“A democracia tornou-se uma questão de bom senso. É a única via. Impõe-se universalmente e impõe-se em Portugal, misturando-se com o mais fino tecido das mentalidades que querem o consenso e fogem dos conflitos, valorizando acima de tudo a paz da mediania, o equilíbrio do justo meio – numa palavra, o bom senso.”
“Ausência de excessos, mediania em tudo, limitações legitimadas pelos “costumes”, quer dizer, pela própria coesão da sociedade civil – tudo isto que era sustentado pelo regime de Salazar é hoje suportado pela norma única invisível do bom senso. Não há outra via. O medo, de perder todos os benefícios materiais que a entrada na União Europeia proporcionou, enxertou-se no sedimento de temor que já existia, transformando-o. Nasceu um novo objecto em que se investiu, inconscientemente, o medo do medo, o pequeno terror, a exclusão, o próprio terror de ser excluído, ou de vir a ser objecto de conflito (que comporta a ameaça de exclusão). Ameaça que existe disseminada no interior do real, sem que se saiba quem é o responsável, sem que o real se desrealize. É pois sempre mais conveniente continuarmos a não assumir responsabilidades, a não afrontar opiniões contrárias, a fugir aos problemas e a não pensar mais além das soluções que entram no quadro de todas as integrações. Sobretudo, recusar os conflitos.”
(Citações de “Portugal, hoje – O medo de existir” de José Gil - Editora Relógio d´Água)
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