Eu aproveitei a hora para Federico Garcia Lorca. Preciso, de vez em quando, lá ir. Não sei explicar muito bem a razão mas isso também não interessa para nada.
Mas verifiquei que Pacheco Pereira no Abrupto voltou a Cavafy com o poema “O prazo de Nero”.
Entendi, embora estejam prometidas, para depois, outras notas. E, como da outra vez, eu volto com a tradução, diversa, de Jorge de Sena:
O PRAZO DE NERO
Inquieto, Nero não ficou, ouvindo,
do oráculo a resposta em Delfos:
“Que devia temer setenta anos mais três”.
Pois tem imenso tempo de gozar a vida.
Com trinta anos de idade! Como ainda vem longe
o prazo que o Deus lhe demarcou
para temer de perigos iminentes.
Voltará para Roma, cansado um pouco,
mas tão deliciosamente cansado de uma viagem
que nada foi que dias de prazer –
- nos teatros, nos parques, nos estádios…
o entardecer das cidades da Acaia…
E mais: a volúpia da nudez dos corpos…
Assim Nero pensava. Mas na Espanha Galba
secretamente reúne e prepara um exército:
um velho de setenta e mais três anos.
[1918]
Nota de Jorge de Sena dedicada a este poema:
“É o outro poema que tem Nero como personagem (ou outro intitula-se “As passadas”, anterior a 1911). A fonte pode ser qualquer história romana suficientemente vasta, mas o episódio vem narrado por Seutónio (70-c.122), no De Vita Caesarum, em que conta as biografias dos Césares, desde Júlio César até ao Imperador Domiciano. É histórico que Nero fez uma viagem triunfal à Grécia, em 67, de onde foi chamado, porque as conspirações se sucediam. Galba, general de alta linhagem e governador em Espanha, aceitou, nos princípios de 68, chefiar a revolução que derrubou Nero e o levou ao poder, quando Nero se suicidou. Mas Galba, por sua vez, foi assassinado no ano seguinte. Parece que ou o oráculo de Delfos ou Seutóneo (que recolhia tudo quanto há para a sua deliciosa e pérfida história) se enganaram quanto à idade de Galba que tinha cerca de 62 anos ao conspirar e reinar. Mas isso é de somenos importância para o belo poema."
Poema e Nota in “90 e Mais Quatro Poemas”, Constantino Cavafy, com tradução, prefácio, comentários e notas de Jorge de Sena, Edições ASA.
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