transfigurou - navegar impreciso. Bonito. (republicado com uns retoques).

Jorge de Sena

Jorge de Sena faleceu no dia 4 de Junho de 1978 em Santa Bárbara, Estados Unidos da América, e jaz no cemitério do Calvário em campa rasa. A transladação do seu corpo permanece letra morta.

Jorge de Sena é escritor maior e um dos mais extraordinários poetas da língua portuguesa de todos os tempos. Exilado de Portugal trabalhou e viveu no Brasil e nos Estados Unidos da América onde viria a falecer. Desde que conheci a sua obra Sena ganhou em mim um admirador apaixonado. Aqui lhe deixo uma homenagem singela reproduzindo um poema dedicado ao grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.


A DRUMMOND QUANDO FIZER SETENTA ANOS

Mistral (Gabriela) Asturias (Miguel Ângelo)
e o Pablo de Neruda Chile - a ti coisa nenhuma.
Os Castros de Ferreira mais Amados Jorges
partilham prémios do Lácio de Paris - a ti coisa nenhuma.
E todos acabam académicos e tu não vais pedir
os votos académicos - a ti coisa nenhuma.

Escreves em português e o Brasil é um só - as bananas
das repúblicas hispânicas são muitas, à
esquerda e à direita. Não és embaixador,
não foste nunca embaixador senão lá de Itabira.
Andrade isso és mas não és de São Paulo,
cubista ou folclorista. Pelo Rio
passaste sempre esguio entre as mulheres,
os literatos e os arranha-céus, silente e pisco.

O maior, todos concordam. Mas em crónica
como em poesia tens cultura a mais,
poesia a mais, humanidade a mais,
e dignidade a mais - a ti coisa nenhuma.
Carlos (Magno) Drummond (of Hawthornden quiçá
filho bastardo do suspeito Shakespeare)
de (partícula que irrita os bibliotecários norte-americanos)

Andrade - aos setenta anos como sempre
fazendeiro do ar no brejo das almas,
fabricando claros enigmas de alguma poesia,
encomendando às amendoeiras que falem por ti
a rosa do povo, o sentimento do mundo,
e a vida ( a tua e a dos outros) passada a limpo.

30/10/72

In "Tempo de Exorcismos" (1970-1972)



AINDA PODE LER AQUI QUATRO SONETOS A AFRODITE ANADIÓMENA E AS NOTAS DO POETA ACERCA DELES





quinta-feira, junho 3

FUTEBOL

Gosto de futebol. Desde a minha mais tenra infância. De jogar e de ver jogar. É um prazer inexplicável. Uma paixão que está do outro lado do negócio em que o futebol profissional se transformou.

Tudo o que possa acontecer de bom para o futebol português, ao nível de clubes e de selecção, é bom para mim. Logo, na minha visão "distorcida", bom para os portugueses e para o progresso do país. Parece uma visão um bocado redutora, não é? Não há volta a dar.

Por isso compreendo o projecto do Euro-2004 uma das "pesadas heranças" deste governo. O futebol é uma "fileira" da actividade económica em que Portugal é competitivo. No futebol Portugal gera talentos e tem organização. Ganha no cotejo com muitos outros países com mais elevados padrões de desenvolvimento. Dizem alguns: "terceiro mundo". Bom, mas não se pode ser "terceiro mundo" naquilo em que somos maus e "terceiro mundo" naquilo em que somos bons.

Ora vejam só o dia de ontem: selecção nacional de sub-21 - vitória (2-1) contra a Alemanha (na Alemanha), com hipóteses de apuramento para os Jogos Olímpicos; selecção nacional (julgo, de sub-20) - vitória (1-0) contra o Brasil (isso mesmo o Brasil!) no Torneio de Toulon e vitória do Farense contra o F.C. Porto (1-0) na fase final do campeonato nacional de iniciados. Aqui o Farense (o meu verdadeiro clube do coração) emparelha com o Sporting, Boavista e F.C. Porto…e ganha.

Estás a ver José Rebelo como se explicam as bandeiras nacionais que os taxistas desfraldaram. Eu por mim trago sempre uma bandeira desfraldada no meu coração quando está em causa o resultado da minha equipa predilecta. No caso do Euro-2004, a selecção.

O resto é meter golos na própria baliza…

(Também disponível no blog ABÉBIA VADIA)

A crise mais longa dos últimos 25 anos

Esta é a realidade da situação da economia portuguesa, no presente, segundo o governo. Notícia, na íntegra, do Semanário Económico aqui.

"De acordo com a estimativa do Governo, o 1º trimestre de 2004 terá, pela sétima vez consecutiva, uma variação homóloga do PIB negativa.

Portugal deverá, a confirmarem-se as últimas estimativas do Governo, ter registado no início deste ano o sétimo trimestre consecutivo de variação homóloga do PIB negativa, a série mais longa de resultados negativos dos últimos 25 anos.

Norberto Rosa, secretário de Estado do Orçamento, afirmou esta semana na Assembleia da República que, no primeiro trimestre deste ano, se voltaria a verificar uma variação homóloga negativa. Desde a segunda metade de 2002 que este indicador apenas apresenta valores negativos.

Nem nas crises de 1983 e 1992 se tinha verificado um período tão longo de variações homólogas trimestrais negativas."


Fragmentos de Leituras

"A moranguina

O sabor do bom vinho (o sabor direito do vinho) é inseparável da comida. Beber vinho é comer. Com pretextos dietéticos, o dono do restaurante T. fornece-me a regra desse simbolismo: se bebermos um copo de vinho antes da refeição, ele quer que o acompanhemos com um pouco de pão: que se crie um contraponto, uma concomitância; a civilização começa com a duplicidade (a sobredeterminação): não será o bom vinho aquele cujo sabor se desprende, se desdobra, de tal maneira que o gole efectuado não tenha exactamente o mesmo sabor do gole iniciado? No trago de bom vinho há, como na abordagem do texto, uma torsão, uma gradação: há um acamado, como uma cabeleira.

Ao relembrar as pequenas coisas de que tinha sido privado na sua infância, encontrava aquilo de que gosta hoje: por exemplo, as bebidas geladas (cervejas muito frias), porque nesse tempo ainda não havia frigoríficos (a água da torneira, em B., nos verões intensos, estava sempre morna)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -15
(Fragmento 2 de 3, pag. 8)

Edição portuguesa: "Edições 70"

quarta-feira, junho 2

Mulheres e ...Médicas

"Alunas em maioria este ano lectivo
Defendidas quotas para travar entrada de mulheres nos cursos de Medicina

O crescente número de mulheres a entrar nas faculdades de Medicina está a causar apreensão entre alguns sectores da classe médica e das próprias instituições de ensino. Há mesmo quem defenda a criação de quotas para homens, numa tentativa de travar a presença maioritária das universitárias nestes cursos." Público

A notícia é real. Em síntese diz-se que há quem defenda o estabelecimento de "quotas" para homens no acesso aos cursos de medicina. Se não for uma brincadeira os deuses devem mesmo estar loucos.

Vamos adoptar modelos de discriminação negativa, sexista, ...? E caso se inscrevam muitos alunos negros? E homosexuais? E imigrantes? E com menos de 1,54cm. ou mais de 1,90 cm. de altura?…

Cuidado!... Vejam a notícia, na íntegra, aqui.


Dirigir sem partitura

Ouvi na rádio (RDP-2, que o Governo ia fechar, mas não fechou) um trabalho notável de José António Cartaxo. Trata-se da descrição de casos de Maestros que dirigem longas sinfonias sem recurso à partitura. De memória.

Era o caso de Toscanini. Um dia Toscanini dirigia uma sinfonia de Wagner. Para espanto de todas tinha aberta, na sua frente, uma partitura. Que estaria a acontecer? Perda de memória? Algo intrigante para os conhecedores da maneira de actuar do famoso maestro.

Finalmente o seu assistente explicou a razão de ser de tal anomalia. Toscanini regia Wagner e estudava, ao mesmo tempo, uma peça de Verdi, … para o dia seguinte.

Sousa Franco

Logo aquando da apresentação de Sousa Franco como cabeça de lista do PS para as eleições para o Parlamento Europeu afirmei, sem hesitações, que tinha sido uma boa escolha. Acabo de participar na apresentação pública da Comissão de Honra da candidatura do PS, a qual integro, com muito gosto, a convite do Secretário-geral.

O facto mais relevante desta apresentação foi a intervenção política de Sousa Franco. Trata-se de um homem oriundo das correntes católicas, austero, na figura e na palavra, social-democrata autêntico, na tradição portuguesa da valorização do social.

As suas ideias confluem, no essencial, com os princípios do socialismo democrático moderno, ou seja, defesa da liberdade com solidariedade social. Sousa Franco, para surpresa de alguns, que não minha, demonstrou, mais uma vez, clarividência na defesa destes princípios e foi duro, quanto baste, na crítica à deriva populista da coligação de direita.

Os seus discursos são articulados e coerentes, pedagógicos e mobilizadores. Uma pedrada no charco. O contrário do que possa transparecer da imagem que a direita tenta "vender" de um Ministro desmazelado e esbanjador que, de facto, nunca foi. Como gosta de dizer foi com ele, como Ministro das Finanças de um Governo Socialista, que Portugal integrou o grupo de países que adoptaram o Euro, moeda única europeia. Como em 1985 já tinha sido com um Governo socialista que Portugal aderiu, de pleno direito, à União Europeia.

A memória é curta mas a verdade é para se dizer e fazer valer nas grandes ocasiões.

terça-feira, junho 1

CV-12

Revelo um novo blog do Brasil que dá pelo título de Cera.Quente

Bom de escrita. Eis o CV da autora:

"26 anos, mulher e criança todos os dias, ácida, um tanto mal-humorada, fanática por cinema, amante do bom e velho rock 'n' roll, se dói quando vê criança ou animal sofrendo, leal, cheia de defeitos, antítese em pessoa, meio áspera, mas verdadeira. Alma delicada e inofensiva, língua cortante muitas vezes agressiva. Aspirante a algo ainda não descoberto, sentimental e tímida que acha que finge bem ser extrovertida. É só."


Turismo em Crise

Na actividade turística as notícias são impiedosas. Em 2003 as viagens internas caíram 16,6% e as viagens ao estrangeiro 12,4%. Este não é só mais um indicador da crise económica. O turismo é uma actividade transversal e multidisciplinar, na economia e na sociedade, constituindo um revelador muito sensível do "estado da nação".


Os resultados da actividade turistica nacional, em 2003, foram maus. Os de 2004 não deverão ser melhores. Todos os indicadores apontam para uma situação desastrosa, este ano, das taxas de ocupação da hotelaria, em particular, no Algarve, o maior destino turístico nacional.

A crise na actividade turística não aproveita a ninguém? Certamente que perdem a maioria das empresas (fracos negócios)e os cidadãos (menos qualidade de vida). Mas os preços das viagens, da hotelaria (e da restauração), sobem como se o país vivesse uma época do "ciclo alto" da economia.

Há quem queira ganhar muito em pouco tempo. Por influência, e sob o pretexto, do Euro 2004, os preços dos produtos turísticos subiram astronómicamente. Serão verdadeiras as notícias de acordos, entre diversos operadores, tendo em vista a obtenção de vantagens ilícitas da forte procura no curto período da realização do Euro?


Vistas de Rua (5)

Rua das Janelas Verdes

A rua das Janelas Verdes é uma referência na cidade de Lisboa. Nunca morei lá. Não sei muito bem porquê. Mas está naquela categoria de ruas que me seduzem. Umas porque nelas vivi, como a Sampaio Bruno (Campo de Ourique), a Travessa do Possolo (Lapa) ou a Calçada da Estrela, outras porque sim...

A Rua das Janelas Verdes tem um encanto muito especial talvez pela fusão de diversos encantos. Corre debruçada sobre o Tejo mas não o toca, é debruada a casas amigáveis e assume uma fusão de estilos, tradições e ressonâncias da cultura portuguesa que nos abraça.

Tem hotéis que não agridem o espaço originário. Tem Largos e escapatórias para outras ruas e largos que só vistos. Tem quase tudo o que se pode exigir a uma rua antiga onde se respira a memória do tempo. Mora lá o Museu Nacional de Arte Antiga.

O seu jardim e as refeições que lá tomei, em tempos idos, com pessoas do meu coração, fazem, para mim, a beleza do lugar. Talvez essa seja uma das razões do meu fascínio. Mas o Museu é, em si mesmo, uma preciosidade. Nele se encontram algumas das mais importantes obras de arte residentes em Portugal. No entanto julgo saber que é muito pouco visitado pelos portugueses.

Com os seus pecadilhos, que agora não vêm ao caso, a rua das Janelas Verdes é um encanto.

segunda-feira, maio 31

"Glória" de Vivaldi

O José Pedro Castanheira, prestigiado jornalista do Expresso, divulgou pelos amigos uma iniciativa que merece mais ampla difusão:

"Concertos, esta semana, não são apenas no Rock in Rio. Quem gostar, também pode assistir ao "Glória" de Vivaldi. É já na quarta feira, ou então durante o fim-de-semana.

Desde o princípio do ano que o Grupo Coral de Benfica (de que este vosso amigo faz parte, como baixo) tem vindo a trabalhar esta peça fantástica do grande compositor de Veneza. É um grupo inteiramente amador, mas superiormente dirigido pela Ana Venade. Chegou agora a vez de cantarmos para os nossos amigos. À frente da Orquestra Jovens Músicos e do Grupo Coral de Benfica estará o maestro Henrique Piloto. Os solistas serão a soprano Ana Leonor Pereira e o contratenor Manuel Brás da Costa.

Aqui ficam as informações dos três espectáculos:

- Quarta-feira, 2 de Junho, 21.30 horas, na Escola Secundária José Gomes Ferreira, em Lisboa (junto ao Centro Comercial Fonte Nova);
- Sábado, 5 de Junho, 21.30 horas, em Sintra, na Igreja de São Martinho;
- Domingo, 6 de Junho, 16.00 horas, em Lisboa, na Igreja de São Mamede (à Rua da Escola Politécnica).

A entrada é livre

Espero que gostem. Um abraço do
José Pedro Castanheira"

(Para depois fica um comentário ao livro de que o JPC é co-autor acerca da odisseia da filha do major Silva Pais - para quem não sabe, ou já se esqueceu- director da PIDE, polícia política do regime fascista, até ao 25 de Abril de 1974. Já li o livro. É fantástico e merece uma abordagem mais aprofundada.)


CV-11

Um belíssimo blog do Brasil: ALBERGUE MENTAL que se apresenta com esta legenda: "A difícil arte de abrigar tantas personalidades em uma só cabeça. Arquétipos meus separados e humanizados, dividindo mensalmente o mesmo cérebro."



domingo, maio 30

Feira do Livro - 2004

É uma devoção como outra qualquer. Tenho poucas. Para mim é sagrada uma ida à feira do livro que mais não seja por um breve momento. Mesmo umas horas largas são, neste caso, um breve momento. Tenho uma colecção de livros emblemáticos (para mim) comprados, ano a ano, na feira do livro. De vez em quando, na balbúrdia das estantes, descubro um.

Este ano o livro da feira foi "Uma faca nos dentes", de António José Forte (1931/1988), com fotos e desenhos de Aldina, edição da parceria A. M. Pereira. Um livro com toda a obra deste poeta maior do surrealismo português. Com uma "nota inútil" de Herberto Hélder.

O livro estava exposto numa tenda em que se apresentam, em comum, as pequenas editoras. Ali se encontram algumas obras maiores da nossa literatura. Nos fundos da feira sem atendimento pessoal nem cuidados estéticos ou ambientais. Não era de esperar outra coisa. A indústria nem sempre perdoa à criação. A criação que "não vende" é empurrada pela portas dos fundos.

Aqui vos deixo um poema de António José Forte:

Poema

Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva duma estrada

alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
eu partisse a fumar
o fumo fosse para se ler

alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-lo passar na direcção dos rios

alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar

Fragmentos de Leituras

"O amor, a loucura

Ordem do dia de Bonaparte, Primeiro Cônsul, à sua guarda: "O granadeiro Gobain suicidou-se por amor; era, de resto, muito boa pessoa. É a segunda vez que se verifica um acontecimento desta natureza durante o último mês. O Primeiro Cônsul ordena que seja fixado na ordem da guarda: que um soldado tem de vencer a dor e a melancolia das paixões; que há tanta coragem em sofrer com constância as penas da alma como em ficar em sentido sob a metralha de uma bateria…"

Estes granadeiros amorosos, melancólicos, de que linguagem extraíram eles as suas paixões (pouco concordantes com a imagem da sua classe e da sua profissão)? Que livros teriam eles lido - ou que histórias teriam ouvido? Perspicácia de Bonaparte ao assimilar o amor a uma batalha, não no facto - banal - de dois intervenientes que se enfrentam, mas porque a rajada amorosa, cortante como a metralha, provoca a surdez e o temor: crise, convulsão do corpo, loucura: aquele que está apaixonado à maneira romântica conhece a experiência da loucura. Ora, a este louco nenhuma palavra moderna é dada hoje em dia, e é afinal por isso que ele se sente louco: nenhuma linguagem para roubar - a não ser muito antiga."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -14
(Fragmento 3 de 3, pag. 7)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Escrevi a páginas 7 do meu "livro artesanal" de excertos de leitura deste livro: "a luta para encontrar a equidistância entre a paixão e o prazer do acto de "estar com" (nem só uma nem só outra daquelas duas atitudes normais, nem o meio termo, mas outra forma de relação)."

sábado, maio 29

José Augusto Seabra

Morreu, em Paris, José Augusto Seabra. Não o conhecia pessoalmente nem discuto o valor da sua obra literária. Assinalo, simplesmente, duas facetas da sua vida que, indirectamente, me ligam a ele. O seu doutoramento em Paris sob a orientação de Roland Barthes cuja obra sempre me fascinou.

As leituras de Barthes foram para mim um prazer e influenciaram fortemente (com as de Camus) a minha formação cultural. De facto sempre me interessei mais pelas "letras" do que pelas "ciências", apesar da minha formação académica de economista. Daí que este blog assuma, para estranheza de alguns, a publicação de uma sequência de posts com textos de Barthes.

Outra faceta tem a ver com o facto de ter sido do seu tempo de Ministro de Educação, por volta de 1983, que decorreu uma experiência de relançamento do ensino técnico profissional de cuja avaliação muito beneficiou o processo, em 1989, de concepção e lançamento do ensino profissional e, em particular, das escolas profissionais de cujo projecto fui coordenador.

A este assunto voltarei no próximo fim-de-semana a propósito de um artigo, de minha autoria, que será publicado no Semanário Económico.



Hiper-hipocrisia

O primeiro ministro acusou o Partido Comunista de ser responsável por tudo o que de mal possa acontecer ao país: terrorismo, atentados e outros males maiores, deixando pairar a ideia de que os comunistas são os "papões", argumento típico de qualquer líder de um regime fascista. Parece mentira mas é verdade. Não há palavras para qualificar esta tomada de posição do primeiro ministro. Como está a decorrer o Rock in Rio e o Euro-2004 vem a caminho...e as eleições europeias também...

Mas o que á surpreendente (ou talvez não) é que Cavaco (ex-primeiro ministro do mesmíssimo PSD) passe, ao mesmo tempo, a ideia de reconciliação com os comunistas. Que outro sentido podem ter os elogios a Álvaro Cunhal, líder histórico dos comunistas portugueses. Como Cavaco é o mais que provável candidato presidencial, apoiado pelo PSD, estamos perante a mais descarada hiper-hipocrisia política. A direita no poder, de facto, não olha a meios para atingir os seus fins...

"Um papel fundamental para a democracia" Cavaco elogia Álvaro Cunhal


O ex-primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva enalteceu quarta-feira o papel de Álvaro Cunhal para a democracia portuguesa, ao intervir na apresentação do livro da jornalista Maria João Avillez, que reúne entrevistas ao líder histórico comunista. " (Expresso online)



sexta-feira, maio 28

CV-10

O erro - "e agora?"

Apontaram-me um erro no post acerca da vinda a Portugal do Paul McCartney. Não devia ter escrito, num dos parágrafos, "hajam" mas sim "haja" . Logo me soou a erro. (O exercício da conjugação do verbo soar é muito estimulante!-vejam o presente do indicativo). Mas passou. Fica aqui a rectificação e não vou mexer no dito post.

Quando se escreve de primeira sem corrector automático (ou com um corrector estúpido que não é capaz de inventar nada!) o risco de errar aumenta exponencialmente. Mesmo agora estou correndo esse risco. Tenho a convicção de que é preferível errar a ficar tolhido pela fobia do perfeccionismo. Precisamos é de estar disponíveis para reconhecer e corrigir o erro. Esta é uma disposição mais difícil do que parece, não é?

Eis senão quando me deparo com o "jornal do blogueiro" perorando (o dicionário, por favor, sabem que está sempre a meu lado…) perorando? sei que existe mas…consulta concluída, não há dúvida está lá…dizia, perorando acerca do erro. Mas eis que com estas diligências para corrigir um erro cheguei ao post CV-10: é que acerca deste tema o jornal do blogueiro fala muito bem. Ora vejam lá.

Parapente em Linhares, acabou?

O António Aguiar meio desesperado, meio indignado, enviou-me este email. Também o enviou para o Pedro Pedrosa e não só... Transcrevo-o quase na íntegra, com ligeiras adaptações, apesar de ser longo. Mas é uma causa comum pela qual vale a pena lutar e que não considero perdida.

"Quero agradecer-lhes o facto de, através do blog Absorto, se terem publicamente insurgido contra o abandono de Linhares como local privilegiado de voo em parapente. Li os alertas "Parapente em Linhares acabou?", "Em defesa do Open de Parapente de Linhares" e "Oportunismo Amorfo ou o (Des)Envolvimento", que estão aqui e aqui apesar de ser necessário procurar um pouquinho.

De facto, apesar dos vossos alertas e de alguma imprensa regional o ter referido, parece que é o fim do parapente em Linhares. É que, ao que parece, os pilotos estão resignados ou esquecidos das glórias que este desporto ali alcançou. Esquecidos também, os habitantes, para quem a procura de Linhares por forasteiros nada parece ter significado ou, talvez, não tenham ainda notado que este ano não há Open de Parapente.

Mas esta súbita desistência por todos, inclusivamente pelos autarcas que se limitam a negar a evidência e a nada fazerem para evitar este abandono, não é estranha? Então o parapente em Linhares não era uma instituição turística e desportiva nacional? Procurada por pilotos e espectadores de todo o País e estrangeiro?

Há cerca de dois meses, uma notícia d'"O Interior" dizia: ""O que pretendemos é que o Inatel mantenha os meios logísticos afectos ao parapente e a Linhares da Beira e isso está assegurado", refere António Caetano, edil celoricense, que não duvida que a actividade vai continuar e com "mais força"." Farão sentido estas afirmações? A consequência destas declarações foi ou não foi adormecer a imprensa?

E que faz o Inatel? Limita-se a entregar as casas à autarquia. Mas a autarquia já há muito que sabíamos que não nos queria lá (basta ver como encerraram, com o jantar, o último Open...). Sabia-se que, enquanto lá estivéssemos, não havia parque eólico. Agora o caminho está livre: os pilotos não aparecem, o acesso à descolagem está vedado (uma novidade...) e há um comerciante local que, por três moedas, parece assustar os pilotos.

Os instrutores que até há poucos meses lá estiveram eram o pólo aglutinador dos pilotos nacionais. Acaso sabem se, entretanto, algum instrutor foi contactado pelo Inatel ou pelas autarquias para assegurar a continuidade do parapente em Linhares? Receio bem que ninguém tenha sido contactado.

E já agora, permita-se-me colocar uma dúvida antiga: porque é que o vosso Inatel não percebeu que a verdadeiro eixo do parapente na Serra da Estrela passava pelos instrutores que lá estavam? Porque é que eles, sendo tão importantes para a modalidade, estavam tão longe das responsabilidades duma Instituição que tanto apoiava este desporto, mas que os deixava, ano após ano, na incerteza da prorrogação do seu trabalho de instrutores?

Mais uma vez me afirmo grato pelo vosso interesse, especialmente pelo facto de saber que não são praticantes de parapente, nem têm já vínculo ao Inatel. Na ténue esperança de que esta mensagem e o blog Absorto (...) possam vir a despertar os adormecidos e aéreos praticantes, vou remeter esta mensagem para quantos pilotos conheço.

P.S.: Não é a primeira vez que lhes escrevo: há cerca de dois anos e meio coube-me a mim, quando tinha responsabilidades federativas, alertar o (extinto) IPAMB para o perigo das torres eólicas na Cabeça Alta. Fi-lo com a ajuda do Vítor Baía e do Carlos Vaz (Clube Vertical). Porque há argumentos incontornáveis, e com o vosso apoio e de outras conceituadas instituições ganhámos aquela batalha. Veremos por quanto tempo...

Terá valido a pena?"


quinta-feira, maio 27

CV-9

Já repararam que acrescentei à minha lista novos links. Um agradecimemto especial a pentimento pelo destaque dado ao absorto e ao FC Porto.

Estes links correspondem a blogs do Brasil que tenho apresentado na série CV. Na sequência aqui vos ofereço um novo blog do Brasil.

Quem me ajudou a descobrir este blog sabe do que eu gosto. Vejam lá se conseguem navegar neste hai-kai.

Fragmentos de Leituras

"Violência, evidência, natureza

Não saía dessa ideia sombria segundo a qual a verdadeira violência é a do obviamente: o que é evidente é violento, mesmo se essa evidência for representada suavemente, liberalmente, democraticamente; aquilo que é paradoxal, aquilo que não salta à vista, é-o menos, mesmo se for imposto arbitrariamente: um tirano que promulgasse leis excêntricas seria, feitas as contas, menos violento do que uma massa que se contentasse com enunciar o que é óbvio: o "natural" é, em suma, o último dos ultrajes."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -13
(Fragmento 2 de 3, pag. 7)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Paul McCartney

É reconfortante podermos ter alguém como Paul McCartney para nos identificarmos. Olha-se à volta e a paisagem está povoada, tantas vezes, de mulheres e homens destroçados e humilhados pelo seu próprio destino. Solidão, tristeza, miséria, doença, dependência, azar, desatino, medo, fobia, maldade, tudo o que nos causa repulsa e nos angustia.

É bom que hajam ídolos comuns a várias gerações. Planetários e globais. Que nos encantem e nos tragam, de volta, a esperança. O contrário da perda do entusiasmo pela vida e pela criação. Eis as palavras certas, justas, incisivas mas, ao mesmo tempo, cordatas de Paul McCartney à chegada a Portugal para um espectáculo do "Rock in Rio":

"O Iraque faz lembrar a guerra do Vietname"

Paul McCartney, em entrevista à TSF, afirmou que "o Iraque faz lembrar a guerra do Vietname". O ex-Beatle, que vem ao Rock in Rio actuar sexta-feira pela primeira vez em Portugal, disse que "é preciso tirar lições das guerras e escolher os políticos certos".


O antigo Beatle está preocupado com a violência no Iraque e começa a lembrar-se da guerra no Vietname.

O músico falou num mundo cada vez mais confuso e a precisar de cada vez mais amor. "All You Need is Love", a mesma mensagem quase 40 anos depois.

Por isso, as notícias do mundo podem servir de inspiração a Paul McCartney que continua a sentir a magia de escrever canções.

"Continuo a gostar muito de escrever canções é como uma coisa mágica para mim, tenho muita sorte por me terem dado essa espécie de talento, a inspiração pode vir de qualquer lado", afirmou Paul McCartney.




quarta-feira, maio 26

FCP

Clube Campeão da Europa em Futebol. Sem dúvidas, nem favores Um feito para alegrar a alma dos portugueses. Um país pequeno com um grande campeão.

O povo merece, de vez em quando, uma alegria destas. O Porto ganhou, Portugal ganhou. Neste momento os portugueses são todos do FCP (Futebol Clube do Porto).

Espero que o Governo não estrague a festa, pá! Estejam quietos! Não façam asneiras, pá!


"Grande Rota das Aldeias Históricas" volta a atacar...

Para minha grande satisfação o Pedro Pedrosa lança a iniciativa da "GR-22". Divulgo, na íntegra, o email que ele me enviou. Toda a informação pode ser obtida aqui.

"A Grande Rota das Aldeias Históricas foi criada em 1999 e inaugurada em 2000, sendo, salvo erro, até à data, a mais longa rota pedestre homologada (GR22) marcada no terreno em Portugal, com 540 km. Representou um esforço material e humano considerável, então inserido no projecto Carta do Lazer das Aldeias Históricas.

Apesar de ser um projecto único em Portugal e potencialmente estruturante do turismo da Beira Interior de Portugal, parece votado ao abandono e ao esquecimento, inclusive pelas entidades que o promoveram. Pois chegou a altura de dizer NÃO e manter vivo um itinerário fantástico, pleno de história, cultura, tradições, gastronomia, natureza e gente boa; aldeias e pessoas maravilhosas e únicas que não se encontram em mais nenhum lado.

Para isso juntámos um grupo privado de pessoas que se dispõe a organizar uma actividade que proporciona a descoberta das Aldeias Históricas de Portugal de BTT ou a pé, tirando partido da GR22 e de outros trilhos de elevada beleza.

Acresce o facto de duas novas localidades, Trancoso e Belmonte, terem recebido a classificação de Aldeia Histórica, pelo que terá todo o sentido incluí-las no nosso itinerário e visitas.

Este é pois o desafio que vos lançamos, juntem-se a nós e venham daí à descoberta do Portugal profundo. Queremos demonstrar o seu interesse e iniciar o movimento que leve à manutenção da rota e a sua evolução com as novas aldeias classificadas. Sugestões de outras iniciativas são bem vindas.

O programa que propomos de 28 de Agosto a 4 de Setembro, denominado Travessia das Aldeias Históricas, é diferente dos que eram antigamente organizados (pelo INATEL), para menos pessoas (as inscrições são limitadas) e, esperamos, com mais qualidade. Asseguramos a logística, enquadramento e segurança e deixamos alimentação e alojamento à parte, que pode ser reservado através da organização a preços especiais que estamos a negociar.

O grupo de BTT fará sempre toda a rota em 7 etapas diárias (+ 1 dia de descanso), pelo que tem uma dificuldade média/alta (exigindo preparação previa), enquanto que o grupo de caminheiros é acessível a todos, com percursos pedestres com partida e chegada às aldeias.

Vejam todos os pormenores em www.az-trails.net/aldeias/, site em construção/evolução, onde serão apresentadas todas as informações relativas à Travessia das Aldeias e podem ser feitas inscrições.

Se não puderem vir, ajudem-nos pelo menos a promover esta iniciativa, enviando a informação aos verdadeiros amantes das coisas belas da vida.

Pedalar é viver,

pedro pedrosa"



terça-feira, maio 25

Bush reforça determinação da Al-Quaeda

O título é um pouquinho forte mas é mesmo o que apetece para esta notícia que desde esta manhã não me sai da cabeça. Então não é que um respeitável Instituto que os nossos publicistas da "esquerda liberal", convertidos ao neo-conservadorismo, não devem considerar suspeito de influências anti-americanas, tornou público um estudo destes!

"International Institute for Strategic Studies
Estudo: Guerra no Iraque reforçou determinação da Al-Qaeda

A Al-Qaeda, rede de Osama bin Laden, continua operacional e estima-se que tenha células em mais de 60 países com 18 mil potenciais terroristas, sendo que a sua determinação foi reforçada com a guerra no Iraque, conclui o relatório deste ano do britânico International Institute for Strategic Studies (IISS), apresentado hoje em Londres.
O estudo diz que os ataques recentes em Espanha, Turquia e Arábia Saudita mostram que o grupo se reconstituiu totalmente depois de ter perdido a sua base no Afeganistão.

Segundo o IISS, são "prováveis" novos atentados organizados pela Al-Qaeda numa Europa com falta de consensos e cada vez mais vulnerável, especialmente quanto às infiltrações terroristas na região do Mediterrâneo. Os próximos alvos deverão ser o Reino Unido e o Sul do continente europeu, nomeadamente o local dos jogos Olímpicos de Atenas, avança o instituto."

Ver notícia completa AQUI

CV-8

Olhe aqui o recentíssimo blog omeufuscafala que descobri através do Pentimento. Quase acabado de nascer mas interessante mesmo...

segunda-feira, maio 24

Vistas de Rua (4)

Carnide

Uma visita de fim-de-semana às ruas e ao largo de Carnide, às portas de Lisboa, mostra-nos uma realidade urbana com um encanto que grande parte da sua região envolvente já perdeu. É verdade que os automóveis circulam e estacionam e o espaço parece comprimido pelas margens que se inundaram de construções.

Mas se nos perdermos no regresso a Telheiras podemos calcorrear uma vasta zona ainda não ocupada pela construção. Carnide ainda é envolvida por algumas hortas e pela interessante zona da Luz que lhe dá acesso do lado de Sete Rios.

Nas suas redondezas surgiu o "Colombo", o novo estádio do Benfica e Telheiras que se transformou numa nova centralidade urbana excessivamente construída. Criaram-se vias rodoviárias que esquartejaram, na maior parte, as antigas hortas.

Mas Carnide manteve o núcleo central com a sua arquitectura de casas baixas e espaços em que se revive o ambiente da "província" às portas da grande cidade.

O Largo está repleta de restaurantes de todas as qualidades e para todos os gostos. Esta é ainda uma parte da Lisboa viva onde, porventura, muitas pensam que a cidade morreu. Uma faceta humanizada do desenvolvimento urbano lado a lado com a especulação imobiliária.

Carnide: um núcleo encantador de Lisboa a preservar.

Fragmentos de Leituras

"Eros e o teatro

A função erótica do teatro não é acessória porque entre todas as artes figurativas (cinema, pintura) só ele oferece os corpos e não a sua representação. O corpo de teatro é ao mesmo tempo contingente e essencial: essencial, não podemos possuí-lo (é magnificado pelo prestígio do desejo nostálgico); contingente, seria possível, pois bastaria sermos loucos por um instante (o que está ao nosso alcance) para saltarmos para o palco e tocarmos o que quiséssemos. O cinema, pelo contrário, exclui, por uma fatalidade da natureza, toda e qualquer passagem ao acto; aqui a imagem é a ausência irremediável do corpo representado.
(O cinema seria semelhante a esses corpos que andam, no Verão, com a camisa amplamente aberta: vejam mas não toquem, dizem esses corpos e o cinema, ambos, literalmente, fictícios.)"


"Roland Barthes por Roland Barthes" - 12
(Fragmento 1 de 3, pag. 7)

Edição portuguesa: "Edições 70"

"Ritual do conformismo"

No Congresso do PSD não se passou nada...a não ser propaganda...

Eis aqui, no Expresso online, um bom retracto do evento.


O Presidente do PSD faz propaganda perigosa

"XXV Congresso do PSD

Durão Barroso responsabiliza PCP por eventuais problemas de segurança no Euro 2004


O presidente do PSD, Durão Barroso, responsabilizou hoje o PCP por eventuais problemas de insegurança durante a realização do Euro 2004, depois de acusar alguns partidos da oposição de tentarem gerar instabilidade entre as forças da ordem. "


Foi esta a ideia que o Público "puxou" para manchete do discurso de Durão Barroso no encerramento do XXV Congresso do PSD. Transferir a responsabilidade com a segurança nacional para o PCP é uma peça de propaganda perigosa. Desresponsabiliza o Governo, verdadeiro responsável pela segurança nacional, e faz reemergir o "papão" comunista, como origem de todos os males nacionais.

É uma ideia patética, grotesca e perigosa para o futuro da democracia portuguesa e coloca Durão Barroso ao mais baixo nível da propaganda populista. Depois do que afirmou acerca dos Açores, com Alberto João Jardim a seu lado, estamos conversados …

À atenção do senhor Presidente da República responsável máximo pelo regular funcionamento das instituições democráticas e pelas Forças Armadas…

domingo, maio 23

CV-7

Melodia Infinita

No meu percurso por blogs do Brasil surge Melodia Infinita: "A que se desenvolve livremente, sem obediência a nenhuma forma preestabelecida". (Novo Dicionario Aurélio).

Um prazer na utilização da palavra com prioridade à poesia. Ora viva!



sábado, maio 22

Lisbon revisited (1926)


Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

(.....)

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) como prometido no post "Chuvisca em Lisboa"

Pode ler este poema, na íntegra, AQUI


Portugueses Viajaram Menos em 2003

"As viagens turísticas dos residentes em Portugal caíram 16,6 por cento em 2003 face ao ano anterior. As deslocações dentro do país desceram 17 por cento e ao estrangeiro 12,4 por cento. Segundo os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), as dormidas seguiram aquela tendência, com uma redução de 11,6 por cento. A maior parte efectuou-se em alojamento privado gratuito (66,7 por cento)."

Os dados estatísticos do turismo português, em 2003, foram agora divulgados pela Lusa e retomados, na íntegra, pelo Público.

Este é um indicador indirecto muito relevante do estado da economia de um país. As viagens turísticas dos portugueses decresceram em 2002 e 2003. Nos anos anteriores tinham crescido de forma sustentada.

Os operadores turísticos, e as suas organizações representativas, andam agora muito calados. No período anterior emitiam muitas opiniões acerca da importância da actividade turística na economia e no desenvolvimento do país. O Dr. Atílio Forte, Presidente da Confederação do Turismo, eclipsou-se.

Em 2004 o Campeonato da Europa de Futebol, a partir de 12 de Junho, vai dar uma ajuda á recuperação do sector! É a "pesado herança"!


Chuvisca em Lisboa

Estranha noite de finais de Maio em Lisboa. A Feira do Livro abriu no Parque e chuvisca em Lisboa.

As ruas do Bairro Alto, ao início da noite, estavam quase desertas. Um grupo de japoneses a caminho das casas de fados, casais de estrangeiros buscando os restaurantes recomendados e mais uns poucos portugueses. As ruas não melhoraram em animação, nem em asseio, nem em comércio, em nada, apesar das restrições à circulação automóvel.

O seu encanto natural é o mesmo de sempre mas a cidade é trespassada por um ar triste. Não de ouvem os sons de fundo de outros tempos. Uns acordes de guitarra e fragmentos de vozes sofridas a cantar.

O casanostra restaurante mantém, após muitos anos, um bom nível de serviço. Como alguns outros restaurantes do Bairro Alto resiste e continuamos a gostar do ambiente depurado e da belíssima cozinha italiana. Somos retribuídos pela simpatia do pessoal. A fidelidade da nossa escolha ajuda mas sente-se que há qualidade e vontade de agradar.

Está bem de ver que era cedo na noite mas nas ruas sente-se a descrença além do eco dos nossos passos. Lembra-me Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) em "Lisbon revisited" (1926) e outros poemas com referências à cidade de Lisboa. Poemas a visitar um dia neste espaço.


sexta-feira, maio 21

CV-6

DO MEU LADO DE DENTRO

Aqui está outro blog do Brasil. O texto de apresentação do "do meu lado de dentro" diz tudo acerca do seu conteúdo. Vala a pena a digressão... Aqui está:

"Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim...
Se hoje tivesse que escolher uma música que define um momento seria "Ainda mais" do Gudin. Se tivesse que escolher um filme, escolheria "Assédio" do Bernardo Bertolucci. Se tivesse que escolher um país, escolheria minha casa. Se me pedissem para que escolhesse uma flor, seria a gerbera. Um período do dia??? Hummm, o pôr do sol! Se pudesse escolher ser um animal, seria uma gata e se pudesse escolher ser uma comida, seria um chocolate. Se hoje pudesse viver só disso, viveria da música e do canto. Se hoje eu pudesse, e por sorte posso, faria exatamente tudo o que faço. Porque neste meu momento de vida, vivo plenamente tudo aquilo que acredito, sinto o que cabe em mim, sem mais nem menos sofrimento. Apenas na quantidade exata. Porque hoje sou uma das melhores companhias de todos os tempos para mim mesma e conto com a companhia das melhores pessoas que já pude conhecer em todos os tempos. E hoje, aqui, dentro de mim, do meu lado de dentro, há um mundo infinito de possibilidades, desejos e realizações. E portanto, compartilho um pouco do caminho iluminado que têm sido meus dias. Sintam-se acolhidos e voltem muito e sempre!
Estão dentro de mim..."







Impostos

Ontem foi notícia, em Portugal, a remuneração do novo Director Geral das Contribuições e Impostos. O tema merece uma abordagem mais detalhada que farei oportunamente pois ainda não se sabe, ao certo, o montante da remuneração.

Mas quero deixar uma nota de perplexidade com as justificações dadas para esta decisão por vários "fazedores de opinião". É mentira que não existam quadros dirigentes na Administração Pública capazes de exercer tal função. É verdade que ganhariam muito menos.

É mentira que a competência técnica seja um exclusivo dos quadros do sector privado. É verdade que existem centenas de dirigentes da administração pública, reconhecidamente competentes, "na prateleira".

Neste caso foi tomada a opção mais fácil. Mas os resultados dependem do empenhamento e competência de milhares de trabalhadores que auferem remunerações (congeladas há 2 anos) muitas vezes inferiores à do Director Geral agora nomeado. Conclusão: o fácil pode tornar-se difícil.

quinta-feira, maio 20

Fragmentos de Leituras

"A privadicidade

Com efeito, é quando divulgo a minha privadicidade que mais me exponho: não pelo risco de "escândalo" mas sim porque nesse momento apresento o meu imaginário com a sua consistência mais forte; e o imaginário é precisamente aquilo em que os outros têm vantagem; aquilo que não está protegido por nenhuma inversão, nenhum desmantelamento. Todavia, a "privadicidade" muda de acordo com a Doxa à qual nos dirigimos; se é uma doxa das direitas (burguesa ou pequeno-burguesa: instituições, leis, imprensa), é a privadicidade sexual que mais se expõe. Mas, se for uma doxa das esquerdas, a exposição do sexual não transgride nada: neste caso a "privadicidade" são as práticas fúteis, os vestígios de ideologia burguesa que o sujeito confidencia: quando me volto para essa doxa exponho-me menos ao declarar uma perversão do que ao enunciar uma preferência: a paixão, a amizade, a ternura, a sentimentalidade, o prazer de escrever, tornam-se então, por simples deslocamento estrutural, termos indizíveis: que contradizem o que pode ser dito, o que esperam que se diga, mas que precisamente - a própria voz do imaginário - se gostaria de poder dizer imediatamente (sem mediação)."

No meu "livro artesanal" que estou transcrevendo, por fragmentos, escrevi nesta página 6, certamente influenciado pela fase porque passava a minha vida no início dos anos 80: "o impulso de uma nova teia de relações atraentes mas amarradas ainda ao difícil passado dos "mais velhos" (de mim)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 11
(Fragmento 2 de 2, pag. 6)

Edição portuguesa: "Edições 70"

A Austrália e o petróleo de Timor

Volto ao assunto da demarcação da fronteira marítima entre Timor e a Austrália. O que está em causa é o petróleo, a principal riqueza de Timor.

A Austrália busca uma autêntica usurpação do território marítimo para se apropriar do petróleo de Timor. Ganha tempo pois o tempo joga em desfavor de Timor.

Uma boa causa para a diplomacia portuguesa. Mas é preciso combater ao lado dos fracos e não dos fortes! Não é?

Talvez encarregar o Dr. Martins da Cruz desta missão especial. Que acham?



Diários de Motocicleta

Foi apresentado no Festival de Cannes o filme brasileiro "Diários de Motocicleta" de Walter Salles

Tenho lido muitas referências positivas ao filme na blogosfera do Brasil. É uma obra baseada numa longa viagem, realizada em 1952, por Che Guevara, acompanhado por um amigo. A viagem foi iniciada a bordo de uma moto Norton.

Depois do "falecimento" da Norton foi continuada à boleia e em todos os meios de transporte imaginários. Atravessaram a América Latina. Vi, outro dia, um documentário na TV acerca desta aventura. Fiquei fascinado.

Além do mais o meu pai, por volta da mesma época, teve uma Norton, igualzinha, da qual guardo uma magnífica foto e muitas histórias contadas pelo próprio e por minha mãe. São diversos imaginários sobrepostos. Positivos.

CV - 5

SORVETE - "Eu não: quero é uma realidade inventada"

Esta ideia de dar a conhecer blogs do Brasil e depois de outras paragens, nunca se sabe, tem um fascínio muito especial. Colocar ao alcance de um clice realidades que estão do lado de fora do nosso quotidiano é algo que (me) nos reconcilia com o mundo.

A mim, pelo menos, diverte-me. Para gerar comunicação, por via da blogosfera, na qual sou um novato, temos, de alguma forma, de fracturar a linguagem oficial do blog. Sem nos darmos conta, ao gerir a realidade de um blog, criamos um estatuto formal (ia dizer oficial) de nós mesmos.

Nada de mais aborrecido, por vezes, mesmo desmotivador. A maior parte dos blogs - ou todos - não conseguem fugir a esta verdadeira fatalidade. É para contrariar este risco iminente, em cada palavra e imagem que se projecta, que sou levado a publicar, por exemplo, "textos antigos" como os de Roland Barthes e Albert Camus. Além da poesia que radica noutras motivações que não vêm ao caso.

Claro que os textos dos autores "clássicos" que publico me interessam e fascinam, em si mesmos, mas a sua linguagem não segue as regras da minha própria linguagem. É outra a linguagem deles pela via dos talentos autorais e/ou do tempo em que foram escritos.

Há naturalmente diversos processos que permitem perturbar o discurso dominante de um blog. Vou experimenta-los com o tempo. Se o tempo, claro, estiver de acordo com a minha vontade e me der tempo.

E em consequência aqui vai outro blog do Brasil. Este mais antigo e, talvez, mais convencional mas, a meu ver, interessante. É o sorvete. Ora vejam.